BOLETIM
INFORMATIVO DE MARÇO DE 2015
A maior e mais antiga festa cristã
Frei Luiz Iakovacz
Após a Ressurreição, Cristo deixou esta
incisiva ordem aos apóstolos: “Ide, fazei discípulos meus todos os povos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a
observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). De fato, eles partiram e
evangelizaram vários países onde, também, sofreram o martírio – como nos diz a
Tradição da Igreja. A Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo marcaram
profundamente os apóstolos. Este fato não só se tornou o núcleo da sua
pregação, com também os levou a ler o Antigo Testamento sob a ótica pascal,
especialmente, da Ressurreição. Assim, no dia de Pentecostes, Pedro
dirigiu a Palavra a uma multidão de diferentes culturas e nações,
reinterpretando vários textos bíblicos e afirmando que Cristo – morto e
sepultado – “Deus O ressuscitou, e disto nós somos testemunhas”.
Tal anúncio causou um impacto tão
grande que os ouvintes perguntaram: “Que devemos fazer”? A resposta foi:
“Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome do Senhor Jesus. Naquele dia,
cerca de três mil pessoas abraçaram a fé” (cf. At 2, 14-41). Notemos que uma
evangelização convincente leva o ouvinte a pedir o batismo. Por isso, os
primeiros cristãos, após um catecumenato de três anos, livremente, pediam este
sacramento que era celebrado somente na Vigília Pascal, isto é, na noite em que
se anunciava a Ressurreição de Jesus. Esta experiência era um verdadeiro
“sepultar-se com Cristo para, com Ele, ressurgir a uma vida nova” (Rm 6,4). Por
isso, a Páscoa se tornou o centro do Ano Litúrgico, e tudo girava ao redor
dela. No entanto, tanto hoje como ontem, pairam “dúvidas” sobre a
Ressurreição. Alguns não creem nela, porque o evangelista Mateus diz que as
autoridades religiosas, maliciosamente, subornaram os guardas para que
desmentissem a Ressurreição de Cristo, dizendo que o corpo foi roubado enquanto
dormiam; e “esta versão continua até hoje” (cf. Mt 28,11-15). Outros descreem
porque as “aparições” foram poucas e a um grupo seleto: algumas mulheres (cf.
Mc 16,1-8), aos apóstolos (cf. Jo 20,19-29) e a uns quinhentos discípulos (cf.
1Cor 15,6).
Mais ainda: quando Paulo
anunciou a Ressurreição no areópago de Atenas, os ouvintes “zombaram dele
e disseram: sobre isso te ouviremos numa outra ocasião” (cf. At 17,16-34).
Então… onde buscar a certeza da Ressurreição?! Consideremos uma coisa: a Ressurreição
não consiste no reavivamento de um cadáver, nem se
explica com provas e argumentos. Para os cristãos, junto com o “sepulcro vazio”
e as “aparições”, a Ressurreição se fundamenta na dimensão da fé e da
liberdade. É o próprio Cristo quem o declara, textualmente: “Eu sou a
Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá. E quem
crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
Se quisermos anunciar a Ressurreição,
comecemos a viver como ressuscitados, isto é, como pessoas que servem e se
sacrificam pelo próximo, que sabem amar e dar a vida por amor. Foi assim que
Jesus viveu, e é assim que poderemos nos tornar provas vivas da sua
Ressurreição. Então, “nosso corpo se revestirá da incorruptibilidade e o nosso
ser mortal, da imortalidade” (1Cor 15,54). Este é o verdadeiro sentido da
Ressurreição!
www.franciscanos.org.br
Habitar o coração
Continuação
A) “O silêncio é escolha dos fortes e capacidade dos sábios. O homem
adentra-se no deserto para encontrar-se a si mesmo, para colocar ordem nas
próprias ideias, para fazer emergir, novamente, das profundezas o
essencial e renovar as opções. O silêncio total do ser humano é
plenitude da Palavra de Deus, o qual gosta de falar no silêncio e quando fala
não faz nenhum rumor. Como fez com Maria: a criatura do silêncio. Nela, no mais
profundo dos silêncios, encontrou calorosa
acolhida o Verbo, a Palavra de amor pronunciada por Deus desde sempre e para
sempre. Um silêncio absoluto de todo o seu ser. Um silêncio do corpo imaculado
para acolher Deus ( Terrinoni, op.
cit, p. 185).
B) Nos
tempos do Papa Francisco parece importante que os discípulos tenham a certeza que, na
vida e na missão, Cristo caminha em sua vida e missão. Ora, o
recolhimento e o silêncio permitem que os agentes de pastoral não
sejam meros tocadores de obras e fazedores de tarefas. Mario França
Miranda em conferência na 52ª. Assembleia da CNBB (Aparecida, SP,
30 de abril a 9 de março de 2014): “Numa época marcada pela
inflação das palavras através do vários meios de comunicação e também por certo
ceticismo com relação a ideologias e cosmovisões ganha a experiência
pessoal um peso enorme para fundamentar as convicções pessoais. Esta
realidade atinge também a fé dos cristãos. Esta resulta de uma iniciativa de
Deus de vir ao nosso encontro, doando-Se a si próprio em Jesus Cristo e no
Espírito Santo, iniciativa que se realiza plenamente ao ser acolhida pelo
cristão na fé. Portanto, a fé é um evento salvífico na vida da pessoa que
é, de certo modo, por ela experimentado. Esta experiência atinge o
coração de cada um, não só dando sentido à existência humana, mas também
consolando, fortalecendo e iluminando o que fazem. É a experiência do amor, da
bondade e da misericórdia de Deus, realidade prioritária e fundamental de nossa
vida. O papa bate na mesma tecla ao enfatizar a importância da experiência
pessoal com Jesus Cristo, do amor de Deus que ele nos revela. Em suas
palavras: “O verdadeiro missionário (…) sabe que Jesus Cristo caminha com
ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele (266).
C) Comentando pagina de João que fala da intimidade entre o discípulo e o
Mestre, José Antonio Pagola escreve: Todo ramo que está vivo deve
produzir fruto. E se não produz, é porque
não circula por Ele a seiva da vida da videira. Assim também é nossa fé. Vive,
cresce e dá frutos quando vivemos abertos à comunicação com Cristo. Se
esta relação vital se interrompe, cortamos a fonte de nossa fé. Então a
fé seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia
de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura do que os primeiros
crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será
que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar
crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para
lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade evangélica para
descobria as novas exigências do Espírito, não estão delatando uma falta
de comunicação viva com Cristo ressuscitado? Por paradoxal que possa
parecer, o vazio interior pode apoderar-se de mais de um cristão. Preso a uma
rede de relações, atividades, ocupações e problemas, o cristão pode sentir-se
mais só do que nunca em seu interior, incapaz de comunicar-se vitalmente com
esse Cristo em quem diz crer. Talvez a derrota mais grave do homem ocidental
seja sua incapacidade de vida interior. Parece que as pessoas vivem sempre
fugindo. Sempre de costas para si mesmas. Diríamos que a alma de muitos é um
deserto. A falta de contato interior com Cristo como fonte de vida conduz pouco
a pouco a um “ateísmo pratico”. Não adianta continua confessando
fórmulas, se a pessoa não conhece a comunicação calorosa, prazerosa e
revitalizadora com o Ressuscitado. Essa comunicação de quem sabe
desfrutar do diálogo silencioso com Ele, alimentar-se diariamente de sua
palavra, lembrar-se dele com alegria no meio do trabalho cotidiano
ou descansar nele nos momentos de abatimento e opressão ( O
Caminho aberto por Jesus. João, José A. Pagola, Vozes,
p. 218-219).
Pedindo a graça do silêncio
Senhor,
concede-me não o silêncio que me torna prisioneiro de mim mesmo,
mas o que me liberta e abre espaços novos.
Não o silêncio do corpo cansado procurado em paraísos artificiais,
mas aquele da alma que respira no limiar de teu Reino.
concede-me não o silêncio que me torna prisioneiro de mim mesmo,
mas o que me liberta e abre espaços novos.
Não o silêncio do corpo cansado procurado em paraísos artificiais,
mas aquele da alma que respira no limiar de teu Reino.
Não o
silêncio do medo dos outros e do mundo
mas o que me torna próximo de todo homem e da criação.
Não o silêncio do egoísmo indiferente e altaneiro,
mas aquele que enraíza e fortalece a ternura do coração.
mas o que me torna próximo de todo homem e da criação.
Não o silêncio do egoísmo indiferente e altaneiro,
mas aquele que enraíza e fortalece a ternura do coração.
Não o
silêncio do solitário monólogo,
mas o da intimidade da tua Presença.
mas o da intimidade da tua Presença.
Não o
silêncio da resignação,
mas o que nos dispõe a combater pela verdade.
mas o que nos dispõe a combater pela verdade.
Não o
silêncio do homem que foge,
mas de quem te busca.
mas de quem te busca.
Não o
silêncio do homem que rumina seus fracassos,
mas de quem reflete para descobrir as causas.
mas de quem reflete para descobrir as causas.
Não o
silêncio da noite do desespero,
mas o que espera a luz da aurora.
mas o que espera a luz da aurora.
Não o
silêncio do rancor
mas o da pacificação e do perdão.
mas o da pacificação e do perdão.
Não o
silêncio do tagarela, cheio de si, mas o do coração que percebe o murmúrio de
teu Espírito.
Não o silêncio
devassado por incontáveis questionamentos e perguntas,
mas o do maravilhamento e da adoração.
mas o do maravilhamento e da adoração.
Não o
silêncio do esquecimento, do túmulo, da morte,
mas aquele em que a matéria fica prenhe das energias do Ressuscitado
na expectativa de uma vida nova em Tua luz.
mas aquele em que a matéria fica prenhe das energias do Ressuscitado
na expectativa de uma vida nova em Tua luz.
Michel Hubaut
Frei
Almir Ribeiro Guimarães
Reencantar a vida religiosa franciscana a exemplo de São Francisco
Frei Vitório Mazzuco Filho
Existe
uma palavra que está sendo resgatada hoje: Reencantar! Ela nos remete à uma
nova motivação. Ela quer dar mais dignidade e beleza ao nosso projeto de vida,
ao nosso programa de vida, à nossa Forma de Vida.
Reencantar
é despertar a riqueza que já está dentro de nós, que está dentro do patrimônio
do nosso carisma.
Reencantar
é cuidar, preservar, animar e nunca abafar. Nós temos uma obra-prima para
ofertar: a nossa vocação! Ela é a nossa grande riqueza, nós valemos pelas
escolhas que fizemos, e estas revelam a nobreza que habita em nossa vida.
Reencantar
a Vida Franciscana é voltar a sonhar como Francisco. Sem sonhos não se traçam
caminhos. Francisco sempre viveu de desejo e de sonho: “É isso mesmo que eu
quero, é isso mesmo que procuro, é isso mesmo que desejo de todo coração!” Ai
daquelas pessoas que não sonham o Novo e o Grande a ser realizado! Pessoas sem
sonhos afundam-se no brejo da mediocridade.
Francisco
foi um imenso sonhador por isso mesmo foi um imenso realizador. Todo grupo,
toda sociedade produz utopias e cada pessoa encontra forças nas utopias. É
preciso alimentar a paixão da vontade para se lançar para a vida.
Uma repórter perguntou a Dom Hélder Câmara por
que, já octogenário, não perdia a força, a
vibração, a jovialidade. Ele respondeu: “Ah! Minha filha, é porque nunca deixei
de sonhar o melhor para o meu povo!”
Reencantar
é sempre querer o melhor. Francisco quis o melhor para a humanidade, quis o melhor para
o leproso, quis o melhor para a Igreja de sua época, quis o melhor para a sua
fraternidade e é exatamente por causa disso que se tornou um fenômeno humano e cristão.
Nós não
somos seu contemporâneo, mas como ele está presente! Ele não é analista, nem especialista,
nem comentarista de algo, nem conferencista profissional… mas simplesmente
cria, reinventa e revive cada relacionamento.
Faz um
encontro com o humano na sua raiz, faz um encontro com as coisas bem lá dentro
de sua verdade. Francisco é mais do que um indivíduo, ele é um momento dentro
de nós, ele está onde deve passar a nossa humanidade. Ele é uma verdade que a
humanidade criou de melhor nestes últimos oito séculos. Ele está onde os
espíritos mais sadios hoje querem estar.
