BOLETIM
INFORMATIVO DE JANEIRO DE 2014
Fraternidades: Nossa Riqueza
1. O Documento final do Capítulo da OFS
de Manaus pediu que fosse feito um esforço de revigoramento das reuniões
mensais e da vida fraterna. O tema da fraternidade é vasto e
complexo. Não é finalidade deste texto refletir sobre todos os seus aspectos e
implicações. Desnecessário lembrar e frisar que a dimensão da fraternidade
perpassa toda a Regra e colore o projeto de vida dos seculares. Constituímo-nos
em
Fraternidades. Somos Fraternidades da Ordem Franciscana
Secular.
2. Ser irmão significa não querer
dominar, mas servir.
Uma das palavras-chaves da espiritualidade franciscana é servir.
Nos escritos de Francisco encontramos mais de cinqüenta vezes o verbo servir e perto de vinte vezes o substantivo servo. Belo e sugestivo o que Francisco
escreve: “Neste gênero de vida, nenhum
irmão tenha poder ou dominação, principalmente entre si. Pois, como diz o
Senhor no Evangelho: Os príncipes dos povos os dominam e os que são maiores exercem poder
sobre eles, assim não será entre os irmãos. Mas todo aquele que quiser tornar-se maior entre eles,
seja ministro e servo deles. E quem entre eles é o maior, faça-se como menor”
(…) “E nenhum irmão faça ou fale mal
do outro. Antes, pelo contrário, sirvam e obedeçam de boa vontade uns aos
outros na caridade do espírito” (Regra não Bulada 5,12-17).
“E ninguém se chame prior mas, neste
gênero de vida, todos se chamem irmãos menores. E um lave os pés dos
outros”(Regra não Bulada 6,3).
3. Os relacionamentos fraternos entre os discípulos
de Francisco situa-se na linha dos servidores. Na experiência do Poverello, em
sua juventude, ele compreendeu que os relacionamentos humanos eram marcados
pela dialética do patrão e do empregado, do forte e do fraco, do superior e do
inferior. Sabemos que o mesmo impulso nos ronda: a grande tentação do poder,
ser o maior, o mais inteligente, o mais brilhante, o mais forte, em resumo, o
primeiro. Normal que as pessoas queiram avançar e progredir. Francisco
compreendeu claramente que
esse desejo fundamental de afirmar-se tem como perversão o desejo do domínio e
da apropriação. Somos todos capazes de fazer uma lista de exemplos concretos
disso no campo profissional, nos relacionamentos nacionais e internacionais e
mesmo nos ambientes eclesiais. Nossa sociedade, baseada na competição e
competitividade, é feita para os lobos e não para os fracos e débeis. No
Evangelho, notamos a vontade de brilhar dos filhos de Zebedeu. Francisco quer
construir sua nova fraternidade baseada na idéia do serviço. Para ele,
converter-se à fraternidade significa passar gradualmente do dominador que
dorme em cada um de nós ao servo dos irmãos.
4. Francisco fará
do mútuo serviço, vivido em minoridade, na igualdade, na simplicidade, na
humildade um dos fundamentos da fraterni-dade. Ele sabe que cada grupo humano
preci-sa de pessoas responsáveis pelo seu anda-mento. Mas sua autoridade não
pode ser um poder de domínio, mas um serviço. “Os ministros acolham os irmãos
com caridade e benevolência. Tenham-lhes tanta familiaridade que os irmãos
possam lhes falar e proceder como senhores para seus servos. Pois assim deve
ser que os ministros sejam servos de todos os irmãos” (Regra Bulada 10,5-6).
5. Servir significa partilhar com confiança. Para Francisco ser irmão significa querer servir
os outros. Isso pressupõe que conheçamos suas necessidades. Fraternidade é um
lugar onde cada pessoa pode dar, pedir e receber. “Onde quer que estejam os
irmãos, mostrem-se famí-liares uns com os outros. E cada um manifeste ao outro
com confiança suas necessidades, porque como uma mãe nutre e ama seu filho
carnal com mais cuidado não deve um amar e nutrir seu irmão espiritual? E se
algum cair doente que os irmãos o sirvam como gostariam de ser eles mesmos
servidos” (Regra Bulada 6,79). Francisco fala da pobreza e da fraternidade no
mesmo texto. Não se pode dissociar fraternidade e pobreza. O pobre é alguém que
se encontra na necessidade.
Todos somos pobres de alguma coisa. Para cobrir esta pobreza, o Senhor nos dá
irmãos e irmãos que nos complementam. Tornamo-nos como transmissores das
atenções de Deus para com nossos irmãos e irmãs. O homem satisfeito consigo
mesmo nunca será irmão. A fraternidade supõe pessoas que, ao mesmo tempo, dão e
recebem. Se no casal, na sociedade e em nossos grupos apenas recebemos não
existe fraternidade. O paternalismo gera seres infantis e assistidos e não
irmãos e irmãs.
6.Francisco privilegia a imagem
da mãe.
Características do amor maternal: ternura vigilante, intuição, devotamento.
Francisco fala do amor espiritual para significar que não estamos num
ajuntamento qualquer, mas na força do Espírito que une e cimenta os
relacionamentos.
8. Os irmãos que o Senhor nos dá
constituem um convite à conversão. Eles nos instigam a que nos superemos. Sua
maneira de ser e a convivência com eles nos revelam quem somos nós. Os
relacionamentos entre as pessoas são um lugar de prova, de verificação onde
cada um faz a verdade. Não se pode trapacear com aqueles que vivem todo o tempo
conosco. Os irmãos me fazem descobrir meu pecado: inveja, bloqueios, trevas,
pobreza, incapacidade de amar de verdade sem dobrar-me sobre mim mesmo. Somente
a pessoa que faz a verdade de si pode ser irmão.
9. Os que buscam uma fraternidade ideal (ou um
casal ideal) é quem vive na ilusão e não na verdade. Sonha com uma fraternidade
ideal e não a constrói cada dia. Um dos fundamentos da fraternidade é assumir
as grandezas e as misérias
dos outros. O mistério da cruz está plantado no seio das fraternidades e do
casal. A vida fraterna será um sucesso se for uma vitória cotidiana, vitória do
Espírito, sobre o caos do pecado.
11. Não se vive a fraternidade como espaço
idealizado. Francisco viveu a fraternidade como um lugar pascal. Nela encontrou
suas maiores alegrias, mas também grandes sofrimentos. Ali, desta maneira, ele
entrou na verdadeira pobreza evangélica.
Papa:
Batismo é a primeira catequese da série de sacramentos
Queridos irmãos e irmãs,
bom dia!
Hoje iniciamos uma série
de catequeses sobre Sacramentos, e a primeira diz respeito ao Batismo. Por uma
feliz coincidência, domingo próximo é justamente a festa do Batismo do Senhor.
1. O Batismo é o
sacramento sobre o qual se funda a nossa própria fé e que nos une como membros
vivos em Cristo e na sua Igreja. Junto à Eucaristia e à Confirmação forma a
chamada “iniciação cristã”, a qual constitui como um único, grande evento
sacramental que nos configura ao Senhor e faz de nós um sinal vivo da sua
presença e do seu amor.
Pode nascer em nós
uma pergunta: mas é realmente necessário o Batismo para viver como cristãos e
seguir Jesus? Não é no fundo um simples rito, um ato formal da Igreja para dar
nome ao menino e à menina? É uma pergunta que pode surgir. E a tal propósito, é
esclarecedor o que escreve o apóstolo Paulo: “Ou ignorais que todos os que
fomos batizados 2. Muitos de nós não temos a mínima recordação da celebração deste Sacramento, e é óbvio, se fomos batizados pouco depois do nascimento. Fiz esta pergunta duas ou três vezes, aqui na Praça: quem de vocês sabe a data do próprio Batismo, levante a mão. É importante conhecer o dia no qual eu fui imerso propriamente naquela corrente de salvação de Jesus. E me permito dar-lhes um conselho. Mas, mais que um conselho, uma tarefa para hoje. Hoje, em casa, perguntem a data do Batismo e assim saibam bem o dia tão belo do Batismo. Conhecer a data do nosso Batismo é conhecer uma data feliz. O risco de não sabê-lo é de perder a memória daquilo que o Senhor fez em nós, a memória do dom que recebemos. Então acabamos por considerá-lo somente como um evento que aconteceu no passado – e nem por vontade nossa, mas dos nossos pais – que já não tem mais nenhuma incidência no presente. Devemos despertar a memória do nosso Batismo. Somos chamados a viver o nosso Batismo a cada dia, como realidade atual da nossa existência. Se conseguimos seguir Jesus e permanecer na Igreja, mesmo com os nossos limites, com as nossas fragilidades e os nossos pecados, é propriamente pelo Sacramento no qual nos tornamos novas criaturas e fomos revestidos de Cristo. É por força do Batismo, de fato, que, livres do pecado original, somos unidos à relação de Jesus com Deus Pai; que somos portadores de uma esperança nova, porque o Batismo nos dá esta esperança nova: a esperança de seguir pelo caminho da salvação, toda a vida. E esta esperança nada e ninguém pode extinguir, porque a esperança não desilude. Lembrem-se: a esperança no Senhor não desilude nunca. Graças ao Batismo, somos capazes de perdoar e de amar também quem nos ofende e nos faz mal; que conseguimos reconhecer nos últimos e nos pobres a face do Senhor que nos visita e se faz próximo. O Batismo nos ajuda a reconhecer na face das pessoas necessitadas, nos sofredores, também no nosso próximo, a face de Jesus. Tudo isso é possível graças à força do Batismo!
