domingo, 30 de dezembro de 2012

O ARAUTO DO GRANDE REI


BOLETIM INFORMATIVO DE DEZEMBRO 2012


NATAL DE JESUS

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória…” (Jo 1,14).
A encarnação do Verbo de Deus assinala o início dos “últimos tempos”, isto é, a redenção da humanidade por parte de Deus. Cega e afastada de Deus, a humanidade viu nascer a luz que mudou o rumo da sua história. O nascimento de Jesus é um fato real que marca a participação direta do ser humano na vida divina. Esta comemoração é a demonstração maior do amor misericordioso de Deus sobre cada um de nós, pois concedeu-nos a alegria de compartilhar com ele a encarnação de seu Filho Jesus, que se tornou um entre nós. Ele veio mostrar o caminho, a verdade e a vida, e vida eterna. A simbologia da festa do Natal é o nascimento do Menino-Deus.
No início, o nascimento de Jesus era festejado em 6 de janeiro, especialmente no Oriente, com o nome de Epifania, ou seja, manifestação. Os cristãos comemoravam o natalício de Jesus junto com a chegada dos reis magos, mas sabiam que nessa data o Cristo já havia nascido havia alguns dias. Isso porque a data exata é um dado que não existe no Evangelho, que indica com precisão apenas o lugar do acontecimento, a cidade de Belém, na Palestina. Assim, aquele dia da Epifania também era o mais provável em conformidade com os acontecimentos bíblicos e por razões tradicionais do povo cristão dos primeiros tempos.
Entretanto, antes de Cristo, em Roma, a partir do imperador Júlio César, o 25 de dezembro era destinado aos pagãos para as comemorações do solstício de inverno, o “dia do sol invencível”, como atestam antigos documentos. Era uma festa tradicional para celebrar o nascimento do Sol após a noite mais longa do ano no hemisfério Norte. Para eles, o sol era o deus do tempo e o seu nascimento nesse dia significava ter vencido a deusa das trevas, que era a noite.
Era, também, um dia de descanso para os escravos, quando os senhores se sentavam às mesas com eles e lhes davam presentes. Tudo para agradar o deus sol.
No século IV da era cristã, com a conversão do imperador Constantino, a celebração da vitória do sol sobre as trevas não fazia sentido. O único acontecimento importante que merecia ser recordado como a maior festividade era o nascimento do Filho de Deus, cerne da nossa redenção. Mas os cristãos já vinham, ao longo dos anos, aproveitando o dia da festa do “sol invencível” para celebrar o nascimento do único e verdadeiro sol dos cristãos: Jesus Cristo. De tal modo que, em 354, o papa Libério decretou, por lei eclesiástica, a data de 25 de dezembro como o Natal de Jesus Cristo.
A transferência da celebração motivou duas festas distintas para o povo cristão, a do nascimento de Jesus e a da Epifania. Com a mudança, veio, também, a tradição de presentear as crianças no Natal cristão, uma alusão às oferendas dos reis magos ao Menino Jesus na gruta de Belém. Aos poucos, o Oriente passou a comemorar o Natal também em 25 de dezembro.
Passados mais de dois milênios, a Noite de Natal é mais que uma festa cristã, é um símbolo universal celebrado por todas as famílias do mundo, até as não-cristãs. A humanidade fica tomada pelo supremo sentimento de amor ao próximo e a Terra fica impregnada do espírito sereno da paz de Cristo, que só existe entre os seres humanos de boa vontade. Portanto, hoje é dia de alegria, nasceu o Menino-Deus, nasceu o Salvador.

