BOLETIM
INFORMATIVO DE JUNHO DE 2014
Jubileu do nascimento de São Luis IX
São
Luís
nasceu no dia 25 de abril de 1214 ou 1215, em Poissy, na França,
dia de procissões
solenes por ser o dia de São Marcos. Filho do
Rei Luís
VIII e da infanta espanhola Branca de Castela, recebeu
uma educação
profundamente católica.
Foi, sobretudo de sua mãe,
que o santo recebeu os principais ensinamentos da religião:
o amor a Deus e à
santíssima
Virgem, o apreço
pela virtude e a aversão
ao mal. Após
seu batismo, sua mãe
tomou-o em seus braços
e beijou seu peito dizendo: "Filhinho, que agora sois templo do Espírito
Santo, conserva-o imaculado e jamais o manches por um pecado". Esta não
hesitava em repetir-lhe sempre que preferia vê-lo
morto a sabê-lo
manchado pelo pecado mortal.
Dia 29 de novembro de 1226: a consagração
Quando
morreu seu pai, Luís
tinha apenas 12 anos e sua mãe assumiu o
governo até
a sua maioridade. Todos os sinos da catedral de Reims tocaram longamente
depois da aurora. Consagrou-se o novo rei . Sob a guia da mãe
Branca de Castela, vestida de branco em sinal de luto real, e entre as aclamações
da multidão,
o pequeno Luís
avançou
com dignidade e recolhimento. Foi acolhido pelo Monsenhor de Bazoche, bispo
de Soissons que o conduziu ao trono.
Na vigília, em Soissons
foi consagrado cavaleiro.
O santo cálice que deveria
servir para a consagração
foi especialmente trazido da abadia de Saint-Denis pelo padre abade, escoltado
por mais de trezentos cavaleiros armados. A cerimónia
começa.
Luís
promete "preservar a paz da Igreja, combater as injustiças,
emitir juízos
justos e misericordiosos". Foi entoado o Te Deum, enquanto lhe calçavam
as botas e colocavam as esporas. Sobre o altar ele apoia a espada que o bispo
lhe entrega para consagrá-la a serviço
de Deus. Depois, de mãos
juntas, de joelhos, é
ungida sua fronte e sobre as costas com o óleo
sagrado da crisma tirado da santa ampola com uma colher de ouro. Naquele
momento, lhe dão
as insígnias
reais: o anel, a mão
de justiça
e o cedro. Em alta voz ele decla-
ra: "Bom Senhor Deus, elevarei a minha alma a
Vós
e me confiarei a Vós".
Depois jura sustentar e defender os humildes e se compromete "de não
ofuscar nunca a glória
do nome que leva, nem com injustiça nem com violência".
Enfim, a vestição
e a coroação:
o bispo segura com as duas mãos a coroa real,
sustentada por dois leigos e por eclesiásticos. Esta é
colocada delicadamente sobre a cabeça do Rei, enquanto
cantam as antífonas
habituais. A coroação
está
terminada. Luís
é
verdadeiramente rei da França pela graça
de Deus. Sentado no seu trono, recebe do clero e dos senhores presentes o
juramento de fidelidade. Depois deles, também
Branca de Castela, sua mãe, que assume a
regência
durante a minoridade do filho, recebe a homenagem dos senhores.
Regina Celi Sepulcri
Salaroli, OFS
História da Unificação da OFS do Brasil
1955/1972
Especial para O
Arauto do Grande Rei, da Fraternidade de Petrópolis,RJ
VII-2
Entre os anos
de 1966 e 1968
Significativos
acontecimentos para a OFS do Brasil - l
Introdução
Parece
conveniente assinalá-los de início. Em meu entender, indico alguns fatos ou
acontecimentos.
Anterior
e básico, porém, foi o cuidado do Secretário Nacional da OFS (Frei Mateus
Hoepers, OFM); sobretudo desde 1964, em promover mais viva e aprofundada FORMAÇÃO
aos irmãos e irmãs de nossas Fraternidades e, igualmente, de seus Padres
Diretores. Desejava-se, por essa forma, conseguir a renovação das Fraternidades terciárias do Brasil.