3. Um último
elemento, que é importante. E faço a pergunta; uma pessoa pode batizar a si
mesma? Ninguém pode batizar a si mesmo! Ninguém. Podemos pedi-lo, desejá-lo,
mas sempre precisamos de alguém que nos administre este Sacramento em nome do
Senhor. Porque o Batismo é um dom que vem concedido em um contexto de
solicitude e de partilha fraterna. Sempre na história, um batiza o outro, o
outro, o outro… é uma sequência. Uma sequência de Graça. Mas, eu não posso me
batizar sozinho: devo pedir a um outro o Batismo. É um ato de fraternidade, um
ato de filiação à Igreja. Na celebração do Batismo podemos reconhecer as
feições mais genuínas da Igreja, a qual como uma mãe continua a gerar novos
filhos em Cristo, na fecundidade do Espírito Santo.
Peçamos
então de coração ao Senhor poder experimentar sempre mais, na vida de cada dia,
esta graça que recebemos com o Batismo. Encontrando-nos, os nossos irmãos
possam encontrar os verdadeiros filhos de Deus, verdadeiros irmãos e irmãs de
Jesus Cristo, verdadeiros membros da Igreja. E não esqueçam a tarefa de hoje:
procurar, perguntar a data do próprio Batismo. Como eu conheço a data do meu
nascimento, devo conhecer também a data do meu Batismo, porque é um dia de
festa.
http://www.franciscanos.org.br
"Fraternidade, Fundamento e caminho para a Paz"
Na realidade, a
fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A
consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa
como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se
impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E
convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente
no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares
de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda
a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário
para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.
O número sempre crescente
de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a
consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra.
Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das
etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma
comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros.
Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos
factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que
lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.
Em muitas partes do mundo,
parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais,
sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante
disso mesmo é o dramático fenômeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida
e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos
armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem
nos campos econômico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de
famílias, de empresas.
A globalização, como afirmou Bento XVI,
torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de
desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma
profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de
solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado
individualismo, ego-centrismo e consumismo materialista, debilitam os laços
sociais, alimentando aquela mentalidade do
«descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que
são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre
mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.
Ao mesmo tempo, resulta
claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir
autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da
referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma
verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade
transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a
fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do
outro.
«Onde
está o teu irmão?» (Gn 4, 9)
2. Para compreender melhor
esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada
os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a
superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do
desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.
Segundo a narração das
origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado
por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual
nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da
sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.
Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade
profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na
diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com
Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente,
a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn4,
1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de
viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predilecção de
Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com
agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem
para a sua oferta» (Gn4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma,
recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante
de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À
pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe
contas da sua acção, responde «Não sei dele. Sou,
porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o
livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).
É preciso interrogar-se
sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de
fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o
ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua
contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4,
7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o
irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo,
frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.
A narração de Caim e Abel
ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade,
mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho
o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na
realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não
sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade,
a comunhão e a doação.
«E vós
sois todos irmãos» (Mt 23, 8)
3. Surge espontaneamente a pergunta: poderão um
dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de
fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas
forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas
diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?
Parafraseando as palavras
do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que
há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23,
8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata
de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor
pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens
(cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma
paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando
é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das
relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha
ativa.
Em particular, a fraternidade humana foi
regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A
cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os
homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a
natureza humana para a redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz
(cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos
como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com
o seu projecto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.
Jesus retoma o projecto
inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo,
com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de
todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do
mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem
com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada
também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o
povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos
pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que
reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos
dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja,
a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade
nova (cf. 2,14-16).
Quem aceita a vida de
Cristo e vive n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente,
amando-O acima de todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de
todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a
todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como
irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até
um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque
enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis».
Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos
foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por
cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte
dos irmãos.
Papa Francisco.
Vaticano, 8 de
Dezembro de 2013
Continua no próximo boletim
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