quinta-feira, 9 de outubro de 2014

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE SETEMBRO DE 2014

História da Unificação da OFS do Brasil  
1955/1972
Especial para O Arauto do Grande Rei, da Fraternidade de Petrópolis,RJ
VII-3
Entre os anos de 1966 e 1968
Significativos acontecimentos para a OFS do Brasil - 2
O IIIº Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos


5 – À margem e em conseqüência do Congresso.

Minha participação não se limitou apenas ao Congresso Mundial. Como delegado da OFS do Brasil, estava atento a tudo que pudesse relacionar-se com a Ordem Franciscana Secular.
A primeira preocupação, chegado em Roma, logo que possível, foi entrar em contato com os Franciscanos Menores (OFM). Seu novo Ministro Geral havia sido eleito no Capítulo de Pentecostes desse ano de 1967. Era o brasileiro Frei Constantino Koser, meu conhecido do convento de Petrópolis. Também conhecia o Definidor Geral pelo Brasil, Frei Desidério Kalverkampf. Ao procurar a este último na Cúria Geral da OFM, na Via Santa Maria Mediatrice, tive a oportunidade de um primeiro encontro com o recém nomeado Assistente Geral para a OTSF. Era Frei David Retana, simpático e alegre Definidor Geral pelo México. Na mesma ocasião, conheci ligeiramente Frei Léon Bédrune, que era seu substituto e foi seu sucessor como Assistente Geral.
No tempo, em que estive em Roma, desde esse dia 6 de outubro, sempre procurei man-ter contato com Frei David. Já não me sentia sozinho. Isto foi de grande ajuda.
Ao fazer minha inscrição, no dia 9, para receber a pasta com as orientações e os documentos para o Congresso, quis saber quais eram os outros congressistas inscritos pela Ordem Terceira Franciscana Secular (OTFS). Decepcionei-me ao saber pela Secretária do Congresso que, após verificação, disse ser eu o único inscrito pela OTFS. Não quis acreditar. Mas, pensei comigo. Na certa, haverá Terceiros que, envolvidos com os novos movimentos despertados pelo Concílio Vaticano II, os estão representando no Congresso e, não, a Ordem Terceira. Nesse caso, bom seria descobrí-los para nos conhecermos e trocarmos informações.
Relatei o fato a Frei David. Ele, prontamente, se propôs a arranjar um local, onde nos pudéssemos reunir. Eu cuidaria de convocá-los. Não tive dúvidas. Aproveitei que havia uma manhã livre, logo a seguir. Escrevi um bilhete, que foi lido no Plenário. Convidava os congressistas, que fossem Terceiros franciscanos seculares, para se reunirem na manhã seguinte, dia 10, às 9 horas, num colégio de Religiosas, à Via Santa Maria Mediatrice, para um encontro com um Assistente Geral para a Ordem Terceira.
Qual não foi nossa surpresa, a de Frei David e minha, quando, ao chegarmos ao indicado colégio, já encontramos reunidos alguns congressistas, que, depois, passaram a ser mais de quinze franciscanos seculares de vários países e de Obediências diversas. Eles disseram que alguns outros não puderam comparecer porque já haviam assumido outros compromissos. Foi um encontro muito cordial e fraterno. Todos queriam se conhecer melhor. Isto acontecia, observou-se, quando ainda imperavam em nossa Ordem as separações obedienciais e o isolamento entre Fraternidades da mesma Obediência existentes numa mesma cidade. Entre os presentes predominava o desejo expresso de quebrar esse “gelo” e de sermos mais unidos e solidários. Conduzido por Frei David, esse encontro, para muitos, se revelava uma coisa nova e surpreendente. Isto era encorajador.
Um tal encontro não podia ser único.Marcou-se um novo encontro e mais outro foram realizados, antes do retorno dos congressistas a seus países. O número desses franciscanos seculares presentes chegou até quase trinta irmãos e irmãs. A terceira reunião foi realizada na Cúria Geralda OFM. Ao final, tivemos a presença do Ministro Geral, Frei Constantino Koser, que a todos acolheu com amabilidade. Dirigiu-nos, então, palavras de incentivo a nos empenharmos por uma Ordem Terceira Secular de acordo com as orientações do Concílio Vaticano II. Nessa mesma terceira reunião era visível que esses irmãos e irmãs, ali reunidos, não o faziam como estranhos e indiferentes, mas externavam a alegria de se encontrarem unidos por um mesmo e comum ideal de vida e cientes de que deviam se preparar para colaborarem na revisão dos documentos da sua  Ordem Terceira. Na volta para casa, esta consciência nova a respeito de seus deveres para com a OFS, na certa, foi levada para suas Fraternidades. Era um avanço promissor.

6. Iniciativa inesperada e ousada, logo substituída.

No Congresso Mundial havia sido verificado e debatido com insistência o fato de que os leigos, até então, se mostravam indiferentes e sem iniciativas quanto à administração de suas associações. Isto, porque eram dependentes e viviam totalmente subordinados à direção e à ação de seus Padres Diretores. No entanto, era preciso reagir contra essa dependência e impassibilidade dos Leigos. Aliás, a orientação conciliar do Vaticano II era precisamente no sentido de que os Leigos deviam assumir com responsabilidade a condução de suas próprias instituições.
Ora, este era exatamente o caso das Fraternidades da Ordem Terceira Secular de São Francisco (OTSF).
As recentes Constituições da Ordem Terceira Franciscana Secular eram de 25 de agosto de 1957. Elas haviam instituído dois governos para cada Fraternidade, a saber, um governo externo  (da Ordem I e da TOR) e um governo interno (dos irmãos e irmãs Terceiros). No governo externo, as autoridades eram o Romano Pontífice, Ministros Gerais de cada Obediência, os Provinciais e os Padres Diretores, depois, Assistentes. No governo interno, o órgão diretor era o Discretório (hoje, Conselho) com um Ministro e seus discretos.
Continuava mantida a autoridade absoluta do governo externo sobre o governo interno, situação, que vinha perdurando há séculos e que era considerada também a principal causa da imobilidade e estagnação da vida e da ação dos Franciscanos Seculares. Aliás, contra essa situação, desde o Congresso da OTSF, de 1950, em Roma, houve manifestações pela necessidade de uma mudança.
Pois bem. Nos encontros havidos, vários desses Terceiros concluíram que alguma coisa era necessário ser feita, em vez de apenas continuar reclamando e protestando. Devia-se agir, tomando alguma iniciativa. Era preciso superar o imobilismo e quebrar o “gelo” do isolamento existente entre as Fraternidades de um mesmo país e dele com os países vizinhos. Os irmãos e irmãs precisavam se conhecer e se ajudar, trocando suas experiências de vida comunitária, seus problemas e soluções encontradas, suas realizações e também suas aspirações. Este intercâmbio entre as Fraternidades, sobretudo agora, seria importante. É que os Assistentes Gerais já haviam solicitado que as Fraternidades apresentassem, em colaboração, suas propostas para a revisão da Regra, das Constituições e do Ritual da Ordem Terceira Franciscana Secular.
Em conseqüência dessas reflexões, surgiu a idéia de que os irmãos e irmãs das diversas Fraternidades trocassem correspondência, promovendo o mútuo conhecimento e apresentassem sugestões para a revisão dos documentos da OTSF. Para se dar uma estrutura mínima à iniciativa, foi proposto organizar um Secretariado dos Leigos, coordenado pelos próprios leigos. Sua função, promover esse tipo de correspondência entre os irmãos e difundí-lo pelas Fraternidades.
Reconhecia-se, era uma iniciativa inesperada e ousada. O grupo desses Terceiros não era o maior. Eles eram os mais animados e dispostos a dar cumprimento à orientação conciliar, trabalhando por mudanças, mas respeitando sempre as normas em vigor.
No grupo dos decididos, estava um australiano, de Sidney, de cujo nome não me recordo, devido à perda de meu arquivo. Ele era um dos mais entusiastas e ativo divulgador da iniciativa lançada. Também dispunha de recursos para lhe dar execução. Foi logo escolhido como Secretário para, inicialmente, coordenar e difundir a iniciativa. Ele e eu, de imediato, acertamos trocar a dita correspondência. Chegamos a trocar uma série de cinco a seis cartas. As minhas e as dele, nas quais também informava sobre o que havia recebido de outros irmãos, infelizmente, foram todas perdidas. A iniciativa não ficou só em palavras ou propósitos. Ela se executou e se ia propagando lentamente. Fomos persistentes, enquanto deu, isto é, enquanto não houve um aconselhamento para encerrarmos essa atividade.    
 A iniciativa, promovida e realizada exclusivamente por Terceiros leigos, sem consulta e dependência de Diretores ou Assistentes, era uma novidade incomum e preocupante para outros companheiros e Diretores. Temiam possíveis desvios, porque continuava em vigor a preponderância legal do governo externo sobre o governo interno da Ordem Terceira. Também alegavam que os órgãos diretores das Fraternidades deviam ser consultados. Os promotores, no entanto, consideravam a iniciativa uma simples promoção de irmãos com irmãos, os quais, naturalmente, influiriam em suas Fraternidades. Esperávamos mesmo que assim, mais unidos por um fraternismo franciscano reavivado e melhor preparados, pudéssemos vir a assumir com responsabilidade, de acordo com a orientação do Vaticano II, a condução de nossas próprias Fraternidades.
Segundo outros, a iniciativa de um Secretariado dos Leigos, se vingasse, significava total inversão da ordem então existente na administração das Fraternidades. Isto explica que, já na sessão interobediencial da Conferência dos Assistentes Gerais e mais peritos das quatro Obediências, reunidos em Assis, de 2 a 8 de janeiro de 1968, este assunto do Secretariado dos Leigos fosse objeto de considerações, ainda que não o principal. Uma das conclusões dessa sessão interobediencial é a que decide a criação de um Secretariado Interobediencial para estreitar a colaboração das quatro Obediências, devendo ser proposto aos quatro Ministros Gerais um nome para dirigir esse Secretariado da Ordem Primeira e da TOR. Seus objetivos eram bem mais amplos, porém, semelhantes aos do Secretariado dos Leigos.

7. Concluindo.

A partir daí, registrou-se um grande avanço.
Os Franciscanos Seculares, em geral, que estavam reunidos em Roma, em outubro de 1967, haviam, manifestado, com grande franqueza e convicção, seu intenso desejo de haver mudanças na estrutura da Ordem Terceira, de acordo com as orientações do Concílio Vaticano II. Atendendo a esses reclamos, os Padres Comissários Gerais decidiram criar também um Conselho Internacional Interobediencial dos Leigos. Coube ao secretário-executivo expedir, da Austrália, uma primeira carta-circular aos quinze primeiros membros designados para integrarem esse Conselho interino ou provisório. Porém, ele foi logo sustado para dar lugar ao estabelecimento de um Conselho Mundial dos Leigos, formalmente constituído, de acordo com orientações a serem expedidas.
A fim de que isso se tornasse viável é que a 4ª conclusão da Sessão Interobediencial de Assis dos Comissários Gerais insistiu na criação, em cada país, de um  Comitê Interobediencial de Terceiros e de Assistentes para fortalecer aqueles trabalhos das Presidências Obedienciais que precisam ser feitos em conjunto.
 Para comprovar e terminar o que foi escrito sob o número 6 deste artigo, limito-me a indicar o artigo “Esboço de organização da Ordem Terceira Secular em plano mundial”, no qual se assinala o que é de competência dos Comissários e Assistentes e o que compete aos Leigos. (Cf. PAZ E BEM, março-abril de 1968, págs. 50-51).
Dou por encerrado o que pude relatar sobre tudo o que se relacionou com o Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos, de 1967. Foram excelentes as conseqüências de tudo o que houve. Acredito que se pode datar, de então, o início das profundas mudanças na Ordem Terceira, confirmadas, dois anos depois, nas Moções do Congresso de Assis, de 1969, e no texto, simples e profundo, da nova Regra da OFS, promulgada em 1978.
Desculpem não ter sabido escrever mais breve. Trata-se, no entanto, de um pouco da história da OFS do Brasil, que precisa ser resgatada no seu todo.                 
Continua no próximo boletim.
                                                                       
