quarta-feira, 25 de junho de 2014

ARAUTO DO GRANDE REI

BOLETIM INFORMATIVO DE JUNHO DE 2014

Jubileu do nascimento de São Luis IX

São Luís nasceu no dia 25 de abril de 1214 ou 1215, em Poissy, na França, dia de procissões solenes por ser o dia de São Marcos. Filho do Rei Luís VIII e da infanta espanhola Branca de Castela, recebeu uma educação profundamente católica. Foi, sobretudo de sua mãe, que o santo recebeu os principais ensinamentos da religião: o amor a Deus e à santíssima Virgem, o apreço pela virtude e a aversão ao mal. Após seu batismo, sua mãe tomou-o em seus braços e beijou seu peito dizendo: "Filhinho, que agora sois templo do Espírito Santo, conserva-o imaculado e jamais o manches por um pecado". Esta não hesitava em repetir-lhe sempre que preferia vê-lo morto a sabê-lo manchado pelo pecado mortal.
Dia 29 de novembro de 1226: a consagração
Quando  morreu  seu pai, Luís tinha apenas 12 anos e sua mãe assumiu o governo até a sua maio­ridade. Todos os sinos da catedral de Reims toca­ram  longamente  depois da aurora. Consagrou-se o novo rei . Sob a guia da mãe Branca de Castela, vesti­da de branco em sinal de luto real, e entre as aclamações da multidão, o pequeno Luís avançou com dignidade e re­colhimento. Foi acolhido pelo Monsenhor de Bazoche, bis­po de Soissons que o condu­ziu ao trono.
Na vigília, em Soissons foi consagra­do cavaleiro.
O santo cálice que deveria servir para a consagração foi especialmente trazido da abadia de Saint-Denis pelo padre abade, escoltado por mais de tre­zentos cavaleiros armados. A cerimónia começa. Luís promete "preservar a paz da Igreja, combater as injustiças, emitir juízos justos e misericordiosos". Foi en­toado o Te Deum, enquanto lhe calça­vam as botas e colocavam as esporas. Sobre o altar ele apoia a espada que o bispo lhe entrega para consagrá-la a serviço de Deus. Depois, de mãos jun­tas, de joelhos, é ungida sua fronte e sobre as costas com o óleo sagrado da crisma tirado da santa ampola com uma colher de ouro. Naquele momento, lhe dão as insígnias reais: o anel, a mão de justiça e o cedro. Em alta voz ele decla-
ra: "Bom Senhor Deus, elevarei a minha alma a Vós e me confiarei a Vós". De­pois jura sustentar e defender os humil­des e se compromete "de não ofuscar nunca a glória do nome que leva, nem com injustiça nem com violência".
Enfim, a vestição e a coroação: o bispo segura com as duas mãos a coroa real, sustentada por dois leigos e por eclesiásticos. Esta é colocada delicadamente sobre a cabeça do Rei, enquanto cantam as antífonas habituais. A coroação está terminada. Luís é verdadeiramente rei da França pela graça de Deus. Sentado no seu trono, recebe do clero e dos senhores presentes o juramento de fidelidade. Depois deles, também Branca de Castela, sua mãe, que assume a regência durante a minoridade do filho, recebe a homenagem dos senhores.
                                                                                     Regina Celi Sepulcri Salaroli, OFS


História da Unificação da OFS do Brasil  
1955/1972
Especial para O Arauto do Grande Rei, da Fraternidade de Petrópolis,RJ
VII-2
Entre os anos de 1966 e 1968
Significativos acontecimentos para a OFS do Brasil - l

Introdução

Parece conveniente assinalá-los de início. Em meu entender, indico alguns fatos ou acontecimentos.
Anterior e básico, porém, foi o cuidado do Secretário Nacional da OFS (Frei Mateus Hoepers, OFM); sobretudo desde 1964, em promover mais viva e aprofundada FORMAÇÃO aos irmãos e irmãs de nossas Fraternidades e, igualmente, de seus Padres Diretores. Desejava-se, por essa forma, conseguir a renovação das Fraternidades terciárias do Brasil.
Em 1964 foi acentuado o empenho em se ter melhor conhecimento da própria OFS em sua evolução histórica e do seu carisma a ser vivenciado. Isto serviu, desde 1966, para fundamentar nossas propostas para a reformulação da REGRA da OFS.
Antes, em 1965, devido à próxima realização do 2° Congresso Nacional da OFS, em Caxias do Sul, RS, as três Obediências Franciscanas organizaram os governos externo e interno de suas Fraternidades. Para tal, cada uma nomeou seu Padre Comissário Nacional e o respectivo Ministro Nacional ou Presidente. Começou então a ocorrer o mesmo em nível regional. Cumpria-se, assim, o constante das novas Constituições da OFS, de 25 de agosto de 1957, em seu artigo 94.
Esses vários citados itens foram explanados, em boa parte, em capítulos anteriores deste histórico sobre a unificação da OFS do Brasil. Merecem especial atenção e releitura os últimos capítulos VI-2 e VII-1.
Há, porém, outros significativos acontecimentos que merecem ser recordados devido à influência que tiveram, direta ou indiretamente, sobre o caminhar decidido para a  unificação da OFS do Brasil. Refiro-me ao CEFEPAL do Brasil, ao IIIo Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos e ao Conselho Nacional Interobediencial da OFS. Vejamos o primeiro deles.
O CEFEPAL e a Ordem Franciscana Secular do Brasil - 1
                      