Em 1964
foi acentuado o empenho em se ter melhor conhecimento da própria OFS em
sua evolução histórica e do seu carisma a ser vivenciado. Isto serviu, desde
1966, para fundamentar nossas propostas para a reformulação da REGRA da
OFS.
Antes,
em 1965, devido à próxima realização do 2° Congresso Nacional da OFS, em Caxias
do Sul, RS, as três Obediências Franciscanas organizaram os governos externo
e interno de suas Fraternidades. Para tal, cada uma nomeou seu Padre
Comissário Nacional e o respectivo Ministro Nacional ou Presidente.
Começou então a ocorrer o mesmo em nível regional. Cumpria-se, assim, o
constante das novas Constituições da OFS, de 25 de agosto de 1957, em
seu artigo 94.
Esses
vários citados itens foram explanados, em boa parte, em capítulos anteriores
deste histórico sobre a unificação da OFS do Brasil. Merecem especial atenção e
releitura os últimos capítulos VI-2 e VII-1.
Há, porém, outros significativos acontecimentos
que merecem ser recordados devido à influência que tiveram, direta ou
indiretamente, sobre o caminhar decidido para a unificação da OFS do Brasil.
Refiro-me ao CEFEPAL do Brasil, ao IIIo Congresso Mundial para o
Apostolado dos Leigos e ao Conselho Nacional Interobediencial da OFS.
Vejamos o primeiro deles.
O
CEFEPAL e a Ordem Franciscana Secular do Brasil - 1
Informa-se,
preliminarmente, que muito do que se refere à atuação do CEFEPAL e ao seu
relacionamento com a OFS do Brasil se encontra em seu boletim informativo "Irmão
Sol", hoje, em seu quadragésimo quarto ano de publicação, agora,
editado pela FFB, além de informações, naturalmente encontradas em nossa
revista "PAZ E BEM".
Afinal,
o que é CEFEPAL?
É
a designação abreviada de Centro de Estudos Franciscanos e Pastorais para a
América Latina. Seu objetivo era o de promover a união de todos os
franciscanos da América Latina, dinamizar a sua atualizacão e coordenar as
atividades apostólicas. (Cf. "Paz e Bem", jan.-fev. 1967, pág.22-28).
Foi
planejado um Congresso dos Franciscanos Menores, na Holanda, em agosto de 1965.
Frei Bruno Goettems, um dos participantes, com aprovação dos Superiores Maiores
brasileiros, o trouxe para o Brasil, em novembro de 1965. Nessa ocasião, foi
organizado o Secretariado brasileiro do CEFEPAL, em Belo Horizonte.
Simultaneamente , isto era realizado também em outros países
latino-americanos.
Coube
a seu Secretário, Frei Guido Vlasman, OFM, organizar um Congresso dos Frades
Menores, à semelhança do Encontro da Holanda. Foi realizado em Belo Horizonte , MG,
de 9 a 16
de novembro de 1966. Dele participaram delegados dos Capuchinhos e dos
Conventuais e representantes do CEFEPAL da Argentina, Chile, Peru, Colômbia e
Equador. Teve excelente repercussão entre nós, porque dele participaram, além
dos representantes das outras Obediências, duas Clarissas e diversas religiosas
da Ordem Terceira Regular. Lá também estava presente a OFS na voz e na atuação
de Frei Mateus Hoepers.
O
mais importante para a Ordem Terceira Secular (OFS) foram os quatro artigos, a ela
referentes, aprovados nesse Congresso já aludidos no artigo anterior. Em
verdade, eles eram o reconhecimento da maioridade da OFS pela
Família Franciscana do Brasil. Reconheciam dever ser devolvida aos franciscanos
seculares a primitiva autonomia de governo, como verdadeira Ordem com governo
próprio. Reconheciam a OFS como parte integrante da Família Franciscana, com a
mesma vocação e missão dos demais ramos. (Cf. idem, ibidem, pág. 27/28).
O
relacionamento entre a OFS e o CEFEPAL se acentuou com a transferência do
Secretariado do CEFEPAL de Belo Horizonte para Petrópolis, em 1° de março de
1969. Várias eram as razões para mudar para Petrópolis. O Curso de
Franciscanismo, como haviam decidido, em 1968, devia funcionar em Petrópolis. Isto ,
porque o Instituto Teológico Franciscano (ITF) oferecia facilidades para se
organizar o corpo docente do Curso e punha à disposição a rica biblioteca do
Convento. Além disso, a Congregação
Franciscana do Amparo ofereceu, graciosamente, a casa de seu fundador para
sede do Secretariado. Uma vez instalado,
a fundação do CEFEPAL realizou-se em Petrópolis, RJ, em 09 de dezembro de 1969,
onde passou a ter sede e foro, como associação civil de ação religiosa e
cultural, de direito privado, apolítica, sem fins lucrativos.
De
acordo com Frei Mateus, sendo eu, morador em Petrópolis e Ministro Nacional da
OFS, procurei dar ao Secretário do CEFEPAL todo o apoio que me foi possível,
ampliando nosso relacionamento e colaboração. Mais adiante, participei, em nome
da OFS, de Diretorias do CEFEPAL, assim como também participaram outros
Ministros Nacionais. Servi, colaborando como Assessor Jurídico da Instituição
por longo tempo, até sua transferência de Petrópolis para Brasília, DF,
decidida na XIV Assembleia da FFB, em 2006, em Belo Horizonte.
A OFS, desde 1969, aderiu de verdade ao
CEFEPAL e se tomou, ao largo dos anos, principal parceiro nas realizações do
CEFEPAL, hoje, Família Franciscana do
Brasil (FFB).
Há, no entanto, nos anos de
1968 e 1969, dois outros momentos, que mostram como foi importante esse relacionamento entre CEFEPAL
e OFS. Devem ser relembrados.
Paulo Machado da Costa e Silva, OFS
Petrópolis RJ
Continua no próximo boletim. T
Com que espírito queremos viver nosso franciscanismo secular,
O segredo da novidade, a tão
buscada renovação, há de ser encontrada lá atrás - na fonte original. Para
viver o franciscanimo secular hoje, precisamos buscar a CONVERSÃO PERMANENTE.
Se a conversão é permanente, a
cada dia surge o novo: o novo da superação; o novo do esforço para ultrapassar
obstáculos; o novo do sacrifício de abandonar o reativo pelo proativo.
Se isto não acontece entre nós
e em nosso coração, de que vale tudo o mais?
Caminhamos como corpo sem
alma, isto é, seguimos na exterioridade e na superficialidade. E, como
decorrência disso, vem a falta de vontade, desinteresse, apatia.
Para São João da Cruz, "a
alma é uma profundíssima e amplíssima solidão; imenso deserto que por nenhuma
parte tem fim. Alma é região fronteiriça e lugar de encontro com Deus. É
teatro onde atua a graça".
A conversão permanente é o
Testamento de Francisco; sua última vontade; a herança que nos deixou.
Essa conversão é do coração.
Conversão é vida. A conversão é um processo nunca acabado. É um processo de cristificação
cristificante, onde a autocrítica é essencial.
A autocrítica deve ser feita
diante de nós mesmos e diante de Deus. Precisamos avançar na
intersubjetividade íntima e profunda com o Senhor, como companheiro de vida. É
preciso lançar-se de cabeça no "mar" de Deus, saindo de nossos
sentidos exteriores e de nossas fantasias, porque tudo isso perturba nossas
percepções interiores.
É necessário que saiamos da "anemia
espiritual" - uma enfermidade sem sintomas espetaculares, mas que
silenciosamente se instala, fazendo Deus se transformar numa palavra apenas. E,
assim, vamos sendo invadidos pela dispersão interior e abandonando a vida
privada com Deus até chegar a uma impossibilidade de encontro com Ele. Para
viver essa conversão permanente de que falamos é preciso humildade e oração.
