JORNAL DE NOVEMBRO DE 2012
FRATERNIDADE
Frei Toni Michels.
1.
É a forma de vida
Depois de tanto estudo sobre o
movimento franciscano, certamente ninguém de nós tem dúvida: a fraternidade é
um dos valores
fundamentais que compõem a mística, a utopia, a forma de
vida que o Senhor mesmo revelou a Francisco e que nós abraçamos por inspiração divina. É elemento essencial do modo
franciscano de ser, de viver, de se relacionar em casa, na Igreja, com a
humanidade e todas as criaturas. Para Francisco e Clara, o que nos caracteriza
a partir do evangelho é, antes de tudo, sermos irmãos e irmãos. Irmãos e irmãs que cuidam um do outro mais
do que a mãe cuida do seu filho carnal, irmãos que rezam, irmãos que servem, irmãos que trabalham, irmãos que vão pelo mundo, irmãos que administram os bens e
assim por diante.
Tanto que muitas vezes a
fraternidade resume e engloba a totalidade de nosso projeto de vida: a vida
franciscana é assim: uma vida em fraternidade.
Trata-se de uma decisão, de uma uma opção: é assim que a gente quer viver,
é assim que a gente quer ser. E isso comporta uma renúncia, um abandonar, um êxodo, um romper profeticamente
com outros modelos, outras opções que podem ser bem mais óbvias, mais aceitas na
sociedade e na cultura.
2. Fundamentos da Fraternidade
Não é uma fraternidade pela
fraternidade, o que seria um fraternismo (ismo tem um sentido negativo: indivíduo, individual é bom; individualismo é o indivíduo enlouquecido, é a idolatria do eu). A opção pela fraternidade não é
um motivo utilitário, como se faz cooperativa
porque é mais vantajoso produzir em conjunto do que isolado. Não é a "fraternidade" da
revolução francesa, nem a igualdade do marxismo. A fraternidade cristã e franciscana tem um
fundamento em Deus mesmo, um fundamento teológico. Para Francisco e Clara,
a fraternidade nasce de uma visão teocêntrica e trinitária da vida e do seguimento de
Cristo "que se fez nosso caminho". Vamos trocar isso em miúdos:
• Jesus nos revelou: Deus, na sua intimidade
não é solidão. É comunhão de 3 diferentes pessoas divinas. Esse Deus comunhão é reunidor: não conduz nem salva ninguém isolado, mas em comunidade. Fraternidade
é entrar no movimento do próprio Deus, é encarnar a comunhão do Pai do Filho e do Espírito Santo, origem e modelo de
tudo, é tornar presente o amor com que Deus nos amou.
• Quando o Filho de Deus veio a este mundo,
formou a comunidade dos seus discípulos missionários. Tudo começa com um encontro muito
pessoal e íntimo com o Mestre, encontro feliz e iluminador. Mas converter-se a
Jesus é sempre converter-se para uma vida em comunidade. Pelo
batismo somos inseridos na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, bem como na comunhão da Igreja, Povo de Deus
reunido no mundo em nome da Trindade. A vocação/missão cristã se vive em comunidade.
• A comunidade dos que crêem em Jesus se constitui
inspirada na Comunidade Divina que "é a melhor comunidade".
"O mistério da Trindade é a fonte, o modelo e a meta do
mistério da Igreja" (DAp, n. 155). Os membros da comunidade são chamados a ser tão unidos, corresponsáveis e solidários uns com os outros, que
essa relação é chamada de comunhão. A comunidade é, então, "casa e escola de
comunhão".
• O Filho veio a este mundo como irmão nosso, a ponto de entregar a
vida, solidário até com os mais abandonados e jogados fora. Ninguém mais está só!
• E não só nosso irmão, mas de toda a criação, pois seus corpo foi feito
dos mesmos elementos que compõem todas as coisas, e que são resultado de bilhões de anos de evolução. Ressuscitado e glorificado,
já levou para dentro de Deus a nossa humanidade e toda a criação.
• Fraternidade é seguir Jesus Cristo na
loucura do seu amor pelo mundo, que se traduz em empatia, compaixão, misericórdia, solidariedade, serviço, entrega da vida. É dar-se por inteiro,
transformar-se naquele que se ama.
• Em Jesus somos adotados como filhos e
filhas e fazemos a experiência do Abbá. Então nossos semelhantes e todas
as criaturas são irmãos e irmãs.
Esta vocação de viver em comunidade por
inspiração divina e no seguimento de Cristo é do evangelho cristão, é
do património de todos os cristãos. Mas que Francisco e Clara
viveram e tematizaram de forma tão cabal que seu carisma lembra
para a Igreja e para toda a humanidade a vocação para a irmandade, para a
fraternidade, para a sororidade.
Na experiência de Francisco, a
fraternidade tem início quando, nu, na praça de Assis, exclama:
"Agora posso dizer: Pai nosso que estais no céu". Da experiência da paternidade de Deus
que nasce a fraternidade. Dizer que somos "irmãos menores" é afirmar a centralidade de
Deus na vida. É porque confio em Deus que me entrego à
fraternidade, sem
cálculos humanos.
O segundo substantivo mais
usado por Francisco em seus escritos é "irmão". O primeiro é "Senhor". É pelo Senhor que somos irmãos e irmãs. A fraternidade nasce da centralidade
de Deus na vida, da experiência do Deus Abbá. Se não for por Deus não acontece fraternidade. Se
queremos fraternidade, precisamos nos abrir ao primado de Deus, voltar ao
encanto, ao seguimento de Jesus que se fez nosso caminho. Analisar a vida
pessoal e comunitária: no ordinário da vida, a quem de fato
pertencemos? O que é que está no centro? A fraternidade
surge da atitude de escuta/obediência à Palavra de Deus, da experiência de Deus, vale dizer, do
espírito de oração e devoção. Podemos até lançar mão de meios que favoreçam à vida fraterna, capítulos, ajuda da psicologia
etc, mas qualidade evangélica da convivência vem de Deus.
A própria ciência hoje nos faz termos
consciência que somos um nó de relações com todos e com tudo e,
querendo ou não, há uma relação, uma corresponsabilidade entre todos os seres. Podemos saber disto
racionalmente, mas se o Espírito Santo não nos puxar para fora dos
sentimentos meramente humanos, da escravidão aos instintos egoístas que moram em nós, não acontece fraternidade
(acolhida, valorização, inter-ajuda, soma de forças). Fraternidade acontece
quando "movidos pelo Espírito", quando se tem
"o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar". A fraternidade nasce
de relações profundas com Deus. Ela é possível quando há solidez espiritual.
3. Converter-se para a fraternidade
Não nascemos fraternos, sabendo
ser irmãos e irmãs. Ao contrário, nascemos no pecado
original. Precisamos entrar numa escola, aprender. Ser irmão é resultado de um processo de
conversão. Francisco e Clara também não nasceram fraternos.
Francisco diz: "O Senhor
me deu irmãos". Os irmãos são um dom de Deus (cada
presente de grego que o Senhor nos dá. Ou talvez sejamos nós o presente de grego para os
outros). São um dom, sejam eles como forem, não em último lugar porque são imprescindíveis para a nossa conversão. "A vida comunitária é a máxima penitência" . Penitencia nos
recorda logo dificuldade, sofrimento. Tem este aspecto, sem dúvida: até a pessoa amada tem hora que é insuportável. Mas penitência quer dizer purificação. O espírito de penitência é um valor importante do nosso
carisma. Francisco e seus primeiros companheiros se identificavam como
"penitentes de Assis". Penitente é
quem está numa busca: sabe que algo lhe
falta e que há excessos que precisam ser cortados.
Viver face a face, corpo a
corpo uns com os outros é a grande chance de nos
conhecermos e identificarmos que demônios moram em nós.
Caem as máscaras, revelam-se as vaidades
e as qualidades. É a grande chance de crescimento humano e espiritual. Às vezes, esperamos a vida
inteira para que o irmão ou a irmã mude, quando o que de mais
eficaz poderíamos fazer para mudar o irmão(ã) seria mudarmos a nós mesmos.
