BOLETIM
INFORMATIVO DE JANEIRO DE 2015
“Nome
santíssimo, tão desejado pelos antigos patriarcas, esperado com tamanha
ansiedade, repetidas vezes protelado, concebido com misericórdia no tempo da
graça. Omita-se qualquer denominação de poder, não se fale de reivindicação,
retenha-se o nome de justiça. Dá-se o nome de misericórdia, soe o nome de Jesus
aos meus ouvidos, e então, sim, tua voz será suave, belo o teu rosto.
O nome de Jesus, sólida base da fé, suscita
filhos de Deus. A fé da religião católica consiste no conhecimento e fulgor de
Jesus Cristo, luz da alma, porta da vida, fundamento da salvação eterna. Quem
não tiver tal fé ou abandona-la, caminha às escuras nas trevas da noite,
precipita-se de olhos fechados no meio dos perigos, e por mais que brilhe a
grandeza de seu entendimento, acompanha um guia cego porque segue o próprio
intelecto, à busca de compreender os segredos celestes. Ou tenta construir
casas sem alicerce, ou ainda deixa a porta e quer entrar pelo teto. A
base, pois, é Jesus, luz e porta, o qual, a fim de mostrar o caminho aos errantes,
manifestou a todos a luz da fé, que torna possível procurar o Deus
desconhecido, crer que no que foi procurado, encontrar aquele em quem se
acreditou. Este fundamento sustenta a Igreja,
edificada sobre o nome de Jesus. O nome de Jesus é esplendor dos pecadores,
visto que por luminoso fulgor anuncia e faz com que seja ouvida a sua
palavra. De onde vem a todo mundo a luz da fé, tão grande, súbita e ardente,
senão do anúncio de Jesus? Acaso Deus não chamou à sua luz admirável por
intermédio da claridade e do sabor deste nome? Assim iluminados, e vendo nesta
luz a luz, diga com razão o apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois
luz do mundo; comportai-vos como verdadeiras luzes (Ef 5,8).
Ó nome
glorioso, nome grato, nome amante e virtuoso! Por ti perdoam-se os crimes, por
ti são superados os adversários, por ti os enfermos são curados, por ti
os que sofrem adversidades se fortificam e se alegram! Honra dos fiéis, doutor
do pregadores, robusteces os que trabalham, sustentas os que fraquejam. Em teu ígneo fervor e em teu
calor inflamam-se os desejos, impetram-se sufrágios pedidos, inebriam-se as
almas que contemplam e glorificam-se todos os que triunfam na celeste glória.
Por este santíssimo nome, dulcíssimo Jesus, faze-nos reinar em tua
companhia”.
São Bernardino de Sena
(Próprio da Família Franciscana, p. 33-34)
Direito e Dignidade humana
“Considerar como uma graça tudo quanto dificultar o teu
amor a Deus, Nosso Senhor, bem como as pessoas que te causam aborrecimentos,
sejam irmãos ou gente de fora, mesmo que cheguem a te fazer violência. Amar aos
que assim contra ti procedem, não exigindo deles outra coisa senão o que o
Senhor te der. E justamente nisso deves amá-los, nem mesmo desejando que eles
se tornem cristãos melhores. E nisso reconhecerei que amas realmente o Senhor e
a mim, servo dele e teu, se fizeres o seguinte: não haja irmão no mundo, mesmo
que tenha pecado a não poder mais, que, após ver os teus olhos, se sinta talvez
obrigado a sair de tua presença sem obter a misericórdia se misericórdia
buscou. E se não buscar misericórdia, pergunta-lhe se não quer recebê-la. E se
depois disso ele se apresentar ainda mil vezes diante de teus olhos, ama-o mais
do que a mim, procurando conquistá-lo para o Senhor”. (Raices de America)
Dignidade Humana é o
direito de ser gente, de ser tratado, respeitado e acolhido como gente. Não há
homem ou mulher no mundo que possa dar ou tirar essa dignidade. As pessoas só
podem cultivar a dignidade com seus dons, ou estragar com suas maldades.
Dignidade Humana é o
jeito que Deus encontrou de morar no mundo e na
gente. É aquele que Deus pôs no homem e na mulher quando os criou parecidos com
Ele (Gn 1, 26-28).
Não é o cargo, o
título, o curso que você faz que o torna mais gente, mas a PESSOA DIGNA que você
é que faz o cargo, o título e a profissão que você sonha ou exerce!
O cargo de Presidente
da República é Nº 6 menos importante que uma criança nascida agora, numa favela
de qualquer cidade. Pensar deste jeito é respeitar a dignidade humana. É ser
cristão, é ser profundamente humano, irmão, irmã, como Francisco queria..