Maria Mãe de Deus
No primeiro dia do ano, a liturgia faz ressoar em toda a Igreja espalhada pelo mundo, uma antiga bênção sacerdotal, que escutamos na primeira leitura. “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer para ti a sua face e te dê a graça. O Senhor volte para ti o seu rosto e te conceda a paz” (Nm 6, 24-26). Essa bênção foi confiada por Deus através de Moisés, a Araão e aos seus filhos, isto é, aos sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice desejo pleno de paz, que emana da repetição do nome de Deus, do Senhor e da imagem do seu rosto. De fato, para sermos abençoados precisamos estar na presença de Deus, receber sobre nós o seu Nome e permanecer no raio de luz que parte do seu rosto, no espaço iluminado pelo seu olhar, que difunde graça e paz.
Essa é a experiência feita pelos pastores de Belém, que aparecem ainda no Evangelho de hoje. Eles fizeram a experiência de estar na presença de Deus e da sua bênção, não na sala de um majestoso palácio, na presença de um grande soberano, mas sim em um estábulo, diante de um menino colocado em uma manjedoura. Exatamente daquele Menino irradia uma nova luz, que resplandece no escuro da noite, como podemos ver em tantas pinturas que reproduzem a natividade de Cristo. É d’Ele que vem a bênção: do seu nome – Jesus, que significa ‘Deus Salva’ – e do seu rosto humano, no qual Deus, o Onipotente Senhor do céu e da terra quis encarnar-se, esconder a sua glória sob o véu da nossa carne, para revelar-nos plenamente a sua bondade
A primeira a ser preenchida por essa bênção foi Maria, a Virgem, esposa de José, que Deus escolheu desde o primeiro instante da sua existência para ser a mãe do seu Filho feito homem. Ela é a bendita entre as mulheres (Lc 1,42) – como a saúda Santa isabel. Toda a sua vida está na luz do Senhor, no raio da ação do nome e do rosto de Deus encarnado em Jesus, o fruto bendito do seu ventre. Assim a apresenta o Evangelho de Lucas: toda disposta a guardar e meditar no seu coração todas as coisas referentes ao seu filho Jesus (cfr Lc 2, 19.51). O mistério da sua divina maternidade, que hoje celebramos, contém em medida superabundante aquele dom da graça que toda maternidade humana traz em si, tanto que a fecundidade do ventre sempre foi associada à bênção de Deus. A Mãe de Deus é a primeira abençoada e é Ela que traz a bênção, é a mulher que acolheu Jesus em si e o deu à luz para toda a família humana. Como reza a Liturgia: “sempre intacta na sua glória virginal, irradiou sobre o mundo a luz eterna, Jesus Cristo nosso Senhor” (Prefácio da Beata Virgem maria 1)
Maria é Mãe e modelo da Igreja, que acolhe na fé a divina Palavra e se oferece a Deus como “terra boa” na qual Ele pode continuar a cumprir o seu mistério de salvação. Também a Igreja participa ao mistério da divina maternidade mediante a pregação, que espalha no mundo a semente do Evangelho e mediante os Sacramentos que comunicam aos homem a graça e a vida divina. Em particular no sacramento do Batismo, a Igreja vive essa maternidade, quando gera os filhos de Deus da água e do Espírito Santo, o qual em cada um exclama: “Abbá! Pai! (Gal 4,6). Como Maria, a Igreja é mediadora da bênção de Deus para o mundo: a recebe acolhendo Jesus e a transmite levando Jesus. É Ele a misericórdia e a paz que o mundo por si não pode dar-se e da qual tem necessidade sempre, como ou mais que o pão.
Caros amigos, a paz, no seu sentido pleno e mais alto é a soma e a síntese de todas as bênçãos. Por isto, quando duas pessoas amigas se encontram, se saúdam desejando reciprocamente a paz. Também a Igreja, no primeiro dia do ano invoca de modo especial esse bem supremo e o faz, como a Virgem Maria, mostrando a todos Jesus, porque como afirma o apóstolo Paulo, “Ele é a nossa paz” (Ef 2, 14) e ao mesmo tempo é a via através da qual os homens e os povos podem alcançar essa meta, a qual todos aspiramos.
Papa Bento XVI, homilia proclamada neste primeiro domingo de 2012

Uma presença confortante e animadora
Por Frei Orlando Bernardi

O último capítulo da Regra de Clara, como a de Francisco, trata de funções que, praticamente, pouco têm a ver com o cotidiano da vida das clarissas e dos frades, porém, são de suma importância para o bom andamento das comunidades. Trata-se do papel do visitador, do capelão e do cardeal protetor da Ordem. A razão ou o pano de fundo se encontra nessa afirmação: “Para que guardemos a pobreza e a humildade de N. S. Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e o santo Evangelho que firmemente prometemos observar. Amém!” (c. XII). Percebe-se, então, que a razão dessas três figuras não é, em primeiro lugar, jurídica, mas sim de uma presença que ajuda a permanecerem firmes e seguras no propósito assumido ao abraçar essa forma de vida. Não se trata, portanto, de alguém que entra na comunidade como guarda, estranho ou, pior ainda, como fiscalizador. Embora a função dessas três figuras pertença mais ao extraordinário da vida monacal, a visita, no entanto, pertence ao ordinário, quer dizer ao cotidiano. Tanto Francisco como também Clara desejam que a presença amiga e fraterna dos superiores continue junto aos irmãos e irmãs. Aliás, Clara escreve no c. X que a abadessa “visite as irmãs” de sua comunidade. Veja-se que se trata da mesma comunidade. Para Francisco, talvez, esse mesmo ofício esteja presente na figura da “mãe” da Regra dos eremitérios.
Essas visitas aos irmãos e irmãs das comunidades franciscanas se reportam, inicialmente, ao costume da Igreja nascente em que o fundador da comunidade a visitava com a finalidade de mantê-la firme e segura na fidelidade ao compromisso da fé. A carta de Francisco a um Ministro mostra muito bem qual a direção que se devia tomar a esse respeito. Além disso, com respeito a Clara, Francisco assumiu um compromisso de constante presença (Test.Cl 4). Por ocasião de sua viagem ao Oriente deixara a Frei Felipe Longo para representá-lo. Ao voltar, notou que essa presença se transformara em cargo estável, fato que o aborrecera sobremaneira e a Clara também, certamente. De imediato, pediu ao Papa a revogação. Nomeou a Frei Pacífico como continuador de sua presença junto às irmãs. Ao longo da história posterior, a figura do visitador assumiu mais um acento jurídico que, propriamente, presencial.
Além do visitador, Clara fala de um capelão com um companheiro clérigo. Entende-se essa presença por causa da administração dos sacramentos. Note-se, particularmente, a preocupação e o cuidado com que fala dessas presenças. Prudente e conhecedora das fraquezas humanas quer, de antemão, prevenir futuros abusos ou escândalos de que a história é testemunha!
A figura do cardeal protetor foi introduzida por Francisco (RB 12,4) com a função de “governar, proteger e corrigir… a fim de permanecer súditos e submissos… e observar a pobreza, a humildade e o santo Evangelho”. Assim formulada a exigência de Francisco tem um acento bem mais jurídico que fraterno. No entanto, durante a vida quer de Francisco, quer de Clara, sabe-se como se criaram laços de intimidade e de compreensão mútuas que fizeram dessa figura um consulente e um arrimo nas oportunidades mais importantes das duas Ordens. Para comprová-lo seja suficiente esse trecho da carta escrita pelo Cardeal Hugolino a Clara em que a chama de “mãe de sua salvação”: “Caríssima irmã Clara, desde que a multidão dos afazeres me obrigou a afastar-me de vosso mosteiro e me privou das consolações que me proporcionavam vossas santas palavras e devotas conferências, se apoderou de mim tal amargura de coração, tal abundância de lágrimas e dor tão insuportável que, se não encontro aos pés de Jesus o consolo da habitual piedade, temo cair para sempre naquelas angústias em que, talvez, desfalecerá meu espírito e minha alma se dissolverá. E com razão, pois falta aquela alegria gloriosa que senti ao falar do Corpo de Cristo convosco, enquanto celebrava a Páscoa contigo e com as demais…” (Analecta franciscana III, 183). Posteriormente, essa função foi assumida pela Sagrada Congregação dos Religiosos.