Impressiona nas fontes
franciscanas e clareanas a familiaridade que acontecia nas fraternidades."Com
confiança, um manifeste ao outro a própria necessidade, para que lhe
procure e lhe sirva o que for necessário"(Rb 9,10). Acontece
dentro das fraternidades muita distância, muita insensibilidade,
muita falta de conhecimento, de familiaridade uns com os outros. Coisa de rico,
onde há mais formalismo, performance, cada um na sua. No Divino todo mundo sabe
de todo mundo. Não é por nada que as vezes acontece que um irmão morre no quarto do convento
e é achado só dias depois, quando começa a feder. Precisamos ser mais
humanos: sermos capazes de deixar de representar e expormos para os irmãos, os nossos sonhos, os
nossos anseios, os nossos pecados. Não tenhamos medo de sermos
fracos diante dos outros. Deus escolhe os fracos! E sermos mais humanos, compreensivos,
misericordiosos, cheios de compaixão, solidários uns com os outros. Como
Jesus, como Francisco e Clara. Em nossa humanidade nos encontramos. Quando o
orientador espiritual desce da posição de representante da instituição com suas leis, quando deixa
de representar aquele que não tem problemas, mas expressa
também sua humanidade, aí o diálogo ganha outra qualidade.
4. Não isolar a fraternidade dos
outros valores da forma de vida
Qual seria o valor mais
importante da forma de vida franciscana? A fraternidade? A minoridade e
pobreza? O espírito de oração e devoção? A penitência? A missão evangelizadora itinerante?
Mais vezes se lê que o relacionamento fraterno está acima de tudo, é o fim de tudo. Me parece que
pode não ser salutar colocar a fraternidade assim isolada dos outros valores.
O que é mais importante no rosto? O
nariz, a boca, os olhos, os ouvidos? Todos são importantes e existem
juntos, um dependendo do outro. Se o rosto fosse só nariz, seria um monstro. Se
fosse só boca, da mesma forma.
Assim também não se deve isolar e tematizar só um dos valores de nossa forma
de vida pois parece que ou eles existem juntos ou não existem verdadeiramente. Uma
coisa é certa: se isolamos um valor sem referência aos outros, fazemos
besteira. Em nome da fraternidade, podemos construir palácios, contra a minoridade e
pobreza. Podemos nos fecharmos em nossos interesses e sermos tão autoreferenciais que
perdemos a dimensão da missão e o significado evangelizador. A dita fraternidade pode bastar-se
tanto a si mesma que perde a centralidade de Deus.
O relacionamento de um casal
se aprofunda e amadurece quando não olham mais só um para o outro mas juntos
para os filhos, quando percebem que um casal cristão não pode viver um egoísmo a dois, mas que os dois
juntos têm uma missão para fora dos muros da casa. Do grande projeto de Deus, do bem maior
(Reino) é que vem a luz, o sentido, a orientação, a força também para o lar.
Da mesma forma, a missão evangelizadora congrega a
fraternidade, lhe dá sentido. A penitência, a minoridade qualificam
as relações. A oração faz beber na fonte da fraternidade. A abertura, o serviço ao irmão, sobretudo ao pobre, ao
necessitado é caminho certo de experiência de Deus...
5. Fraternidade e cultura atual
Quantas vezes já se viu uma família ou casal muito engajado na
Igreja, muito bem formado na fé, na hora de celebrar o
casamento agir de acordo com a cultura: preocupação com imagem, performance,
status. Puro paganismo. É a força da cultura!
Pode ser que a cultura em que estamos mergulhados
faça com que nem escutemos os apelos da Fraternidade. Ou, talvez, de alguma
forma favoreça o ideal da Fraternidade. O que na cultura atual ajuda e, quem sabe, até abre possibilidades inéditas para testemunharmos a
fraternidade? O que atrapalha e se coloca como obstáculo?
SANTA ISABEL DA HUNGRIA
De estirpe real, pois
foi filha de André e Gertrudes, reis da Hungria, nasceu em 1207 e recebeu no
batismo o nome de Isabel (Elisabeth), o qual significa ‘casa de Deus’. Aos
quatro anos de idade viaja para a Alemanha onde cresceu juntamente com a
família do seu noivo, Luís, príncipe da Turíngia e sucessor do rei da Turíngia,
Hermano.
Dada
a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a
menina não seria uma boa companheira para Luís. E por isso perseguiram-na e
maltrataram-na, dentro e fora do palácio.
Luís,
porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel.
Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de se casar o quanto
antes. O que aconteceu em 1221.
A
Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que
fossem as situações, e isso em grau heróico! Um dia, Luís surpreendeu-a com o
avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder... Mas ele,
delicadamente, insistiu e... milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno Inverno. Feliz ,
guardou uma delas.
A
sua vida de soberana não era fácil e frequentemente tinha que acompanhar o
marido em longas e duras cavalgadas. Além disso tinha o cuidado dos filhos:
Hermano, nascido em 1222; Sofia em 1224 e Gertrudes em 1227.
Estava
grávida de Gertrudes, quando descobriu que seu marido se comprometera com o
Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar
Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o
duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.
Quando
Luís ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros
franciscanos que chegavam à Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes
dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e
este a ter frequentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Família
Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos
solteiros e casados e sacerdotes seculares. Era, pois, mais que amiga dos
frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!
Morto
o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e expulsaram-na do
castelo de Wartburg. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que
ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno Inverno. Duas
servas fiéis acompanharam-na, Isentrudes e Guda.
De
volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a
morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das
festas da corte. Com toda a naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres.
Todavia, lá dentro dela o Senhor chamava-a para se doar ainda mais. Mandou
construir um conventinho para os franciscanos em Marburg e lá foi morar com as
suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos.
Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o
herdeiro legítimo de Luís. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de
Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de
todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana
Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade
religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de facto
feliz. Por ordem do confessor, conservou algumas rendas, as quais reverteram
para os pobres e sofredores.
Construiu
um abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios
para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela sentia-se de facto rainha,
mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres,
procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia
distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de lhes dar maior
quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que
trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que
despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros
os seus milagres em favor dos pobres!
De
há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração
a arrebatava cada vez mais. As suas servas testemunharam que, nos últimos meses
de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e
plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande
piedade o sacramento dos enfermos. Quando o seu confessor lhe perguntou se
tinha algo a dispor sobre a herança, respondeu tranquila: "Minha herança é
Jesus Cristo!" E assim nasceu para o céu! Era 17 de Novembro de 1231.
Sete
anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais,
canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de
São Francisco, a 26 de Maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada
Padroeira dos Irmãos da Ordem Franciscana Secular.
Frei Paulo Ferreira, OFM
ADVENTO
Todos
os grandes eventos exigem uma preparação. Por isso, a Igreja instituiu, na
Liturgia, um período que antecede o Natal: o Advento. Mas, ao longo da história
da Igreja, tomou diversas formas.
Receber
uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o
visitante é ilustre, os preparativos
são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco
anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma
particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o
prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.
Certamente,
durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a
preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que
melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera,
uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente
ordenado, na expectativa do grande dia.
Essa
preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de
importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que
ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por
exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um
período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs
da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se
purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de
Advento.
Significado
do termo
Advento
- adventus, em latim - significa vinda, chegada. É uma palavra de origem
profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar
seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada
permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente,
significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao
assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do
adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da
chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da
Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico
para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a
era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Surgimento do Advento
cristão
Os
primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal
aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum
de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a
"Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias,
começando no dia seguinte à festa de São Martinho.
São
Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o
Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias
para os domingos desse tempo litúrgico.
No
século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa
carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum
havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Apesar
do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta
Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do
Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o
fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O
velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e
escatológico de "parusia".
O Advento nas Igrejas do
Oriente
Nos
diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento
de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente
ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o
Advento na liturgia romana.
Na
liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de
todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No
rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das
anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo
a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.
O Advento na Igreja Latina
É
na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo. Muito diferente
do menino pobre e indefeso da gruta de Belém, nos aparece Cristo, no primeiro
domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos,
para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os
acontecimentos que antecederão esse triunfo: "Haverá sinais no Sol, na Lua
e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e
a agitação do mar" (Lc 21, 25). "Vigiai, pois, em todo o tempo e
orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de
acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21,
36). É a recomendação do Salvador.
Como
ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a
Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca,
no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Batista, cuja
mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.
Com
a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a
seguinte proclamação: "Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo:
alegrai-vos! O Senhor está perto". É o domingo Gaudete. Estando já próxima
a chegada do Homem- Deus, a Igreja pede que "a bondade do Senhor seja
conhecida de todos os homens". Os paramentos são cor-de-rosa.
No
quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol
de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do que Ela, para nos
conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os
pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a
mais sublime preparação para o Natal.
Fontes:- Pe. Mauro
Sérgio da Silva Isabel, EP; Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p.
18-19
- http://www.acidigital.com
- http://www.acidigital.com
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