História da Fraternidade


História da Fraternidade  da  OFS Sagrado Coração de Jesus, de  Petrópolis (RJ)


INTRODUÇÃO

1. Para relatar a trajetória dessa nossa querida Fraternidade da OFS do Sagrado Coração de Jesus, de Petrópolis, há duas partes distintas.
Na primeira, de 1897 a 1942, transcreveremos, com pequenas alterações redacionais ou de apresentação, o histórico elaborado pelo irmão Dr. Ascânio Da Mesquita Pimentel (na Ordem, José Agostinho) e publicado no Eco Seráfico de 1943, nos números de fevereiro a maio.
Na segunda parte, de 1943 a 2010, escrever-se-á essa história até o presente, com base nos documentos consultados e em depoimentos obtidos.
O que se deseja é lembrar aos irmãos e irmãs de hoje que nós temos uma grande responsabilidade de dar continuidade à vivência de nossa espiritualidade franciscana secular e a não descurar das atividades, que são exigências da Igreja e da Comunidade humana, em que devemos atuar. É o que nos mostra e ensina esse passado de lutas e de glórias.

2.  Mas, dando início ao que se quer relatar e que comprova que a Ordem Terceira de Petrópolis não vivia alheia ao que ocorria em sua cidade, relata-se.
Aproximava-se o ano de 1943, centenário do decreto de 16 de Março de 1843 da Mordomia da Casa Imperial, considerado o documento histórico da fundação da cidade de Petrópolis. Por que? Neste Decreto, o Imperador D. Pedro II arrendava terras da sua Fazenda do Córrego Seco ao Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler para nelas levantar uma povoação.
Importantíssimo, pois, para a história de Petrópolis, esse Decreto nº 143 da Mordomia Imperial, preparado pelo Mordomo Paulo Barbosa da Silva.
O Prefeito Municipal de Petrópolis, em 1937, em entendimento com intelectuais e estudiosos petropolitanos, com apoio e colaboração de historiadores do Rio de Janeiro, ligados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, organizou uma grande Comissão para estudar e preparar as comemorações do primeiro centenário  da fundação de Petrópolis. Desses trabalhos foram publicados dez volumes de documentos e estudos, além de outros trabalhos publicados à parte.
Dessa Comissão, também teve origem o Instituto Histórico de Petrópolis.