REGIONAL SUDESTE II
Rio de Janeiro e Espírito Santo

ORAÇÃO l
Pai Santo, nós vos louvamos por nos terdes escolhidos a viver em fraternidade como irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular. Rendemos-vos graças por todos os dons e talentos recebidos de vossa generosidade e que somos chamados a colocá-los em prática a serviço da humanidade. Vosso Filho nos deixou o modelo de vida obediente e servil, ensinando-os que a Boa Nova do Evangelho deve ser vivida no nosso quotidiano, passando do Evangelho à Vida e da Vida, para que vendo nossas boas obras os homens e mulheres do mundo vos glorifiquem. Pedimos a força do Divino Espírito e sua iluminação. A exemplo de São Francisco e Santa Clara sejamos homens e mulheres autênticos no seguimento a Nosso Senhor Jesus Cristo e construtores da  Paz e do Bem. Que nossa Mãe Santíssima encaminhe nossos passos ao encontro de seu Filho. Amém!

ORAÇÃO 2
Ó, admirável Pastor, que há cinquenta anos reaproximastes a Igreja da vivência do seu santo Evangelho através da inspiração de um franciscano secular, permita que também nós, reunidos em capítulo, possamos ter o mesmo ardor do seu Santo Espirito que  aqueles homens tiveram no Santo Concílio. Incendeie nossos corações e mentes, para que iluminados e abrasados de suas santa inspirações possamos construir um mundo mais justo e condizente ao projeto do Reino de Deus. Que, conduzidos pela sabedoria divina, possamos enxergar os caminhos os quais nossa fraternidade regional deve seguir para cada vez ficar mais semelhante aá fraternidade divina, onde os santos e anjos convivem em felicidade eterna. Que possamos sempre, em cons onância ao exemplo que nos deixastes como herança na noite que antecedeu sua paixão, servirmos uns aos outros em espírito de alegria e doação sinceros. Por fim lhe suplicamos, Amado, que tal como Francisco e Clara, tenhamos nossos corações enamorados  pela sua imagem, apaixonados pela sua doce palavra e transfigurados de amor, que nada mais vejamos neste mundo senão as luzes de seus olhos. E não mais viveremos, mas Vós vivereis em nós. Que assim seja. Amém!

ORAÇÃO 3
 Senhor Jesus, a messe é grande, mas os operários são poucos. Rogamos-te, pois que envieis operários para a messe. Então Senhor ao ouvir teu apelo nos colocamos ao teu dispor e  dizemos: EIS-ME AQUI SENHOR. Queremos ser como nosso seráfico Pai São Francisco que lhe perguntou: Senhor que  queres que eu faça? E tu nos respondes: junte-se a outros homens de boa vontade e junte-se a outros homens de boa vontade e construam um mundo mais fraterno; junte-se a outros homens de boa vontade e pelo seu testemunho tomem iniciativas corajosas na promoção da justiça; junte-se a outros homens de boa vontade e comprometam-se com opções concretas e coerentes com sua fé e assumam sua Profissão. Trabalhando, participem na criação e na redenção da comunidade humana. Por isso Senhor, pra responder aoteu apelo de amor. Ajude-nos a sermos  portadores de paz lembrando que ela deve ser construída incessantemente. Ajude-nos Senhor, a semos mensageiros da  perfeita alegria, para que saibamos ter a humildade de ver que pouco ou nada fizemos e que portanto é necessario começar tudo de novo. Que Maria Santíssima, a Medianeira de todas as Graças, estrela da evangelização nos ajude  a chegar as águas mais profundas da santidade e da missão e lancemos nossas redes para melhor servir o nosso Regional.

4- Envie São Francisco e Santa Clara,
Para serem os mensageiros.
Que tocarão os irmãos votantes
Nas escolhas dos Conselheiros.

5 - Não permita em nossas opções,
Qualquer arrogância ou vaidade.
Para que o novo Conselho,
Seja eleito por sua vontade.

6 - E assim a uma só voz,
Possamos todos dizer.
Foi Deus atuando em nós,
Oue fez tudo acontecer. Amém!

 
ORAÇÃO 4
1- Invocando o seu Santo Nome,
Mais pedidos vou fazer.
Sou aquele que muito pede,
E pouco faz por merecer.

2- Com o seu poder infinito,
És o nosso Deus e Senhor.
Mesmo assim peço que ouça,
A oração de um pecador.

3 -No Conselho Regional Sudeste II,
É tempo de eleição.
Espero que o seu amor,
Ilumine a cada irmão.

  



O vermelho e o negro

Rio de Janeiro - Colar o rótulo de bom ou mau, no fundo, é o ofício humano mais freqüente, aberto diante de cada um de nós diariamente, ou melhor, a cada minuto de nosso cotidiano. Se usamos aquela camisa, se vamos ou não vamos a algum lugar, se falamos ou se calamos, se comemos bife com fritas ou sem elas, nos departamentos mais nobres e nos mais prosaicos, não fazemos outra coisa a não ser navegar entre aquilo que nos parece o bem ou o mal, o necessário ou o supérfluo, o devo ou o não devo.
Foi o caso do cidadão que parou o carro na estrada para tomar café e viu que, nos fundos do bar, havia uma briga de galos. Habituado a jogar, quis fazer uma aposta, mas não tinha elementos suficientes para julgar os contendores, um galo vermelho e outro preto. Tomou informações com um espectador que lhe parecia entendido, perguntando qual era o galo bom.
- O preto, respondeu o sujeito, com a convicção de quem era dono da verdade.
O sujeito jogou uma grana forte no galo preto e ficou torcendo pelo contendor que lhe garantiram ser o bom. Contendor que não correspondeu àquilo que chamam de expectativas: foi devidamente surrado pelo galo vermelho, e só não morreu porque o dono jogou a toalha no ringue, tirando-o da luta.
Bem, só restava ao sujeito reclamar da informação recebida.
- O senhor me fez perder dinheiro, dizendo que o galo preto era o bom…
- Foi o que o senhor me perguntou. Agora, o malvado era o vermelho…
Toda a disputa, seja religiosa, política, econômica, esportiva, cultural ou científica, é resumida nessa anedota, que me parece mais do que uma fábula, mas um destino, uma decorrência da condição humana.
Por coincidência, os galos da anedota compunham o mesmo confronto que Stendhal colocou no seu romance mais famoso: “O Vermelho e o Negro”. A lição é a mesma.

Extraído da “Folha de S. Paulo”, 23 de junho de 2004

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

FOLDER DISTRIBUIDO NA MISSA DAS 16:15 HS. DO DIA 01 DE DEZEMBRO DE 2012 NA IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


INFORMATIVO

Ano IV  -  DEZEMBRO DE 2012 -  Nº  07

ESPIRITUALIDADE  FRANCISCANA

O BEM-AVENTURADO LUQUÉSIO

   VI. Religiosos no inundo.
                                                                                       (continuação)

A maior parte das horas passava nos hospitais vizinhos, onde desempenhava, sem contar, o papel de enfermeiro. Quanto ao seu próprio hospital, sua casa cheia de doentes pobres, era o domínio de Bonadona: era ela a mãe de todos, trabalhando  andando, preparando unguentos e tisanas, enquanto rezava, cantava e... jamais se sentiu tão venturosa.
Luquésio ia ele próprio procurar os doentes e conduzia-os à sua casa, sustentando-os, tomando-os em seus braços, carregando-os aos ombros.
E assim, certo dia, um rapaz avistou-o acompanhado de dois enfermos e com um terceiro nas costas. Este devia ter uma má aparência, pois na passagem o malcriado disse: — Ai, é o diabo que está sentado nas tuas costas!
— Não, replicou o santo, compadecido, não é o demônio e sim nosso Senhor Jesus Cristo!
Ora, imediatamente o estouvado ficou mudo. Lançou-se aos pés de Luquésio, chorando e lamentando de mãos postas; e o bom Samaritano, tendo rezado, restituiu-lhe o uso da palavra, dizendo suavemente  — Vai em paz e não peques mais contra a santa caridade.

Luquésio cercava os seus queridos enfermos  de cuidados tão maternais e mostrava-lhes uma ternura tão sincera, falava-lhes com tanta persuasão que atingia suas almas enquanto cuidava do corpotanto assim que vários deles, a princípio ásperos e revoltantes, se converteram sob o domínio de sua bondade à pobreza e à vida de perfeição.