A Declaração Universal
dos Direitos Humanos adotada a partir de 10 de dezembro de 1948 na
Assembléia-Geral da ONU diz:
• Seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos;
• toda pessoa tem
todos os direitos e liberdades sem distinção de cor, sexo, idioma, religião,
opinião política e posição econômica;
• todo indivíduo tem
direito à vida, à liberdade, à segurança;
• todos são iguais
perante a lei e têm direito de igual proteção da lei;
• todos têm direito à
liberdade de pensamento, de consciência e religião;
• todos têm direito à
liberdade de opinião e expressão;
• todos têm direito
ao trabalho, à livre escolha de seu trabalho, a condições EQUITATIVAS e
satisfatórias no trabalho e proteção contra o desemprego;
• todos têm direito a um nível de vida adequado, saúde,
bem-estar, alimentação, vestuário, habitação, assistência médica e serviços
necessários;
• toda pessoa tem
direito à educação e de participar livremente da vida cultural da comunidade,
do FLUIR das artes e de participar do progresso científico e dos benefícios que
dele advenham.
Ilumine-se com
Francisco
“Ó glorioso Deus
Altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, concedei-me uma fé verdadeira,
uma esperança firme e um amor perfeito. Dá-me, Senhor, o reto sentir e
conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais
de dar-me. Amém!”
(São Francisco,
“Oração diante do Crucifixo”)
Ilumine-se com a
Palavra de Deus
“Vejam! Eu vou criar
um novo céu e uma nova terra. As coisas antigas nunca mais serão lembradas, nunca
mais voltarão ao pensamento. Por isso fiquem para sempre alegres e contentes,
por causa do que vou criar.
Farei de Jerusalém
uma alegria, e de seu povo um regozijo. Exultarei com Jerusalém e me alegrarei com
o meu povo. E nela nunca mais se ouvirá choro ou clamor. Aí não haverá mais
crianças que vivam alguns dias apenas, nem velhos que não cheguem a completar
seis dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos, e quem não chegar
aos cem anos será tido por amaldiçoado.
Construirão casas e nelas habitarão, plantarão
vinhas e comerão seus frutos. Ninguém construirá para outro morar, ninguém
plantará para outro comer, porque a vida do meu povo será longa como a das
árvores, meus escolhidos poderão gastar o que suas mãos fabricarem. Ninguém
trabalhará inutilmente, ninguém gerará filhos para morrerem antes do tempo,
porque todos serão a descendência dos abençoados de Javé, juntamente com seus
filhos. Antes que me invoquem eu responderei; quando começarem a falar, eu já
estarei atendendo. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão comerá capim
junto com o boi, mas o alimento da cobra é o pó da terra. Em todo o meu monte
santo ninguém causará danos ou estragos, diz Javé.”
Reflita
Que futuro tem um
país que não respeita crianças, jovens e velhos?
Quando você anda pela cidade encontra meninos (as) nos semáforos vendendo de
tudo, lavando pára-brisas, esmolando… Qual a distância entre você e esses seres
da rua?
Você é um PACATO CIDADÃO… Sabia
que a CIDADANIA
é o direito de viver decentemente? Se existe cidadania, por que a sociedade
gera os sofredores de rua? Isso não revela uma sociedade que fecha
oportunidades para todos. Inclusive para você…
Justiça é a concretização da atitude marcada
pelo amor. Amar não é dominar, mas respeitar a liberdade, a emancipação e a
dignidade humana plena.
“Estejam presentes
pelo testemunho da própria vida humana, bem como por iniciativas corajosas,
quer individuais quer comunitárias, na promoção da justiça, particularmente no
âmbito da vida pública, comprometendo-se com opções concretas e coerentes com
sua fé.”(Regra e Vida dos Franciscanos
Seculares, 13 e 15)
Como alguém que
participa da Universidade São Francisco…
Como ser sinal de
justiça e paz na sociedade?
Criação:
Frei Vitório Mazzuco
Habitar o coração
O louvor
de Deus que leva ao amor é filho do silêncio e da solidão.
O deserto
silencioso foi para mim fonte de progresso em minha vida, quer dizer da vida
divina em mim (Gregório
de Nazianzo)
A) “O
caminho da interioridade…
…. Hoje se dá num tempo de mudanças, tempo
rico de muitos sinais de redescoberta da interioridade e do silêncio. A
sociedade secularizada vem focada sobre o indivíduo fragmentado, com uma
identidade fluida. Temos diante de nós uma mudança radical da visão do homem,
determinada sobretudo pela tecnologia. São imensos os recursos da
inteligência humana, descobertos
hoje que podem ajudar o homem a criar um mundo melhor. É importante que o homem
permaneça sujeito desse desenvolvimento, sobretudo a partir da verdade profunda
de si mesmo. Confrontamo-nos também com o medo de entrar em nós mesmos,
com a pobreza de sentimentos, de afetos, de capacidade de amar e deixar-se
amar. No espaço da interioridade, o silêncio pede a escuta de nós mesmos, dos
outros e da realidade. Os meios de informação podem iludir-nos, ao
dar-nos a sensação de evitarmos esse trabalho. Na verdade tornamo-nos estranhos
a nós mesmos. O percurso para dentro de nós mesmos não é só terapêutico
para nossa cultura de barulho, mas também vem a ser um caminho voltado para o
acolhimento, para uma nova civilização do amor. O caminho para dentro de
nossa interioridade e para o silêncio torna-se, então, testemunho de uma opção
de vida alternativa” ( O caminho que leva ao lugar do coração,
Cúria Geral OFM, Roma 2003).
B)
“Várias intervenções dos Padres sinodais…
…Insistiram sobre o valor do silêncio para
a recepção da Palavra de Deus na vida dos fiéis. De fato a palavra pode ser
pronunciada e ouvida apenas no silêncio exterior e interior. O nosso
tempo não favorece o recolhimento e, às vezes, fica-se com a impressão de ter
medo de se separar, por um só momento, dos instrumentos de
comunicação de massa.. Por isso, hoje é necessário educar o Povo de Deus
para o valor do silêncio. Redescobrir a centralização da Palavra de Deus na
vida da Igreja significa também redescobrir o sentido do recolhimento e
da tranquilidade interior. A grande tradição patrística ensina-nos que os
mistérios de Cristo estão ligados ao silêncio e é só nele que a Palavra
pode encontrar morada em nós, como aconteceu com Maria, mulher indivisivelmente
da Palavra e do silêncio. As nossas liturgias devem facilitar esta escuta
autêntica conforme Agostinho: Verbo crescente, verba deficiunt
( Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, de Bento
XVI, n. 66).
C) J, Martin Velasco descreveu…
… Bem a situação espiritual das sociedades
impregnadas pela cultura dita pós-moderna. Uma cultura da
intranscendência que prende as pessoas no aqui e agora fazendo com
que vivam apenas do imediato, sem necessidade de abrir-se à
Transcendência. Uma cultura da “distração” (em castelhano divertimento)
que arranca os indivíduos de seu interior fazendo com que esqueçam
as grandes questões que o ser humano tem no coração. Uma cultura do
“ter” que exercita o espírito de posse, incapacitando as
pessoas para tudo aquilo de não seja um desfrutar imediato que facilmente
desliza do pluralismo ao relativismo e à indiferença” (José A. Pagola, Testigos
del misterio en la noche, Sal Terrae, enero 2000, p. 29).
● Os textos lidos nos levam a querer buscar o
caminho que nos leva ao fundo do coração, mais exatamente ao lugar do
coração. “Tomando contato com as raízes de nossa vida e de nossa fé.
Nesse ponto é possível aprofundar o dinamismo que existe entre
interioridade-silêncio e missão evange-lizadora, como parte essencial do
carisma (franciscano). A interioridade, finalmente espaço habitado, é o
clima, o ambiente, o húmus do encontro de Deus com as
criaturas humanas. A oração litúrgica e pessoal cresce, quando
brota do “lugar do coração” e vem protegida pelo silêncio. Descobrimo-la
como uma realidade viva para escutar e acolher a Palavra de Deus. O silêncio deixa de ser apenas uma
regra a ser observada. Santa Clara, com a metáfora do espelho, mostra-nos
o âmago desse caminho: “Olha dentro desse espelho todos os dias… espelha nele
constantemente o teu rosto” (4CtIn 15) (O caminho que leva…, op.cit., p.
14-15).
Frei Almir Ribeiro Guimarães
● Desnecessário dizer que os espaços de silêncio se
fazem cada vez mais raros em nossos tempos. Desde que acordamos chega
uma enxurrada de informações. Os torpedos e as imagens chegam
no celular e iluminam o quarto. Durante um concerto há pessoas que ousam
atender, discreta ou indiscretamente, o celular para tomarem
conhecimento das últimas informações que provavelmente têm pouca
importância diante do fascínio de uma sonata de Beethoven. As pessoas se
levantam de manhã, correm, se apressam. Há o barulho das máquinas,
o doce estalar dos no-brakes. Saímos de casa: transportes
coletivos cheios, ônibus incendiados, apitos das sirenes dos bombeiros,
pessoas empurrando pessoas, os celulares e as pessoas falando. Somos como que
mergulhados no seio do caos. Um mundo caótico.
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