sábado, 24 de novembro de 2012

O ARAUTO DO GRANDE REI

JORNAL DE NOVEMBRO DE 2012

FRATERNIDADE
Frei Toni Michels.
1.     É a forma de vida
Depois de tanto estudo sobre o movimento franciscano, certamente ninguém de nós tem dúvida: a fraternidade é um dos valores fundamentais que compõem a mística, a utopia, a forma de vida que o Senhor mesmo revelou a Francisco e que nós abraçamos por inspiração divina. É elemento essencial do modo franciscano de ser, de viver, de se relacionar em casa, na Igreja, com a humanidade e todas as criaturas. Para Francisco e Clara, o que nos caracteriza a partir do evangelho é, antes de tudo, sermos irmãos e irmãos. Irmãos e irmãs que cuidam um do outro mais do que a mãe cuida do seu filho carnal, irmãos que rezam, irmãos que servem, irmãos que trabalham, irmãos que vão pelo mundo, irmãos que administram os bens e assim por diante.
Tanto que muitas vezes a fraternidade resume e engloba a totalidade de nosso projeto de vida: a vida franciscana é assim: uma vida em fraternidade.
Trata-se de uma decisão, de uma uma opção: é assim que a gente quer viver, é assim que a gente quer ser. E isso comporta uma renúncia, um abandonar, um êxodo, um romper profeticamente com outros modelos, outras opções que podem ser bem mais óbvias, mais aceitas na sociedade e na cultura.
2.   Fundamentos da Fraternidade
Não é uma fraternidade pela fraternidade, o que seria um fraternismo (ismo tem um sentido negativo: indivíduo, individual é bom; individualismo é o indivíduo enlouquecido, é a idolatria do eu). A opção pela fraternidade não é um motivo utilitário, como se faz cooperativa porque é mais vantajoso produzir em conjunto do que isolado. Não é a "fraternidade" da revolução francesa, nem a igualdade do marxismo. A fraternidade cristã e franciscana tem um fundamento em Deus mesmo, um fundamento teológico. Para Francisco e Clara, a fraternidade nasce de uma visão teocêntrica e trinitária da vida e do seguimento de Cristo "que se fez nosso caminho". Vamos trocar isso em miúdos:
    Jesus nos revelou: Deus, na sua intimidade não é solidão. É comunhão de 3 diferentes pessoas divinas. Esse Deus comunhão é reunidor: não conduz nem salva ninguém isolado, mas em comunidade. Fraternidade é entrar no movimento do próprio Deus, é encarnar a comunhão do Pai do Filho e do Espírito Santo, origem e modelo de tudo, é tornar presente o amor com que Deus nos amou.
    Quando o Filho de Deus veio a este mundo, formou a comunidade dos seus discípulos missionários. Tudo começa com um encontro muito pessoal e íntimo com o Mestre, encontro feliz e iluminador. Mas converter-se a Jesus é sempre converter-se para uma vida em comunidade. Pelo batismo somos inseridos na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, bem como na comunhão da Igreja, Povo de Deus reunido no mundo em nome da Trindade. A vocação/missão cristã se vive em comunidade.
     A comunidade dos que crêem em Jesus se constitui inspirada na Comunidade Divina que "é a melhor comunidade". "O mistério da Trindade é a fonte, o modelo e a meta do mistério da Igreja" (DAp, n. 155). Os membros da comunidade são chamados a ser tão unidos, corresponsáveis e solidários uns com os outros, que essa relação é chamada de comunhão. A comunidade é, então, "casa e escola de comunhão".
    O Filho veio a este mundo como irmão nosso, a ponto de entregar a vida, solidário até com os mais abandonados e jogados fora. Ninguém mais está só!
     E não só nosso irmão, mas de toda a criação, pois seus corpo foi feito dos mesmos elementos que compõem todas as coisas, e que são resultado de bilhões de anos de evolução. Ressuscitado e glorificado, já levou para dentro de Deus a nossa humanidade e toda a criação.
     Fraternidade é seguir Jesus Cristo na loucura do seu amor pelo mundo, que se traduz em empatia, compaixão, misericórdia, solidariedade, serviço, entrega da vida. É dar-se por inteiro, transformar-se naquele que se ama.
     Em Jesus somos adotados como filhos e filhas e fazemos a experiência do Abbá. Então nossos semelhantes e todas as criaturas são irmãos e irmãs.
Esta vocação de viver em comunidade por inspiração divina e no seguimento de Cristo é do evangelho cristão, é do património de todos os cristãos. Mas que Francisco e Clara viveram e tematizaram de forma tão cabal que seu carisma lembra para a Igreja e para toda a humanidade a vocação para a irmandade, para a fraternidade, para a sororidade.
Na experiência de Francisco, a fraternidade tem início quando, nu, na praça de Assis, exclama: "Agora posso dizer: Pai nosso que estais no céu". Da experiência da paternidade de Deus que nasce a fraternidade. Dizer que somos "irmãos menores" é afirmar a centralidade de Deus na vida. É porque confio em Deus que me entrego à fraternidade, sem cálculos humanos.
O segundo substantivo mais usado por Francisco em seus escritos é "irmão". O primeiro é "Senhor". É pelo Senhor que somos irmãos e irmãs. A fraternidade nasce da centralidade de Deus na vida, da experiência do Deus Abbá. Se não for por Deus não acontece fraternidade. Se queremos fraternidade, precisamos nos abrir ao primado de Deus, voltar ao encanto, ao seguimento de Jesus que se fez nosso caminho. Analisar a vida pessoal e comunitária: no ordinário da vida, a quem de fato pertencemos? O que é que está no centro? A fraternidade surge da atitude de escuta/obediência à Palavra de Deus, da experiência de Deus, vale dizer, do espírito de oração e devoção. Podemos até lançar mão de meios que favoreçam à vida fraterna, capítulos, ajuda da psicologia etc, mas qualidade evangélica da convivência vem de Deus.
A própria ciência hoje nos faz termos consciência que somos um nó de relações com todos e com tudo e, querendo ou não, há uma relação, uma corresponsabilidade entre todos os seres. Podemos saber disto racionalmente, mas se o Espírito Santo não nos puxar para fora dos sentimentos meramente humanos, da escravidão aos instintos egoístas que moram em nós, não acontece fraternidade (acolhida, valorização, inter-ajuda, soma de forças). Fraternidade acontece quando "movidos pelo Espírito", quando se tem "o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar". A fraternidade nasce de relações profundas com Deus. Ela é possível quando há solidez espiritual.
3.  Converter-se para a fraternidade
Não nascemos fraternos, sabendo ser irmãos e irmãs. Ao contrário, nascemos no pecado original. Precisamos entrar numa escola, aprender. Ser irmão é resultado de um processo de conversão. Francisco e Clara também não nasceram fraternos.
Francisco diz: "O Senhor me deu irmãos". Os irmãos são um dom de Deus (cada presente de grego que o Senhor nos dá. Ou talvez sejamos nós o presente de grego para os outros). São um dom, sejam eles como forem, não em último lugar porque são imprescindíveis para a nossa conversão. "A vida comunitária é a máxima penitência" . Penitencia nos recorda logo dificuldade, sofrimento. Tem este aspecto, sem dúvida: até a pessoa amada tem hora que é insuportável. Mas penitência quer dizer purificação. O espírito de penitência é um valor importante do nosso carisma. Francisco e seus primeiros companheiros se identificavam como "penitentes de Assis". Penitente é quem está numa busca: sabe que algo lhe falta e que há excessos que precisam ser cortados.
Viver face a face, corpo a corpo uns com os outros é a grande chance de nos conhecermos e identificarmos que demônios moram em nós. Caem as máscaras, revelam-se as vaidades e as qualidades. É a grande chance de crescimento humano e espiritual. Às vezes, esperamos a vida inteira para que o irmão ou a irmã mude, quando o que de mais eficaz poderíamos fazer para mudar o irmão(ã) seria mudarmos a nós mesmos.
Impressiona nas fontes franciscanas e clareanas a familiaridade que acontecia nas fraternidades."Com confiança, um manifeste ao outro a própria necessidade, para que lhe procure e lhe sirva o que for necessário"(Rb 9,10). Acontece dentro das fraternidades muita distância, muita insensibilidade, muita falta de conhecimento, de familiaridade uns com os outros. Coisa de rico, onde há mais formalismo, performance, cada um na sua. No Divino todo mundo sabe de todo mundo. Não é por nada que as vezes acontece que um irmão morre no quarto do convento e é achado só dias depois, quando começa a feder. Precisamos ser mais humanos: sermos capazes de deixar de representar e expormos para os irmãos, os nossos sonhos, os nossos anseios, os nossos pecados. Não tenhamos medo de sermos fracos diante dos outros. Deus escolhe os fracos! E sermos mais humanos, compreensivos, misericordiosos, cheios de compaixão, solidários uns com os outros. Como Jesus, como Francisco e Clara. Em nossa humanidade nos encontramos. Quando o orientador espiritual desce da posição de representante da instituição com suas leis, quando deixa de representar aquele que não tem problemas, mas expressa também sua humanidade, aí o diálogo ganha outra qualidade.
4.   Não isolar a fraternidade dos outros valores da forma de vida
Qual seria o valor mais importante da forma de vida franciscana? A fraternidade? A minoridade e pobreza? O espírito de oração e devoção? A penitência? A missão evangelizadora itinerante? Mais vezes se lê que o relacionamento fraterno está acima de tudo, é o fim de tudo. Me parece que pode não ser salutar colocar a fraternidade assim isolada dos outros valores.
O que é mais importante no rosto? O nariz, a boca, os olhos, os ouvidos? Todos são importantes e existem juntos, um dependendo do outro. Se o rosto fosse só nariz, seria um monstro. Se fosse só boca, da mesma forma.
Assim também não se deve isolar e tematizar só um dos valores de nossa forma de vida pois parece que ou eles existem juntos ou não existem verdadeiramente. Uma coisa é certa: se isolamos um valor sem referência aos outros, fazemos besteira. Em nome da fraternidade, podemos construir palácios, contra a minoridade e pobreza. Podemos nos fecharmos em nossos interesses e sermos tão autoreferenciais que perdemos a dimensão da missão e o significado evangelizador. A dita fraternidade pode bastar-se tanto a si mesma que perde a centralidade de Deus.
O relacionamento de um casal se aprofunda e amadurece quando não olham mais só um para o outro mas juntos para os filhos, quando percebem que um casal cristão não pode viver um egoísmo a dois, mas que os dois juntos têm uma missão para fora dos muros da casa. Do grande projeto de Deus, do bem maior (Reino) é que vem a luz, o sentido, a orientação, a força também para o lar.
Da mesma forma, a missão evangelizadora congrega a fraternidade, lhe dá sentido. A penitência, a minoridade qualificam as relações. A oração faz beber na fonte da fraternidade. A abertura, o serviço ao irmão, sobretudo ao pobre, ao necessitado é caminho certo de experiência de Deus...
5.   Fraternidade e cultura atual
Quantas vezes já se viu uma família ou casal muito engajado na Igreja, muito bem formado na fé, na hora de celebrar o casamento agir de acordo com a cultura: preocupação com imagem, performance, status. Puro paganismo. É a força da cultura!
Pode ser que a cultura em que estamos mergulhados faça com que nem escutemos os apelos da Fraternidade. Ou, talvez, de alguma forma favoreça o ideal da Fraternidade. O que na cultura atual ajuda e, quem sabe, até abre possibilidades inéditas para testemunharmos a fraternidade? O que atrapalha e se coloca como obstáculo?

SANTA ISABEL DA HUNGRIA

De estirpe real, pois foi filha de André e Gertrudes, reis da Hungria, nasceu em 1207 e recebeu no batismo o nome de Isabel (Elisabeth), o qual significa ‘casa de Deus’. Aos quatro anos de idade viaja para a Alemanha onde cresceu juntamente com a família do seu noivo, Luís, príncipe da Turíngia e sucessor do rei da Turíngia, Hermano.
Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria uma boa companheira para Luís. E por isso perseguiram-na e maltrataram-na, dentro e fora do palácio.
Luís, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de se casar o quanto antes. O que aconteceu em 1221.
A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Um dia, Luís surpreendeu-a com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder... Mas ele, delicadamente, insistiu e... milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno Inverno. Feliz, guardou uma delas.
A sua vida de soberana não era fácil e frequentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso tinha o cuidado dos filhos: Hermano, nascido em 1222; Sofia em 1224 e Gertrudes em 1227.
Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que seu marido se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.
Quando Luís ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos que chegavam à Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter frequentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Família Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados e sacerdotes seculares. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!
Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e expulsaram-na do castelo de Wartburg. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno Inverno. Duas servas fiéis acompanharam-na, Isentrudes e Guda.
De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda a naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, lá dentro dela o Senhor chamava-a para se doar ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburg e lá foi morar com as suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legítimo de Luís. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de facto feliz. Por ordem do confessor, conservou algumas rendas, as quais reverteram para os pobres e sofredores.
Construiu um abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela sentia-se de facto rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de lhes dar maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!
De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. As suas servas testemunharam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade o sacramento dos enfermos. Quando o seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre a herança, respondeu tranquila: "Minha herança é Jesus Cristo!" E assim nasceu para o céu! Era 17 de Novembro de 1231.
Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de Maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira dos Irmãos da Ordem Franciscana Secular.

Frei Paulo Ferreira, OFM


ADVENTO

Todos os grandes eventos exigem uma preparação. Por isso, a Igreja instituiu, na Liturgia, um período que antecede o Natal: o Advento. Mas, ao longo da história da Igreja, tomou diversas formas.
Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o visitante é   ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.
Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.
Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de Advento.
 Significado do termo

Advento - adventus, em latim - significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Surgimento do Advento cristão
Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a "Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.
São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.
No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de "parusia".

O Advento nas Igrejas do Oriente

Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.
Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.
O Advento na Igreja Latina
É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo. Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém, nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo: "Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do mar" (Lc 21, 25). "Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21, 36). É a recomendação do Salvador.
Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Batista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.
Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a seguinte proclamação: "Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto". É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem- Deus, a Igreja pede que "a bondade do Senhor seja conhecida de todos os homens". Os paramentos são cor-de-rosa.
No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do que Ela, para nos conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.



Fontes:- Pe. Mauro Sérgio da Silva Isabel, EP; Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 18-19
- http://www.acidigital.com



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