Somente a caridade alcança idênticos triunfos.
Qualquer desgraça, toda necessidade física ou moral, nele, sem dúvida, encontrava um acolhimento amigo.
Um solicitador é para nós um importuno  suas visitas são consideradas fontes de aborrecimentos e a sua repetição produz geralmente inúmeras apreensões. E é por isso que uma das grandes preocupações do mundo é resguardar-se desses indesejáveis.
Luquésio, porém, os procurava — e nisso  era heróico. Não esperava que lhe viessem pedir auxílio; generosamente ia ao encontro das dificuldades e trabalhos que a caridade impõe. Ficava à espreita da miséria  a fim de remediá-la. O campo de sua caridade alargava-se cada vez mais e sua existência não era mais que um desapego sem interesse. Se o trabalho constituía sua felicidade, é porque havia bem aprendido de Francisco o segredo da "alegria perfeita"; e nunca era demais.
Existiam entre Poggi-Bonzi e Sena vastas planícies paludosas, as Maremmas, focos de febres e de moléstias. Os seus habitantes  dizimados e paupérrimos, eram na maior parte atingidos pela malária e encontravam-se muito abandonados: ninguém por lá passava com receio do espantoso contágio. Isto não podia deixar de solicitar a diligente compaixão de Luquésio: Conservara seu espírito empreendedor  suas iniciativas, porém, eram todas em benefício do próximo.  Fez-se médico, comprou um jumentinho, carregava-o de febrífugos e de tônicos e punha-se a percorrer as Maremmas. De choupana em choupana, sob um sol ardente, na atmosfera sufocante desses pântanos, arriscando-se ao contágio, ia  tratar, consolar, ajudar  amar esses infelizes: e, diz seu biógrafo, que mais do que suas drogas, somente sua presença curava.
Para recompensar-lhe a maravilhosa caridade, Deus dignou-se agora favorecê-lo: Luquésio fazia milagres. Isso o tornava ainda mais humilde e quando lhe faziam elogios, respondia com simplicidade. "Oh! um homem só vale o que é diante de Deus". Mas esse poder sobrenatural lhe confirmava uma influência decisiva da qual ele se aproveitava para atrair as almas ao bem, propagar cada vez mais a Ordem III e nela alistar novos recrutas. Esta Ordem viu congregar-se em seu grêmio a maior parte da população.
Este zelo, esta abnegação, esta sublime bondade eram a chama que subia da fornalha de um outro amor: o de Jesus Cristo  ao qual havia se entregue de corpo e alma. Como seu mestre, o seráfico estigmatizado  estava inebriado deste único amor. Sua vida era uma contínua oração, um fervoroso ímpeto para aquele que o havia conquistado e se tornado seu tudo. Interior ou exteriormente, no trabalho ou em repouso, em caminho ou em casa, seu espírito não cessava de orar. Seu labor excessivo não o impedia jamais de se ocupar da "única coisa necessária", a santa contemplação; na igreja ou, à noite, à cabeceira dos doentes, conseguia encontrar longas horas nas quais, dando largas ao seu coração, evadia-se do mundo, em ardentes colóquios com o Bem-Amado; algumas vezes era visto imóvel, insensível, transfigurado e cercado de uma luz celeste. Saía desses êxtases com a alma renovada e radiosa.
Meditava constantemente sobre a pobreza e os sofrimentos de Jesus e de Maria  Este pensamento lhe arrancava lágrimas e não sabia mais o que inventar, para como eles aspirar à maior pobreza e a mais sofrimento. Com Bonadona levava, por amor de Cristo, uma vida extremamente penosa e mortificante: deitavam-se sobre o ladrilho, traziam cilício e entregavam-se a rigorosas disciplinas; não se permitiam gozar de nenhum prazer, sendo a abstinência e o jejum habituais em sua casa.
Juntos  rezavam, unidos  recebiam o  único pão que tinha ainda sabor ao seu paladar santificado; juntos amavam a Jesus com um amor que, dia a dia, os consumia cada vez mais: e este amor e esta união com o Senhor da felicidade punha em seus corações gozos inefáveis, transportes de uma alegria pura e imensa como o céu, e esta "paz de Cristo que ultrapassa todo sentimento".
Dando tudo, descobriram o Reino dos Céus; encontraram a felicidade.
— Oh! sim, Luquésio, dizia Bonadona, tinhas toda razão: é necessária pouca coisa para ser feliz; basta amar a Deus.
E era com lágrimas de ventura que agradecia a seu esposo o ter-lhe indicado o caminho da felicidade.
Morreram no mesmo dia e exatamente à mesma  hora. Deus fez a tocante graça de poderem, estando unidos na terra por uma união celeste, mais forte do que a primeira  voar à Cidade eterna, para a qual haviam em harmonia viajado e lutado, e de não se terem separado nem uma hora neste mundo nem no outro.
Isso aconteceu a 9 de abril de 1260, entre os perfumes da primavera italiana, depois de 40 anos desta vida heroica.

Continua no informativo – Ano IV -            JANEIRO DE 2013  -  Nº  08

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SANTOS FRANCISCANOS

MES DE DEZEMBRO

1 — B. Antonio Bonfadini, 1ª Ordem
2 — B. Carlos de Blois, 3ª Ordem.
3 — S. Donino, mártir de Ceuta, 1ª Ordem.
4 — B. Pedro de Sena, 3ª Ordem.
5 — S. Hugolino,   mártir   de  Ceuta, 1ª Ordem                  
6 — S. Samuel, mártir de Ceuta, 1ª Ordem
7 — S. Maria José Rosselo, 3ª Ordem.
8 — IMACULADA CONCEIÇÃO
9 — B. João Romano, 3ª Ordem, mártir no Japão
10 — B. Engelberto Kolland, 1ª Ordem, mártir
11 — B. Hugolino Magalotti, 3ª Ordem.
13 — B. Conrado de Ofida, 1ª Ordem.
14 — B. Bártolo de S. Gimignano, 3ª Ordem.
15 — B. Maria   Francisca   Schervier, 3ª Ordem Regular
17 — B. João de Montecorvino, 1ª Ordem, culto ainda não aprovado
22 — S. Francisca Xavier Cabrini, 3ª Ordem.
23 — B. Nicolau Fatore, 1ª Ordem.
25 — SOLENIDADE DA NATIVIDADE DE JESUS
26 — B. Bentivólio de Bonis, 1ª Ordem.
29 — B. Gerardo de Valença, 1ª Ordem
30 — B. Margarida Colona, 2ª Ordem 

sábado, 24 de novembro de 2012

O ARAUTO DO GRANDE REI

JORNAL DE NOVEMBRO DE 2012

FRATERNIDADE
Frei Toni Michels.
1.     É a forma de vida
Depois de tanto estudo sobre o movimento franciscano, certamente ninguém de nós tem dúvida: a fraternidade é um dos valores fundamentais que compõem a mística, a utopia, a forma de vida que o Senhor mesmo revelou a Francisco e que nós abraçamos por inspiração divina. É elemento essencial do modo franciscano de ser, de viver, de se relacionar em casa, na Igreja, com a humanidade e todas as criaturas. Para Francisco e Clara, o que nos caracteriza a partir do evangelho é, antes de tudo, sermos irmãos e irmãos. Irmãos e irmãs que cuidam um do outro mais do que a mãe cuida do seu filho carnal, irmãos que rezam, irmãos que servem, irmãos que trabalham, irmãos que vão pelo mundo, irmãos que administram os bens e assim por diante.
Tanto que muitas vezes a fraternidade resume e engloba a totalidade de nosso projeto de vida: a vida franciscana é assim: uma vida em fraternidade.
Trata-se de uma decisão, de uma uma opção: é assim que a gente quer viver, é assim que a gente quer ser. E isso comporta uma renúncia, um abandonar, um êxodo, um romper profeticamente com outros modelos, outras opções que podem ser bem mais óbvias, mais aceitas na sociedade e na cultura.
2.   Fundamentos da Fraternidade
Não é uma fraternidade pela fraternidade, o que seria um fraternismo (ismo tem um sentido negativo: indivíduo, individual é bom; individualismo é o indivíduo enlouquecido, é a idolatria do eu). A opção pela fraternidade não é um motivo utilitário, como se faz cooperativa porque é mais vantajoso produzir em conjunto do que isolado. Não é a "fraternidade" da revolução francesa, nem a igualdade do marxismo. A fraternidade cristã e franciscana tem um fundamento em Deus mesmo, um fundamento teológico. Para Francisco e Clara, a fraternidade nasce de uma visão teocêntrica e trinitária da vida e do seguimento de Cristo "que se fez nosso caminho". Vamos trocar isso em miúdos:
    Jesus nos revelou: Deus, na sua intimidade não é solidão. É comunhão de 3 diferentes pessoas divinas. Esse Deus comunhão é reunidor: não conduz nem salva ninguém isolado, mas em comunidade. Fraternidade é entrar no movimento do próprio Deus, é encarnar a comunhão do Pai do Filho e do Espírito Santo, origem e modelo de tudo, é tornar presente o amor com que Deus nos amou.
    Quando o Filho de Deus veio a este mundo, formou a comunidade dos seus discípulos missionários. Tudo começa com um encontro muito pessoal e íntimo com o Mestre, encontro feliz e iluminador. Mas converter-se a Jesus é sempre converter-se para uma vida em comunidade. Pelo batismo somos inseridos na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, bem como na comunhão da Igreja, Povo de Deus reunido no mundo em nome da Trindade. A vocação/missão cristã se vive em comunidade.
     A comunidade dos que crêem em Jesus se constitui inspirada na Comunidade Divina que "é a melhor comunidade". "O mistério da Trindade é a fonte, o modelo e a meta do mistério da Igreja" (DAp, n. 155). Os membros da comunidade são chamados a ser tão unidos, corresponsáveis e solidários uns com os outros, que essa relação é chamada de comunhão. A comunidade é, então, "casa e escola de comunhão".
    O Filho veio a este mundo como irmão nosso, a ponto de entregar a vida, solidário até com os mais abandonados e jogados fora. Ninguém mais está só!
     E não só nosso irmão, mas de toda a criação, pois seus corpo foi feito dos mesmos elementos que compõem todas as coisas, e que são resultado de bilhões de anos de evolução. Ressuscitado e glorificado, já levou para dentro de Deus a nossa humanidade e toda a criação.
     Fraternidade é seguir Jesus Cristo na loucura do seu amor pelo mundo, que se traduz em empatia, compaixão, misericórdia, solidariedade, serviço, entrega da vida. É dar-se por inteiro, transformar-se naquele que se ama.
     Em Jesus somos adotados como filhos e filhas e fazemos a experiência do Abbá. Então nossos semelhantes e todas as criaturas são irmãos e irmãs.
Esta vocação de viver em comunidade por inspiração divina e no seguimento de Cristo é do evangelho cristão, é do património de todos os cristãos. Mas que Francisco e Clara viveram e tematizaram de forma tão cabal que seu carisma lembra para a Igreja e para toda a humanidade a vocação para a irmandade, para a fraternidade, para a sororidade.
Na experiência de Francisco, a fraternidade tem início quando, nu, na praça de Assis, exclama: "Agora posso dizer: Pai nosso que estais no céu". Da experiência da paternidade de Deus que nasce a fraternidade. Dizer que somos "irmãos menores" é afirmar a centralidade de Deus na vida. É porque confio em Deus que me entrego à fraternidade, sem cálculos humanos.
O segundo substantivo mais usado por Francisco em seus escritos é "irmão". O primeiro é "Senhor". É pelo Senhor que somos irmãos e irmãs. A fraternidade nasce da centralidade de Deus na vida, da experiência do Deus Abbá. Se não for por Deus não acontece fraternidade. Se queremos fraternidade, precisamos nos abrir ao primado de Deus, voltar ao encanto, ao seguimento de Jesus que se fez nosso caminho. Analisar a vida pessoal e comunitária: no ordinário da vida, a quem de fato pertencemos? O que é que está no centro? A fraternidade surge da atitude de escuta/obediência à Palavra de Deus, da experiência de Deus, vale dizer, do espírito de oração e devoção. Podemos até lançar mão de meios que favoreçam à vida fraterna, capítulos, ajuda da psicologia etc, mas qualidade evangélica da convivência vem de Deus.
A própria ciência hoje nos faz termos consciência que somos um nó de relações com todos e com tudo e, querendo ou não, há uma relação, uma corresponsabilidade entre todos os seres. Podemos saber disto racionalmente, mas se o Espírito Santo não nos puxar para fora dos sentimentos meramente humanos, da escravidão aos instintos egoístas que moram em nós, não acontece fraternidade (acolhida, valorização, inter-ajuda, soma de forças). Fraternidade acontece quando "movidos pelo Espírito", quando se tem "o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar". A fraternidade nasce de relações profundas com Deus. Ela é possível quando há solidez espiritual.
3.  Converter-se para a fraternidade
Não nascemos fraternos, sabendo ser irmãos e irmãs. Ao contrário, nascemos no pecado original. Precisamos entrar numa escola, aprender. Ser irmão é resultado de um processo de conversão. Francisco e Clara também não nasceram fraternos.
Francisco diz: "O Senhor me deu irmãos". Os irmãos são um dom de Deus (cada presente de grego que o Senhor nos dá. Ou talvez sejamos nós o presente de grego para os outros). São um dom, sejam eles como forem, não em último lugar porque são imprescindíveis para a nossa conversão. "A vida comunitária é a máxima penitência" . Penitencia nos recorda logo dificuldade, sofrimento. Tem este aspecto, sem dúvida: até a pessoa amada tem hora que é insuportável. Mas penitência quer dizer purificação. O espírito de penitência é um valor importante do nosso carisma. Francisco e seus primeiros companheiros se identificavam como "penitentes de Assis". Penitente é quem está numa busca: sabe que algo lhe falta e que há excessos que precisam ser cortados.
Viver face a face, corpo a corpo uns com os outros é a grande chance de nos conhecermos e identificarmos que demônios moram em nós. Caem as máscaras, revelam-se as vaidades e as qualidades. É a grande chance de crescimento humano e espiritual. Às vezes, esperamos a vida inteira para que o irmão ou a irmã mude, quando o que de mais eficaz poderíamos fazer para mudar o irmão(ã) seria mudarmos a nós mesmos.
Impressiona nas fontes franciscanas e clareanas a familiaridade que acontecia nas fraternidades."Com confiança, um manifeste ao outro a própria necessidade, para que lhe procure e lhe sirva o que for necessário"(Rb 9,10). Acontece dentro das fraternidades muita distância, muita insensibilidade, muita falta de conhecimento, de familiaridade uns com os outros. Coisa de rico, onde há mais formalismo, performance, cada um na sua. No Divino todo mundo sabe de todo mundo. Não é por nada que as vezes acontece que um irmão morre no quarto do convento e é achado só dias depois, quando começa a feder. Precisamos ser mais humanos: sermos capazes de deixar de representar e expormos para os irmãos, os nossos sonhos, os nossos anseios, os nossos pecados. Não tenhamos medo de sermos fracos diante dos outros. Deus escolhe os fracos! E sermos mais humanos, compreensivos, misericordiosos, cheios de compaixão, solidários uns com os outros. Como Jesus, como Francisco e Clara. Em nossa humanidade nos encontramos. Quando o orientador espiritual desce da posição de representante da instituição com suas leis, quando deixa de representar aquele que não tem problemas, mas expressa também sua humanidade, aí o diálogo ganha outra qualidade.
4.   Não isolar a fraternidade dos outros valores da forma de vida
Qual seria o valor mais importante da forma de vida franciscana? A fraternidade? A minoridade e pobreza? O espírito de oração e devoção? A penitência? A missão evangelizadora itinerante? Mais vezes se lê que o relacionamento fraterno está acima de tudo, é o fim de tudo. Me parece que pode não ser salutar colocar a fraternidade assim isolada dos outros valores.
O que é mais importante no rosto? O nariz, a boca, os olhos, os ouvidos? Todos são importantes e existem juntos, um dependendo do outro. Se o rosto fosse só nariz, seria um monstro. Se fosse só boca, da mesma forma.
Assim também não se deve isolar e tematizar só um dos valores de nossa forma de vida pois parece que ou eles existem juntos ou não existem verdadeiramente. Uma coisa é certa: se isolamos um valor sem referência aos outros, fazemos besteira. Em nome da fraternidade, podemos construir palácios, contra a minoridade e pobreza. Podemos nos fecharmos em nossos interesses e sermos tão autoreferenciais que perdemos a dimensão da missão e o significado evangelizador. A dita fraternidade pode bastar-se tanto a si mesma que perde a centralidade de Deus.
O relacionamento de um casal se aprofunda e amadurece quando não olham mais só um para o outro mas juntos para os filhos, quando percebem que um casal cristão não pode viver um egoísmo a dois, mas que os dois juntos têm uma missão para fora dos muros da casa. Do grande projeto de Deus, do bem maior (Reino) é que vem a luz, o sentido, a orientação, a força também para o lar.
Da mesma forma, a missão evangelizadora congrega a fraternidade, lhe dá sentido. A penitência, a minoridade qualificam as relações. A oração faz beber na fonte da fraternidade. A abertura, o serviço ao irmão, sobretudo ao pobre, ao necessitado é caminho certo de experiência de Deus...
5.   Fraternidade e cultura atual
Quantas vezes já se viu uma família ou casal muito engajado na Igreja, muito bem formado na fé, na hora de celebrar o casamento agir de acordo com a cultura: preocupação com imagem, performance, status. Puro paganismo. É a força da cultura!
Pode ser que a cultura em que estamos mergulhados faça com que nem escutemos os apelos da Fraternidade. Ou, talvez, de alguma forma favoreça o ideal da Fraternidade. O que na cultura atual ajuda e, quem sabe, até abre possibilidades inéditas para testemunharmos a fraternidade? O que atrapalha e se coloca como obstáculo?

SANTA ISABEL DA HUNGRIA

De estirpe real, pois foi filha de André e Gertrudes, reis da Hungria, nasceu em 1207 e recebeu no batismo o nome de Isabel (Elisabeth), o qual significa ‘casa de Deus’. Aos quatro anos de idade viaja para a Alemanha onde cresceu juntamente com a família do seu noivo, Luís, príncipe da Turíngia e sucessor do rei da Turíngia, Hermano.
Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria uma boa companheira para Luís. E por isso perseguiram-na e maltrataram-na, dentro e fora do palácio.
Luís, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de se casar o quanto antes. O que aconteceu em 1221.
A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Um dia, Luís surpreendeu-a com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder... Mas ele, delicadamente, insistiu e... milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno Inverno. Feliz, guardou uma delas.
A sua vida de soberana não era fácil e frequentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso tinha o cuidado dos filhos: Hermano, nascido em 1222; Sofia em 1224 e Gertrudes em 1227.
Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que seu marido se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.
Quando Luís ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos que chegavam à Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter frequentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Família Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados e sacerdotes seculares. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!
Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e expulsaram-na do castelo de Wartburg. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno Inverno. Duas servas fiéis acompanharam-na, Isentrudes e Guda.
De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda a naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, lá dentro dela o Senhor chamava-a para se doar ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburg e lá foi morar com as suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legítimo de Luís. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de facto feliz. Por ordem do confessor, conservou algumas rendas, as quais reverteram para os pobres e sofredores.
Construiu um abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela sentia-se de facto rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de lhes dar maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!
De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. As suas servas testemunharam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade o sacramento dos enfermos. Quando o seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre a herança, respondeu tranquila: "Minha herança é Jesus Cristo!" E assim nasceu para o céu! Era 17 de Novembro de 1231.
Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de Maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira dos Irmãos da Ordem Franciscana Secular.

Frei Paulo Ferreira, OFM


ADVENTO

Todos os grandes eventos exigem uma preparação. Por isso, a Igreja instituiu, na Liturgia, um período que antecede o Natal: o Advento. Mas, ao longo da história da Igreja, tomou diversas formas.
Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o visitante é   ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.
Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.
Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de Advento.
 Significado do termo

Advento - adventus, em latim - significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Surgimento do Advento cristão
Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a "Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.
São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.
No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de "parusia".

O Advento nas Igrejas do Oriente

Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.
Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.
O Advento na Igreja Latina
É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo. Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém, nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo: "Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do mar" (Lc 21, 25). "Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21, 36). É a recomendação do Salvador.
Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Batista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.
Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a seguinte proclamação: "Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto". É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem- Deus, a Igreja pede que "a bondade do Senhor seja conhecida de todos os homens". Os paramentos são cor-de-rosa.
No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do que Ela, para nos conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.



Fontes:- Pe. Mauro Sérgio da Silva Isabel, EP; Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 18-19
- http://www.acidigital.com