BOLETIM INFORMATIVO DE DEZEMBRO DE 2017
A Verdadeira História de Papai-Noel
Pd.Paulo
Ricardo de Azevedo Junior
São Nicolau,
cuja memória a Igreja celebra neste dia 6 de dezembro, tornou-se conhecido por seu costume,
segundo uma antiga tradição, de
entregar presentes secretos aos pobres e necessitados, o que lhe valeu
ser a figura hoje tão conhecida do “Papai Noel”, bastante comum nos festejos de
Natal.
Em nossos dias,
porém, o mítico sobreviveu ao místico: a lenda
explorada com fins comerciais acabou ofuscando a verdadeira biografia deste
grande homem. Qual é, então, a sua verdadeira história?
Nicolau
nasceu na antiga cidade de Pátara, território da atual Turquia, por volta do
ano 270, sendo educado por uma família de pais nobres e muito virtuosos. Seu
desejo de dedicar-se a Deus brotou na mais tenra idade, fazendo-o viver
inteiramente devotado à
Palavra de Deus, de tal maneira que, tendo herdado, com a morte dos pais, grande fortuna, fez-se apenas um
administrador daqueles bens que se tornaram dos pobres.
Ao mudar-se para
a cidade de Mira, onde quis viver mais secretamente, Nicolau, já muito virtuoso
e de uma piedade divina, foi aclamado bispo, e logo ficou famoso tanto pelos
inúmeros milagres que por ele Deus realizava quanto por sua grande
caridade, da qual procediam as esmolas e os presentes “secretos” aos
necessitados.
Ninguém confunda
sua caridade, porém, com leniência ou complacência.
Nesse sentido,
um episódio marcante de sua vida ficou registrado nas atas do Concílio de
Niceia, a primeira grande reunião de bispos da Igreja Católica, ocorrida em 325.
Na ocasião, os cristãos deparavam com uma grande e perigosa heresia: o arianismo,
que negava a divindade de Jesus. O historiador católico Daniel-Rops relata que,
quando os bispos ali reunidos ouviram “alguns fragmentos” dos escritos de Ário,
“os erros mostraram-se tão patentes que uma onda de indignação sacudiu todos
aqueles homens fervorosos”
Um deles foi
justamente o “bom velhinho”, São Nicolau: já cansado da
insolência de Ário, conta-se que o corajoso bispo confrontou fisicamente o heresiarca,
esbofeteando-lhe a boca.
Os prelados ao redor
se assustaram e, mesmo discordando de Ário, viram-se obrigados a punir o “zelo
excessivo” de Nicolau, trancafiando o bispo na
prisão e confiscando o seu pálio e a cópia que ele possuía dos Evangelhos. A
resposta do Céu à ira de São Nicolau, no entanto, parece ter sido bem outra.
Alguns dias depois do ocorrido, os próprios Jesus e
Maria visitaram o bispo em sua cela. “Por que estás
aqui?”, teria perguntado Nosso Senhor a Nicolau, ao que ele respondeu: “Porque
vos amo, meu Deus e Senhor”. Imediatamente, foram-lhe devolvidos os
símbolos de sua dignidade episcopal.
É por isso que,
em muitos ícones do santo, é possível vê-lo ladeado de Nosso Senhor e de Nossa
Senhora, respectivamente com um livro e um pálio nas mãos. Destituído
do ofício episcopal por seus irmãos, o bispo de Mira terminou o grande Concílio
de Niceia readmitido diretamente pelo próprio Deus.
Hoje, São Nicolau
é muito venerado tanto no Oriente, onde nasceu e exerceu seu ministério
episcopal, quanto no Ocidente. Foi da cidade italiana de Bari, afinal, onde se
encontram suas relíquias, que a devoção ao “bom velhinho” se espalhou por todo
o continente europeu.
Santo Tomás de
Aquino, por exemplo, foi um grande devoto de São
Nicolau. Foi em um 6 de dezembro, a propósito, que o Doutor Angélico,
celebrando Missa numa capela dedicada a São Nicolau, recebeu de Deus uma visão
que o fez dizer, poucos meses antes de entregar sua alma a Deus: “Tudo que
escrevi até hoje parece-me unicamente palha, em comparação com aquilo que vi e
me foi revelado”. Sem sombra de dúvida, um presente extraordinário
recebido pelas mãos de São Nicolau.
Neste tempo de
Advento, preparando a vinda do Senhor, peçamos a São Nicolau que obtenha também
a nós este dom de Deus: o desapego deste mundo de palha e a posse inamissível
do Cristo.
São Nicolau de
Mira e de Bari,
rogai por nós!
rogai por nós!