3.  Mas, onde entra a Fraternidade da Ordem Terceira de Petrópolis?
Explica-se. Elemento integrante e atuante da referida Comissão do Centenário de Petrópolis era o Dr. Ascânio Dá Mesquita Pimentel, irmão da Ordem, que resolveu escrever para a dita Comissão, após pesquisa cuidadosa, a história de A ORDEM TERCEIRA FRANCISCANA EM PETROPOLIS.
Nesse estudo e em muitos outros artigos publicados pelo autor, o Dr. Mesquita Pimentel revela conhecimento aprofundado sobre a religião católica, São Francisco de Assis e a espiritualidade franciscana, além de extravasar a sincera vivência de uma fé esclarecida e um amor apaixonado pelo Poverello.
Por isso, antes do prometido histórico sobre nossa Fraternidade, quem foi e o que significou o Dr. Ascânio Dá Mesquita Pimentel para a Ordem Terceira e para o Franciscanismo em Petrópolis?
Ele era natural da cidade de Niterói, RJ, tendo nascido em 16 de novembro de 1893. Era filho de
Iniciou seus estudos no Colégio São Vicente, em Petrópolis. Formou-se em Direito na Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro. Na sua juventude, desde 1908, vivendo entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, já colaborava em jornais e revistas.
Aos 27 anos, em 1920, Mesquita Pimentel mudou-se para Barra Mansa, RJ, e foi eleito Prefeito Municipal. Voltando para o Rio de Janeiro, pouco depois do mandato, mas continuando na carreira política, foi eleito Deputado Estadual. Apresentou, então um projeto de lei pioneiro, criando o Patronato  do Trabalho, com sede em Niterói, antecipando-se ao que o SENAC e o SENAI se propõem realizar, mais tarde.
O Dr. Mesquita Pimentel foi casado com Dª Maria Teresa Magalhães Castro, colaboradora da revista VOZES DE PETRÓPOLIS e autora de livros infantis. Tiveram três filhos: Maria Lucia, Maria Gilda e Francisco José.
Na década de 30, mudou-se para Petrópolis e passou a colaborar em vários jornais e revistas da cidade. Especial foi sua colaboração para as revistas VOZES DE PETRÓPOLIS e ECO SERÁFICO, dos Franciscanos, assim como depois, para a revista AÇÃO, da Diocese.
Durante a última administração conjunta de Frei Cândido e Frei Inácio Hinte, o Dr. Mesquita Pimentel, em julho de 1937, passou a prestar serviços à Editora VOZES, preparando originais, traduzindo livros e trabalhando na redação da revista VOZES. De 1943 até 1951, foi o principal auxiliar de Frei Tomás Borgmeier. E, por ocasião do jubileu de ouro da Editora, celebrado em 5 de março de 1951, foi o principal redator do respectivo livro comemorativo.
“Homem  de profundos conhecimentos religiosos, Mesquita Pimentel era amigo íntimo de Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, bispo de Petrópolis, que visitava regularmente. Numa dessas visitas, Mesquita Pimentel sugeriu a Dom Manuel que investisse na criação de uma faculdade católica na cidade de Petrópolis, argumentando que o clima ameno da cidade era próprio para o estudo. Dom Manuel gostou da idéia e, em seguida, os dois convidaram o Dr. Nelson de Sá Earp para auxiliá-los na fundação da Faculdade de Direito de Petrópolis.” (In – “Editora VOZES – 1901 – 100 anos de história – 2001” – pág. 94)
Ele foi professor de Introdução à Ciência do Direito e o primeiro Diretor da Faculdade de Direito, núcleo das Faculdades Católicas Petropolitanas, desde 1959, reconhecidas como Universidade Católica de Petrópolis.

4. O envolvimento do Dr. Mesquita Pimentel com o movimento franciscano não esteve ligado apenas à Editora VOZES, como vimos. Era mais profundo. Participava da amizade de ilustres frades e mestres do Instituto Teológico Franciscano, atuando junto com eles.
Assim, desde 1922, funcionava no Convento dos Franciscanos um Centro de Estudos Franciscanos. Dele participavam professores, filósofos e teólogos, aos quais se foram juntando intelectuais leigos da cidade,  além de visitantes estrangeiros. Dentre os intelectuais leigos, o Dr. Ascânio Dá Mesquita Pimentel. Era um viveiro de estudos de alto nível.
No centro foram comemorados dois fatos memoráveis em 1951. O tricentenário da 1ª Província Franciscana do Sul do Brasil, a da Imaculada Conceição, e o cinqüentenário  do Decreto de restauração do Franciscanismo em nossa terra, executado em 14 de setembro de 1901.
A revista Cruzeiro do Sul, de junho de 1951, reproduz o Decreto de 1901 sobre a restauração das duas Províncias (em latim). Apresenta três trabalhos muito bons. De Frei Urbano Monteiro Carneiro: O Franciscanismo Brasileiro antes da Restauração. Frei Zacharias Machado: O Declínio Franciscano no Brasil nos séculos XVIII e XIX – Causas remotas e próximas. Frei Olímpio Muenchen oferece um estudo interessante sobre Ressurgimento e estado atual do Franciscanismo no Brasil (1901-1951) Frei Nicolau Wiggers faz um Estudo sobre a Ordem Terceira na Província da Imaculada Conceição – no qual relaciona Fraternidades criadas antes e depois da Restauração.
É interessante notar que a mesma revista Cruzeiro do Sul do ano de 1936 já havia publicado uma série de pequenos estudos, sobretudo sobre o espírito e a espiritualidade da Ordem Terceira Franciscana. Foram elaborados por estudantes de Teologia de Petrópolis, orientados pelo Dr. Ascânio Dá Mesquita Pimentel, encarregado  de dirigir o Círculo de Estudos dos Frades.
Desses trabalhos, destacam-se dois.
Frei Capistrano Binder discorre sobre A Ordem Terceira Franciscana – Sua origem – seu desenvolvimento no século XIII – Frei Fridolino Rumpenhorst escreve sobre A Formação histórica da O. T. no Brasil. 
No entanto, o trabalho mais importante é o apresentado pelo Dr. Mesquita Pimentel como introdução sob o título A essência da Ordem Terceira. São cinco páginas em que revela profundo conhecimento da Ordem Terceira e do caminho por onde os seculares podem realizar os objetivos dessa “escola de perfeição cristã”, na feliz definição de Leão XIII. Lembra com insistência que “a perfeição cristã que caracteriza o Franciscanismo foi a praticada por São Francisco, a que, por amor a Deus, se exerce pela penitência e pela caridade ao próximo.”
Ao concluir, escreve algo que, em parte, pode ser repetido. “Ela (a OT) se torna sempre o que dela fazem os frades da Primeira Ordem; decai quando eles a abandonam ou menosprezam; vive, age, trabalha, opera energicamente o bem quando eles se interessam por ela e dirigem e lhe insuflam o verdadeiro espírito franciscano. Esta é a lição da história, que a observação dos nossos tempos confirma.”
E acrescentaria, mesmo hoje quando o frade não e mais o Diretor único, mas exerce a Assistência espiritual e pastoral, sua ação também ainda exerce influência favorável ou desfavorável sobre a Fraternidade.




Sua História

De acordo com o trabalho do Dr. Ascânio Dá Mesquita Pimentel, como indicado acima, vamos, relembrar os primeiros 45 anos de nossa Fraternidade (1897- 1942) basicamente seguindo o referido e fundamentado histórico.
“Além da construção ao lado da igreja de um amplo convento para nele funcionar o curso de Teologia da Província, os Franciscanos deram imediatamente início... à Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis, fundada em 30 de maio de 1897, a qual muito auxílio tem prestado tanto aos religiosos como à pobreza local.” (Eco Seráfico, 1943, fevereiro, pág. 35).
A Fraternidade parece ser a mais modesta iniciativa, de menor alcance e puramente local. Entretanto, está intimamente ligada à Escola Gratuita São José,  à qual tem fornecido, além de auxílios materiais, os melhores e mais abnegados professores. À Editora VOZES tem proporcionado constantemente trabalhos originais ou traduzidos para suas edições e para artigos em suas revistas. Uma delas, a revista ECO SERÁFICO é inteiramente dedicada aos membros da Ordem Terceira. Além disso, por sua própria natureza, a Ordem Terceira é uma escola de perfeição cristã. É, por isso, uma sementeira de bons católicos, prontos a ampararem os empreendimentos religiosos dos Franciscanos e as boas obras da Paróquia e da Diocese. (Idem, ibidem, pág.36).

I – Período de Formação  (1897-1908)

1. Frei Ciríaco Hielscher, primeiro guardião do convento, pregou com freqüência sobre a natureza e os benefícios da Ordem Terceira Franciscana. A todas as pessoas, homens e mulheres, que manifestavam o desejo de entrar nessa Ordem, sem escolher rigorosamente os candidatos, ele as recebia sem maior formalidade. Lançava-lhes sobre os ombros o hábito e cingia-lhes a cintura com o cordão dos terciários, de acordo com o ritual. Desses razoável número de postulantes e noviços, escolheu os mais aptos para admiti-los à Profissão, dando início, verdadeiramente à Fraternidade da Ordem Terceira de Petrópolis, em 30 de maio de 1897.
Ao lado desses primeiros professos havia uns outros já pertencentes à Ordem, vindos de outros lugares, como o irmão Francisco Castilho, que recebera o hábito franciscano em 1880, em Cebolas, Estado do Rio, e a Irmã Maria Barreiro Costa, que era franciscana terciária desde 13 de junho de 1892, tendo recebido o hábito na igreja de Santo Antônio do Castelo, no Rio de Janeiro, das mãos dos Padres Capuchinhos.
A recém-fundada Fraternidade foi dividida em duas seções, de acordo com o uso, a dos irmãos e a das irmãs. Frei Ciríaco, seu fundador, designou como dirigente o irmão Pedro Delvaux, falecido algum tempo depois e substituído pelo irmão João Deister Sobrinho, e a irmã Cecília Dederich. Não havia outros cargos de direção, os irmãos não se reuniam regularmente, nem prestavam contribuição fixa em dinheiro.
Frei Ciríaco, em 1901, foi eleito Vice-Provincial e mudou-se para Curitiba, sede do Provincialado.

2. Em 1902, o novo Guardião e diretor  da Fraternidade, Frei Celso Dreiling (1902-1904) determinou organizar a Fraternidade, convocando os quase 150 irmãos e irmãs para se reunirem no dia 6 de junho de 1902 a fim de elegerem as mesas administrativas das duas seções. Compareceram 130 eleitores.
Para se ter idéia de como se organizaram, transcreve-se os eleitos em cada seção com os respectivos votos recebidos.

Na seção dos Irmãos
Presidente – Antonio Mayworm (128 votos)
Vice-Presidente – Desembargador João Pedro Sabóia Bandeira de Mello (128 votos)
Secretário e Mestre de Noviços – Artur Barrios da Cunha (129 votos)
Tesoureiro – João Deister Sobrinho (129 votos)
Enfermeiro – Francisco Castilho (130 votos)
Sacristão-mor – Francisco da Silveira Ávila Júnior (130 votos) 
Coadjutores do sacristão – José Julio Jacó (130 votos) e Vicente Fortunato Brandão (129 votos)
Conselheiros – José Henrique Delvaux (130 votos)
                         Antônio Zanei (130 votos)
                         Permínio Schmidt (128 votos)


Na seção das Irmãs
Presidente – Cecília Dederich (126 votos)
Vice-Presidente – Francisca Tapajós (129 votos)
Secretária – Júlia dos Santos Pereira (128 votos)
Mestra de Noviças – Maria Barreiro Costa (130 votos)
Conselheiras – Castorina da Luz Moreira (130 votos)
                         Alice de Faria (130 votos)
                         Amélia Leite (130 votos)
                         Catarina Nicolai (130 votos)

Empossadas as mesas assim eleitas, presente o Padre Diretor, ficou resolvido:
a) – que cada membro da Ordem  contribuísse mensalmente com, ao menos, 200 réis para prover às necessidades da caixa comum, sob a responsabilidade do tesoureiro;
b) – que toda a Fraternidade se reunisse no segundo domingo de cada mês na igreja do Sagrado Coração de Jesus;
c) – que às reuniões, atos religiosos e enterros os Irmãos e Irmãs comparecessem revestidos do hábito inteiro, marrom, tradicional da Ordem Terceira Franciscana;
d) – que, depois da reunião mensal da Fraternidade, as mesas administrativas se reunissem em conjunto na sala do consistório do Convento para deliberarem, sob a presidên-cia do Padre Diretor, sobre a gestão dos negócios e a orientação da Ordem.
Passou, então, a Fraternidade a funcionar regularmente.
Os Terceiros eram instruídos nas reuniões gerais e nas do Noviciado sobre a doutrina católica e o franciscanismo. Eram orientados para ajudar os indigentes, fossem irmãos ou pessoas estranhas, proporcionando tratamento nas doenças, promovendo o enterramento e o sufrágio das almas. Em colaboração com os frades, ensinando o catecismo a adultos e preparando crianças pobres para a primeira comunhão e fornecendo-lhes enxoval para esse ato. Os mais capazes, auxiliando a boa imprensa. Aos frades, fornecendo-lhes paramentos litúrgicos. Materialmente, assumindo o encargo de obras necessárias à igreja, como a construção da torre, o custeio do relógio nela colocado, a renovação dos bancos da nave, a ereção do altar de São Francisco.
3. A 6 de novembro de 1904, o novo Guardião do convento, Frei Ambrósio Johanning (1904-1910) assumiu a direção da Ordem Terceira. A 2 de julho de 1905, houve eleição para as duas Mesas administrativas. Foi eleito Presidente o irmão João Pedro Sabóia Bandeira de Mello, que veio a falecer em 26 de novembro de 1906, substituído em 20 de janeiro de 1907 pelo irmão João Nascimento, para completar o mandato. Os demais membros das duas Mesas apresentam pouca alteração de nomes, mas apenas troca de cargos.
Foram então tomadas algumas resoluções.
a) – Os Presidentes e os Vice-Presidentes, passavam a denominar-se Ministros e Vice-Ministros, de acordo com o uso franciscano, sendo eleitos por sufrágio direto de todos os irmãos e irmãs;
b) – a Mesa Administrativa chamou-se Discretório e os demais integrantes dos diversos ofícios passaram a ser eleitos pelos Ministros e Vice-Ministros recém eleitos e pelos membros do Discretório, cujo mandato acabava;
c) – somente seria considerado eleito o irmão que obtivesse a maioria absoluta dos votos dos eleitores presentes à reunião;
d) – foi adotado o nome oficial de “Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis.”;
e) – foi decidido promover-se a ereção canônica da Fraternidade, o que até então não    se fizera, o que ocorreu em 7 de junho de 1908, quando também foi solenemente inaugurado o altar de  S. Francisco, que a Ordem Terceira encomendara na Alemanha e que custou a soma considerável de três contos de réis (3:000$000).
A Ordem Terceira de Petrópolis estava assim definitiva e oficialmente constituída.

II – Período de consolidação
                (1908 – 1932)

Nesse período, pela importância que tiveram os Padres Diretores e os Ministros das duas seções na orientação e na condução da Fraternidade, inicialmente, são apresentadas as duas relações desses dirigentes.

Padres Diretores

Frei Ambrósio Johanning – 06.11.1904  a  25.12.1910
Frei Felipe Niggemeyer    – 05.02.1911  a  05.04.1914
Frei Domingos Schmidt   –  31.05.1914  a  04.01.1920
Frei Basílio Röwer           –  25.01.1920  a  10.04.1923
Frei Felipe Niggemeyer    – 29.04.1923  a  03.01.1926

Ministras e Ministros

Dª. Ana Saldanha Monteiro de Barros (dois mandatos)
Dª. Maria da Glória M. Chaves (um mandato)
Dª. Maria Barreiro Costa (seis mandatos)
Comendador Augusto José Ferreira ( dois mandatos)
Dr. Abelardo Bueno de Carvalho (três mandatos)
Jorge Deister (dois mandatos)
Pedro Mayworm (um mandato)


Principais atividades da Fraternidade de Petrópolis

1. Nesse período, efetivaram-se normalmente as reuniões gerais, as reuniões do Noviciado e dos seus Discretórios (Diretorias). Todos os meses e nas festas principais da Ordem foram celebradas Missas, em que os irmãos comungavam. No dia de São Francisco havia duas Missas, uma às 7 oras e outra, solene, às 9 horas, sendo fornecido um café aos irmãos que moravam longe.
Os irmãos doentes foram sempre visitados pelo Pe. Diretor, pelo irmão Ministro, pelos irmãos enfermeiros e por outros caridosos confrades. Os falecidos eram levados para a igreja do Sagrado para encomendação. Daí eram conduzidos processionalmente até o cemitério municipal pelos irmãos  e irmãs revestidos da capa marrom, rezando o terço do rosário. Em sufrágio das almas dos falecidos eram rezadas Missas de 7º ou de 30º dia, além da Missa, em dezembro, por todos os terciários falecidos.
Os irmãos mais indigentes foram socorridos freqüentes vezes pelos seus confrades e pela caixa da Ordem. Esta também contribuiu regularmente para aquisição de velas e paramentos litúrgicos.
Anualmente, foram organizados retiros para os membros da Ordem e, regularmente, eles participavam das adorações ao Santíssimo Sacramento, realizadas na igreja do Sagrado Coração de Jesus, assim como tomavam parte, incorporados, nas procissões efetuadas, inclusive, na igreja Matriz da Paróquia.
2. Alguns fatos comprovam a consolidação da Fraternidade.
Em 1909, a caixa única foi separada em duas, uma para cada seção, independentes, o que permitiu que irmãos e irmãs tivessem iniciativas e vida própria mais livre a ativa.
Em 1912, as irmãs alugaram uma casa nas proximidades da igreja, na qual instalaram a biblioteca e duas oficinas de costuras. Uma, a de Santo Antônio, para preparar roupas para os pobres da Ordem e do Hospital Santa Teresa. Outra, a de Santa Isabel, para fazer e converter paramentos para os sacerdotes franciscanos.
Em 1928, graças ao trabalho perseverante do Diretor Frei Donato Bücker, pela subscrição entre os irmãos, por diversas tômbolas, quermesses e festas organizadas pelos irmãos, além de esmolas obtidas e auxílio do Convento dos frades, a Fraternidade adquiriu a casa nº 283 da rua Nunes Machado pela quantia de Cr$ 31.000,00, incluídos os impostos e o laudêmio. Contribuíram o irmão João Werneck para a realização da transação em 31 de maio de 1928, e o tabelião Cruz Coutinho, que nada cobrou pelo serviço. Serviu de tesoureira especial para arrecadação e aplicação das quantias a isso destinadas a irmã Maria Barreto Costa, que, na reunião de 23 de outubro de 1932, prestou as últimas contas do seu encargo.
Depois de consertada e adaptada ao uso da Fraternidade e mobiliada com o estritamente indispensável, a Casa da Ordem foi solenemente benzida e inaugurada em
Em 1929, por decisão de Frei Inácio Hinte, as reuniões dos dois Discretórios, que eram feitas em conjunto, passaram a ser realizadas separadamente, em dias diferentes, o que completou a independência das duas seções, iniciada com a separação das caixas em 1909.
Em 1930, foi resolvido abandonar o uso do hábito  inteiro. Adotou-se, como distintivo externo, uma capa marrom, sem mangas, da mesma fazenda do hábito franciscano. O custo da capa era muito menor que a do hábito. As irmãs completavam uma capinha sobre os ombros com um véu preto. Tudo mais em conta e de uso mais fácil.
Em 1932, foi aprovado e publicado o Diretório da Fraternidade ou a consolidação dos seus usos e costumes, isto é, o provimento dos seus Estatutos, de acordo com o espírito da Regra da Ordem. Foi resultado do trabalho dos irmãos Jorge e Joaquim Deister, após paciente observação e consultas com Diretores e com, membros de Discretórios anteriores.
Estava, assim consolidada e firmada a Fraternidade da Ordem Terceira Franciscana em Petrópolis.

3. Além da preocupação primária com a vida espiritual e religiosa de seus irmãos e irmãs, a Ordem Terceira de Petrópolis associou-se nesse período a iniciativas de outras entidades, contribuindo com seus trabalhos e com suas espórtulas.
Concorreu para o Congresso Católico Diocesano em Niterói, em 1909; contribuiu para o estabelecimento e a difusão, da Liga da Boa Imprensa, instituída em 1910; cooperou resolutamente para a publicação de uma revista franciscana mensal, o Eco Seráfico, impresso na Editora VOZES Ltda., a partir de 1912; aderiu à Federação das Associações Católicas do Município, fundada em 1913; auxiliou a comemoração do primeiro centenário do mês mariano, realizado em 1917; tomou parte decidida nas preces e jejuns pela paz, solicitados pelo Papa Bento XV a todos os fiéis católicos, em 1915; contribuiu repetidas vezes para a manutenção do Seminário Diocesano S. José, em Niterói e para a do Colégio Seráfico de Rio Negro, PR; contribuiu várias vezes para fornecer enxovais de primeira Comunhão para crianças pobres da Paróquia de Petrópolis e da do Alto da Serra; várias vezes concorreu com seu óbulo para a Obra das Missões; contribui, desde 1926, para a manutenção do primeiro convento de Clarissas, na Gávea, Rio de Janeiro; desde 1928, para a obra diocesana das Vocações Sacerdotais; desde 1931, para a conservação das Missões Franciscanas no Brasil.
Em 1922, tomou parte no Congresso histórico do Centenário da Independência Nacional; em 1924, nos festejos do jubileu sacerdotal de S. Eminência Revma. o Sr. Cardeal D. Joaquim Arcoverde e, em 1931, nas santas missões pregadas nesta paróquia pelos Padres Redentoristas. Participou, incorporada, em 1925, da recepção na estação da Leopoldina Railway do novo vigário de Petrópolis Mons. Conrado Jacarandá, que substituía o falecido e benquisto Mons. Teodoro Rocha; em 1928, à do novo Bispo de Niterói e Petrópolis, D. José Pereira Alves, e, em 1930, para receber o mesmo Bispo em sua primeira visita pastoral.
Também, em 1925, ofereceu o anel episcopal a D. Inocêncio Engelke, eleito coadjutor do Bispo de Campanha, MG, assim como, em 1929, o enxoval litúrgico a D. Daniel Hostin, primeiro Bispo de Lajes, SC.

4. Por várias vezes, em 1909, em 1910 e sobretudo em 1912, a Ordem Terceira acudiu com seus auxílios para a construção do santuário de Santo Antonio do Alto da Serra. Também da igreja do Sagrado Coração de Jesus, por várias vezes concorreu para melhoria, ampliação e reformas. Assim, em 1909, refez a pintura da torre; em 1911, custeou o grande tapete do presbitério; em 1916, auxiliou na despesa com as obras de ampliação do templo; em 1919, tomou à sua conta a reforma do telhado; em 1920, fez proceder a pintura geral das paredes; em 1925, encarregou-se da substituição dos bancos da nave e das separações necessárias no altar de São Francisco; em 1930, contribuiu para custear as grandes obras do Convento. Além de concorrer com seus auxílios para outras obras, contribuiu, em diversas ocasiões, para a construção e a manutenção das Escolas Gratuitas de São José, em Petrópolis, e de Santo Antônio, no Alto da Serra.
5. Calamidades sociais também não foram insensíveis à Ordem Terceira de Petrópolis. Ela enviou seu óbolo aos flagelados do Ceará, em 1919, às vítimas da inundação do Rio Paraíba, em Campos, em 1923 e às vítimas da explosão ocorrida no Caju, Rio de Janeiro, em 1925. Quando grassou a epidemia da gripe espanhola nesta cidade, em outubro e novembro de 1918, com licença das autoridades, estabeleceu vários postos de socorros e visitou inúmeros doentes pobres nos bairros mais afastados, que tomou a seu encargo como Siméria, Fazenda dos Campos, Castelânea, Quissamã e Itamarati. Levou-lhes mantimentos, remédios e, quando necessário, a visita de um médico ou de um sacerdote.
A Ordem Terceira de Petrópolis, de 1908 a 1932, se organizou e cumpriu a sua missão de formar terceiros na espiritualidade de São Francisco de Assis e na vivência do fraternismo, derivado do amor e da caridade de Deus.