FRATERNIDADE
FRANCISCANA SECULAR DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DE PETRÓPOLIS
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do Sagrado Coração de Jesus
INFORMATIVO
Ano VIII MAIO DE 2017 -
Nº 11
SANTA CLARA DE ASSIS
Frei Hugo D. Baggio,OFM
SÊ BENVINDA, IRMA MORTE
Uma vez florida, a rosa se desfolhará. Uma vez nascido, tem o homem a certeza de uma coisa: a morte. E
diante desta certeza tremem uns, rejubilam outros. Porque a morte é um reflexo
da vida. Onze de agosto de 1253. Numa pobre cela do conventinho de São Damião,
sobre um punhado de palhas, jaz soror Clara. A doença dos últimos meses
deixou-lhe o rosto pálido e macilento. As penitências extenuaram-lhe o corpo,
reduzindo-o a um aspecto de cadáver.
Só os olhos,
aqueles profundos e límpidos olhos escuros, ainda brilham, parecendo concentrar
em si a grande alma de soror Clara.
Ela sabe, a morte está próxima, mas sorri feliz. Exulta, porque nas asas da morte irá ao
reino da luz, ao encontro do seu Senhor Jesus Cristo, de seu pai São Francisco.
Ao redor estão as
irmãs, chorando em altas vozes. Ela as olha uma a uma, demoradamente. Ali
estão: soror Pacífica, Benvinda, Filipa, Inês, Egidia, Cristina. . . de todas
recorda o momento em que vieram abrigar-se à sua sombra. A todas quisera dizer
uma palavra, mas as forças não o permitem.
Dos lábios já
descorados deixa partir a sua bênção que cai como um bálsamo sobre o coração despedaçado das irmãs ante a iminência da separação:
— O Senhor vos abençoe e vos guarde, mostre a
sua face e se compadeça de vós... ele
vos dê a sua paz, amadas filhas e irmãs...
a vós e a todas quantas
entrarem em nossa
Ordem..."
E nesta hora extrema guarda uma palavra para a sua
alma que canta jubilosa a libertação: "Vai
segura, minha alma, que bom guia tens para o caminho. .. O Senhor que te criou
e santificou, ama-te com amor eternecido de mãe..."
E como a vela que tremeluz e vai se extinguindo,
assim foge lentamente a alma daquele santo corpo. Nada de convulsões. A morte de soror Clara é a última estrofe de um poema vivido à luz
do amor.
E como o sol, antes de ocultar-se atrás dos montes, lança um derradeiro feixe de luz, assim balbucia soror
Clara sua derradeira prece:
— Bendito
sejais, meu Deus,
por me haverdes criado!
E soror Clara fecha os olhos às trevas deste mundo, para abri-los na luz resplandecente da
eternidade. Vivera amando e amando morria... e neste amor buscava a glória no vôo
leve das almas puras.
Sobre o pobre catre o seu corpo extenuado. No ar
perfumado de lírios, paira como uma canção,
que jamais se apagará:
Bendito
sejais, meu Deus, por me haverdes criado!
BENDITO SEJAIS, MEU
DEUS...
— Bendito
sejais, meu Deus, porque me criastes!
Com estas palavras soror Clara de Assis se despedia
da terra e saudava a eternidade. Olhando num relance a vida que vivera,
encheu-se de gratidão.
Mas o que foi para ela a vida? E diante de sua
mente desfilaram os acontecimentos... Com 18 anos, na idade dos grandes sonhos,
na capelinha de Nossa Senhora dos Anjos, correu uma cortina sobre o mundo e desposou-se com a Pobreza.
Encerrou-se nos muros do conventinho de São Damião, cuja única
riqueza era o não ter nada. E ali
vivera sob a orientação de Frei Francisco... depois Frei Francisco voara ao
céu. E já haviam
decorrido 42 anos desde o momento em que transpôs as portas de São Damião...
E ali vivera, não a vida pacata e forçada de uma desenganada, mas a vida cônscia e
espinhosa de uma idealista. Dia a dia, tomava sobre si a cruz, sem jamais
fraquejar, sem jamais deixar de sorrir.
E agora que a morte ali estava, seus membros fracos
e seu corpo extenuado falavam bem alto do que lhe fora a vida. No entanto, de
seus lábios descorados e
moribundos brota um
hino de gratidão:
—
Bendito sejais, meu Deus, porque me criastes!
