terça-feira, 26 de dezembro de 2017

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE DEZEMBRO DE 2017

A Verdadeira História de Papai-Noel


Pd.Paulo Ricardo de Azevedo Junior

São Nicolau, cuja memória a Igreja celebra neste dia 6 de dezembro, tornou-se conhecido por seu costume, segundo uma antiga tradição, de entregar presentes secretos aos pobres e necessitados, o que lhe valeu ser a figura hoje tão conhecida do “Papai Noel”, bastante comum nos festejos de Natal. 
Em nossos dias, porém, o mítico sobreviveu ao místico: a lenda explorada com fins comerciais acabou ofuscando a verdadeira biografia deste grande homem. Qual é, então, a sua verdadeira história?
Nicolau nasceu na antiga cidade de Pátara, território da atual Turquia, por volta do ano 270, sendo educado por uma família de pais nobres e muito virtuosos. Seu desejo de dedicar-se a Deus brotou na mais tenra idade, fazendo-o viver inteiramente devotado à Palavra de Deus, de tal maneira que, tendo herdado, com a morte dos pais, grande fortuna, fez-se apenas um administrador daqueles bens que se tornaram dos pobres.
Ao mudar-se para a cidade de Mira, onde quis viver mais secretamente, Nicolau, já muito virtuoso e de uma piedade divina, foi aclamado bispo, e logo ficou famoso tanto pelos inúmeros milagres que por ele Deus realizava quanto por sua grande caridade, da qual procediam as esmolas e os presentes “secretos” aos necessitados.
Ninguém confunda sua caridade, porém, com leniência ou complacência.
Nesse sentido, um episódio marcante de sua vida ficou registrado nas atas do Concílio de Niceia, a primeira grande reunião de bispos da Igreja Católica, ocorrida em 325. Na ocasião, os cristãos deparavam com uma grande e perigosa heresia: o arianismo, que negava a divindade de Jesus. O historiador católico Daniel-Rops relata que, quando os bispos ali reunidos ouviram “alguns fragmentos” dos escritos de Ário, “os erros mostraram-se tão patentes que uma onda de indignação sacudiu todos aqueles homens fervorosos
Um deles foi justamente o “bom velhinho”, São Nicolau: já cansado da insolência de Ário, conta-se que o corajoso bispo confrontou fisicamente o heresiarca, esbofeteando-lhe a boca.
Os prelados ao redor se assustaram e, mesmo discordando de Ário, viram-se obrigados a punir o “zelo excessivo” de Nicolau, trancafiando o bispo na prisão e confiscando o seu pálio e a cópia que ele possuía dos Evangelhos. A resposta do Céu à ira de São Nicolau, no entanto, parece ter sido bem outra. Alguns dias depois do ocorrido, os próprios Jesus e Maria visitaram o bispo em sua cela. “Por que estás aqui?”, teria perguntado Nosso Senhor a Nicolau, ao que ele respondeu: “Porque vos amo, meu Deus e Senhor”. Imediatamente, foram-lhe devolvidos os símbolos de sua dignidade episcopal.
É por isso que, em muitos ícones do santo, é possível vê-lo ladeado de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, respectivamente com um livro e um pálio nas mãos. Destituído do ofício episcopal por seus irmãos, o bispo de Mira terminou o grande Concílio de Niceia readmitido diretamente pelo próprio Deus.
Hoje, São Nicolau é muito venerado tanto no Oriente, onde nasceu e exerceu seu ministério episcopal, quanto no Ocidente. Foi da cidade italiana de Bari, afinal, onde se encontram suas relíquias, que a devoção ao “bom velhinho” se espalhou por todo o continente europeu.
Santo Tomás de Aquino, por exemplo, foi um grande devoto de São Nicolau. Foi em um 6 de dezembro, a propósito, que o Doutor Angélico, celebrando Missa numa capela dedicada a São Nicolau, recebeu de Deus uma visão que o fez dizer, poucos meses antes de entregar sua alma a Deus: “Tudo que escrevi até hoje parece-me unicamente palha, em comparação com aquilo que vi e me foi revelado”. Sem sombra de dúvida, um presente extraordinário recebido pelas mãos de São Nicolau.
Neste tempo de Advento, preparando a vinda do Senhor, peçamos a São Nicolau que obtenha também a nós este dom de Deus: o desapego deste mundo de palha e a posse inamissível do Cristo.

São Nicolau de Mira e de Bari, 
rogai por nós!
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO

É com o coração transbordante de alegria que celebramos hoje a Solenidade da Imaculada Conceição da toda santa Mãe de Deus. O mistério que constitui o objeto desta celebração litúrgica pode ser encarado de um duplo ponto de vista: anegativamente, a Imaculada Conceição designa o privilégio singularíssimo com que Deus onipotente preservou Maria SS., em atenção aos méritos futuros da morte de Cristo, de toda mancha do pecado original desde o primeiro instante de sua concepção no ventre de Sant’Ana; bpositivamente, a Imaculada Conceição refere-se às consequências desta imunidade especial: a Virgem puríssima, além de ter sido preservada de toda culpa original, foi também cumulada de uma plenitude de graça imensamente superior à de todos os anjos, santos e bem-aventurados juntos. Criada toda bela e perfeita, livre de qualquer inclinação ao pecado, Maria recebeu uma inocência e uma santidade que a tornaram capaz de amar dignamente o fruto bendito que o Espírito Santo formara em seu seio virginal.
Esse cúmulo de graça, porém, não nos deve fazer pensar que nossa Mãe SS. não cresceu espiritualmente ao longo de sua vida na terra. É por isso que os teólogos costumam distinguir três etapas sucessivas do crescimento na graça por que passou Nossa Senhora: a) em primeiro lugar, Maria recebeu no instante mesmo em que foi concebida uma graça inicial que a preparou para ser digna Mãe de Deus; b) essa mesma graça sofreu ainda um aumento extraordinário no momento em que o Verbo divino, anunciado pelo Arcanjo Gabriel, tomou em suas entranhas uma carne humana perfeitíssima; c) essa graça, por fim, chegou ao seu grau máximo quando, terminado o curso de sua vida terrestre, a Rainha dos céus foi assunta ao seu trono celeste, donde governa todo o universo e goza de uma bem-aventurança eterna proporcional ao amor insuperável e intensíssimo que tinha a Deus antes de ser elevada em corpo e alma sobre todos os coros angélicos.
Essas três etapas progressivas que Maria percorreu em seu crescimento na graça, longe de ser uma curiosidade teológica, guardam estreitas analogias com a nossa comunhão diária. Com efeito, para recebermos a Cristo sacramentado, precisamos, à semelhança de Maria, estar adornados primeiramente com uma graça inicial — a graça santificante —, que prepara a nossa alma para a vinda sacramental do Verbo encarnado. E assim como Deus dilatou o coração de Maria no momento mesmo de ela conceber o seu Filho, assim também o nosso coração, no momento de comungarmos, tem de expandir-se em atos de caridade e gratidão, para que amemos e acolhamos com ainda mais fervor o nosso divino hóspede. Se vivermos assim, dia após dia, a nossa comunhão, Deus irá fazer-nos progredir na graça e na caridade, aumentando a herança da glória eterna que nos foi prometida. — Que Maria Imaculada, sem pecado concebida, interceda a nosso favor e nos ajude a comungar sempre melhor, preparando-nos bem, fazendo-nos amar mais e conduzindo-nos pela mão às alegrias do céu.

Pd.Paulo Ricardo de Azevedo Junior
 
        É sempre tempo de Advento

Quando falamos em Advento certamente pensamos mais no período antes do Natal, pensamos mais na vinda, no Advento do Senhor. Os autores espirituais falam de três vindas:  a primeira  na pobreza de Belém, a segunda no fim dos tempos e a terceira, discreta, em nosso dia a dia. Sabemos que sempre é tempo de vigilância, de ter velas acesas nas mãos esperando a chegada do Senhor e a irrupção do cortejo do esposo que chega para a festa da intimidade.
Desnecessário ficar repetindo que vivemos na agitação, na superficialidade. Disto temos plena consciência. Isso nos incomoda. Com atividades febris, correria, tarefas urgentes ou inventadas, nossas horas parecem curtas e mal começamos a percorrer o mês de janeiro temos a impressão de que o tempo escapa de nossas mãos. Não temos tempo.  Há solicitações e urgências. Temos tanto que fazer que o tempo nos falta.


Tudo se precipita. Não temos mais tempo de visitar o coração. Nossa vida é como essa mania de comida rápida, sempre rápida (fast food). Será que esperamos? O que esperamos? Na verdade não temos tempo de ver crescer nossos amores, nossas crianças, nossas competências, simplesmente nossa vida.  Repetimos ideias.  Somos sonâmbulos no trânsito, no trabalho, no metrô, na família.  Um autor assim se exprime: “Vivemos o tempo da recusa do tempo; os mostradores de nossos relógios  não têm mais os ponteiros  que iam pulando de segundo em segundo, na direção da hora seguinte.  Acabou-se o  tempo  em que o tempo era um espaço a ser percorrido. Por medo do futuro e esquecimento do passado  fomos nos tornando  zelosos turiferários da religião do instante” (Bertrand  Révillion, Revista Panorama  (Paris),   2002, p. 3). Religião do instante… como isso é verdade.
Faz muito bem viver o tempo do Advento. Reencontrar as passagens de Isaías, ver o Batista apontando para aquele que vem, estar perto de Maria grávida de Deus. Há qualquer coisa de novo no ar. Vamos, pois, nos revestindo de esperança.
O futuro não nasce inopinadamente. Ele é resultado de fecundações lentas  que deixamos germinar no ventre da  Natal nada mais é do que um fabuloso dom feito ao homem: o tempo longe de ser uma prisão que acorrenta e  que leva ao nada, é chance de vida. Natal que dizer que Deus se fez tempo, nasceu no tempo, que a eternidade está no tempo.
Celebrar o Advento é ousar viver o tempo das lentas maturações, reaprender a caminhar lentamente, passo a passo, para nossa mais densa e profunda humanidade.  É quebrar essa cadeia frenética do tempo vazio demais  porque cheio de  coisas sem valor, é fazer em si, em seu mistério de homem, lugar para a chegada do Inesperado.
Viver o Advento é dizer a todos os desesperados que a terra tem um amanhã desde que deixemos esse futuro nascer. E o futuro é sempre esse Deus que vem. Ele, o Inesperado, vem.
… “Os satisfeitos não buscam nada realmente novo.  Não trabalham para mudar o mundo.  Não lhes interessa umfuturo melhor. Não se revoltam diante das injustiças,  dos absurdos do mundo presente. Na realidade, este mundo é para eles o céu ao qual se candidatariam para sempre. Podem permitir-se ao luxo de não esperar nada melhor.  Como é tentador adaptar-se sempre  à situação,  instalar-nos confortavelmente em nosso pequeno mundo. Mas não esqueçamos:  somente aqueles que fecham os olhos e os ouvidos, somente aqueles que se tornaram insensíveis, podem sentir-se à vontade num mundo como este( R.A.Alves)  (Pagola,  Lucas, p 337).
Até o fim da vida, o homem está sob o regime do Advento: “O ‘agora’ eterno  já está em teu interior, esse ‘agora’ que ninguém pode encurtar, nem para atrás, nem para frente e que já começou a arrumar em ti o buquê de todos os instantes terrenos. Até o dia em que ouvirás: “Entra na alegria de teu Senhor” (Mt 25,21), estarás no regime do Advento. Deus, no momento, não espera de ti uma alegria exuberante, porque são pesadas as correntes que te prendem no tempo, mesmo que elas tenham começado a cair.  A única coisa que te é pedida é de alimentar esta alegria humilde e discreta da fé  que vive na ardorosa espera do mundo que está para vir, tão firme que faz com as coisas que caem sob nossos sentidos  não constituem a totalidade da realidade; a alegria humilde do presidiário  ainda encarcerado mas que sabe que está  para ser libertado”  (Karl Rahner).
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM


Santa Maria do Ano Novo

  Estamos vivendo as primeiras horas do ano novo de 2014.  Hoje é dia Santa Maria, Mãe de Deus.  A mulher que está no presépio é a Mãe de Deus feito carne, feito homem, feito história. Uma mulher pode ser chamada de Mãe do Altíssimo. 
            Uma homilia atribuída a Santo Agostinho diz belamente: “Os profetas pregaram que o Criador do céu e da terra iria aparecer na terra entre os homens;  o Anjo anunciou que o Criador da carne e do espírito viria na carne. João saudou-o desde o seio do Salvador, e que estava também no seio; o ancião  Simeão reconheceu a Deus no menino que não falava; a viúva Ana e a Virgem Mãe”.
            Na realidade contemplamos hoje a figura de Maria, Mãe de Deus.  Aquele que o universo não podia conter, aquele que é saudado com adoração pelos espíritos mais puros, aquele que não tem limites, entra no limite do seio de Maria, é amamentado pelos seus seios e guiado por sua mão. Hoje é festa da Mãe Deus.

“O Emanuel foi rebento deste mundo que outrora ele havia criado, aparecendo como um recém-nascido, ele que era Deus antes da eternidade; recostado em uma manjedoura, excluído do habitat comum, então veio para preparar moradas eternas. Confinado a uma gruta e apontado por uma estrela, cumulado de presentes pelos magos e pagando o resgaste do pecado, carregado nos braços de Simeão e abraçando o universo pela extensão de sua potência divina, visto como um infante pelos pastores e reconhecido como  Deus  pelo exército dos anjos que cantavam sua glória no céu, a paz sobre a terra, a benevolência  de Deus para os homens” (São Basílio de Selêucia).
             Maria é a mãe do príncipe de paz.  É bom ouvir a bênção do Livro dos Números lida com primeira leitura, bênção tão próxima da bênção de São Francisco:  "O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte o seu rosto para ti e  te dê a paz”. É nossa bênção de Ano Novo.
             Maria do Ano novo, colocada diante de nós nesse primeiro de janeiro, quer nos inspirar um modus vivendi para os tempos de 2014:
  * Maria é aquela que faz a vontade de Deus, é a serva sempre aberta ao que o Senhor quer;
 * é aquela que gosta de levar as coisas que ouve ao fundo do coração;
 * é aquela que se torna morada de Deus.
              Inspirando-se em Maria, às portas do Ano Novo, os cristãos verdadeiros se comprometem:
 * a buscar a vontade de Deus em sua vida, na família e no seio da Igreja;
* a fugir de toda  superficialidade levando as coisas de Deus ao fundo do coração;
* a levar uma vida digna e nobre para serem tabernáculos do Altíssimo.

Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM

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