Maria disse: "Deus fez em mim maravilhas,
porque olhou para a humildade de sua serva". Ela não disse que Deus lhe fez maravilhas, porque "sou
imaculada" ou "sou mãe de Deus".
Jesus também disse: "Aprendei de mim que
sou manso e humilde de coração" Ele não disse aprendei de mim porque sou Filho
de Deus.
Portanto, temos que dar, diariamente,
'pauladas" em nosso amor próprio, a caminho da humildade.
A humildade reconhece que
tudo em nós é graça; que Deus é o autor e nós instrumentos em suas mãos;
que toda obra é d'Ele. Humildade faz com que nos reconheçamos filhos e filhas
dependentes do Pai; filhos e filhas amados, mas limitados.
A humildade nos faz capazes de perdoar e fecha a
porta de nosso coração ao rancor.
A pessoa humilde respeita e venera tudo. Não
invade o santuário das intenções. Não julga intenções. Apaga a chama das
satisfações e vaidades. Considera as opiniões alheias, sem medo e preocupação.
A humildade é a espiritualidade dos "anawin"
e tem por modelo Maria.
*(Anawin é sinônimo
para pessoas de grande e profunda espiritualidade de vida.)
A humildade está no cume do Sermão da Montanha.
Para viver o franciscanimo secular hoje,
precisamos colocar Deus no centro de nossas vidas. A
forma de realizar isto é dialogando com Ele diariamente, através da oração pessoal.
Afinal, não somos funcionários apostólicos, somos enviados e enviadas. Sob a plataforma
de nossas atividades está uma vocação, um chamado. Há algo de transcendente.
Fomos convocados e após uma formação, fizemos uma Profissão e, através dela,
recebemos um envio que nos identifica e compromete.
Há uma empatia entre nós e uma espiritualidade: a
franciscana secular.
Revista Paz e Bem Nº326
Interioridade e Mente
Já em sua
primeira oração – a que rezou diante do Crucifixo de São Damião – São Francisco
nos deixou uma interessante abertura para o mundo interior. Pediu a Deus: “Iluminai as trevas do meu
coração!”. Com a nossa mentalidade de hoje, provavelmente pediríamos para
iluminar as trevas da mente, não do coração. Mas poderíamos dizer que, nessa
oração e em toda sua vida, São Francisco pediu a luz de Deus para sua
interioridade.
A Interioridade
não é a Mente: na mente temos a capacidade de pensar, de lembrar, de
reconhecer. A Interioridade é muito mais do que isso. Na interioridade está a
nossa maior riqueza espiritual (mais que na mente): a mente descobre fora; a
interioridade descobre dentro.
O que temos
na Mente é tudo consciente (ou fácil de ser trazido ao consciente), e pode ser
comparado com um “cérebro eletrônico”, como chamavam inicialmente os
computadores. Por mais vasta que seja a mente, daria para fazer uma resenha de
tudo que ela contém. Poderíamos distribuí-la em arquivos. Talvez
seja possível localizar a Mente no cérebro, como já se tentou. A Mente pode
ativar a memória, mais ou menos como um computador.
A
Interioridade, em vez, avança pelo mundo do Inconsciente. Não sabemos onde é a “sede” do Inconsci-ente. Se a mente aponta para a
existência de uma alma, de um espírito no ser humano, a interioridade parece
pressupô-la. Talvez seja por isso que o mundo
ocidental moderno tem tanta dificuldade com a Interioridade.
A mente faz
sínteses e “conclui”, isto é, fecha. A Interioridade descobre símbolos e lança
pontes, isto é, abre, abre cada vez mais para o mistério.
A Mente é
capaz de pensar sobre Deus. A
Interioridade se encontra com Ele: sente-o, comunica-se com Ele mesmo sem palavras
e sem pensamentos.
Precisamos
tomar consciência do que se passa no Inconsciente. Talvez seja o único meio de nos comunicarmos
com a Interioridade. Todos nos damos conta de que, de dentro de nós, procedem
coisas que foram experimentadas fora.