Paulo Machado da Costa e Silva, OFS Petrópolis RJ
Continua no próximo boletim. T

Pastoral Vocacional!!!
Uma Necessidade

Ouve-se muito dizer em pastoral vocacional, afim de arrebanhar novos franciscanos seculares.
Não pretendo aqui, ir contrario a necessidade da mesma. Considero de suma importancia pensar em meior de divulgar e tornar conhecido o nosso carisma mas, gostaria de refletir melhor com você sobre a Pastoral Vocacional “Ideal”. 
Diz-se que, no inicio do Cristianismo, aqueles que observavam os Cristãos dos primeiros séculos, diziam admirados: “ Vede como eles se amam”, e assim crescia o numero dos cristãos dia após dia, o que, não foi differente com Francisco e seus primeiros frades.
Como eles viviam este amor? Como eles praticavam, exercitavam o amor a exemplo de seu mestre?
O salmista diz: “Farei que se cale diante de mim quem é falso e às ocultas difama seu próximo. (Sl. 100,5). São Tiago nos exorta: “Não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de seu irmão, ou o julga, fala mal da lei e julga a lei. E se julgas a lei, já não és observados da lei, mas seu juiz. Não há mais que um legislador e um juiz: Aquele que pode salvar e perder. Mas, quem  és tu, que julgas o teu próximo? (TG 4,11-12).
Creio que os primeiros cristãos liam e colocavam em pratica estes versiculos da Biblia e assim, o coração deles era aberto e preparado para o amor a imitação Daquele que sendo elevado na cruz, mesmo observando as ironias, os sarcasmos, as ofensas e a provocação do povo, orava ao Pai: “Perdoa-lhes pois não sabem o que fazem”. Pede perdão por aqueles que ele ama e, espera que ainda se convertam. São Francisco, em suas admoestações, cita a carta aos Romanos 2,5: “Ao servo de Deus nada deve  desagradar, a não ser o pecado. E, se alguma pessoa pecar, seja qual for o modo, e por causa disto e não por caridade o servo de Deus se perturbar ou se irar, entesoura para si a culpa.”
São Francisco quiz seguir o exemplo dos primeiros cristãos e, quiz viver em fraternidade. Ele se preocupava em como os irmãos deveriam se congregar.
No livro “São Francisco de Assis”, de Maria Sticco, é narrado um episódio muito importante para nossa reflexão. Na pagina 95 diz que eles “Preservavam-se das palavras ofensivas e, se uma ou outra vez alguem dizia ou pensava o que quer que pudesse desagradar ao outro, logo lhe pedia perdão de joelhos e queria que o ofendido lhe pisasse a boca”. Admiravel que não se permitiam nem mesmo pensar o mal do outro.
  Vejo isto como o regar o coração com bons sentimentos com relação ao outro que, não tem que ser ou pensar  exatamente como nós gostariamos que fossem ou pensassem. No espelho da perfeição 85 retrata muito bem o desejo de nosso Pai Seráfico. Ele narra 17 virtudes distribuidas em 9 frades. Para mim ele já diz no singular: “Frade Perfeito” pois ele que que os membros de uma fraternidade sejam como um unico corpo, e a soma da virtude de cada membro, teremos a fraternidade perfeita ou me atreveria a dizer, o Reino dos Céus nesta terra, no espaço que ocupamos hoje. E se, por uma loucura interior, quizer fazer o oposto, observar em cada membro de uma fraternidade os defeitos, as vicissitudes que todos, indiscriminadamente tem. O irmão que assim o fizer só verá o erro, o mal nos irmãos e aos poucos irá se estampando em sua face o mesmo semblante de Caim que Deus logo conheceu a intenção do coração. Ao invés da fraternidade perfeita, do Reino dos céus, terá o inferno dentro de sí.
Sigamos o bom caminho do frade perfeito e, quem sabe, seguindo estes conselhos evangélicos e o exemplo dos primeiros franciscanos, demos o testemunho ideal para uma sociedade em que as relações estão tão decadentes, as pessoas possam se admirar com nossa forma de vida e queiram viver conosco este fraternismo que não é responsabilidade do conselho só mas, de cada professo.
Esta é a pastoral vocacional que francisco sempre quiz.
Paz e Bem!   

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