quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE SETEMBRO DE 2015

CONTEMPLAÇÃO
No texto latino dos Escritos de Francisco, a palavra contemplação ocorre uma só vez na 1ª Admoestação: “contemplando-o com os olhos do espírito” (Adm 1,20). Os apóstolos podiam reconhecer o Filho de Deus, Cristo, na sua carne humana somente contemplando-o com os olhos espirituais. Contemplar, neste preciso contexto de reconhecer Cristo no homem Jesus, significa ver por trás da carne humana a real presença de Deus entre os homens em Jesus Cristo. Contemplação, neste texto de Francisco, assume o significado de ver, além da aparência externa, o sacramento vivo de Deus presente no meio de nós, seja na pessoa de Jesus seja nos sinais eucarísticos do pão e do vinho. Mediante os olhos espirituais ou os olhos do espírito, a contemplação ajuda a descobrir e tornar conhecida a realidade da Encarnação de Deus, que está por trás de uma aparência humana de verdadeira carne e verdadeiro sangue. Desta forma, para Francisco, a contemplação é o único meio possível de, com os olhos da fé, ver Deus em Jesus Cristo e o Filho de Deus nos sinais eucarísticos.
Ampliando-se o significado preciso de contemplação apresentado pela 1ª Admoestação, poder-se-á dizer que contemplação se torna a maneira de olhar, de observar, de descobrir e de reconhecer com os olhos espirituais da fé a real presença de Deus neste mundo. As aparências externas, de carne e de matéria, tornam-se uma possibilidade de ver em profundidade o mistério de Deus. O mundo criado torna-se transparente, de maneira a possibilitar o reconhecimento da presença de Deus. O cristão vive a própria capacidade contemplativa olhando o mundo criado com olhos espirituais, para descobrir em profundidade todos os sinais que falam de Deus. Mesmo a história da humanidade, da Igreja e da própria vida, falam da presença vivificante e salvífica de Deus. Por trás dos acontecimentos da historia reconhece-se o plano de Deus. A única exigência para contemplar são os olhos do espírito. Este requisito nos leva à necessidade de “ter o espírito do Senhor e seu santo modo de operar”(Reg B 10,9).
Se a palavra contemplação,em suas varias derivantes latinas, se encontra uma só vez nos Escritos de Francisco, seus biógrafos a usam com freqüência. Raramente utilizada na Legenda Perusina, no Espelho de Perfeição e no Sacrum commercium, aparece mais vezes nas biografias oficiais de Celano e de Boaventura. Em geral eles usam a palavra contemplação para expressar a capacidade de elevar-se acima do que é mundano para se fixar nas realidades celestes.
Santa Clara de Assis, nas suas cartas a Inês de Praga, usa essa terminologia com maior freqüência do que Francisco. Com a palavra contemplação, ela exprime o modo de viver em íntima relação com os mistérios da vida humana de Jesus Cristo, olhando-os e imitando-os, para transforma-se totalmente numa imagem visível de sua  presença. Com esse conceito, Clara se aproxima mais de Francisco do que os seus biógrafos; estes tem uma visão mais tradicional de contemplação, definindo-a como separação do mundo para se aproximar dos mistérios celestes.
Resumindo o significado de contemplação nos escritos franciscanos, pode-se dizer que sem negar o sentido tradicional, Francisco e Clara dão a contemplação um sentido muito prático e vivo: descobrem a realidade de Deus e de sua Encarnação no mundo e na carne mediante sua vida de fé.

O perfeito amor de São Francisco ao crucificado

Frei João Mannes, OFM

No dia 17 de setembro celebra-se a festa da impressão das chagas de São Francisco de Assis. Os estigmas que Francisco recebeu em 1224, no Monte Alverne, após uma visão do Cristo crucificado em forma de Serafim alado, são sinais visíveis de sua semelhança à humanidade de Cristo, nos seus três modos: na vida, na paixão e na ressurreição.
Francisco encontrou-se pela primeira vez com o Crucificado na pequena Igreja de São Damião. Num certo dia, conduzido pelo Espírito, entrou nessa Igreja e prostrou-se diante da imagem do Cristo crucificado que, movendo de forma inaudita os seus lábios, disse: “Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída” (2Cel 10,5). E, conta-nos Celano, que Francisco sentiu desde então uma inefável mudança em si mesmo, pois são impressos mais profundamente no seu coração, embora ainda não na carne, os estigmas da venerável paixão.
No entanto, foi ao ouvir o Evangelho acerca da missão dos apóstolos (Mt 10, 7-13), que Francisco compreendeu o real significado da voz do Crucificado, e imediatamente exclamou: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 8,22). Assim, sob o toque ou o apelo de uma afeição, começou devotadamente a colocar em prática o que ouvira, isto é, distribuiu aos pobres todos os seus bens materiais, bem como renegou-se a si mesmo para que, exterior e interiormente livre, pudesse ir pelo mundo e anunciar aos homens a paz, a penitência e, enfim, o amor não amado de Deus.
O amor que é Deus realizou-se na sua profundeza, largura e altitude na pessoa de Jesus Cristo. A encarnação, o estábulo, o lava-pés e a Eucaristia são expressões concretas do modo de amar como só o Deus de Jesus Cristo pode e sabe amar. Porém, foi especialmente ao entregar incondicional e gratuitamente a sua vida na Cruz, que o Filho de Deus revelou à humanidade que Deus é essencialmente caridade perfeita.
Francisco, por inspiração divina, abraçou pobre e humildemente a cruz de Jesus e deixou-se impregnar, arrebatar e transformar totalmente pelo espírito de abnegação divina. Isso quer dizer que a imitação de Cristo, por parte de Francisco, não é mera repetição mecânica dos gestos exteriores de Jesus, mas é manifestação de sua profunda sintonia com a experiência originária de Jesus Cristo: o Reino de Deus. Somente quem possui o Espírito do Senhor pode observar “com simplicidade e pureza” a Regra e o Testamento de São Francisco e realizar em si mesmo as santas operações do Senhor.
Na Terceira consideração dos sacrossantos estigmas considera-se que, aproximando-se a festa da Santa Cruz no mês de setembro, o pai Francisco, na hora do alvorecer, se pôs em oração, diante da saída de sua cela, e entre lágrimas orava desta forma: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores”(I Fioretti)). E, relata Boaventura que, enquanto Francisco rezava, “viu um Serafim que tinha seis asas (cf. Is 6,2) tão inflamadas quão esplêndidas a descer da sublimidade dos céus. E […] apareceu entre as asas a imagem de um homem crucificado que tinha as mãos em forma de cruz e os pés estendidos e pregados na cruz. […] Imediatamente começaram a aparecer nas mãos e nos pés dele os sinais dos cravos” (LM 13,3). Assim, Francisco transformara-se todo na semelhança de Cristo crucificado (cf LM 13,5). Pois, de fato, trazia Jesus no coração, na boca, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos, nos sentimentos e em todos os demais membros (cf. I Cel 9,115), e conseqüentemente podia exclamar com o apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
O Pobre de Assis, no seguimento de Jesus Cristo, perdeu a sua própria vida, mas recuperou-a inteiramente em Deus, de acordo com a palavra do Evangelho: “Quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 12,25). Todavia, Francisco não somente reencontrou a si mesmo em Deus, como filho de Deus, mas a todos os seres do universo. O Cântico das Criaturas, que compôs pouco antes de sua morte corporal, é expressão jubilosa dessa intensa experiência eco-espiritual: “Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas”.
O pai Francisco tornou-se assim um mestre na sequella Iesu. De imediato despertou o fascínio de muitas pessoas e atraiu muitos discípulos e discípulas, entre as quais, Santa Clara. Clara e suas Irmãs, a exemplo de Francisco, também querem chegar ao cimo da montanha da perfeição do amor. A propósito subscrevemos parte do VII capítulo (Do perfeito amor de Deus) de um interessantíssimo opúsculo que Boaventura escreveu à abadessa das Irmãs, do convento de Assis, sobre A perfeição da vida:
“Não é possível excogitar um meio mais apto e mais fácil para mortificar os vícios, para progredir na graça, para atingir o auge de todas as virtudes do que a caridade. Por isso diz Próspero, no seu livro Sobre a vida Contemplativa: “A caridade é a vida das virtudes e a morte dos vícios”. Como a cera se derrete diante do fogo, assim os vícios perecem diante da caridade. Porque a caridade possui tanto poder que só ela fecha o inferno, só ela abre o céu, só ela dá a esperança da salvação, só ela nos torna dignos do amor de Deus. Tal poder possui a caridade que entre todas as virtudes só ela é chamada propriamente virtude. Quem a possui é rico, tem abundância, é feliz. […] E diz Santo Agostinho: “Se a virtude conduz a uma vida bem-aventurada, eu quisera afirmar em absoluto que nada é propriamente virtude senão o sumo amor de Deus”. Sendo, por conseguinte, o amor de Deus uma virtude tão elevada, cumpre insistir em alcançá-lo acima de todas as demais virtudes; porém, não um amor qualquer, mas só aquele com que Deus é amado sobre todas as coisas e o próximo por amor de Deus.
O modo de amar a teu Criador ensina-o o teu esposo no evangelho: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Repara bem, caríssima serva de Jesus Cristo, que amor o teu dileto esposo exige de ti. Quer o teu amado que ao seu amor dediques todo o teu coração, toda a tua alma, todo o teu espírito, de sorte que absolutamente ninguém em todo o teu coração, em toda a tua alma, em todo o teu espírito, tenha parte com ele. Que, pois, fará para amares o Senhor teu Deus realmente de todo o coração? Que quer dizer: de todo o coração? Vê como São João Crisóstomo ensina: “Amar a Deus de todo o coração significa não estar o teu coração inclinado a nenhuma outra coisa mais do que ao amor de Deus; não te comprazeres nas coisas desse mundo mais do que em Deus, nem nas honras, nem mesmo nos pais. Se, todavia, o teu coração se ocupar em alguma destas coisas, já não o amas de todo o coração”. Peço-te, serva de Cristo, não te iludas. Fica sabendo que, se amas alguma coisa, e não a amas em Deus e por Deus, já não o amas de todo o coração.