É como
diz o grande franciscanólogo Agostinho Gemelli: “O fascínio que exerce a figura
de Francisco ultrapassa os limites de uma Ordem e da própria Igreja. É um Santo
Universal, um homem que ocupa um dos patamares mais altos na passagem
espiritual da humanidade. Um simples homem amado por todos. Santo com alma de
Evangelho e coração de Irmão!”. Assim deve ser a proposta de nossa vida, viver
a profundidade do humano e de todos os relacionamentos.
Prestar
muita atenção no potencial de todas as pessoas e de todas as coisas. Assim deve
ser um jeito de Vida que une, liga e religa todos os seres, esta é nossa
maneira Religiosa; e porque temos Francisco como nosso Modelo vivo, podemos
dizer que esta é a nossa vertente franciscana.
www.franciscanos.org.br
VIVER EM FRATERNIDADE
VIVER COMO FRANCISCO VIVEU
A Fraternidade é
dom de Deus. Para S. Francisco de Assis um irmão é um bem imenso. A vida
quotidiana coloca-nos diante de situações delicadas. Muitos de nós vivemos em
fraternidades mais ou menos funcionais, onde por vezes, o entendimento entre
irmãos é inexistente. São Francisco exorta-nos a que tenhamos
coragem de dar a vida pelos irmãos. Apesar de algumas dificuldades temos plena
consciência de que somos franciscanos. A vida em comunhão fraterna exige do
outro irmão a participação em todos os actos da vida da fraternidade, sobretudo
na oração comum na evangelização e nos trabalhos tanto domésticos como noutros
sectores da vida profissional.
Os frades devem ser criaturas disponíveis para tudo o que for serviços
Fraternos. Na vivência fraterna, os irmãos não devem escolher o seu grupinho,
mas nem sempre isso a acontece. Há uma delicadeza a respeitar de uns para com
os outros e para com todos. Para nós franciscanos, a fraternidade evangélica
será sempre muito mais do que um fenômeno psicológico. Todos somos irmãos, e
por isso nunca é demais insistir nos direitos de todos. Todos são Menores de
nome e defacto, mesmo os que exercem cargos, funções e ministérios diferentes.
São Francisco
de Assis, não queria altaneiríssimo, dos que assumem posturas e esquecem os outros e se
colocam numa posição subalterna. S. Francisco de Assis quer irmãos cheios de
mútua caridade e que de boa vontade prestem serviços uns aos outros e que cada
um se rejubile com o sucesso do outro. Todos devemos mostrar as nossas
opiniões e fazê-lo com espírito de fé. Todos têm o dever de proteger a vida
familiar da Fraternidade e dentro da Comunidade, os irmãos possam ter espaços
reservados para aí viverem e fazerem o seu silêncio e vida fraterna e se
apresentem a Deus com tudo o que convém a filhos de S. Francisco, para que a
vida se torne fermento e comunhão com Jesus Cristo.
A vida
religiosa o é verdadeiramente se for caminho para Aquele que no-la deu. Não se
pode amar a Deus sem amar o próximo e o meu próximo é o irmão da fraternidade
que vive a meu lado. Tudo o que se faz contra o próximo é a Deus que se faz.
Para amar a Deus é preciso praticar a caridade e fora desta não há verdadeira
fraternidade.
Os
biógrafos de S. Francisco de Assis, são unânimes em ressaltar a relação
fraterna de S. Francisco com todos os seres da criação e o respeito para com
todas as criaturas. S. Francisco de Assis foi modelo de humildade entre os seus
irmãos e um conciliador de unidade fraterna. Se refletirmos fraternidade e
menoridade nas nossas vidas leva-nos a viver a nossa verdadeira vocação, porque
esta deve estar radicada no seguimento de Cristo e dos seus apóstolos que
renunciaram ao direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente o que
renunciaram a qualquer direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente
o Reino de Deus em toda a parte. Aqui está a nossa itinerância, a pobreza e
Menoridade.
Fr. José Jesus Cardoso, ofm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário