BOLETIM
INFORMATIVO DE SETEMBRO DE 2013
Setembro Mês da Bíblia
Discípulos missionários a partir do Evangelho de Lucas
"Alegra-vos comigo encontrei o que havia perdido"
O tema proposto para o mês da Bíblia em 2013 em que
privilegia o evangelho de Lucas, releva os cinco aspectos fundamentais do
processo do discipulado: O encontro com Jesus
Cristo; a conversão; o seguimento;
a comunhão fraterna; e a missão
propriamente dita.
O lema para este mês Bíblico que foi
indicado pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência dos Bispos do Brasil
(CNBB) é: "Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido" (Lc
15).
Desde os primeiros séculos os autores consideram que o evangelho
seja de Lucas. Muitos comentaristas atribuem ao evangelista Lucas à profissão
de médico (cf. Cl 4,14) e o identificam com o discípulo e colaborador e
secretário de Paulo (cf. Fm 23ss, 2Tm 4,11). Possivelmente tratou Paulo em suas
enfermidades.
As narrativas que encontramos no evangelho de Lucas e Atos dos
Apóstolos indicam que Lucas possui vasto conhecimento da língua e cultura grega
sendo influenciado pelo estilo dos historiadores de sua época (Lc 2,1-2) dos
poetas gregos; utilizando a tradução grega da Bíblia e conhecendo bem o Império
Romano, mas quase nada da Palestina. No seu Evangelho muitas vezes as
informações sobre a Palestina carecem de um conhecimento mais profundo, fato
este comprovado no decorrer da narrativa.
O Evangelho de Lucas deve ter sido escrito entre os anos 80 a 90 e não há uma precisão
exata sobre o lugar onde foi escrito. Se admite que estaria entre a Grécia ou
Ásia, ou mesmo a Antioquia da Síria.
Fato notório nos escritos de Lucas é a prioridade dada aos
cristãos provenientes do paganismo de cultura grega e aos judeus que moravam
fora da Palestina (na diáspora). Eram comunidades de origem Paulinas, com
imensas dificuldades de adaptação. Os escritos de Paulo confirmam este aspecto.
Diante da catástrofe que foi a guerra judaica (70 d.C.), do
cerco e destruição da cidade de Jerusalém por Tito e 4 legiões romanas,da
destruição e incêndio do Templo de Jerusalém, da conquista de Massada 73 d.C.,
dos conflitos internos e externos que transparecem no texto, o Evangelho de
Lucas passou a fortalecer a fé das comunidades e reforçar o seu papel na
história da salvação e assim, mantendo-as corajosamente no seguimento a Jesus
Cristo.
A presença do Espírito Santo como força que
acompanha, conduz e inspira a missão de Jesus e da Igreja. Ele age em Jesus,
Zacarias, Isabel, João Batista, Maria, Simeão, profetisa Ana e muitas outras
pessoas.
Prof. Odalberto Domingos
Casonatto
Cláudio Santos
Regional da OFS promove dia da Escuta aos Hansenianos
A Festa de São Luís Rei de França, padroeiro da
Ordem Franciscana Secular, foi marcada pela demonstração de solidariedade aos
hansenianos, em Itaboraí (RJ). Diversas fraternidades franciscanas seculares do
Regional Sudeste II da OFS participaram do V Dia da Escuta na colônia localizada
no entorno do Hospital Estadual Tavares de Macedo, cuja especialidade é o
tratamento de pacientes hansenianos.
Frei Tony ressaltou a importância da atividade
promovida pela OFS e que a vivência fraterna se dá com pequenos gestos de
escuta, partilha e de presença solidária entre os mais pobres tão amados por
Cristo e caros a Francisco e Clara de Assis. Pediu ainda a colaboração de
todos para tornar a hanseníase mais conhecida e, assim, precocemente
diagnosticada e combatida. Em sua fala, frei Tony destacou o projeto
‘Franciscanos pela Eliminação da Hanseníase’, que há mais de vinte anos é
realizado pela Província da Imaculada Conceição do Brasil.
Durante a manhã, os
irmãos dividiram-se em grupos guiados por membros da fraternidade
local para a realização das visitas às enfermarias e casas das famílias da
colônia. Esse momento enriquecedor foi marcado pela escuta e também pela troca
de vivências e tocou fundo na alma de cada irmão em cada gesto de acolhida e de
solidariedade, que permitiram enxergar no rosto do irmão sofredor a face de
Cristo, de Francisco e de Clara.
A presença solidária entre os pobres e leprosos
está na essência do carisma franciscano. Francisco e Clara de Assis tinham uma predileção pelos leprosos e
deles cuidava com inefável amor. O próprio Pai Seráfico superou o preconceito
que tinha dos leprosos e assumiu a condição vivida por eles em sua época,
sentindo o abandono, exclusão e sofrimento em que viviam e vendo no rosto
daqueles enfermos e marginalizados a presença do Senhor.
O Regional Sudeste II da OFS agradece
ao frei Tony e aos frades capuchinhos e conventuais, além dos seminaristas da
Arquidiocese de Niterói e à comunidade local pela fraterna acolhida oferecida a
todos neste dia em que o Senhor operou maravilhas!
“Foi assim que o Senhor me concedeu a
mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como estivesse em pecado,
parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos. E o Senhor mesmo me
conduziu entre eles e eu tive misericórdia com eles. E enquanto me retirava
deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da
alma e do corpo. E depois disto demorei só bem pouco e abandonei o mundo”.
São Francisco de Assis
A ESPIRITUALIDADE PRESENTE NO CUIDADO DA SAÚDE
Esta reflexão só tem uma finalidade: revelar o
caminho da Inteireza. Quando a pessoa não é inteira não é feliz!
A alegoria da Carruagem de Fogo com os seus
Seis Cavalos de Força é para firmar em nós, num Movimento necessário, os dons,
frutos, códigos, empenhos, buscas e projetos que levamos conosco. Uma reflexão
pode ser um chicote cutucando a mente, a alma, o corpo... para acordar em nós
um pensamento forte com atividades fortes. É assim que conquistaremos uma saúde
física, mental e espiritual.
Hoje, estas forças estão transmitindo para nós
um ensinamento especial. Despertar a alma é equilibrar e controlar instinto e
moral. Todas estas nossas forças lembram que temos uma Espiritualidade que nos
move a fazer tudo o que temos que fazer com intuição, imaginação, raciocínio,
emoção, sensação e unção.
A Carruagem de Fogo é uma oposição à Carruagem
do Drácula com as suas forças do mal, porque o monstro também é forte. Usemos
estas forças como uma missão no mundo. Educar a qualidade pessoal é ética.
Educar para uma transformação é ser um ser evoluído. Educar para a
Espiritualidade é Força Divina!
PAZ E BEM!
Frei Vitório
Mazzuco OFM
O Silêncio na Espiritualidade Franciscana
‘Neste tema tão importante na espiritualidade
franciscana, iremos dedicar, neste e nos próximos boletins ao pensamento de
frei Urbano Plentz, ofm.
Bem oportuno darmos inicio as leituras das
reflexões deste frade falecido em 2001 e que tanto se dedicou à OFS como
assistente neste mês que se comemora o dia do Assistente. Assim, quem guardar
os próximos boletins, terá em mãos a seqüência do tema abordado.’
A
novidade da “forma de vida” criada por Francisco está na sua
“secularidade”, ou seja, na sua presença no mundo. Conscientemente recusou a
forma de vida monacal-conventual.
Não querendo ser “monge”, é evidente que não
impôs aos irmãos o regime de vida monacal. Este regime, entre outras
características, acentuava o jejum e abstinência muito rigorosos, a clausura e
o silêncio.
Francisco quis um regime de vida muito
simples, espontâneo, mas cavalheiresco. Principalmente no trato mutuo entre os
irmãos. Não lhes impôs o silêncio monacal, mas de outro lado, soube levá-los à
descoberta de um silêncio interior profundo e bem especial. Ele não ensina
apenas o silêncio negativo, de não falar. Este, no máximo, é um meio para se
chegar ao verdadeiro silêncio interior.
O verdadeiro silêncio interior é
“reverencial”, cortês e respeitoso. É a atitude fundamental da criatura perante
o Criador. É também a atitude característica do verdadeiro “menor” perante os
seus irmãos.
Vamos analisar as dimensões do silêncio que
Francisco ensina.
O
SILÊNCIO É GRAÇA DE DEUS.
Em certo sentido, a espiritualidade de São
Francisco tem bastante semelhança com o pensamento de Santo Agostinho.
Principalmente no tocante ao papel da graça. Para São Francisco a oração, o
trabalho e o silêncio são frutos da graça de Deus. Vejamos um texto bem claro
sobre o silêncio.
·
“E
todos os irmãos se guardem de caluniar a alguém ou de ocupar-se em discussões
vãs, mas antes tratem de guardar silêncio, tanto quanto lhes conceder a graça
de Deus” (I Regra, 11).
Francisco insistia no valor do silêncio. Mas
não no silêncio jurídico, monacal, prescrito numa regra ou texto legislativo.
Ele queria o silêncio “prescrito no Evangelho”. É São Boaventura que nos conta
isso em sua Legenda
Maior :
“Desejava intensamente que seus religiosos
guardassem o silêncio prescrito no Evangelho. Que sempre se abstivessem, solicitamente, de toda palavra ociosa, porque
se deve prestar contas sobre ela no dia do juízo. Impulsionado por este sentimento,
de cada vez que encontrava algum religioso viciado pelo apetite desenfreado de
falar, o repreendia com severidade; e, ao mesmo tempo, ensinava que o silêncio
modesto e prudente não só contribui para conservar a pureza do coração, mas que
de resto é também uma grande virtude, pois, ·
não
é em vão que se diz na Escritura divina que “a vida e a morte estão em poder da
língua”, não tanto por razão do gosto, quanto pela excessiva loquacidade”
(L.M.6).
Os estigmas de Francisco de Assis e o segredo da suprema felicidade
Dom Laurence Freeman, OSB (*)
Na noite de 14 de setembro, Festa da Santa
Cruz, seu fiel amigo e companheiro, Frei Leão, desobedeceu às instruções de
Francisco e penetrou na solidão de sua reclusão para ver como ele estava. À luz
do luar, Frei Leão viu Francisco de joelhos em oração, repetindo com todo o fervor
as perguntas que se encontram no centro de toda oração cristã: “Quem és tu, meu
doce Deus… Quem sou eu, teu servo inútil?”“E somente estas palavras repetiu e
nada mais disse” – conta-nos São Boaventura, seu biógrafo. Frei Leão viu o fogo
que descia sobre a cabeça de Francisco, envolvendo-o por muito tempo.
Quando Francisco afinal o notou, Frei
Leão perguntou o que significava tudo aquilo. Francisco respondeu que ele tinha
recebido duas luzes para a sua alma; o conhecimento e a compreensão de si mesmo,
e o conhecimento e a compreensão de Deus. Nesta oração no fogo, Deus lhe pediu
três dádivas e ele buscou em sua pobreza até encontrar uma bola de ouro que
ofereceu três vezes: a doação dos seus votos.
Após dizer a Frei Leão que
não o espionasse mais, Francisco dirigiu-se à Bíblia para saber a que estaria
sendo preparado – e em cada consulta ele foi encaminhado para a Paixão de Jesus Cristo. Retornou então à
oração solitária, “tendo muita consolação na contemplação”. Sentiu-se depois impelido a pedir
não somente a graça de sentir a dor de Cristo, mas também o amor que
possibilitou a Cristo suportá-la por nós. Começou a contemplar a Paixão com
profunda devoção até que “se transformou completamente em Jesus por meio do
amor e da compaixão”.
Na manhã seguinte, ele viu um serafim
aproximar-se na forma de Jesus Crucificado. Ele se sentiu repleto,
simultaneamente, de medo e alegria, deslumbramento e tristeza. E foi-lhe dada a
percepção de que sua transformação em Cristo não aconteceria por sofrimento
físico, mas “por uma elevação da mente” – a transformação da consciência em amor. Entretanto ,
o sinal desta transformação seria a marca permanente das cinco chagas divinas
de Cristo no corpo de Francisco. Pouco depois, Francisco deixou o Monte Alverne
e retornou à cidade de Assis, para morrer “com a chama do amor divino em seu
coração e as marcas da Paixão em sua carne”. Com humildade, perguntou a seus
irmãos se deveria tornar pública a informação sobre seus estigmas, e
convenceu-se de que deveria quando lhe disseram que a experiência deveria ter
um significado não somente para ele, mas também para os outros.
MISTÉRIO E
SIGNIFICADO
Não dar o
tempo ou a quietude de atenção necessários, para tornar plenamente consciente o
que nos acontece, é uma característica de nossa época, veloz e impaciente.
Tempo e atenção são necessários se não quisermos tratar a vida
superficialmente.
A superficialidade
desperdiça o precioso sentido do sagrado que dá profundidade e propósito a
nossos encontros com a alegria e o sofrimento intensos, freqüentemente cheios
de perplexidade. Mistérios como esses são dons valiosos, realidades que exigem tempo.
Quanto à experiência de Francisco,
precisávamos, em primeiro lugar, perguntar: o que significava e para quem? Para
o próprio Francisco, para a Igreja, para nós, hoje? Talvez o significado para
Francisco fosse de foro íntimo e inacessível, só dele mesmo – este é o
significado solitário e único de toda experiência única. Podemos supor, pelo
que sabemos de Francisco, que os seus estigmas simbolizam um alto grau de
realização da sua união com a pessoa do Cristo Crucificado e Ressuscitado, a
quem amou com tanta persistência e paixão.
O desejo que consome os místicos – e
amantes – é sempre o de despojar-se de sua identidade egocêntrica e unir-se de
forma permanente com o Bem- Amado, em uma maneira de ser em que o “eu” e o
‘tu”, apesar de não obliterados, deixam de ser entidades fixas. “Não sou mais
eu quem vive; mas é o Cristo quem vive em mim”. O abismo da separação (das
individualidades) se fecha quando transcendemos o ego. “Uma consumação a ser
desejada devotamente”, mas algo que, ao mesmo tempo, causa horror ao ego e
doloroso pressentimento. À diferença de Francisco, a maioria de nós recua,
sistematicamente, no exato momento em que a satisfação do nosso desejo de plena
união nos é oferecido.
Quando
lemos que Francisco, ao deixar o Monte Alverne montado em uma mula, por causa
da dor que sentia em seus ferimentos, começou – na última fase de sua vida – a
curar os sofrimentos dos outros, compreendemos que nenhuma experiência
identificável como tal pode ser considerada definitiva. Estamos sempre seguindo
adiante. “Os anjos ficam parados – diz um ditado judeu – o Santo está sempre em
movimento”.
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