Hino
magnífico de uma alma que compreendeu o sentido da vida e viveu-a na
plenitude. Pela penitência compra-se a paz da eternidade, onde os espinhos da
vida se cobrem de flores.
Sabe
morrer quem viver soube. Para este a morte não é o instante
pavoroso, o salto no vácuo, o passo no desconhecido, mas o instante libertador,
a porta aberta para a felicidade.
E
somente assim se compreende como São Francisco, diante da morte, cantou: —
Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum
homem vivente pode escapar!
Outra
não é a atitude de soror Clara, a filha espiritual, a plantinha de São
Francisco: agradece
a vida que lhe alcançou a eternidade e saúda a morte que
a levará a esta eternidade. Por isso:
—
Bendito sejais, meu Deus, porque me criastes!
Por
isso, a Igreja se une ao regozijo de Clara e convida os fiéis a cantarem:
"Regozija-te,
ó Santa Igreja Romana! Clara é tua filha, Clara é a tua honra. Regozija-te,
piedosa assembleia dos fiéis! Aquela que era tua irmã, tua companheira, deu
entrada na corte celeste. Regozijai-vos, Anjos e Santos do Paraíso! Uma nova esposa é
admitida às núpcias do Cordeiro".
PARADOXO
O peregrino levado pela piedade ou o arqueólogo levado pelo
estudo que buscam Assis debalde procurarão o palácio fortificado de
Sasso-Rosso, onde nasceu, um dia, Clara. De suas possantes muralhas, de suas
torres ameaçadoras, de suas pontes e de seus fossos, talvez algumas ruínas enegrecidas
pelo tempo...
Quem recordará o nome daqueles homens ambiciosos e sanguinários que
desciam o caminho do castelo em busca de aventuras? Onde está o ouro que
amontoaram e as riquezas que acumularam em suas arcas? Onde estão as
reluzentes armaduras e as espadas assassinas, não raro tintas com o sangue de
um inocente?
Dos grandes senhores que habitaram este solar, talvez um nome apenas, em
alguma árvore genealógica... Sua gloriosa linhagem extinguiu-se. Venceram
inimigos, conquistaram fortalezas, colheram trofeus, mas não venceram o tempo
que os destruiu. Buscaram a glória e o silêncio os envolveu . ..
Mas não fique o peregrino piedoso nem o arqueólogo estudioso a meditar sobre
estas ruínas silenciosas ainda que eloquentes. Siga ' adiante. Tome o caminho
que leva à Porciúncula, a igrejinha de Santa Maria dos Anjos, a cuja sombra Francisco cantou o seu último hino
acompanhado pelas irmãs cotovias.
Em meio caminho, circundado de ciprestes e olivais de folhas prateadas,
ergue-se um pequeno edifício de paredes denegridas. Uma capela pequenina
e simples, um pobre refeitório, algumas celas acanhadas e sem móveis, um
pequeno jardinzinho cercado por altos muros: eis o conventinho de São Damião.
Ali está ele, pequenino e frágil, levando sobre si o peso de sete séculos. Nele se
entra com o respeito dos grandes santuários, porque os mistérios de Deus
parecem pairar dentro dele.
Cada pedra lembra uma daquelas heróicas mulheres que, sob a direção de
soror Clara, viveram a gloriosa epopeia dos primeiros dias de São Damião. Cada
canto lembra uma vida vivida na sua plenitude, porque vivificada por um ideal.
Clara de Assis com aquele punhado de nobres e bravas donzelas, fugiu do mundo,
buscou o silêncio.
E no entretanto, setecentos anos depois, ainda ressoam seus nomes pelo
orbe todo, ainda se lêem com emoção, e suas figuras refulgem na luz dos
templos cristãos.
Clara, que renunciou à família para dar-se a Deus, é hoje chamada
com o nome de mãe por milhares de almas que, em todo o mundo, lhe seguiram e
lhe seguem a senda luminosa e com igual ardor revivem-lhe o ideal.
Paradoxo!
Os que buscaram
a glória encontraram
o silêncio. Os que buscaram o silêncio encontraram .a glória.
Mais uma vez a história comprovou eloquentemente as palavras de Jesus:
— Quem se humilha será exaltado, quem
se exalta será humilhado!
Continua no informativo – Ano VIII - JUNHO DE 2017 -
Nº 12
OFS DE
PETRÓPOLIS
SAÚDA À TODAS
AS MÃES, PARABÉNS