Informa-se, preliminarmente, que muito do que se refere à atuação do CEFEPAL e ao seu relacionamento com a OFS do Brasil se encontra em seu boletim informativo "Irmão Sol", hoje, em seu quadragésimo quarto ano de publicação, agora, editado pela FFB, além de informações, naturalmente encontradas em nossa revista "PAZ E BEM".
Afinal, o que é CEFEPAL?    
            É a designação abreviada de Centro de Estudos Franciscanos e Pastorais para a América Latina. Seu objetivo era o de promover a união de todos os franciscanos da América Latina, dinamizar a sua atualizacão e coordenar as atividades apostólicas. (Cf. "Paz e Bem", jan.-fev. 1967, pág.22-28).
            Foi planejado um Congresso dos Franciscanos Menores, na Holanda, em agosto de 1965. Frei Bruno Goettems, um dos participantes, com aprovação dos Superiores Maiores brasileiros, o trouxe para o Brasil, em novembro de 1965. Nessa ocasião, foi organizado o Secretariado brasileiro do CEFEPAL, em Belo Horizonte. Simultaneamente, isto era realizado também em outros países latino-americanos.
            Coube a seu Secretário, Frei Guido Vlasman, OFM, organizar um Congresso dos Frades Menores, à semelhança do Encontro da Holanda. Foi realizado em Belo Horizonte, MG, de 9 a 16 de novembro de 1966. Dele participaram delegados dos Capuchinhos e dos Conventuais e representantes do CEFEPAL da Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Equador. Teve excelente repercussão entre nós, porque dele participaram, além dos representantes das outras Obediências, duas Clarissas e diversas religiosas da Ordem Terceira Regular. Lá também estava presente a OFS na voz e na atuação de Frei Mateus Hoepers.
            O mais importante para a Ordem Terceira Secular (OFS) foram os quatro artigos, a ela referentes, aprovados nesse Congresso já aludidos no artigo anterior. Em verdade, eles eram o reconhecimento da maioridade da OFS pela Família Franciscana do Brasil. Reconheciam dever ser devolvida aos franciscanos seculares a primitiva autonomia de governo, como verdadeira Ordem com governo próprio. Reconheciam a OFS como parte integrante da Família Franciscana, com a mesma vocação e missão dos demais ramos. (Cf. idem, ibidem, pág. 27/28).
            O relacionamento entre a OFS e o CEFEPAL se acentuou com a transferência do Secretariado do CEFEPAL de Belo Horizonte para Petrópolis, em 1° de março de 1969. Várias eram as razões para mudar para Petrópolis. O Curso de Franciscanismo, como haviam decidido, em 1968, devia funcionar em Petrópolis. Isto, porque o Instituto Teológico Franciscano (ITF) oferecia facilidades para se organizar o corpo docente do Curso e punha à disposição a rica biblioteca do Convento. Além disso, a Congregação Franciscana do Amparo ofereceu, graciosamente, a casa de seu fundador para sede do Secretariado. Uma vez instalado, a fundação do CEFEPAL realizou-se em Petrópolis, RJ, em 09 de dezembro de 1969, onde passou a ter sede e foro, como associação civil de ação religiosa e cultural, de direito privado, apolítica, sem fins lucrativos.
            De acordo com Frei Mateus, sendo eu, morador em Petrópolis e Ministro Nacional da OFS, procurei dar ao Secretário do CEFEPAL todo o apoio que me foi possível, ampliando nosso relacionamento e colaboração. Mais adiante, participei, em nome da OFS, de Diretorias do CEFEPAL, assim como também participaram outros Ministros Nacionais. Servi, colaborando como Assessor Jurídico da Instituição por longo tempo, até sua transferência de Petrópolis para Brasília, DF, decidida na XIV Assembleia da FFB, em 2006, em Belo Horizonte.
       A OFS, desde 1969, aderiu de verdade ao CEFEPAL e se tomou, ao largo dos anos, principal parceiro nas realizações do CEFEPAL, hoje, Família Franciscana do Brasil (FFB).
                   Há, no entanto, nos anos de 1968 e 1969, dois outros momentos, que mostram como foi importante esse relacionamento entre CEFEPAL e OFS. Devem ser relembrados.
Paulo Machado da Costa e Silva, OFS Petrópolis RJ
Continua no próximo boletim. T

Com que espírito queremos viver nosso franciscanismo secular,

O segredo da novidade, a tão buscada renovação, há de ser encontrada lá atrás - na fonte original. Para viver o franciscanimo secular hoje, precisamos buscar a CONVERSÃO PERMANENTE.
Se a conversão é permanente, a cada dia surge o novo: o novo da superação; o novo do esforço para ultrapassar obstáculos; o novo do sacrifício de abandonar o reativo pelo proativo.
Se isto não acontece entre nós e em nosso coração, de que vale tudo o mais?
Caminhamos como corpo sem alma, isto é, seguimos na exteriori­dade e na superficialidade. E, como decorrência disso, vem a falta de vontade, desinteresse, apatia.
Para São João da Cruz, "a alma é uma profundíssima e amplíssima solidão; imenso deserto que por nenhuma parte tem fim. Alma é região fronteiriça e lugar de encon­tro com Deus. É teatro onde atua a graça".
A conversão permanente é o Testamento de Francisco; sua última vontade; a herança que nos deixou.
Essa conversão é do coração. Conversão é vida. A conversão é um processo nunca acabado. É um processo de cristificação cristificante, onde a autocrítica é essencial.
A autocrítica deve ser feita dian­te de nós mesmos e diante de Deus. Precisamos avançar na intersubjetividade íntima e profunda com o Senhor, como companheiro de vida. É preciso lançar-se de cabeça no "mar" de Deus, saindo de nos­sos sentidos exteriores e de nossas fantasias, porque tudo isso perturba nossas percepções interiores.
É necessário que saiamos da "anemia espiritual" - uma enfermi­dade sem sintomas espetaculares, mas que silenciosamente se instala, fazendo Deus se transformar numa palavra apenas. E, assim, vamos sendo invadidos pela dispersão in­terior e abandonando a vida privada com Deus até chegar a uma impossi­bilidade de encontro com Ele. Para viver essa conversão perma­nente de que falamos é preciso hu­mildade e oração.
Maria disse: "Deus fez em mim maravilhas, porque olhou para a hu­mildade de sua serva". Ela não disse que Deus lhe fez maravilhas, porque "sou imaculada" ou "sou mãe de Deus".
Jesus também disse: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração" Ele não disse aprendei de mim porque sou Filho de Deus.
Portanto, temos que dar, diaria­mente, 'pauladas" em nosso amor próprio, a caminho da humildade.
A humildade reconhece que tudo em nós é graça; que Deus é o autor e nós instrumentos em suas mãos; que toda obra é d'Ele. Hu­mildade faz com que nos reconhe­çamos filhos e filhas dependentes do Pai; filhos e filhas amados, mas limitados.
A humildade nos faz capazes de perdoar e fecha a porta de nosso co­ração ao rancor.
A pessoa humilde respeita e ve­nera tudo. Não invade o santuário das intenções. Não julga intenções. Apaga a chama das satisfações e vaidades. Considera as opiniões alheias, sem medo e preocupação.
A humildade é a espiritualidade dos "anawin"
 e tem por modelo Maria. *(Anawin é sinônimo para pessoas de grande e profunda espiritualidade de vida.)
A humildade está no cume do Sermão da Montanha.
Para viver o franciscanimo se­cular hoje, precisamos colocar Deus no centro de nossas vidas. A forma de realizar isto é dialogando com Ele diariamente, através da oração pes­soal. Afinal, não somos funcionários apostólicos, somos enviados e en­viadas. Sob a plataforma de nossas atividades está uma vocação, um chamado. Há algo de transcenden­te. Fomos convocados e após uma formação, fizemos uma Profissão e, através dela, recebemos um envio que nos identifica e compromete.
Há uma empatia entre nós e uma espiritualidade: a franciscana secular.
Revista Paz e Bem Nº326

