BOLETIM INFORMATIVO DE DEZEMBRO 2012
NATAL DE JESUS
“E o
Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória…” (Jo 1,14).
A encarnação do Verbo de Deus
assinala o início dos “últimos tempos”, isto é, a redenção da humanidade por
parte de Deus. Cega e afastada de Deus, a humanidade viu nascer a luz que mudou
o rumo da sua história. O nascimento de Jesus é um fato real que marca a
participação direta do ser humano na vida divina. Esta comemoração é a
demonstração maior do amor misericordioso de Deus sobre cada um de nós, pois
concedeu-nos a alegria de compartilhar com ele a encarnação de seu Filho Jesus,
que se tornou um entre nós. Ele veio mostrar o caminho, a verdade e a vida, e
vida eterna. A simbologia da festa do Natal é o nascimento do Menino-Deus.
No início, o nascimento de Jesus
era festejado em 6 de janeiro, especialmente no Oriente, com o nome de
Epifania, ou seja, manifestação. Os cristãos comemoravam o natalício de Jesus
junto com a chegada dos reis magos, mas sabiam que nessa data o Cristo já havia
nascido havia alguns dias. Isso porque a data exata é um dado que não existe no
Evangelho, que indica com precisão apenas o lugar do acontecimento, a cidade de
Belém, na Palestina. Assim, aquele dia da Epifania também era o mais provável em
conformidade com os acontecimentos bíblicos e por razões tradicionais do povo
cristão dos primeiros tempos.
Entretanto, antes de Cristo, em
Roma, a partir do imperador Júlio César, o 25 de dezembro era destinado aos
pagãos para as comemorações do solstício de inverno, o “dia do sol invencível”,
como atestam antigos documentos. Era uma festa tradicional para celebrar o
nascimento do Sol após a noite mais longa do ano no hemisfério Norte. Para
eles, o sol era o deus do tempo e o seu nascimento nesse dia significava ter
vencido a deusa das trevas, que era a noite.
Era, também, um dia de descanso
para os escravos, quando os senhores se sentavam às mesas com eles e lhes davam
presentes. Tudo para agradar o deus sol.
No século IV da era cristã, com a
conversão do imperador Constantino, a celebração da vitória do sol sobre as
trevas não fazia sentido. O único acontecimento importante que merecia ser
recordado como a maior festividade era o nascimento do Filho de Deus, cerne da
nossa redenção. Mas os cristãos já vinham, ao longo dos anos, aproveitando o
dia da festa do “sol invencível” para celebrar o nascimento do único e
verdadeiro sol dos cristãos: Jesus Cristo. De tal modo que, em 354, o papa
Libério decretou, por lei eclesiástica, a data de 25 de dezembro como o Natal
de Jesus Cristo.
A transferência da celebração
motivou duas festas distintas para o povo cristão, a do nascimento de Jesus e a
da Epifania. Com a mudança, veio, também, a tradição de presentear as crianças
no Natal cristão, uma alusão às oferendas dos reis magos ao Menino Jesus na
gruta de Belém. Aos poucos, o Oriente passou a comemorar o Natal também em 25
de dezembro.
Passados mais de dois milênios, a
Noite de Natal é mais que uma festa cristã, é um símbolo universal celebrado
por todas as famílias do mundo, até as não-cristãs. A humanidade fica tomada
pelo supremo sentimento de amor ao próximo e a Terra fica impregnada do
espírito sereno da paz de Cristo, que só existe entre os seres humanos de boa
vontade. Portanto, hoje é dia de alegria, nasceu o Menino-Deus, nasceu o
Salvador.
Maria Mãe de Deus
No primeiro dia do ano, a liturgia faz ressoar em
toda a Igreja espalhada pelo mundo, uma antiga bênção sacerdotal, que escutamos
na primeira leitura. “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer
para ti a sua face e te dê a graça. O Senhor volte para ti o seu rosto e te
conceda a paz” (Nm 6, 24-26). Essa bênção foi confiada por Deus através de
Moisés, a Araão e aos seus filhos, isto é, aos sacerdotes do povo de Israel. É
um tríplice desejo pleno de paz, que emana da repetição do nome de Deus, do
Senhor e da imagem do seu rosto. De fato, para sermos abençoados precisamos
estar na presença de Deus, receber sobre nós o seu Nome e permanecer no raio de
luz que parte do seu rosto, no espaço iluminado pelo seu olhar, que difunde
graça e paz.
Essa é a
experiência feita pelos pastores de Belém, que aparecem ainda no Evangelho de
hoje. Eles fizeram a experiência de estar na presença de Deus e da sua bênção,
não na sala de um majestoso palácio, na presença de um grande soberano, mas sim
em um estábulo, diante de um menino colocado em uma manjedoura. Exatamente
daquele Menino irradia uma nova luz, que resplandece no escuro da noite, como
podemos ver em tantas pinturas que reproduzem a natividade de Cristo. É d’Ele
que vem a bênção: do seu nome – Jesus, que significa ‘Deus Salva’ – e do seu
rosto humano, no qual Deus, o Onipotente Senhor do céu e da terra quis
encarnar-se, esconder a sua glória sob o véu da nossa carne, para revelar-nos
plenamente a sua bondade
A
primeira a ser preenchida por essa bênção foi Maria, a Virgem, esposa de José,
que Deus escolheu desde o primeiro instante da sua existência para ser a mãe do
seu Filho feito homem. Ela é a bendita entre as mulheres (Lc 1,42) – como a
saúda Santa isabel. Toda a sua vida está na luz do Senhor, no raio da ação do
nome e do rosto de Deus encarnado em Jesus, o fruto bendito do seu ventre.
Assim a apresenta o Evangelho de Lucas: toda disposta a guardar e meditar no
seu coração todas as coisas referentes ao seu filho Jesus (cfr Lc 2, 19.51). O
mistério da sua divina maternidade, que hoje celebramos, contém em medida
superabundante aquele dom da graça que toda maternidade humana traz em si,
tanto que a fecundidade do ventre sempre foi associada à bênção de Deus. A Mãe
de Deus é a primeira abençoada e é Ela que traz a bênção, é a mulher que
acolheu Jesus em si e o deu à luz para toda a família humana. Como reza a
Liturgia: “sempre intacta na sua glória virginal, irradiou sobre o mundo a luz
eterna, Jesus Cristo nosso Senhor” (Prefácio da Beata Virgem maria 1)
Maria é
Mãe e modelo da Igreja, que acolhe na fé a divina Palavra e se oferece a Deus
como “terra boa” na qual Ele pode continuar a cumprir o seu mistério de
salvação. Também a Igreja participa ao mistério da divina maternidade mediante
a pregação, que espalha no mundo a semente do Evangelho e mediante os
Sacramentos que comunicam aos homem a graça e a vida divina. Em particular no
sacramento do Batismo, a Igreja vive essa maternidade, quando gera os filhos de
Deus da água e do Espírito Santo, o qual em cada um exclama: “Abbá! Pai! (Gal
4,6). Como Maria, a Igreja é mediadora da bênção de Deus para o mundo: a recebe
acolhendo Jesus e a transmite levando Jesus. É Ele a misericórdia e a paz que o
mundo por si não pode dar-se e da qual tem necessidade sempre, como ou mais que
o pão.
Caros
amigos, a paz, no seu sentido pleno e mais alto é a soma e a síntese de todas
as bênçãos. Por isto, quando duas pessoas amigas se encontram, se saúdam
desejando reciprocamente a paz. Também a Igreja, no primeiro dia do ano invoca
de modo especial esse bem supremo e o faz, como a Virgem Maria, mostrando a
todos Jesus, porque como afirma o apóstolo Paulo, “Ele é a nossa paz” (Ef 2,
14) e ao mesmo tempo é a via através da qual os homens e os povos podem
alcançar essa meta, a qual todos aspiramos.
Papa
Bento XVI, homilia proclamada neste primeiro domingo de 2012
Uma
presença confortante e animadora
Por Frei Orlando Bernardi
O último
capítulo da Regra de Clara, como a de Francisco, trata de funções que,
praticamente, pouco têm a ver com o cotidiano da vida das clarissas e dos
frades, porém, são de suma importância para o bom andamento das comunidades.
Trata-se do papel do visitador, do capelão e do cardeal protetor da Ordem. A razão
ou o pano de fundo se encontra nessa afirmação: “Para que guardemos a pobreza e
a humildade de N. S. Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e o santo Evangelho
que firmemente prometemos observar. Amém!” (c. XII). Percebe-se, então, que a
razão dessas três figuras não é, em primeiro lugar, jurídica, mas sim de uma
presença que ajuda a permanecerem firmes e seguras no propósito assumido ao
abraçar essa forma de vida. Não se trata, portanto, de alguém que entra na
comunidade como guarda, estranho ou, pior ainda, como fiscalizador. Embora a
função dessas três figuras pertença mais ao extraordinário da vida monacal, a
visita, no entanto, pertence ao ordinário, quer dizer ao cotidiano. Tanto
Francisco como também Clara desejam que a presença amiga e fraterna dos
superiores continue junto aos irmãos e irmãs. Aliás, Clara escreve no c. X que
a abadessa “visite as irmãs” de sua comunidade. Veja-se que se trata da mesma
comunidade. Para Francisco, talvez, esse mesmo ofício esteja presente na figura
da “mãe” da Regra dos eremitérios.
Essas
visitas aos irmãos e irmãs das comunidades franciscanas se reportam,
inicialmente, ao costume da Igreja nascente em que o fundador da comunidade a
visitava com a finalidade de mantê-la firme e segura na fidelidade ao
compromisso da fé. A carta de Francisco a um Ministro mostra muito bem qual a
direção que se devia tomar a esse respeito. Além disso, com respeito a Clara,
Francisco assumiu um compromisso de constante presença (Test.Cl 4). Por ocasião
de sua viagem ao Oriente deixara a Frei Felipe Longo para representá-lo. Ao
voltar, notou que essa presença se transformara em cargo estável, fato que o
aborrecera sobremaneira e a Clara também, certamente. De imediato, pediu ao
Papa a revogação. Nomeou a Frei Pacífico como continuador de sua presença junto
às irmãs. Ao longo da história posterior, a figura do visitador assumiu mais um
acento jurídico que, propriamente, presencial.
Além do
visitador, Clara fala de um capelão com um companheiro clérigo. Entende-se essa
presença por causa da administração dos sacramentos. Note-se, particularmente,
a preocupação e o cuidado com que fala dessas presenças. Prudente e conhecedora
das fraquezas humanas quer, de antemão, prevenir futuros abusos ou escândalos
de que a história é testemunha!
A figura
do cardeal protetor foi introduzida por Francisco (RB 12,4) com a função de
“governar, proteger e corrigir… a fim de permanecer súditos e submissos… e
observar a pobreza, a humildade e o santo Evangelho”. Assim formulada a
exigência de Francisco tem um acento bem mais jurídico que fraterno. No
entanto, durante a vida quer de Francisco, quer de Clara, sabe-se como se
criaram laços de intimidade e de compreensão mútuas que fizeram dessa figura um
consulente e um arrimo nas oportunidades mais importantes das duas Ordens. Para
comprová-lo seja suficiente esse trecho da carta escrita pelo Cardeal Hugolino
a Clara em que a chama de “mãe de sua salvação”: “Caríssima irmã Clara, desde
que a multidão dos afazeres me obrigou a afastar-me de vosso mosteiro e me
privou das consolações que me proporcionavam vossas santas palavras e devotas
conferências, se apoderou de mim tal amargura de coração, tal abundância de
lágrimas e dor tão insuportável que, se não encontro aos pés de Jesus o consolo
da habitual piedade, temo cair para sempre naquelas angústias em que, talvez,
desfalecerá meu espírito e minha alma se dissolverá. E com razão, pois falta
aquela alegria gloriosa que senti ao falar do Corpo de Cristo convosco,
enquanto celebrava a Páscoa contigo e com as demais…” (Analecta franciscana
III, 183). Posteriormente, essa função foi assumida pela Sagrada Congregação
dos Religiosos.
REGIONAL
SUDESTE II
Rio de Janeiro e Espírito Santo
ORAÇÃO l
Pai Santo, nós vos
louvamos por nos terdes escolhidos a viver em fraternidade como irmãos e irmãs
da Ordem Franciscana Secular. Rendemos-vos graças por todos os dons e talentos
recebidos de vossa generosidade e que somos chamados a colocá-los em prática a
serviço da humanidade. Vosso Filho nos deixou o modelo de vida obediente e
servil, ensinando-os que a Boa Nova do Evangelho deve
ser vivida no nosso quotidiano, passando do Evangelho à Vida e da Vida, para
que vendo nossas boas obras os homens e mulheres do mundo
vos glorifiquem. Pedimos a força do Divino Espírito e sua iluminação. A exemplo
de São Francisco e Santa Clara sejamos homens e
mulheres autênticos no seguimento a Nosso Senhor Jesus Cristo e construtores
da Paz e do Bem. Que nossa Mãe Santíssima encaminhe nossos passos ao encontro
de seu Filho. Amém!
ORAÇÃO 2
Ó, admirável Pastor, que há cinquenta anos
reaproximastes a Igreja da vivência do seu santo Evangelho através da
inspiração de um franciscano secular, permita que
também nós, reunidos em capítulo, possamos ter o mesmo ardor do seu Santo
Espirito que aqueles homens tiveram no Santo Concílio. Incendeie nossos corações e mentes, para
que iluminados e abrasados de suas santa inspirações possamos construir um
mundo mais justo e condizente ao projeto do Reino de Deus. Que, conduzidos pela
sabedoria divina, possamos enxergar os caminhos
os quais nossa fraternidade regional deve seguir para cada vez ficar mais
semelhante aá fraternidade divina, onde os santos e anjos convivem em
felicidade eterna. Que possamos sempre, em cons onância ao exemplo que nos
deixastes como herança na noite que
antecedeu sua paixão, servirmos uns aos outros em espírito de alegria e doação
sinceros. Por fim lhe suplicamos,
Amado, que tal como Francisco e Clara, tenhamos nossos corações enamorados pela sua imagem, apaixonados pela sua doce
palavra e transfigurados de amor, que nada mais vejamos neste mundo senão as
luzes de seus olhos. E não mais viveremos, mas Vós vivereis em nós. Que assim seja. Amém!
ORAÇÃO 3
Senhor Jesus, a messe é grande, mas os operários são poucos. Rogamos-te, pois que envieis operários para a
messe. Então Senhor ao ouvir teu apelo nos colocamos ao teu
dispor e dizemos: EIS-ME AQUI SENHOR.
Queremos ser como nosso seráfico Pai São Francisco que lhe perguntou:
Senhor que queres que eu faça? E tu nos
respondes: junte-se a outros homens de boa vontade e junte-se a outros homens de boa vontade e construam um mundo mais fraterno;
junte-se a outros homens de boa vontade e pelo seu testemunho tomem iniciativas
corajosas na promoção da justiça; junte-se a
outros homens de boa vontade e comprometam-se com opções concretas e coerentes
com sua fé e assumam sua Profissão. Trabalhando,
participem na criação e na redenção da comunidade humana. Por isso Senhor, pra
responder aoteu apelo de amor. Ajude-nos a sermos portadores de paz lembrando que ela deve ser
construída incessantemente. Ajude-nos Senhor, a semos mensageiros da perfeita alegria, para
que saibamos ter a humildade de ver que pouco ou nada fizemos e que portanto é
necessario começar tudo de novo. Que Maria Santíssima, a
Medianeira de todas as Graças, estrela da evangelização nos ajude a chegar as águas mais profundas da santidade e da missão e lancemos nossas redes para melhor
servir o nosso Regional.
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O vermelho e o negro
Rio de
Janeiro - Colar o
rótulo de bom ou mau, no fundo, é o ofício humano mais freqüente, aberto diante
de cada um de nós diariamente, ou melhor, a cada minuto de nosso cotidiano. Se
usamos aquela camisa, se vamos ou não vamos a algum lugar, se falamos ou se
calamos, se comemos bife com fritas ou sem elas, nos departamentos mais nobres
e nos mais prosaicos, não fazemos outra coisa a não ser navegar entre aquilo
que nos parece o bem ou o mal, o necessário ou o supérfluo, o devo ou o não devo.
Foi o caso do cidadão que parou o carro na estrada
para tomar café e viu que, nos fundos do bar, havia uma briga de galos.
Habituado a jogar, quis fazer uma aposta, mas não tinha elementos suficientes
para julgar os contendores, um galo vermelho e outro preto. Tomou informações
com um espectador que lhe parecia entendido, perguntando qual era o galo bom.
- O preto, respondeu o sujeito, com a convicção de quem era dono da verdade.
- O preto, respondeu o sujeito, com a convicção de quem era dono da verdade.
O sujeito jogou uma grana forte no galo preto e
ficou torcendo pelo contendor que lhe garantiram ser o bom. Contendor que não
correspondeu àquilo que chamam de expectativas: foi devidamente surrado pelo
galo vermelho, e só não morreu porque o dono jogou a toalha no ringue,
tirando-o da luta.
Bem, só restava ao sujeito reclamar da informação
recebida.
- O senhor me fez perder dinheiro, dizendo que o galo preto era o bom…
- Foi o que o senhor me perguntou. Agora, o malvado era o vermelho…
Toda a disputa, seja religiosa, política, econômica, esportiva, cultural ou científica, é resumida nessa anedota, que me parece mais do que uma fábula, mas um destino, uma decorrência da condição humana.
- O senhor me fez perder dinheiro, dizendo que o galo preto era o bom…
- Foi o que o senhor me perguntou. Agora, o malvado era o vermelho…
Toda a disputa, seja religiosa, política, econômica, esportiva, cultural ou científica, é resumida nessa anedota, que me parece mais do que uma fábula, mas um destino, uma decorrência da condição humana.
Por coincidência, os galos da anedota compunham o
mesmo confronto que Stendhal colocou no seu romance mais famoso: “O Vermelho e
o Negro”. A lição é a mesma.
Extraído
da “Folha de S. Paulo”, 23 de junho de 2004
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