CURSO BÁSICO DO CARISMA MISSIONÁRIO FRANCISCANO – CBCMF

A MISSÃO FRANCISCANA

            1)CRISTO É O PRIMEIRO MISSIONÁRIO.

            A palavra "missão" tem o seu sentido próprio quando a ligamos ao verbo latino "rmss/o", ou seja: enviar, remeter, impulsionar para longe, mover-se ou ser movido a um ponto ou lugar além daqui. Na linguagem militar de hoje é comum, até nós civis usamos o termo "mísseis''", isto é, foguetes à distância {teleguiados} com fim de atingir um alvo bem longe e destruí-lo. A ideia central é, portanto, a de enviar. Nota-se logo que "missão" no sentido religioso, é movimento.
Fala-se hoje da "missão do movimento franciscano". Voltando à frase inicial deste comentário, percebe-se que Cristo, nos seus poucos anos de vida pública, movia-se, andava, ia ao encontro, corria atrás, não ficava estacionado. Ele tinha uma "missão", isto é, um compromisso de ação e oração contínuo.
Portanto, a Igreja fundamentalmente não pode ter outra missão senão a continuação, um prolongamento da missão de Jesus. Como a missão de Jesus e da Igreja, assim também é a missão do movimento Franciscano, pois tem:
- a mesma origem: o Pai;
- a mesma meta: colocar em andamento a dinâmica do amor na construção do Reino;
- o mesmo modelo: Jesus Cristo e suas atitudes face à pobreza, ao sofrimento e a aceitação obediente da morte.
Quando Francisco declara solenemente que Deus enviou os seus irmãos {os frades) "pelo mundo universo" (Carta a toda Ordem, 9), demonstra claramente a quem pertence a iniciativa, ou seja, ao próprio Deus. Nisso, a primeira coisa a fazer é anuncia a todos que Deus é bom, louvando-o por palavras e obras, e "fazer saber a todos que ninguém é todo poderoso senão Ele." {Carta a toda a Ordem, 9).
O que será isto, senão a missão de Cristo? Foi Ele quem revelou ao mundo quem é Deus, sobretudo o seu amor, seu "poder", na linguagem de São João, sua "glória" e a sua bondade. Também para Francisco se trata de um a existência missionária que incorpora {une} a Palavra na vida ativa {Regra não Bulada 11; 14; 17,3). Igualmente, Clara sabe que suas irmãs, apesar de suas vidas escondidas, são chamadas "a ser exemplo e espelho para outras." (Testamento de Clara 6).

            2) ANUNCIAR DEUS AO MUNDO.

            Na sua Regra ( Regra não Bulada 21) Francisco apresenta aos seus frades e a nós, irmãos/irmãs da OFS, um modelo de como fazer uma Exortação - lembrem-se: Francisco na maioria das vezes não pregava, e sim, exortava). Deste modelo poderão e até deverão se servir livremente, em qualquer circunstância e frente a qualquer tipo de ouvintes, O modelo consiste em duas (2) partes:
I  - Convidar os ouvintes a se abrirem face ao mistério do Deus Trino, para "temer e honrar, louvar e bendizer, agradecer e adorar" (Regra não Bulada 21}
II  - Chamar à conversão (penitência), que se manifesta essencialmente ao perdão e no amor ao próximo, (conf. Regra não Bulada 3-6)
Francisco insiste ainda que todos os seres humanos têm que voltar-se para Deus com fé sincera e espírito de penitência, e isto se resume praticamente no amor e na procura constante de Deus. Assim, a exortação Missionária dos Franciscanos (em geral) está de acordo com a oração de Jesus: "Para que o mundo conheça, Pai, que tu me enviaste, e amaste a estes como me amaste a mim...para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles." (Regra não Bulada 22,48-49 = Jo 17,23-26).
Nota: Chama-se "Regra Não Bulada=RNB" a uma primeira Regra escrita para os frades por São Francisco. Todavia, ela foi melhor adaptada pela Igreja, conforme as necessidades práticas da ordem e dos frades. Não tendo sido aprovada, Francisco redigiu outra, mais de acordo com a orientação do Santo padre, a qual se chama RB=Regra Bulada, isto é, aprovada através de uma Bula (documento Papal} em 1223, por Honório til e é a Regra atuo/ dos Frades Menores.                Finis esf.'
A Formação.




  

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