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO
É com o coração transbordante de alegria que celebramos
hoje a Solenidade da Imaculada Conceição da toda santa Mãe de Deus. O mistério
que constitui o objeto desta celebração litúrgica pode ser encarado de um duplo
ponto de vista: a) negativamente, a Imaculada Conceição
designa o privilégio singularíssimo com que Deus onipotente preservou Maria
SS., em atenção aos méritos futuros da morte de Cristo, de toda mancha do
pecado original desde o primeiro instante de sua concepção no ventre de
Sant’Ana; b) positivamente, a Imaculada Conceição
refere-se às consequências desta imunidade especial: a Virgem puríssima, além
de ter sido preservada de toda culpa original, foi também cumulada de uma
plenitude de graça imensamente superior à de todos os anjos, santos e
bem-aventurados juntos. Criada toda bela e perfeita, livre de qualquer
inclinação ao pecado, Maria recebeu uma inocência e uma santidade que a tornaram capaz de amar dignamente o fruto bendito que
o Espírito Santo formara em seu seio virginal.
Esse cúmulo de graça,
porém, não nos deve fazer pensar que nossa Mãe SS. não cresceu espiritualmente
ao longo de sua vida na terra. É por isso que os teólogos costumam distinguir
três etapas sucessivas do crescimento na graça por que passou Nossa
Senhora: a) em primeiro lugar, Maria recebeu no instante mesmo em
que foi concebida uma graça inicial que a preparou para ser
digna Mãe de Deus; b) essa mesma graça sofreu ainda um aumento
extraordinário no momento em que o Verbo divino, anunciado pelo Arcanjo Gabriel, tomou em suas entranhas
uma carne humana perfeitíssima; c) essa graça, por fim, chegou ao
seu grau máximo quando, terminado o curso de sua vida terrestre, a Rainha dos
céus foi assunta ao seu trono celeste, donde governa todo o universo e goza de
uma bem-aventurança eterna proporcional ao amor insuperável e intensíssimo que
tinha a Deus antes de ser elevada em corpo e alma sobre todos os coros
angélicos.
Essas três etapas progressivas que Maria percorreu em
seu crescimento na graça, longe de ser uma curiosidade teológica, guardam
estreitas analogias com a nossa comunhão
diária. Com efeito, para recebermos a Cristo sacramentado, precisamos, à
semelhança de Maria, estar adornados primeiramente com uma graça inicial — a
graça santificante —, que prepara a nossa alma para a vinda sacramental do
Verbo encarnado. E assim como Deus dilatou o coração de Maria no momento mesmo
de ela conceber o seu Filho, assim também o nosso coração, no momento de
comungarmos, tem de expandir-se em atos de caridade e gratidão, para que amemos
e acolhamos com ainda mais fervor o nosso divino hóspede. Se vivermos assim,
dia após dia, a nossa comunhão, Deus irá fazer-nos progredir na graça e na
caridade, aumentando a herança da glória eterna que nos foi prometida. — Que
Maria Imaculada, sem pecado concebida, interceda a nosso favor e nos ajude a
comungar sempre melhor, preparando-nos bem, fazendo-nos amar mais e
conduzindo-nos pela mão às alegrias do céu.
Pd.Paulo
Ricardo de Azevedo Junior
É sempre tempo de Advento
Quando falamos em Advento certamente pensamos mais no
período antes do Natal, pensamos mais na vinda, no Advento do Senhor. Os
autores espirituais falam de três vindas: a primeira na pobreza de
Belém, a segunda no fim dos tempos e a terceira, discreta, em nosso dia a dia.
Sabemos que sempre é tempo de vigilância, de ter velas acesas nas mãos
esperando a chegada do Senhor e a irrupção do cortejo do esposo que chega para
a festa da intimidade.
Desnecessário ficar repetindo
que vivemos na agitação, na superficialidade. Disto temos plena consciência.
Isso nos incomoda. Com atividades febris, correria, tarefas urgentes ou
inventadas, nossas horas parecem curtas e mal começamos a percorrer o mês de janeiro
temos a impressão de que o tempo escapa de nossas mãos. Não temos tempo.
Há solicitações e urgências. Temos tanto que fazer que o tempo nos falta.
Tudo
se precipita. Não temos mais tempo de visitar o coração. Nossa vida é como essa
mania de comida rápida, sempre rápida (fast
food). Será que esperamos? O que esperamos? Na verdade não temos
tempo de ver crescer nossos amores, nossas crianças, nossas competências, simplesmente
nossa vida. Repetimos ideias. Somos sonâmbulos no trânsito, no
trabalho, no metrô, na família. Um autor assim se exprime: “Vivemos o
tempo da recusa do tempo; os mostradores de nossos
relógios não têm mais os ponteiros que iam pulando de segundo em
segundo, na direção da hora seguinte. Acabou-se o tempo em
que o tempo era um espaço a ser percorrido. Por medo do futuro e esquecimento
do passado fomos nos tornando zelosos turiferários da religião do
instante” (Bertrand
Révillion, Revista Panorama (Paris), 2002, p. 3).
Religião do instante… como isso é verdade.
Faz muito bem viver o tempo do
Advento. Reencontrar as passagens de Isaías, ver o Batista apontando para
aquele que vem, estar perto de Maria grávida de Deus. Há qualquer coisa de novo
no ar. Vamos, pois, nos revestindo de esperança.
O futuro não nasce
inopinadamente. Ele é resultado de fecundações lentas que deixamos
germinar no ventre da Natal nada mais é do que um fabuloso dom feito ao
homem: o tempo longe de ser uma prisão que acorrenta e que leva ao nada,
é chance de vida. Natal que dizer que Deus se fez tempo, nasceu no tempo, que a
eternidade está no tempo.
Celebrar o Advento é ousar
viver o tempo das lentas maturações, reaprender a caminhar lentamente, passo a
passo, para nossa mais densa e profunda humanidade. É quebrar essa cadeia
frenética do tempo vazio demais porque cheio de coisas sem valor, é
fazer em si, em seu mistério de homem, lugar para a chegada do Inesperado.
Viver o Advento é dizer a todos
os desesperados que a terra tem um amanhã desde que deixemos esse futuro
nascer. E o futuro é sempre esse Deus que vem. Ele, o Inesperado, vem.
… “Os satisfeitos não
buscam nada realmente novo. Não trabalham para mudar o mundo. Não
lhes interessa umfuturo melhor. Não se revoltam
diante das injustiças, dos absurdos do mundo presente. Na realidade, este
mundo é para eles o céu ao qual se candidatariam para sempre. Podem permitir-se
ao luxo de não esperar nada melhor. Como é tentador adaptar-se
sempre à situação, instalar-nos confortavelmente em nosso pequeno
mundo. Mas não esqueçamos: somente aqueles que fecham os olhos e os
ouvidos, somente aqueles que se tornaram insensíveis, podem sentir-se à vontade
num mundo como este( R.A.Alves) (Pagola,
Lucas, p 337).
Até o fim da vida, o homem está
sob o regime do Advento: “O ‘agora’ eterno já está em teu interior, esse
‘agora’ que ninguém pode encurtar, nem para atrás, nem para frente e que já
começou a arrumar em ti o buquê de todos os instantes terrenos. Até o dia em
que ouvirás: “Entra na alegria de teu Senhor” (Mt 25,21), estarás no regime do
Advento. Deus, no momento, não espera de ti uma alegria exuberante, porque são
pesadas as correntes que te prendem no tempo, mesmo que elas tenham
começado a cair. A única coisa que te é pedida é de alimentar esta
alegria humilde e discreta da fé que vive na ardorosa espera do
mundo que está para vir, tão firme que faz com as coisas que caem sob nossos
sentidos não constituem a totalidade da realidade; a alegria humilde do
presidiário ainda encarcerado mas que sabe que está para ser
libertado” (Karl Rahner).
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Santa Maria do Ano Novo
Estamos
vivendo as primeiras horas do ano novo de 2014. Hoje é dia Santa Maria,
Mãe de Deus. A mulher que está no presépio
é a Mãe de Deus feito carne, feito homem, feito história. Uma mulher pode ser
chamada de Mãe do Altíssimo.
Uma homilia atribuída a Santo Agostinho diz belamente: “Os profetas pregaram
que o Criador do céu e da terra iria aparecer na terra entre os homens; o
Anjo anunciou que o Criador da carne e do espírito viria na carne. João
saudou-o desde o seio do Salvador, e que
estava também no seio; o ancião Simeão reconheceu a Deus no menino que
não falava; a viúva Ana e a Virgem Mãe”.
Na
realidade contemplamos hoje a figura de Maria, Mãe de Deus. Aquele que o
universo não podia conter, aquele que é saudado com adoração pelos espíritos
mais puros, aquele que não tem limites, entra no limite do seio de Maria, é
amamentado pelos seus seios e guiado por sua mão. Hoje é festa da Mãe Deus.
“O
Emanuel foi rebento deste mundo que outrora ele havia criado, aparecendo como
um recém-nascido, ele que era Deus antes da eternidade; recostado em uma
manjedoura, excluído do habitat comum, então veio para preparar
moradas eternas. Confinado a uma gruta e apontado por uma estrela, cumulado de
presentes pelos magos e pagando o resgaste do pecado, carregado nos braços de
Simeão e abraçando o universo pela extensão de sua potência divina, visto como
um infante pelos pastores e reconhecido como Deus pelo exército dos anjos
que cantavam sua glória no céu, a paz sobre a terra, a benevolência de
Deus para os homens” (São Basílio de Selêucia).
Maria é a mãe do príncipe de paz. É bom ouvir a bênção do Livro dos
Números lida com primeira leitura, bênção tão próxima da bênção de São
Francisco: "O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar
sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte o seu rosto para ti
e te dê a paz”. É nossa bênção de Ano Novo.
Maria do Ano novo, colocada diante de nós nesse primeiro de janeiro, quer nos
inspirar um modus vivendi para os tempos de 2014:
* Maria é aquela que faz a vontade de Deus, é a serva sempre
aberta ao que o Senhor quer;
* é aquela que gosta de levar as
coisas que ouve ao fundo do coração;
* é aquela que se torna morada de
Deus.
Inspirando-se em Maria, às portas do Ano Novo, os cristãos verdadeiros
se comprometem:
* a buscar a vontade de Deus em
sua vida, na família e no seio da Igreja;
* a fugir de toda
superficialidade levando as coisas de Deus ao fundo do coração;
* a levar uma vida digna e nobre para
serem tabernáculos do Altíssimo.
Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM