BOLETIM
INFORMATIVO DE ABRIL DE 2014
JUBILEU DO NASCIMENTO DE SÃO LUIZ REI DE FRANÇA
Nossa Ministra Geral, Encarnación Del
Pozo, em agosto de 2013,
nos
escreveu sobre o Jubileu de nascimento de São Luís.
Em 25 de agosto, celebramos a festa de São
Luís
IX, rei de França,
que a Igreja deu como Patrono, ao lado de Santa Isabel de Hungria, à
Ordem Franciscana Secular e à Terceira Ordem
Regular. É,
portanto, um momento de celebração e alegria para
todos e cada um de nós. Também
é
momento de nos aprofundarmos na sua vida e em suas atitudes de governante,
empenhado sem limites, com a sociedade de seu tempo, assim como na difusão
da sua fé
e de seu amor a Jesus, pobre e ao crucificado.
Parafraseando algumas passagens do Testamento de São
Luís
a seu filho, desejo recordar, para benefício
de todos nós,
alguns princípios
de essencial importância nos quais
fundamentou a sua vida:
"É necessário
evitar sempre todo pecado grave, e estar disposto a sofrer qualquer outro mal,
antes de cometer um pecado mortal. O mais importante da vida é
amar a Deus com todo o coração. Quando chegam
as dores e os sofrimentos é necessário
oferecer tudo por amor a Deus e pela reparação
de nossos pecados. E nas horas de sucesso e prosperidade dar graças
ao Senhor e não
se dedicar às
glórias
do desperdício.
No templo é
necessário
comportar--se com supremo respeito. Com os pobres e aflitos é
necessário
extrema generosidade. Devemos dar graças
a Deus por seus benefícios, e Ele nos
concederá
muitos favores. Com a Santa Igreja Católica
nós
sejamos sempre filhos fiéis e
respeitosos".
Estes conselhos, ditos por um rei, são
dignos de admiração
e reflexão.
São
um programa de vida cristã e franciscana, que
deveríamos
meditar frequentemente.
No dia 24 de agosto do ano 1270 sentiu que ia
morrer e pediu os santos sacramentos. De vez em quando repetia: "Senhor,
eu estou contente porque irei à sua casa no céu
para adorar-te e amar-te para sempre". A 25 de agosto às
três
da tarde, exclamou: "Pai, em suas mãos
encomendo o meu espírito", e
morreu santamente.
Ao felicitar a todos meus irmãos
e irmãs,
em nome da Presidência do Conselho
Internacional da Ordem Franciscana Secular, desejo anunciar-lhes o seguinte:
No
dia 25 de abril de 2014, se completam 800 anos do nascimento de São
Luís.
Por isso, estou feliz ao anunciar-lhes que a Presidência
do CIOFS, decidiu abrir um ano de comemorações,
para nos aprofundarmos na vida do nosso Santo Patrono e para nos enriquecermos
com o testemunho e a coerência
de sua vida. O centenário
será
encerrado em 2015.
Este Ano Jubilar será
celebrado junto com os nossos irmãos e irmãs
da Terceira Ordem Regular de São Francisco e a
Conferência
Internacional da TOR (CFI-TOR).
Mais adiante os informaremos as propostas e
iniciativas para comemorar, com simplicidade, clemência,
misericórdia
e humildade -virtudes que eram norma e forma de vida para São
Luís
o 8° Centenário
de seu nascimento. Esperamos que desde já
vocês
se empenhem em aquecer motores para estarem preparados
e bem animados para que o centenário não
seja apenas centrado nas celebrações, mas se converta
em um tempo significativamente formativo e de interiorização
pessoal e fraterna, sobre os aspectos fundamentais da nossa vida cristã,
para que nossa vocação seja enriquecida
e nossa missão
seja fortemente impulsionada neste momento concreto da história
do mundo e da Igreja, que, com o Papa Francisco, nos chama a manifestar e
iluminar com nossa fé, os que estão
ao nosso redor.
Com todo meu amor, felicito calorosa e
fraternalmente a todos. Vossa irmã e Ministra Geral.
A PAZ E O PERDÃO
Pequena
meditação sobre a paz e o perdão nos escritos de Francisco de Assis.
Os
irmãos não ostentarão um rosto triste. Mostrando semblante fechado darão
demonstração de hipocrisia. "E guardem-se os irmãos de se mostrarem em
seu exterior como tristes e sombrios hipócritas. Mas antes se comportem como
gente que se alegra no Senhor, satisfeitos e amáveis, como convém"
(Regra
não Bulada, 7,15).
Uma
Fraternidade com esta característica, do "rosto alegre", irradia a
paz. Os irmãos busquem especialmente nutrir o espírito do perdão: amar os que
nos perseguem, o acusam, censuram e atacam ( cf. Regra Bulada 10).
Francisco
rezava, dizendo: "aquilo que nós não conseguimos perdoar completamente,
fazei com que o consigamos para que possamos efetivamente amar nossos
inimigos" (Laudes). "Pois nosso Senhor Jesus Cristo cujas pegadas
devemos seguir, chamou de amigo seu traidor e se entregou de livre vontade aos
que o crucificavam" (Regra não Bulada 22). E ainda: "Ama verdadeiramente
seu inimigo aquele que não se contristar pela injúria recebida, mas por amor de
Deus se afligir com o pecado que está na alma dele e por meio de obras lhe
manifesta sua caridade" (Admoestação 9).
Uma
vez que os irmãos devem amar seus inimigos, não haverão de se escandalizar com
o pecado do outro. Francisco insistiu bastante nesta necessidade da
paz. Nada pode perturbar o servo de Deus a não ser o pecado. "Ao servo
de Deus nada deve desagradar senão o pecado. Mas se uma pessoa pecasse de qualquer forma que seja, e o
servo de Deus ficasse por isso perturbado e enraivecido - a não ser por caridade -
entesouraria riquezas de culpa para si" (Admoestação 11). Assim, os
irmãos não têm que se enraivecerem nem se
perturbarem devido ao pecado de quem quer que seja. "E tomem cuidado de não se encolerizar ou se
perturbar com o pecado de alguém, porque ira e perturbação entravam a caridade em si e nos outros" (Regra Bulada 7).
O que não se irrita, nem se perturba pelo que acontece
vive na retidão e
sem apropriação.
Bem-aventurado o servo que nada retém para
si, dando a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus (cf. Admoestação 11). Os irmãos não
ficam defendendo seus direitos. Se fizerem assim se deve ao fato de não
terem paciência
nem humildade (cf. Admoestação 13). "Bem-aventurados
os pobres de espírito
porque deles é
o Reino dos céus.
Muitos há
que são
zelosos na oração
e no culto divino e praticam muito a abstinência
e a mortificação
corporal. Mas, por causa de uma única palavra, que
lhes pareça
ferir o próprio
eu, ou de alguma coisa que se lhes tire, logo se mostram escandalizados
e perturbados..." (Admoestação
14) Para concluir: "São
verdadeiramente pacíficos,
os que no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz,
interior e exteriormente por amor de nosso Senhor Jesus Cristo" (Admoestação
15).
Extraído
do livro: Dome Sainte Pauvreté
(A Senhora santa pobreza)
Paul Huguet -
Ed. Franciscaines, p. 66-68.
Divagações e reflexões em torno do tema da formação
1.
Desnecessário dizer que num tempo de instabilidade e mudanças profundas no
mundo, na sociedade, na Igreja e em nossa Ordem é sempre um grande desafio e bravura
sem nome querer refletir sobre a formação. No momento tem gosto de provisório e
de passageiro. Fica, no entanto, a certeza de que nossos irmãos, os que já
estão conosco e os que estão chegando, têm direito a uma formação. Desafio
particular é fazer com que seja bem “azeitada” a formação permanente. Apesar de
todas as perplexidades, os formadores são chamados a transmitir um gosto pelo
amanhã, um desejo que formandos se lancem na aventura humana, cristã e
franciscana. Somos convidados a fazer com que as pessoas ergam a cabeça e
sintam que podem ir em frente, apesar de todas as correções de rota a serem
feitas no caminho. Uma palavra forte: coragem.
2. Numa sociedade que
duvida de tudo e de si mesma, que alimenta uma visão “desencantada” do mundo,
exprimindo-se com indiferença e mesmo um certo deboche diante de tudo, será
preciso mostrar confiança no futuro. Apegamo-nos ao Evangelho, à tradição
sólida dos documentos fundantes de nossa vida e vamos aguardando a sinalização
do Espírito que sopra onde quer e para onde quer.
3. Tão ou mais
importante que a formação inicial é a permanente. Nossas fraternidades franciscanas seculares
são espaços de estudo, de reflexão, de ajustes. Não podemos simplesmente pular
de tema em tema, de assunto
4. Não se trata apenas de
ilustrar a mente com aspectos da fé e ângulos importantes da perspectiva
franciscana de viver. Os que chegam e os que já estão precisam ser cristãos,
santos, atuantes e com identidade franciscana clara. Este pensamento de
Montaigne pode nos ajudar: “Ensinar não é encher vasos, mas acender luzes…”.
Trata-se de um ensino com sabedoria.
5. Será preciso trabalhar
valores humanos: percorrer as trilhas da
maturidade, sair da superficialidade, ter coragem e força de vontade, saber o
que significa assumir um compromisso, ter gosto pela convivência, viver com as
diferenças, fugir de uma mentalidade restauracionista, rejeitar fanatismos, ter
senso de humor, aprender a julgar fatos e acontecimentos.
6. Será fundamental
experimentar Deus na oração, no irmão, na Escritura sempre, no começo, no meio
e no fim, na formação inicial e na formação permanente, na primavera e no
outono, até o fim.
7. Num tempo de profundas
transformações, também no campo da fé será sempre necessário responder a
pergunta de Jesus: “O que dizem os homens a respeito de mim e o que vocês
dizem?” Uma adequada compreensão da dimensão da ressurreição do Senhor e de sua
presença entre nós é de fundamental importância.
9. Deverão ser realçadas
algumas das características do franciscano: simplicidade, vida belamente
despojada, gosto pela fraternidade, sensibilidade para com as periferias,
mentalidade de cuidador daquilo que é frágil, senso de minorismo.
10. As pessoas
precisam ter consciência de que em nossas reuniões e encontros vamos descobrir
caminhos novos que ainda não foram pisados. Num tempo
de profundas transformações não é possível canonizar esquemas mortos, mas será
preciso atentar para caminhos que o Espirito vai nos mostrar ou já está nos
mostrando.
11. Os franciscanos,
nossos formandos, precisam ser atuantes na Igreja, mas não de qualquer modo.
Não se apresentam apenas para “tocar” para frente o que já vem sendo feito.
Precisam refletir, discernir, estudar. Serão competentes nos serviços que
aceitam: catequese, evangelização, acompanhamento dos jovens, das famílias.
12. No tempo da formação
inicial os irmãos precisam assimilar uma biografia antiga e outra moderna de
São Francisco. Parece necessário que ao menos conheçam a “Legenda dos
Três Companheiros”. Desnecessário dizer que os “Escritos de São Francisco”
precisam fazer parte do patrimônio pessoal de cada franciscano.
13. Os assistentes serão
valiosos colaboradores tanto na formação inicial quanto na permanente. Usarão
da palavra, ensinarão o método do ver julgar agir, farão com que as pessoas
cultivem uma delicadeza de consciência,
acompanharão atentamente os encontros formativos. Bem de perto seguirão os
passos dos que se preparam para a profissão e se fazem pastores do pequeno
rebanho.
Frei
Almir Ribeiro Guimarães,
Assistente
nacional da Ordem Franciscana Secular.
A ressurreição não é o final feliz de uma linda fábula
A ressurreição de Jesus não é o final feliz de
uma linda fábula, mas a intervenção de Deus Pai, disse o Papa Francisco na
Audiência Geral desta quarta-feira na Praça S. Pedro. Antes da catequese, o
Pontífice percorreu a Praça de papamóvel para saudar os mais de 30 mil fiéis e
peregrinos provenientes de várias partes do mundo.
Ao tomar a palavra, Francisco falou da
liturgia do dia, que nos apresenta a narração da traição de Judas, como se
Jesus tivesse um preço e estivesse num mercado. Este ato dramático marca o
início da Paixão de Cristo, um percurso doloroso que Ele escolhe com absoluta
liberdade e que atinge o ponto mais profundo na morte de cruz: morre como um
derrotado, um falido!
“Olhando Jesus na sua paixão, nós vemos como
num espelho os sofrimentos da humanidade e encontramos a resposta divina ao
mistério do mal, da dor e da morte. Tantas vezes, sentimos horror pelo mal e
pela dor que nos circunda e nos perguntamos como Deus permite o sofrimento e a
morte, principalmente dos inocentes. Quando vemos as crianças sofrerem, é uma
ferida no coração. E Jesus toma todo este mal, este sofrimento sobre si”,
explicou Francisco.
“Nós esperamos que Ele, na sua onipotência,
derrote a injustiça, o mal, o pecado e o sofrimento com uma vitória divina
triunfante. Ao contrário, Deus nos mostra uma vitória humilde, que humanamente
parece uma falência”, observou.
Mas, acrescentou o Papa, aceitando esta
falência por amor, supera-a e vence-a. “Trata-se de um mistério desconcertante
se, depois de todo o bem que realizara, não tivesse existido esta morte tão
humilhante, Jesus não teria mostrado a medida total do seu amor. A falência
histórica de Jesus e as frustrações de muitas esperanças humanas são a estrada
mestra, por onde Deus realiza a nossa salvação. É uma estrada que não coincide
com os critérios humanos; pelo contrário, inverte-os: pelas suas chagas fomos
curados”, disse.
Segundo Francisco, quando tudo parece
perdido, é então que Deus intervém com a força da ressurreição: “A ressurreição
de Jesus não é o final feliz de uma linda fábula, mas a intervenção de Deus
Pai, quando toda a esperança humana já tinha desmoronado. E também nós somos chamados
a seguir Jesus por este caminho de humilhação”.
E ensinou: Quando acontecer que, mergulhados
na mais densa escuridão, não enxergarmos qualquer via de saída para as nossas
dificuldades, então é o momento da nossa humilhação e despojamento total, é a
hora em que experimentamos como somos frágeis e pecadores. “Nesse momento, não
devemos mascarar a nossa falência, mas, cheios de confiança em Deus, abrir-nos
à esperança, como fez Jesus”, prosseguiu.
O Papa então concluiu sua catequese com um
conselho: “Queridos irmãos e irmãs, nesta semana nos fará bem pegar o crucifixo
nas mãos e beijá-lo muitas vezes. E dizer: obrigado Jesus, obrigado Senhor!”.
ESPIRITUALIDADE E SAÚDE
Algumas ideias para a reflexão
Há uma
busca, na contemporaneidade, do tríplice sentido de ciência, crença e saúde. É
um interesse existencial que une o viver saudável, o conhecimento científico e
o mergulho no mundo do transcendente. Há pesquisas que provam e comprovam que o
cultivo da fé, o caminho espiritual, a participação em uma comunidade fazem bem
a saúde e ajudam as pessoas a viverem com mais sentido, a viverem mais tempo.
Fé é um fator de saúde!
O
conceito atual de espiritualidade está mais desvinculado de uma religião e
podemos dizer que “espiritualidade é a busca de sentidos, uma ligação com uma
força interna e externa que envolve a convicção de que se está realizando um
papel e um propósito inalienáveis numa vida que é um dom, uma vida que traz a
responsabilidade de realizar o pleno potencial que se tem como ser humano. É
ser capaz de alcançar um sentido de paz, alegria, realização e transcendência
por meio do vínculo com Algo maior que o próprio eu”. (William Breitbart,
psiquiatra).
Espiritualidade
é uma construção de fé e sentidos. Vejamos a formulação de Victor Frankl que
assim esquematiza a conscientização da dimensão espiritual dentro da
experiência humana:
1. Sentido da Vida: A vida é um dom e tem sentido e estes sentidos nunca se
esgotam, mesmo no último momento. Os sentidos podem sofrer alterações, mas
nunca desaparecem.
2. Vontade de Sentido: O desejo de descobrir sentido na existência humana.
3. Liberdade da Vontade: Ter a liberdade de descobrir sentido na existência e escolher uma atitude diante dos limites e do sofrimento.
4. O Sentido na Vida: preencher a vida de criatividade, experiência e atitude.
2. Vontade de Sentido: O desejo de descobrir sentido na existência humana.
3. Liberdade da Vontade: Ter a liberdade de descobrir sentido na existência e escolher uma atitude diante dos limites e do sofrimento.
4. O Sentido na Vida: preencher a vida de criatividade, experiência e atitude.
A
espiritualidade é saudável enquanto traz calma, amor e senso de pertença, que
tem uma correlação física positiva em relação à saúde. Quando ela é moralista
traz muita culpa, pecado e demônio e isto não é saudável. A prece contínua e
apaixonada traz muita tranquilidade, gratidão e um estado físico e mental
positivo. Quantas pessoas não melhoraram ao saber que muitos oravam por ela.
A espiritualidade é a abertura da consciência ao significado e a totalidade da vida, e isto traz qualidade ao processo vital. Há algo de sadio em preencher a vida com o mitificante, o imaginário, o simbólico e o espiritual.
A espiritualidade leva à uma transformação da visão de mundo, nas quais as coisas se integram como e uma melodia, o que nos faz reconciliar com o nosso universo interior e exterior.
O ser humano, em suas dimensões de ser e agir, recebe muitas denominações: Homo faber/economicus - aquele que produz, aquele que consome, aquele que tem uma forte experiência criadora. Homo amans - aquele que ama, que permite integração afetiva e social.Homo patiens - aquele que sofre e integra em sai finitude. Homo religious – o que transcende e busca o significado da vida.
Na junção de todas estas denominações é que ele conquista o ethos da saúde. É a sua luta heroica para estar bem em tudo o que é e faz. Sai de seu mundo interno e vai expandir-se para o mundo externo. Precisa ganhar o mundo, vive a luta pela sobrevivência e pela autoafirmação. É a sua maior abertura ao outro diferente de si mesmo, abertura ao sentimento, compaixão, cooperação, e as suas indagações pelo sentido de viver.
A vivência atenta destas fases possibilita uma vida saudável, insere no fluxo natural da vida e o faz integrar as perdas e a ressignificação. Elaborar uma compreensão das perdas e sofrimentos faz parte do crescimento pessoal. A aceitação e assimilação do sofrimento é uma conquista da vitalidade psicológica do indivíduo, e isto permite forjar uma estrutura psíquica capaz de suportar a verdade da alternância de opostos, das perdas e ganhos que fazem parte da realidade da vida.
A espiritualidade é a abertura da consciência ao significado e a totalidade da vida, e isto traz qualidade ao processo vital. Há algo de sadio em preencher a vida com o mitificante, o imaginário, o simbólico e o espiritual.
A espiritualidade leva à uma transformação da visão de mundo, nas quais as coisas se integram como e uma melodia, o que nos faz reconciliar com o nosso universo interior e exterior.
O ser humano, em suas dimensões de ser e agir, recebe muitas denominações: Homo faber/economicus - aquele que produz, aquele que consome, aquele que tem uma forte experiência criadora. Homo amans - aquele que ama, que permite integração afetiva e social.Homo patiens - aquele que sofre e integra em sai finitude. Homo religious – o que transcende e busca o significado da vida.
Na junção de todas estas denominações é que ele conquista o ethos da saúde. É a sua luta heroica para estar bem em tudo o que é e faz. Sai de seu mundo interno e vai expandir-se para o mundo externo. Precisa ganhar o mundo, vive a luta pela sobrevivência e pela autoafirmação. É a sua maior abertura ao outro diferente de si mesmo, abertura ao sentimento, compaixão, cooperação, e as suas indagações pelo sentido de viver.
A vivência atenta destas fases possibilita uma vida saudável, insere no fluxo natural da vida e o faz integrar as perdas e a ressignificação. Elaborar uma compreensão das perdas e sofrimentos faz parte do crescimento pessoal. A aceitação e assimilação do sofrimento é uma conquista da vitalidade psicológica do indivíduo, e isto permite forjar uma estrutura psíquica capaz de suportar a verdade da alternância de opostos, das perdas e ganhos que fazem parte da realidade da vida.
Saúde e
Espiritualidade, tema desta série, pode não dar muitas respostas, mas aponta
para um Caminho. Um caminho de transformação e de construção do humano.
São as
nossas buscas numinosas e espirituais. O que é o numinoso? É a faculdade de
pensar, a inteligência contemplativa que procura compreender o visível carnal e
o invisível espiritual, a fala audível e o silêncio inaudível, buscar a parte
mais elaborada da totalidade: corpo, mente, alma e coração.
As
nossas buscas que animam a nossa vida. O numinoso se manifesta na natureza, na
arte, no encontro, no amor, no espírito, de um coração para outro coração. O
numinoso pode ocorrer em um local sagrado ou na leitura de um texto, numa aula;
no decorrer de um acidente ou de um sofrimento físico e psíquico intolerável.
Pode acontecer através de uma experiência do absurdo, onde somos obrigados, às
vezes, a ir além da razão; ou em uma experiência de solidão, quando, de
repente, nos sentimos envolvidos por uma Presença. É o local onde o Divino se
reflete no humano.
Saúde e Espiritualidade tem que fazer este encontro porque nós estudamos demais o ser humano a partir de suas doenças, quando poderíamos conhecê-lo melhor a partir de seu estado de realização.
Saúde e Espiritualidade tem que fazer este encontro porque nós estudamos demais o ser humano a partir de suas doenças, quando poderíamos conhecê-lo melhor a partir de seu estado de realização.
A nossa
dificuldade com este tema Saúde e Espiritualidade é que a saúde está associada
ou ligada à doença, quando ela é outra questão. Saúde é fazer que o coração e o
corpo estão pedindo. Mesmo assim, a perspectiva conceitual de opostos continua.
Paul Tillich diz: “A saúde é um termo incompreensível se não for confrontado
com seu oposto”.
A
Espiritualidade quer ajudar a sairmos da compreensão que o caminho, para se
chegar a saúde, passa através da enfermidade. A saúde não é algo que fica
escondido até que a doença a faça aparecer. Será que somente a doença nos faz
descobrir o corpo? Saúde não é não sentir nada. Ou será que precisamos mais sofrer
do que desfrutar? A sabedoria popular diz que saúde a gente aprecia quando a
perdemos.
Precisamos
recuperar a dimensão Terapêutica do Mistério da Salvação. A atividade
Terapêutica de Cristo não foi só curar doenças, mas instaurar o Projeto
Salvífico do Pai, isto é, o Sadio da Existência: um desejo de viver e viver em
plenitude!
Frei Vitório Mazzuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário