FRATERNIDADE
FRANCISCANA SECULAR DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DE PETRÓPOLIS
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do Sagrado Coração de Jesus
INFORMATIVO
Ano VIII FEVEREIRO DE 2017 - Nº 08
SANTA CLARA DE ASSIS
Frei Hugo
D. Baggio,OFM
A LUTA PELA POBREZA (Continuação)
Mas de uma
pobreza abraçada por ideal, de uma pobreza amada, de uma pobreza que faz feliz!
De uma pobreza — coisa paradoxal — pela posse
da qual se luta!
No ano de 1228, o Papa Gregório IX transportou-se de Roma para Assis, a fim de
elevar às honras dos altares o humilde Frei Francisco, falecido dois anos
antes. Àquele jovem que Assis chamara "louco", o mundo todo chamará
agora de "santo". São Francisco de Assis!
O Pontífice fez, então,
uma visita ao conventinho de Soror Clara. Inquietou-se diante da completa
pobreza em que viviam as irmãs. Pensou no futuro das mesmas:
— Soror
Clara, o futuro
parece nos reserva dias maus. E se a guerra se alastrar
por nossa terra e nos destruir os campos, quem vos sustentará?
— Santo Padre,
o Pai do Céu,
que alimenta as avezinhas e veste
os lírios do campo, socorrerá suas filhas.
— Para garantir o futuro — continuou o Papa —
melhor seria se São Damião tivesse propriedade, donde pudesse tirar o sustento
em caso de necessidade. E se o vosso voto de pobreza não o permite, Nós
vos absolvemos dele.
Clara, lançando-se
aos pés do Pontífice:
— Santo
Padre, absolvei-me dos
meus pecados, mas não do voto de
seguir a meu Senhor Jesus Cristo, em perfeita pobreza.
O Papa
comovido lançou sua bênção sobre .a
heróica virgem tão amante da pobreza, que os homens chamam loucura e desgraça,
mas que para ela era um sonho, um ideal.
NO JARDIM
DE SOROR CLARA
Quando Francisco ainda era o jovem filho de Pedro
Bernardone, o rico negociante de sedas e veludos, costumava com seus
companheiros, após os lautos banquetes, correr
as ruas de Assis. Lá ia o bando garrido, ao som do bandolim, à luz argêntea da
lua, cantando canções de amor e cavalheirismo. Rasgavam o silêncio da cidade
adormecida, enchendo o ar com seus cantares.
Quantas vezes, sem dúvida, paravam sob uma janela gradeada, onde pendiam gerânios e atrás da
qual adivinhavam a presença da escolhida, que no final da canção os brindaria
com uma flor perfumada.
Um dia, porém,
Francisco deixou de ser o filho do rico Bernardone e tornou-se o pobrezinho do
Pai do Céu, mas sem nunca deixar de ser cantor. Cantava agora, em seus versos,
não as damas dos homens, mas a sua dama, a Senhora Pobreza. Não cantava os
feitos dos guerreiros, mas as obras do Criador: a Natureza.
Deus pôs no caminho de Francisco outra mulher, pela qual sentia uma ternura
fraterna e que lhe serviu de arrimo e inspiração, de conselheira e enfermeira:
Clara de Assis. Quando Francisco encontrava uma fonte a jorrar límpida e
sonora, na sombra do bosque, lembrava-se da pureza da senhora soror Clara e erguia um canto de gratidão (porque Francisco sempre agradecia cantando); as
meigas pombinhas lembravam-lhe a simplicidade de Clara e o canto das cotovias despertava-lhe
na mente a lembrança das preces da virgem Clara no silêncio de São Damião.
No mês de agosto de
1224, Frei Francisco veio despedir-se de soror Clara. Iria subir o monte Alverne
para jejuar 40 dias. Alguns dias depois, Clara ouviu contar que na viagem
Francisco travara um duelo canoro com um rouxinol...
Finda a quaresma, ali no monte Alverne, Francisco
recebeu as cinco chagas de Jesus Crucificado e com elas as dores do Crucificado.
Chegara ao ápice da sua identificação com Cristo. E assim
transformado desceu do santo monte.
As dores o atormentavam. A cegueira era quase
completa e Francisco pediu para ser abrigado no jardim de soror Clara. Numa
pequena choupana de galhos, cercada pelas flores que Clara cultivava, sofria
alegremente o poeta cego, assistido pela solicitude da doce enfermeira Clara.
Certa manhã, quando o
perfume das flores enchia a pequena choupana e o silêncio ainda não era
interrompido pelo chilrear das avezinhas, após uma noite de sofrimento,
Francisco despertou o espaço com sua voz:
— Altíssimo,
onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a
glória, a honra e toda a bênção.
E
diante dos olhos
sem luz do
poeta desfilam todas as
maravilhosas obras do Criador e por fim passa a figura de soror Clara:
— Sê
louvado, Senhor, pela nossa irmã Clara,
pois a fizeste silenciosa, gentil e ativa.
Por ela brilhe tua luz em nossos corações.
Francisco
acabara de compor o Cântico das Criaturas no jardim
de soror Clara...
O CÂNTICO
DAS CRIATURAS
Parecia que finalmente as damianitas tinham descoberto a fórmula para
rezar. .. Assim, quando soror Clara
estava no seu jardinzinho, surpreendia-se cantando; a irmã cozinheira, ao
preparar os pobres alimentos para a comunidade, surpreendia-se cantando; a irmã
da lavanderia, ao molhar as roupas na límpida água, surpreendia-se cantando; a
irmã encarregada da portaria, ao olhar os ciprestes que muravam o conventinho,
surpreendia-se cantando; a irmã presa ao leito da enfermaria surpreendia-se
cantando; quando o sol nascia ou a lua com suas damas aparecia no firmamento,
quando o vento assobiava ou a chuva cantava no telhado, as irmãs se uniam aos
elementos, cantando. Todas e tudo pareciam cantar o Cântico das Criaturas que
o poeta cego, Frei Francisco, compusera no jardim de soror Clara:
Altíssimo, onipotente,
bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção.
Só a Ti, Altíssimo,
são devidos
E
homem algum é digno de te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as criaturas,
Especialmente o
senhor irmão sol
Que clareia o dia
E com a sua luz nos alumina.
E ele é belo e radiante
Com
grande esplendor.
De Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã a lua e as estrelas
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas,
meu Senhor,
Pelo
irmão vento,
Pelo
ar e pelas nuvens
E pelo sereno e todo o tempo
Porque às tuas criaturas dás
sustento.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã água
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado
sejas, meu Senhor,
Pelo
irmão fogo, Pelo qual iluminas a noite. E
ele é belo e jocundo
E
vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe terra
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E
suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que sofrem
em paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão
coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a morte corporal
da qual homem algum pode escapar...
Continua no informativo – Ano VIII - MARÇO DE 2017 - Nº 09
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