quarta-feira, 1 de abril de 2015

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE MARÇO DE 2015

A maior e mais antiga festa cristã


Frei Luiz Iakovacz

Após a Ressurreição, Cristo deixou esta incisiva ordem aos apóstolos: “Ide, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). De fato, eles partiram e evangelizaram vários países onde, também, sofreram o martírio – como nos diz a Tradição da Igreja. A Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo marcaram profundamente os apóstolos. Este fato não só se tornou o núcleo da sua pregação, com também os levou a ler o Antigo Testamento sob a ótica pascal, especialmente, da Ressurreição.  Assim, no dia de Pentecostes, Pedro dirigiu a Palavra a uma multidão de diferentes culturas e nações, reinterpretando vários textos bíblicos e afirmando que Cristo – morto e sepultado – “Deus O ressuscitou, e disto nós somos testemunhas”.
Tal anúncio causou um impacto tão grande que os ouvintes perguntaram: “Que devemos fazer”? A resposta foi: “Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome do Senhor Jesus. Naquele dia, cerca de três mil pessoas abraçaram a fé” (cf. At 2, 14-41). Notemos que uma evangelização convincente leva o ouvinte a pedir o batismo.  Por isso, os primeiros cristãos, após um catecumenato de três anos, livremente, pediam este sacramento que era celebrado somente na Vigília Pascal, isto é, na noite em que se anunciava a Ressurreição de Jesus.  Esta experiência era um verdadeiro “sepultar-se com Cristo para, com Ele, ressurgir a uma vida nova” (Rm 6,4). Por isso, a Páscoa se tornou o centro do Ano Litúrgico, e tudo girava ao redor dela.  No entanto, tanto hoje como ontem, pairam “dúvidas” sobre a Ressurreição. Alguns não creem nela, porque o evangelista Mateus diz que as autoridades religiosas, maliciosamente, subornaram os guardas para que desmentissem a Ressurreição de Cristo, dizendo que o corpo foi roubado enquanto dormiam; e “esta versão continua até hoje” (cf. Mt 28,11-15). Outros descreem porque as “aparições” foram poucas e a um grupo seleto: algumas mulheres (cf. Mc 16,1-8), aos apóstolos (cf. Jo 20,19-29) e a uns quinhentos discípulos (cf. 1Cor 15,6).
Mais ainda: quando Paulo anunciou a Ressurreição no areópago de Atenas, os ouvintes  “zombaram dele e disseram: sobre isso te ouviremos numa outra ocasião” (cf. At 17,16-34). Então… onde buscar a certeza da Ressurreição?! Consideremos uma coisa: a Ressurreição não consiste no reavivamento de um cadáver, nem se explica com provas e argumentos. Para os cristãos, junto com o “sepulcro vazio” e as “aparições”, a Ressurreição se fundamenta na dimensão da fé e da liberdade. É o próprio Cristo quem o declara, textualmente: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá. E quem crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
Se quisermos anunciar a Ressurreição, comecemos a viver como ressuscitados, isto é, como pessoas que servem e se sacrificam pelo próximo, que sabem amar e dar a vida por amor. Foi assim que Jesus viveu, e é assim que poderemos nos tornar provas vivas da sua Ressurreição. Então, “nosso corpo se revestirá da incorruptibilidade e o nosso ser mortal, da imortalidade” (1Cor 15,54). Este é o verdadeiro sentido da Ressurreição!
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Habitar o coração


Continuação




A) “O silêncio é escolha dos fortes e capacidade dos sábios. O homem adentra-se no deserto para encontrar-se a si mesmo, para colocar ordem nas próprias ideias, para fazer emergir, novamente,  das profundezas o essencial e  renovar as opções.  O silêncio total do ser humano é plenitude da Palavra de Deus, o qual gosta de falar no silêncio e quando fala não faz nenhum rumor. Como fez com Maria: a criatura do silêncio. Nela, no mais profundo dos silêncios, encontrou calorosa acolhida o Verbo, a Palavra de amor pronunciada por Deus desde sempre e para sempre. Um silêncio absoluto de todo o seu ser. Um silêncio do corpo imaculado para acolher Deus  ( Terrinoni, op. cit,  p. 185).
B) Nos tempos do Papa Francisco parece  importante  que os discípulos tenham a certeza que, na vida e na missão, Cristo caminha em sua vida e missão. Ora,  o recolhimento e o silêncio permitem que os agentes de pastoral  não sejam  meros tocadores de obras e fazedores de tarefas.  Mario França Miranda  em conferência na  52ª. Assembleia da CNBB (Aparecida, SP, 30 de abril a 9 de março de 2014):  “Numa época  marcada pela inflação das palavras através do vários meios de comunicação e também por certo ceticismo com relação a ideologias e  cosmovisões ganha a experiência pessoal  um peso enorme para fundamentar as convicções pessoais. Esta realidade atinge também a fé dos cristãos. Esta resulta de uma iniciativa de Deus de vir ao nosso encontro, doando-Se a si próprio em Jesus Cristo e no Espírito Santo, iniciativa que se realiza plenamente ao ser acolhida pelo cristão na fé.  Portanto, a fé é um evento salvífico na vida da pessoa que é, de certo modo, por ela  experimentado. Esta experiência atinge o coração de cada um, não só dando sentido à existência humana, mas também consolando, fortalecendo e iluminando o que fazem. É a experiência do amor, da bondade e da misericórdia de Deus, realidade prioritária e fundamental de nossa vida. O papa bate na mesma tecla ao enfatizar a importância da experiência pessoal com Jesus Cristo, do amor de Deus que ele nos revela.  Em suas palavras: “O verdadeiro missionário (…)  sabe que Jesus Cristo caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele (266).
C) Comentando pagina de João que fala da intimidade entre o discípulo e o Mestre, José Antonio Pagola escreve:  Todo ramo que está vivo deve produzir  fruto. E se não produz, é porque não circula por Ele a seiva da vida da videira. Assim também é nossa fé. Vive, cresce e dá frutos quando vivemos abertos à comunicação  com Cristo. Se esta relação vital se interrompe, cortamos a fonte de nossa fé.  Então a fé seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura do que os primeiros crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade evangélica para descobria as novas exigências  do Espírito, não estão delatando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?  Por paradoxal que possa parecer, o vazio interior pode apoderar-se de mais de um cristão. Preso a uma rede de relações, atividades, ocupações e problemas, o cristão pode sentir-se mais só do que nunca em seu interior, incapaz de comunicar-se vitalmente com esse Cristo em quem diz crer. Talvez a derrota mais grave do homem ocidental seja sua incapacidade de vida interior. Parece que as pessoas vivem sempre fugindo. Sempre de costas para si mesmas. Diríamos que a alma de muitos é um deserto. A falta de contato interior com Cristo como fonte de vida conduz pouco a pouco a um “ateísmo pratico”. Não adianta continua confessando  fórmulas, se a pessoa não conhece a comunicação calorosa, prazerosa e revitalizadora  com o Ressuscitado. Essa comunicação de quem sabe desfrutar do diálogo silencioso com Ele, alimentar-se diariamente de sua palavra, lembrar-se dele com alegria  no meio do trabalho cotidiano  ou descansar  nele nos momentos de abatimento e opressão  ( O Caminho aberto por Jesus.  João,  José  A. Pagola,  Vozes, p.  218-219).



Pedindo a graça do silêncio
Senhor,
concede-me não o silêncio que me torna  prisioneiro de mim mesmo,
mas o  que me liberta e abre  espaços novos.
Não o silêncio do corpo cansado procurado em paraísos artificiais,
mas aquele da alma que respira no limiar de teu Reino.
Não o silêncio do medo dos outros e do mundo
mas o  que me torna próximo de todo homem e da criação.
Não o silêncio do egoísmo indiferente e altaneiro,
mas aquele que enraíza e fortalece a ternura do coração.
Não o silêncio do solitário monólogo,
mas o da intimidade da tua Presença.
Não o silêncio da resignação,
mas o que nos  dispõe a combater pela verdade.
Não o silêncio do homem que foge,
mas de quem te busca.
Não o silêncio do homem que rumina seus fracassos,
mas de quem reflete  para descobrir as causas.
Não o silêncio da noite do desespero,
mas o que espera a luz da aurora.
Não o silêncio do rancor
mas o da pacificação e do perdão.
Não o silêncio do tagarela, cheio de si, mas o do coração que percebe o murmúrio de teu Espírito.
Não o silêncio devassado por incontáveis questionamentos e perguntas,
mas o do maravilhamento e da adoração.
Não o silêncio do esquecimento, do túmulo, da morte,
mas aquele em que a matéria fica prenhe das energias do Ressuscitado
na expectativa de uma vida nova em Tua luz.

Michel Hubaut
Frei Almir Ribeiro Guimarães

Reencantar a vida religiosa franciscana a exemplo de São Francisco

Frei Vitório Mazzuco Filho


Existe uma palavra que está sendo resgatada hoje: Reencantar! Ela nos remete à uma nova motivação. Ela quer dar mais dignidade e beleza ao nosso projeto de vida, ao nosso programa de vida, à nossa Forma de Vida.
Reencantar é despertar a riqueza que já está dentro de nós, que está dentro do patrimônio do nosso carisma.
Reencantar é cuidar, preservar, animar e nunca abafar. Nós temos uma obra-prima para ofertar: a nossa vocação! Ela é a nossa grande riqueza, nós valemos pelas escolhas que fizemos, e estas revelam a nobreza que habita em nossa vida.
Reencantar a Vida Franciscana é voltar a sonhar como Francisco. Sem sonhos não se traçam caminhos. Francisco sempre viveu de desejo e de sonho: “É isso mesmo que eu quero, é isso mesmo que procuro, é isso mesmo que desejo de todo coração!” Ai daquelas pessoas que não sonham o Novo e o Grande a ser realizado! Pessoas sem sonhos afundam-se no brejo da mediocridade.
Francisco foi um imenso sonhador por isso mesmo foi um imenso realizador. Todo grupo, toda sociedade produz utopias e cada pessoa encontra forças nas utopias. É preciso alimentar a paixão da vontade para se lançar para a vida.
Uma repórter perguntou a Dom Hélder Câmara por que, já octogenário, não perdia a força, a vibração, a jovialidade. Ele respondeu: “Ah! Minha filha, é porque nunca deixei de sonhar o melhor para o meu povo!”
Reencantar é sempre querer o melhor. Francisco quis o melhor para a humanidade, quis o melhor para o leproso, quis o melhor para a Igreja de sua época, quis o melhor para a sua fraternidade e é exatamente por causa disso que se tornou um fenômeno humano e cristão.
Nós não somos seu contemporâneo, mas como ele está presente! Ele não é analista, nem especialista, nem comentarista de algo, nem conferencista profissional… mas simplesmente cria, reinventa e revive cada relacionamento.
Faz um encontro com o humano na sua raiz, faz um encontro com as coisas bem lá dentro de sua verdade. Francisco é mais do que um indivíduo, ele é um momento dentro de nós, ele está onde deve passar a nossa humanidade. Ele é uma verdade que a humanidade criou de melhor nestes últimos oito séculos. Ele está onde os espíritos mais sadios hoje querem estar.
É como diz o grande franciscanólogo Agostinho Gemelli: “O fascínio que exerce a figura de Francisco ultrapassa os limites de uma Ordem e da própria Igreja. É um Santo Universal, um homem que ocupa um dos patamares mais altos na passagem espiritual da humanidade. Um simples homem amado por todos. Santo com alma de Evangelho e coração de Irmão!”. Assim deve ser a proposta de nossa vida, viver a profundidade do humano e de todos os relacionamentos.
Prestar muita atenção no potencial de todas as pessoas e de todas as coisas. Assim deve ser um jeito de Vida que une, liga e religa todos os seres, esta é nossa maneira Religiosa; e porque temos Francisco como nosso Modelo vivo, podemos dizer que esta é a nossa vertente franciscana.

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VIVER EM FRATERNIDADE


VIVER COMO FRANCISCO VIVEU

A Fraternidade é dom de Deus. Para S. Francisco de Assis um irmão é um bem imenso. A vida quotidiana coloca-nos diante de situações delicadas. Muitos de nós vivemos em fraternidades mais ou menos funcionais, onde por vezes, o entendimento entre irmãos é inexistente. São Francisco exorta-nos a que tenhamos coragem de dar a vida pelos irmãos. Apesar de algumas dificuldades temos plena consciência de que somos franciscanos. A vida em comunhão fraterna exige do outro irmão a participação em todos os actos da vida da fraternidade, sobretudo na oração comum na evangelização e nos trabalhos tanto domésticos como noutros sectores da vida profissional.
Os frades devem ser criaturas disponíveis para tudo o que for serviços Fraternos. Na vivência fraterna, os irmãos não devem escolher o seu grupinho, mas nem sempre isso a acontece. Há uma delicadeza a respeitar de uns para com os outros e para com todos. Para nós franciscanos, a fraternidade evangélica será sempre muito mais do que um fenômeno psicológico. Todos somos irmãos, e por isso nunca é demais insistir nos direitos de todos. Todos são Menores de nome e defacto, mesmo os que exercem cargos, funções e ministérios diferentes. São Francisco de Assis, não queria altaneiríssimo, dos que assumem posturas e esquecem os outros e se colocam numa posição subalterna. S. Francisco de Assis quer irmãos cheios de mútua caridade e que de boa vontade prestem serviços uns aos outros e que cada um se rejubile com o sucesso do outro. Todos devemos mostrar as nossas opiniões e fazê-lo com espírito de fé. Todos têm o dever de proteger a vida familiar da Fraternidade e dentro da Comunidade, os irmãos possam ter espaços reservados para aí viverem e fazerem o seu silêncio e vida fraterna e se apresentem a Deus com tudo o que convém a filhos de S. Francisco, para que a vida se torne fermento e comunhão com Jesus Cristo.
A vida religiosa o é verdadeiramente se for caminho para Aquele que no-la deu. Não se pode amar a Deus sem amar o próximo e o meu próximo é o irmão da fraternidade que vive a meu lado. Tudo o que se faz contra o próximo é a Deus que se faz. Para amar a Deus é preciso praticar a caridade e fora desta não há verdadeira fraternidade.
Os biógrafos de S. Francisco de Assis, são unânimes em ressaltar a relação fraterna de S. Francisco com todos os seres da criação e o respeito para com todas as criaturas. S. Francisco de Assis foi modelo de humildade entre os seus irmãos e um conciliador de unidade fraterna. Se refletirmos fraternidade e menoridade nas nossas vidas leva-nos a viver a nossa verdadeira vocação, porque esta deve estar radicada no seguimento de Cristo e dos seus apóstolos que renunciaram ao direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente o que renunciaram a qualquer direito sobre qualquer lugar para proclamar e livremente o Reino de Deus em toda a parte. Aqui está a nossa itinerância, a pobreza e Menoridade.
Fr. José Jesus Cardoso, ofm.


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