Interioridade e Mente

Já em sua primeira oração – a que rezou diante do Crucifixo de São Damião – São Francisco nos deixou uma interessante abertura para o mundo interior.  Pediu a Deus: “Iluminai as trevas do meu coração!”. Com a nossa mentalidade de hoje, provavelmente pediríamos para iluminar as trevas da mente, não do coração. Mas poderíamos dizer que, nessa oração e em toda sua vida, São Francisco pediu a luz de Deus para sua interioridade.
A Interioridade não é a Mente: na mente temos a capacidade de pensar, de lembrar, de reconhecer. A Interioridade é muito mais do que isso. Na interioridade está a nossa maior riqueza espiritual (mais que na mente): a mente descobre fora; a interioridade descobre dentro.
O que temos na Mente é tudo consciente (ou fácil de ser trazido ao consciente), e pode ser comparado com um “cérebro eletrônico”, como chamavam inicialmente os computadores. Por mais vasta que seja a mente, daria para fazer uma resenha de tudo que ela contém. Poderíamos distribuí-la em arquivos. Talvez seja possível localizar a Mente no cérebro, como já se tentou. A Mente pode ativar a memória, mais ou menos como um computador.
A Interioridade, em vez, avança pelo mundo do Inconsciente.  Não sabemos onde é a “sede” do Inconsci-ente.  Se a mente aponta para a existência de uma alma, de um espírito no ser humano, a interioridade parece pressupô-la.  Talvez seja por isso que o mundo ocidental moderno tem tanta dificuldade com a Interioridade.
A mente faz sínteses e “conclui”, isto é, fecha. A Interioridade descobre símbolos e lança pontes, isto é, abre, abre cada vez mais para o mistério.
A Mente é capaz de pensar sobre Deus.  A Interioridade se encontra com Ele: sente-o, comunica-se com Ele mesmo sem palavras e sem pensamentos.
Precisamos tomar consciência do que se passa no Inconsciente.  Talvez seja o único meio de nos comunicarmos com a Interioridade. Todos nos damos conta de que, de dentro de nós, procedem coisas que foram experimentadas fora.
A Mente parece poder ser mais desenvolvida pelos que estudam e refletem. A Interioridade pode ser bem desenvolvida mesmo em pessoas analfabetas.  Entrar pelo mundo do mistério não é, exatamente, refletir, pensar. No fundo, entrar pelo mundo do mistério é contemplar.
Desde os tempos mais antigos, a Interioridade foi comparada com o oceano, ou com as águas: é um mundo sem fim, do qual podem sair todas as surpresas.
Quando falamos em espiritualidade, trabalhamos no campo da Interioridade. Se as nossas orações não penetram na Interioridade, ficam no campo da Mente: palavras, cânticos e reflexões. Nesse sentido, muita oração não passa de um condicionamento da mente.
Enquanto a riqueza da mente são suas idéias e a capacidade de relacioná-las e tirar conclusões, a riqueza da Interioridade são os símbolos e sua capacidade de abrir para o mundo do mistério.
Para a mente, os mistérios são um desafio que impõe limites.  Para a Interioridade, os mistérios são desafios que ampliam cada vez mais o seu campo, que parece infinito.
Para a Mente, Deus é uma idéia, uma abstração, uma conclusão, talvez. Para a Interioridade, Deus é a porta mais concreta e vivenciada da Infinitude. Uma coisa é dizer que, em Deus, tudo acaba; outra, bem diferente, é dizer que, em Deus, tudo começa.
A Mente proporciona a possibilidade de entrar em contato com outros seres inteligentes. A Interioridade nos põe em comunhão com todos os seres, mesmo com os animais e as pedras. Além disso, entra no mundo do mistério coletivo (inconsciente coletivo) e, mesmo mergulhando na interioridade individual, a pessoa afunda e emerge no mundo da fraternidade universal.
Talvez possamos falar em interioridade pessoal e interioridade coletiva. No sentido seguinte: eu entro dentro de mim e chego ao mundo do “dentro-de-tudo”. Quando entramos no mundo interior, descobrimos muitas coisas que já foram experimentadas e vividas por nós. Mas também encontramos novidades surpreendentes. E, quando as aprofundamos, percebemos que são “novidades” que já conhecidas por outros, que já foram abordadas e até desenvolvidas por gerações passadas do nosso povo e mesmo de povos muito diferentes.

                                                                                         Frei José Carlos Corrêa Pedroso OFMCap
                                       
 Ciência

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de destacar outro dom do Espírito Santo, o dom da ciência. Quando se fala de ciência, o pensamento vai imediatamente à capacidade do homem de conhecer sempre melhor a realidade que o cerca e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. A ciência que vem do Espírito Santo, porém, não se limita ao conhecimento humano: é um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua relação profunda com cada criatura.
1. Quando os nossos olhos são iluminados pelo Espírito, abrem-se à contemplação de Deus, na beleza da natureza e na grandiosidade do cosmo, e nos levam a descobrir como cada coisa nos fala Dele e do seu amor. Tudo isto suscita em nós grande admiração e um profundo sentido de gratidão! É a sensação que experimentamos também quando admiramos uma obra de arte ou qualquer outra maravilha que seja fruto da invenção e da criatividade do homem: diante de tudo isso, o Espírito nos leva a louvar o Senhor do fundo do nosso coração e a reconhecer, em tudo aquilo que temos e somos, um dom inestimável de Deus e um sinal do seu infinito amor por nós.
2. No primeiro capítulo do Gênesis, propriamente no início de toda a Bíblia, coloca-se em evidência que Deus se alegra com a sua criação, destacando repetidamente a beleza e a bondade de cada coisa. Ao término de cada dia, está escrito: “Deus viu que era coisa boa” (1, 12. 18. 21. 25): se Deus vê que a criação é uma coisa boa, é uma coisa bela, também nós devemos assumir esta atitude e ver que a criação é coisa boa e bela. Eis o dom da ciência que nos faz ver esta beleza, portanto louvamos a Deus agradecendo-lhe por ter nos dado tanta beleza. E quando Deus terminou de criar o homem não disse “viu que era coisa boa”, mas disse que era “muito boa” (v. 31). Aos olhos de Deus nós somos a coisa mais bela, grande, boa da criação: mesmo os anjos estão abaixo de nós, nós somos mais que os anjos, como ouvimos no livro dos Salmos. O Senhor nos quer bem! Devemos agradecer a Ele por isto. O dom da ciência nos coloca em profunda sintonia com o Criador e nos faz participar da clareza do seu olhar e do seu juízo. É nesta perspectiva que conseguimos entender no homem e na mulher o vértice da criação, como cumprimento de um projeto de amor que está impresso em cada um de nós e que nos faz reconhecer como irmãos e irmãs.
3. Tudo isto é motivo de serenidade e de paz e faz do cristão um testemunho alegre de Deus, nos passos de São Francisco de Assis e de tantos santos que souberam louvar e cantar o seu amor através da contemplação da criação. Ao mesmo tempo, porém, o dom da ciência nos ajuda a não cair em algumas atitudes excessivas ou erradas. A primeira é constituída pelo risco de nos considerarmos donos da criação. A criação não é uma propriedade, na qual podemos mandar de acordo com a nossa vontade; nem, tão pouco, é uma propriedade somente de alguns, de poucos: a criação é um presente, é um presente maravilhoso de Deus que nos deu para que cuidemos dela e a utilizemos em benefício de todos, sempre com grande respeito e gratidão. A segunda atitude errada é representada pela tentação de nos pararmos nas criaturas, como se estas pudessem oferecer a resposta a todas as nossas expectativas. Com o dom da ciência, o Espírito nos ajuda a não cair neste erro.
Mas gostaria de retornar ao primeiro caminho errado: dominar a criação em vez de protegê-la. Devemos proteger a criação porque é um presente que o Senhor nos deu, é um presente de Deus para nós; nós somos guardiães da criação. Quando nós exploramos a criação, destruímos o sinal do amor de Deus. Destruir a criação é dizer a Deus: “não gosto”. E isto não é bom: eis o pecado.
A proteção da criação é justamente a proteção do presente de Deus e é dizer a Deus: “obrigado, eu sou o guardião da criação, mas para fazê-la progredir, nunca para destruir o teu presente”. Esta deve ser a nossa atitude diante da criação: protegê-la, porque se nós destruímos a criação, a criação nos destruirá! Não se esqueçam disso. Uma vez eu estava no campo e ouvi um dito de uma pessoa simples, que gostava tanto das flores e cuidava delas. Disse-me: “Devemos proteger estas coisas belas que Deus nos deu; a criação é para nós a fim de que nós a aproveitemos bem; não explorar, mas protegê-la, porque Deus perdoa sempre, nós homens perdoamos algumas vezes, mas a criação não perdoa jamais e se você não a protege ela te destruirá”.
Isto deve nos fazer pensar e pedir ao Espírito Santo o dom, o dom da ciência para entender bem que a criação é o mais belo presente de Deus. Ele fez tantas coisas boas para a melhor coisa que é a pessoa humana.
Papa Francisco
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 21 de maio de 2014

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