sexta-feira, 24 de abril de 2015

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE ABRIL DE 2015

"Era preciso que o Cristo padecesse"


Nas leituras de hoje, encontramos alguns títulos do Cristo aos quais estamos pouco acostumados: o Servo, o Santo e o Justo. Referem-se ao Servo Padecente do Dêutero-Isaías. Revelam um acontecimento importante no seio da primitiva comunidade cristã: a releitura das Escrituras (A.T.) à luz dos eventos da morte e ressurreição de Cristo. Tal releitura é, própriamente, a obra do Espírito nos primeiros anos da jovem comunidade. Porém, Cristo mesmo preside a esta obra, como nos mostra o evangelho de hoje (a aparição aos Onze reunidos no cenáculo). Jesus lhes mostra o que “na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (as três partes das escrituras) está escrito a respeito do Messias, especialmente, que ele deve sofrer e morrer e, no terceiro dia, ressuscitar.
A comunidade dos primeiros cristãos esforçou-se para reconhecer naquele que os judeus entregaram e mataram (cf. At 3,13-14; 1ª  leitura) aquele que as Escrituras anunciaram. Tiveram que descobrir um fio escondido, que os outros judeus (pois tam­bém eles eram judeus) não enxergaram: a figura do justo oprimido, do servo sofredor, do messias humilde, do pequeno resto, do profeta rejeitado… Enquanto o judaísmo em geral lia as Escrituras com os óculos de um messianismo terrestre (geralmente nacionalista), os primeiros cristãos descobriram na aniquilação e ressurreição de Cristo a atuação escatológica de Deus, a nova criação, o início do Reino de Deus por meio de seu “executivo”, o Filho do Homem (cf. Dn 7), que – acreditavam – voltaria em breve com a glória e o poder do Céu. E este Filho do Homem era, exatamente, o messias desconhecido,  presente em textos que não descrevem o poderoso messias davídico, mas aquele que devia sofrer e morrer.
Esse trabalho da primitiva comunidade, iluminada pelo Espírito do ressuscitado, é um exemplo para nós. Eles fizeram essa releitura para poder dizer aos judeus, em categorias judaicas, que Jesus era, mesmo, o esperado, o dom de Deus, o sentido pleno, a última palavra de nossa vida e de nossa história. Nós, hoje, devemos anunciar a mesma mensagem utilizando as categorias de nosso tempo. Isso não é simples, pois as categorias determinam em parte a percepção das coisas e, portanto, também o conteúdo da mensagem. Devemos ler o “Antigo Testamento” de nosso tempo, isto é, a linguagem em que nosso tempo exprime suas mais profundas aspirações. Nem sempre é uma lin­guagem religiosa. Pode ser uma linguagem política, “histórico-material” até! Como recuperá-la para dizer: “Jesus é o Senhor”? Tarefa difícil, mas não impossível.
Nenhu­ma página do A.T. era estritamente adequada para traduzir a mensagem das primeiras testemunhas de Cristo, nem mesmo as páginas do Dêutero-lsaías (p.ex., o Servo de ls 53,12 aparece como recompensado, em sua vida, pela fama, a honra etc.; isso não se aplica diretamente a Jesus). A mensagem transbordava das categorias. Isso acontece também hoje, quando dizemos que em Jesus temos a “libertação”, categoria socioeconômica da dialética materialista. Porém, a inadequação das categorias não nos dispen­sa de usá-las para dizer aos nossos contemporâneos, numa linguagem que neles encontre ressonância, o que devemos testemunhar. Exatamente para superar a limitação da linguagem e transmitir algo que é “revelação”, algo que não está no poder de nossa palavra, age em nós, até hoje, o Espírito, que, nos primeiros cristãos, completou o que Jesus havia iniciado naquela tarde: a releitura das Escrituras.
A história pós-pascal é uma história de meditação e interpretação do evento de Jesus Cristo. Devemos continuar essa história. Mas ela é, também e sobretudo, a história da encarnação de sua mensagem no amor fraterno, conforme o preceito de Jesus (cf. 2ª leitura). Esta encarnação é, certamente, a melhor “tradução” da mensagem pascal. No amor fraterno da comunidade cristã, o mundo enxerga o Ressuscitado, o Cristo vivo.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Os franciscanos na Liturgia e na 
Piedade popular (Parte I)
 Cleiton Robsonn.

Um dos serviços providenciais dos Minoritas foi estender uma ponte estreita entre a vida litúrgica tradicional, encerrada nos mosteiros e colegiados, e as exigências religiosas da nova sociedade que vinha se estruturando. A mobilidade e os novos rumos do apostolado, junto com a intensidade dos estudos, não se ajustavam com as longas horas diárias da liturgia laudatória desenvolvida pelo monaquismo. Não é, pois, de estranhar que, usando a faculdade de que no século XIII gozava todo instituto religioso de ordenar livremente sua vida litúrgica, os Franciscanos fossem evoluindo para um culto mais abreviado e, ao mesmo tempo, mais próximo à piedade individual.
Prosseguindo nesta tendência de abreviar o tempo das horas canônicas, com a autorização de Gregório IX, a Ordem promoveu para si uma primeira reforma, e uma segunda, tempos mais tarde; consistiam, sobretudo, em abreviar as orações extraordinárias, como o Ofício dos Defuntos e o Pequeno Ofício da Virgem; o autor delas foi Frei Haymo de Faversham. Ainda assim, havia um setor da Ordem que achava excessivamente longo e pesado o ofício diário e dessa queixa, São Boaventura faz menção em um dos seus opúsculos; entretanto, os adversários de fora acusavam os Franciscanos de revolucionar a liturgia eclesiástica. Nicolau III (1277-1280) estendeu a todas as igrejas de Roma o Breviário Franciscano reformado, que no decorrer do século XIV se estendeu a toda a Igreja latina.
Até na evolução do Missal Romano, isto é, o que era usado pela Cúria Romana, também adotado pela Ordem, influíram os Franciscanos. Frei Haymo fez uma nova relação das rubricas da missa. É difícil determinar com precisão, até que ponto foi obra dos Franciscanos o predomínio definitivo das rubricas e fórmulas próprias da missa no século XIII, como as do ofertório e as que precedem a comunhão: o que se constata é que várias das rubricas atuais aparecem pela primeira vez nos decretos litúrgicos dos Capítulos Gerais da Ordem; isso sem tomar em conta as seqüências e festas novas que dos códices franciscanos passaram ao missal romano para toda a Igreja.
Da convivência extra-litúrgica com os mistérios revelados por meio da meditação pessoal e do contato pastoral com o povo cristão, para quem o ciclo litúrgico já dizia muito pouco, originou-se uma notável mudança no calendário litúrgico: muitas das “devoções” que se foram impondo sob a influência franciscana passaram à categoria de solenidades. Cada decisão Capitular dos Franciscanos, neste ponto, deixou marca imediata no ano eclesiástico.
Em 1260, inclui-se no calendário franciscano a festa da Santíssima Trindade, que já vinha sendo celebrada em algumas regiões; em 1334, João XXII a estendia a toda a Igreja. Tiveram maior difusão, por obra dos filhos de São Francisco, as festas e devoções relacionadas com a vida de nosso Senhor Jesus Cristo. A representação plástica do “Nascimento” já existia anteriormente, porém, os franciscanos deram-lhe grande impulso, orientados por São Francisco desde a celebração em Greccio (1223).
O culto da Paixão do Senhor foi o que mais se destacou na piedade difundida pelo exemplo e pregação dos Franciscanos, sobretudo, a prática da Via Crucis, que tanta difusão alcançou. Em São Francisco o amor à Paixão era inseparável da Sagrada Eucaristia, promovida ardentemente por cartas e exortações.
No século XV, São Bernardino de Sena tomou como bandeira de seu apostolado o Santíssimo Nome de Jesus.
Na piedade franciscana, a humanidade de Cristo não podia deixar de estar ligada à Santíssima Virgem Maria. Não falamos do entusiasmo com que se promoveu a devoção à Imaculada Conceição, considerada desde o início do século XIV, como insígnia e glória da Ordem. A festa da Visitação, introduzida no calendário minorítico, estendeu-se a toda a Igreja, no século XV. Aos Franciscanos deve-se a adição das palavras “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”, na Ave-Maria. O toque dos sinos e a oração do Angelus, que no início se faziam só para a “Oração da Noite”, em memórias da Assunção e, depois, três vezes ao dia; deve-se a uma iniciativa de Frei Bento de Arezzo (+1282), acolhida pelos Capítulos Gerais, desde meados do século XIII. Um decreto do Beato João de Parma introduziu, em 1254, as antífonas finais da Virgem no ofício divino, adotadas depois no breviário romano. Do mesmo modo que os dominicanos, também os franciscanos tiveram (e ainda têm) seu Rosário, chamado de “as sete alegrias da Virgem Maria”, grandemente propagado por São Bernardino e São João de Capistrano.
Da feliz união entre a Liturgia e religiosidade popular nasceram as “representações sagradas” – peças teatrais, altos – das quais os grandes impulsores foram os Franciscanos. Costumavam estar a cargo da Ordem terceira, hoje a OFS (Ordem Franciscana Secular).
Nos primeiros séculos franciscanos, a atividade litúrgica foi significativamente ampla e eficaz. A opção feita por São Francisco em sua Regra: “Os clérigos façam o ofício divino segundo a forma da Santa Igreja Romana”, levou a uma difusão sempre mais ampla dos livros litúrgicos romanos.
A fidelidade franciscana ao rito romano foi tamanha que a Ordem foi responsável pela disseminação dos livros litúrgicos da Sé de Roma entre os povos que ainda adotavam a liturgia galicana ou formas particulares do rito romano. Sem a Ordem franciscana, dificilmente a Europa adotaria em peso esse rito. Desse modo, diferentemente de outras Ordens(Carmelita, Cisterciense, Cartuxa, Premonstratense, Dominicana etc), os franciscanos sempre utilizaram o rito romano.
Ainda assim, particularidades litúrgicas foram aprovadas pelo Papa para os três ramos das Ordem primeira (OFM, OFMConv e OFMCap). Não se tratava de um rito próprio, nem de uma variação do rito romano, mas de uma adaptação simples ao espírito do franciscanismo.
Como dissemos, não é de calendário que falamos aos nos referir às particularidades litúrgicas da Ordem, e sim de costumes aprovados por Roma para serem inseridos no Missal e no breviário, de tal sorte que seus livros não são apenas romanos, mas verdadeiramente romano-seráficos.
Um dos costumes na Missa franciscana é o uso do amito sobre a cabeça, no lugar do barrete e celebrar a Missa de pés descalços ou de sandálias, mas nunca com sapatos. Tal costume surgiu somente no século XX, durante a segunda guerra mundial, em que os frades “disfarçaram-se” de Padres Seculares para não serem mortos. Na Europa em geral - e depois em todo o mundo - desde a Regra feita por São Francisco, “os frades podem usar calçados, de acordo com os lugares e regiões frias”, ou seja, apenas por questões de preservar a própria saúde física; mas em nenhum lugar ao longo da história houve o costume do uso de sapatos para as celebrações.
Outro costume, mas apenas da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos é a insersão, no Confiteor, do nome de São Francisco, após os demais santos. Tal provisão foi dada pelo Papa somente aos Capuchinhos, não aos frades da OFM nem aos Conventuais.
Ainda na OFMCap, usa-se, em sua particularidade litúrgica do rito romano, o incenso em algumas Missas de certas solenidades, mesmo que não seja uma Missa Solene nem uma Missa Cantada (lembrando que, na forma clássica do rito romano, o incenso só era usado nelas, nunca da Missa meramente rezada ou Missa baixa).

Continua no próximo boletim


CURSO BÁSICO DO CARISMA MISSIONÁRIO FRANCISCANO (C.B.C.M.F.)

“Francisco deitado sobre a terra nua, ali em Santa Maria dos Anjos em Porciúncula, despojado do seu cilício, a mão esquerda sobre a chaga do lado direito para ocultá-la, fixando com os olhos o céu como gostava de fazer e suspirando com toda a alma à glória eterna... Disse aos irmãos: ‘Cumpri a minha missão: que Cristo vos ensine a cumprir a vossa’”.
Este breve texto tirado das Fontes Franciscanas (São Boaventura na sua Legenda Maior 14,3 e Tomás de Celano na sua Segunda Vida (Biografia) nº 214) é o resumo do convite ao seguimento de Cristo, feito pelo nosso Pai Francisco.
Para alertar às irmãs e irmãos de hoje, foi criado em 1982 o Curso Básico do Carisma Missionário Franciscano. O que é carisma? CARISMA (em grego “charisma”)quer dizer uma dádiva, um dom, um presente pessoal, uma marca ou uma VOCAÇÂO. Esta é a palavra chave dos que se propuseram a fazer como aqueles que idealizaram o Curso e o reformularam definitivamente em 1994.
Carisma, no nosso contexto (uso) significa uma dádiva (dom) divina, que Francisco recebeu para a sua comunidade, para cumprir uma tarefa específica na Igreja.
Em 1994, como disse acima, em Assis, foi feita nova redação após profundas reflexões recolhidas e comparadas. Uma equipe de língua alemã foi encarregada de redigir novo texto elaborado.
No Brasil este curso foi aplicado em várias regiões pela F.F.B. (Família Franciscana do Brasil) já a partir de 1995. No Nordeste, Região II, aconteceu em 2003.
Na nossa Escola Permanente de Formação no Rio de Janeiro, ele foi dado de forma resumida conforme as possibilidades, de acordo com a Coordenação Regional de Formação da OFS.
Aqui, na nossa Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis, passamos a aplicá-lo a partir do dia 15 de maio de 2012, sempre às 3ªs.feiras. Portanto, no mês de maio próximo estaremos completando o 3º ano de implantação do Curso (CBCMF) aqui.
O CBCMF é composto de vinte e cinco (25) fascículos ou lições. Nestes três anos já passamos por quinze (15) e estamos atualmente no início da 16ª lição: O Encontro com os Muçulmanos”.
Qual a finalidade do CBCMF para a nossa Fraternidade?
No início foi preparar irmãs e irmãos que quisessem melhorar sua formação para serem os futuros formadores e darem assistência ao Conselho e à Fraternidade naquilo que diz respeito à vida e Espiritualidade Franciscana. Para tal foi pedida a aprovação do Conselho e da Irmã Ministra, bem como ao Padre Assistente e do Assistente Jurídico, o Irmão Paulo Machado.
Após o Capítulo Eletivo de 2015, julgou-se por bem solicitar ao novo Conselho a aprovação da continuação do curso (CBCMF). Esta solicitação e aprovação deu-se na reunião do novo e do antigo Conselho em 21 de março de 2015, tal como consta no livro de Atas.
O que se quer mais? É simplesmente passar à Fraternidade mensalmente uma pequena porção do CBCMF para benefício de todos em breves e objetivos artigos.
Lembrem-se de que cada irmã e irmão de estar sempre ligado à sua formação doméstica, isto é, em casa: leitura DIÁRIA dos Evangelhos e das Cartas, da Regra, das Constituições Gerais e as biografias de nosso Pai São Francisco, de Nossa Mãe Clara e dos santos e santas franciscanas, bem como dos ensinamentos dos papas.

Paz e Bem!

A Formação.





Complete a bênção:


O _________ te _________ e te ___________!

O Senhor te mostre a sua ___________ e se compadeça de ______!

O ___________ volva o seu rosto para ti e te dê a ________!

O Senhor te _____________!

                        Em nome do ______ e do ___________ e do ______________________.                         Amém!

                                             (Nm 6,24-26)



quarta-feira, 1 de abril de 2015

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE MARÇO DE 2015

A maior e mais antiga festa cristã


Frei Luiz Iakovacz

Após a Ressurreição, Cristo deixou esta incisiva ordem aos apóstolos: “Ide, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). De fato, eles partiram e evangelizaram vários países onde, também, sofreram o martírio – como nos diz a Tradição da Igreja. A Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo marcaram profundamente os apóstolos. Este fato não só se tornou o núcleo da sua pregação, com também os levou a ler o Antigo Testamento sob a ótica pascal, especialmente, da Ressurreição.  Assim, no dia de Pentecostes, Pedro dirigiu a Palavra a uma multidão de diferentes culturas e nações, reinterpretando vários textos bíblicos e afirmando que Cristo – morto e sepultado – “Deus O ressuscitou, e disto nós somos testemunhas”.
Tal anúncio causou um impacto tão grande que os ouvintes perguntaram: “Que devemos fazer”? A resposta foi: “Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome do Senhor Jesus. Naquele dia, cerca de três mil pessoas abraçaram a fé” (cf. At 2, 14-41). Notemos que uma evangelização convincente leva o ouvinte a pedir o batismo.  Por isso, os primeiros cristãos, após um catecumenato de três anos, livremente, pediam este sacramento que era celebrado somente na Vigília Pascal, isto é, na noite em que se anunciava a Ressurreição de Jesus.  Esta experiência era um verdadeiro “sepultar-se com Cristo para, com Ele, ressurgir a uma vida nova” (Rm 6,4). Por isso, a Páscoa se tornou o centro do Ano Litúrgico, e tudo girava ao redor dela.  No entanto, tanto hoje como ontem, pairam “dúvidas” sobre a Ressurreição. Alguns não creem nela, porque o evangelista Mateus diz que as autoridades religiosas, maliciosamente, subornaram os guardas para que desmentissem a Ressurreição de Cristo, dizendo que o corpo foi roubado enquanto dormiam; e “esta versão continua até hoje” (cf. Mt 28,11-15). Outros descreem porque as “aparições” foram poucas e a um grupo seleto: algumas mulheres (cf. Mc 16,1-8), aos apóstolos (cf. Jo 20,19-29) e a uns quinhentos discípulos (cf. 1Cor 15,6).
Mais ainda: quando Paulo anunciou a Ressurreição no areópago de Atenas, os ouvintes  “zombaram dele e disseram: sobre isso te ouviremos numa outra ocasião” (cf. At 17,16-34). Então… onde buscar a certeza da Ressurreição?! Consideremos uma coisa: a Ressurreição não consiste no reavivamento de um cadáver, nem se explica com provas e argumentos. Para os cristãos, junto com o “sepulcro vazio” e as “aparições”, a Ressurreição se fundamenta na dimensão da fé e da liberdade. É o próprio Cristo quem o declara, textualmente: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá. E quem crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
Se quisermos anunciar a Ressurreição, comecemos a viver como ressuscitados, isto é, como pessoas que servem e se sacrificam pelo próximo, que sabem amar e dar a vida por amor. Foi assim que Jesus viveu, e é assim que poderemos nos tornar provas vivas da sua Ressurreição. Então, “nosso corpo se revestirá da incorruptibilidade e o nosso ser mortal, da imortalidade” (1Cor 15,54). Este é o verdadeiro sentido da Ressurreição!
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Habitar o coração


Continuação




A) “O silêncio é escolha dos fortes e capacidade dos sábios. O homem adentra-se no deserto para encontrar-se a si mesmo, para colocar ordem nas próprias ideias, para fazer emergir, novamente,  das profundezas o essencial e  renovar as opções.  O silêncio total do ser humano é plenitude da Palavra de Deus, o qual gosta de falar no silêncio e quando fala não faz nenhum rumor. Como fez com Maria: a criatura do silêncio. Nela, no mais profundo dos silêncios, encontrou calorosa acolhida o Verbo, a Palavra de amor pronunciada por Deus desde sempre e para sempre. Um silêncio absoluto de todo o seu ser. Um silêncio do corpo imaculado para acolher Deus  ( Terrinoni, op. cit,  p. 185).
B) Nos tempos do Papa Francisco parece  importante  que os discípulos tenham a certeza que, na vida e na missão, Cristo caminha em sua vida e missão. Ora,  o recolhimento e o silêncio permitem que os agentes de pastoral  não sejam  meros tocadores de obras e fazedores de tarefas.  Mario França Miranda  em conferência na  52ª. Assembleia da CNBB (Aparecida, SP, 30 de abril a 9 de março de 2014):  “Numa época  marcada pela inflação das palavras através do vários meios de comunicação e também por certo ceticismo com relação a ideologias e  cosmovisões ganha a experiência pessoal  um peso enorme para fundamentar as convicções pessoais. Esta realidade atinge também a fé dos cristãos. Esta resulta de uma iniciativa de Deus de vir ao nosso encontro, doando-Se a si próprio em Jesus Cristo e no Espírito Santo, iniciativa que se realiza plenamente ao ser acolhida pelo cristão na fé.  Portanto, a fé é um evento salvífico na vida da pessoa que é, de certo modo, por ela  experimentado. Esta experiência atinge o coração de cada um, não só dando sentido à existência humana, mas também consolando, fortalecendo e iluminando o que fazem. É a experiência do amor, da bondade e da misericórdia de Deus, realidade prioritária e fundamental de nossa vida. O papa bate na mesma tecla ao enfatizar a importância da experiência pessoal com Jesus Cristo, do amor de Deus que ele nos revela.  Em suas palavras: “O verdadeiro missionário (…)  sabe que Jesus Cristo caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele (266).
C) Comentando pagina de João que fala da intimidade entre o discípulo e o Mestre, José Antonio Pagola escreve:  Todo ramo que está vivo deve produzir  fruto. E se não produz, é porque não circula por Ele a seiva da vida da videira. Assim também é nossa fé. Vive, cresce e dá frutos quando vivemos abertos à comunicação  com Cristo. Se esta relação vital se interrompe, cortamos a fonte de nossa fé.  Então a fé seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura do que os primeiros crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade evangélica para descobria as novas exigências  do Espírito, não estão delatando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?  Por paradoxal que possa parecer, o vazio interior pode apoderar-se de mais de um cristão. Preso a uma rede de relações, atividades, ocupações e problemas, o cristão pode sentir-se mais só do que nunca em seu interior, incapaz de comunicar-se vitalmente com esse Cristo em quem diz crer. Talvez a derrota mais grave do homem ocidental seja sua incapacidade de vida interior. Parece que as pessoas vivem sempre fugindo. Sempre de costas para si mesmas. Diríamos que a alma de muitos é um deserto. A falta de contato interior com Cristo como fonte de vida conduz pouco a pouco a um “ateísmo pratico”. Não adianta continua confessando  fórmulas, se a pessoa não conhece a comunicação calorosa, prazerosa e revitalizadora  com o Ressuscitado. Essa comunicação de quem sabe desfrutar do diálogo silencioso com Ele, alimentar-se diariamente de sua palavra, lembrar-se dele com alegria  no meio do trabalho cotidiano  ou descansar  nele nos momentos de abatimento e opressão  ( O Caminho aberto por Jesus.  João,  José  A. Pagola,  Vozes, p.  218-219).



Pedindo a graça do silêncio
Senhor,
concede-me não o silêncio que me torna  prisioneiro de mim mesmo,
mas o  que me liberta e abre  espaços novos.
Não o silêncio do corpo cansado procurado em paraísos artificiais,
mas aquele da alma que respira no limiar de teu Reino.
Não o silêncio do medo dos outros e do mundo
mas o  que me torna próximo de todo homem e da criação.
Não o silêncio do egoísmo indiferente e altaneiro,
mas aquele que enraíza e fortalece a ternura do coração.
Não o silêncio do solitário monólogo,
mas o da intimidade da tua Presença.
Não o silêncio da resignação,
mas o que nos  dispõe a combater pela verdade.
Não o silêncio do homem que foge,
mas de quem te busca.
Não o silêncio do homem que rumina seus fracassos,
mas de quem reflete  para descobrir as causas.
Não o silêncio da noite do desespero,
mas o que espera a luz da aurora.
Não o silêncio do rancor
mas o da pacificação e do perdão.
Não o silêncio do tagarela, cheio de si, mas o do coração que percebe o murmúrio de teu Espírito.
Não o silêncio devassado por incontáveis questionamentos e perguntas,
mas o do maravilhamento e da adoração.
Não o silêncio do esquecimento, do túmulo, da morte,
mas aquele em que a matéria fica prenhe das energias do Ressuscitado
na expectativa de uma vida nova em Tua luz.

Michel Hubaut
Frei Almir Ribeiro Guimarães

Reencantar a vida religiosa franciscana a exemplo de São Francisco

Frei Vitório Mazzuco Filho


Existe uma palavra que está sendo resgatada hoje: Reencantar! Ela nos remete à uma nova motivação. Ela quer dar mais dignidade e beleza ao nosso projeto de vida, ao nosso programa de vida, à nossa Forma de Vida.
Reencantar é despertar a riqueza que já está dentro de nós, que está dentro do patrimônio do nosso carisma.
Reencantar é cuidar, preservar, animar e nunca abafar. Nós temos uma obra-prima para ofertar: a nossa vocação! Ela é a nossa grande riqueza, nós valemos pelas escolhas que fizemos, e estas revelam a nobreza que habita em nossa vida.
Reencantar a Vida Franciscana é voltar a sonhar como Francisco. Sem sonhos não se traçam caminhos. Francisco sempre viveu de desejo e de sonho: “É isso mesmo que eu quero, é isso mesmo que procuro, é isso mesmo que desejo de todo coração!” Ai daquelas pessoas que não sonham o Novo e o Grande a ser realizado! Pessoas sem sonhos afundam-se no brejo da mediocridade.
Francisco foi um imenso sonhador por isso mesmo foi um imenso realizador. Todo grupo, toda sociedade produz utopias e cada pessoa encontra forças nas utopias. É preciso alimentar a paixão da vontade para se lançar para a vida.
Uma repórter perguntou a Dom Hélder Câmara por que, já octogenário, não perdia a força, a vibração, a jovialidade. Ele respondeu: “Ah! Minha filha, é porque nunca deixei de sonhar o melhor para o meu povo!”
Reencantar é sempre querer o melhor. Francisco quis o melhor para a humanidade, quis o melhor para o leproso, quis o melhor para a Igreja de sua época, quis o melhor para a sua fraternidade e é exatamente por causa disso que se tornou um fenômeno humano e cristão.
Nós não somos seu contemporâneo, mas como ele está presente! Ele não é analista, nem especialista, nem comentarista de algo, nem conferencista profissional… mas simplesmente cria, reinventa e revive cada relacionamento.
Faz um encontro com o humano na sua raiz, faz um encontro com as coisas bem lá dentro de sua verdade. Francisco é mais do que um indivíduo, ele é um momento dentro de nós, ele está onde deve passar a nossa humanidade. Ele é uma verdade que a humanidade criou de melhor nestes últimos oito séculos. Ele está onde os espíritos mais sadios hoje querem estar.
É como diz o grande franciscanólogo Agostinho Gemelli: “O fascínio que exerce a figura de Francisco ultrapassa os limites de uma Ordem e da própria Igreja. É um Santo Universal, um homem que ocupa um dos patamares mais altos na passagem espiritual da humanidade. Um simples homem amado por todos. Santo com alma de Evangelho e coração de Irmão!”. Assim deve ser a proposta de nossa vida, viver a profundidade do humano e de todos os relacionamentos.
Prestar muita atenção no potencial de todas as pessoas e de todas as coisas. Assim deve ser um jeito de Vida que une, liga e religa todos os seres, esta é nossa maneira Religiosa; e porque temos Francisco como nosso Modelo vivo, podemos dizer que esta é a nossa vertente franciscana.

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VIVER EM FRATERNIDADE


VIVER COMO FRANCISCO VIVEU

A Fraternidade é dom de Deus. Para S. Francisco de Assis um irmão é um bem imenso. A vida quotidiana coloca-nos diante de situações delicadas. Muitos de nós vivemos em fraternidades mais ou menos funcionais, onde por vezes, o entendimento entre irmãos é inexistente. São Francisco exorta-nos a que tenhamos coragem de dar a vida pelos irmãos. Apesar de algumas dificuldades temos plena consciência de que somos franciscanos. A vida em comunhão fraterna exige do outro irmão a participação em todos os actos da vida da fraternidade, sobretudo na oração comum na evangelização e nos trabalhos tanto domésticos como noutros sectores da vida profissional.
Os frades devem ser criaturas disponíveis para tudo o que for serviços Fraternos. Na vivência fraterna, os irmãos não devem escolher o seu grupinho, mas nem sempre isso a acontece. Há uma delicadeza a respeitar de uns para com os outros e para com todos. Para nós franciscanos, a fraternidade evangélica será sempre muito mais do que um fenômeno psicológico. Todos somos irmãos, e por isso nunca é demais insistir nos direitos de todos. Todos são Menores de nome e defacto, mesmo os que exercem cargos, funções e ministérios diferentes. São Francisco de Assis, não queria altaneiríssimo, dos que assumem posturas e esquecem os outros e se colocam numa posição subalterna. S. Francisco de Assis quer irmãos cheios de mútua caridade e que de boa vontade prestem serviços uns aos outros e que cada um se rejubile com o sucesso do outro. Todos devemos mostrar as nossas opiniões e fazê-lo com espírito de fé. Todos têm o dever de proteger a vida familiar da Fraternidade e dentro da Comunidade, os irmãos possam ter espaços reservados para aí viverem e fazerem o seu silêncio e vida fraterna e se apresentem a Deus com tudo o que convém a filhos de S. Francisco, para que a vida se torne fermento e comunhão com Jesus Cristo.
A vida religiosa o é verdadeiramente se for caminho para Aquele que no-la deu. Não se pode amar a Deus sem amar o próximo e o meu próximo é o irmão da fraternidade que vive a meu lado. Tudo o que se faz contra o próximo é a Deus que se faz. Para amar a Deus é preciso praticar a caridade e fora desta não há verdadeira fraternidade.
Os biógrafos de S. Francisco de Assis, são unânimes em ressaltar a relação fraterna de S. Francisco com todos os seres da criação e o respeito para com todas as criaturas. S. Francisco de Assis foi modelo de humildade entre os seus irmãos e um conciliador de unidade fraterna. Se refletirmos fraternidade e menoridade nas nossas vidas leva-nos a viver a nossa verdadeira vocação, porque esta deve estar radicada no seguimento de Cristo e dos seus apóstolos que renunciaram ao direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente o que renunciaram a qualquer direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente o Reino de Deus em toda a parte. Aqui está a nossa itinerância, a pobreza e Menoridade.
Fr. José Jesus Cardoso, ofm.