A Mente
parece poder ser mais desenvolvida pelos que estudam e refletem. A
Interioridade pode ser bem desenvolvida mesmo em pessoas analfabetas. Entrar pelo mundo do mistério não é,
exatamente, refletir, pensar. No fundo, entrar pelo mundo do mistério é contemplar.
Desde os
tempos mais antigos, a Interioridade foi comparada com o oceano, ou com as
águas: é um mundo sem fim, do qual podem sair todas as surpresas.
Quando
falamos em espiritualidade, trabalhamos no campo da Interioridade. Se as nossas
orações não penetram na Interioridade, ficam no campo da Mente: palavras,
cânticos e reflexões. Nesse sentido, muita oração não passa de um
condicionamento da mente.
Enquanto a
riqueza da mente são suas idéias e a capacidade de relacioná-las e tirar
conclusões, a riqueza da Interioridade são os símbolos e sua capacidade de
abrir para o mundo do mistério.
Para a
mente, os mistérios são um desafio que impõe limites. Para a Interioridade, os mistérios são
desafios que ampliam cada vez mais o seu campo, que parece infinito.
Para a Mente, Deus é uma idéia,
uma abstração, uma conclusão, talvez. Para a Interioridade, Deus é a porta mais
concreta e vivenciada da Infinitude. Uma coisa é dizer que, em Deus, tudo
acaba; outra, bem diferente, é dizer que, em Deus, tudo começa.
A Mente proporciona a
possibilidade de entrar em contato com outros seres inteligentes. A
Interioridade nos põe em comunhão com todos os seres, mesmo com os animais e as
pedras. Além disso, entra no mundo do mistério coletivo (inconsciente coletivo)
e, mesmo mergulhando na interioridade individual, a pessoa afunda e emerge no
mundo da fraternidade universal.
Talvez possamos falar em
interioridade pessoal e interioridade coletiva. No sentido seguinte: eu entro
dentro de mim e chego ao mundo do “dentro-de-tudo”. Quando entramos no mundo
interior, descobrimos muitas coisas que já foram experimentadas e vividas por
nós. Mas também encontramos novidades surpreendentes. E, quando as
aprofundamos, percebemos que são “novidades” que já conhecidas por outros, que
já foram abordadas e até desenvolvidas por gerações passadas do nosso povo e
mesmo de povos muito diferentes.
Frei José Carlos Corrêa Pedroso
OFMCap
Ciência
Queridos irmãos
e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de
destacar outro dom do Espírito Santo, o dom da ciência. Quando
se fala de ciência, o pensamento vai imediatamente à capacidade do homem de
conhecer sempre melhor a realidade que o cerca e de descobrir as leis que
regulam a natureza e o universo. A ciência que vem do Espírito Santo, porém,
não se limita ao conhecimento humano: é um dom especial, que nos leva a
entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua relação
profunda com cada criatura.
1. Quando os
nossos olhos são iluminados pelo Espírito, abrem-se à contemplação de Deus, na
beleza da natureza e na grandiosidade do cosmo, e nos levam a descobrir como
cada coisa nos fala Dele e do seu amor. Tudo isto suscita em nós grande
admiração e um profundo sentido de gratidão! É a sensação que experimentamos
também quando admiramos uma obra de arte ou qualquer outra maravilha que seja
fruto da invenção e da criatividade do homem: diante de tudo isso, o Espírito
nos leva a louvar o Senhor do fundo do nosso coração e a reconhecer, em tudo
aquilo que temos e somos, um dom inestimável de Deus e um sinal do seu infinito
amor por nós.
2. No primeiro
capítulo do Gênesis, propriamente no início de toda a Bíblia, coloca-se em
evidência que Deus se alegra com a sua criação, destacando repetidamente a
beleza e a bondade de cada coisa. Ao término de cada dia, está escrito: “Deus
viu que era coisa boa” (1, 12. 18. 21. 25): se Deus vê que a criação é uma
coisa boa, é uma coisa bela, também nós devemos assumir esta atitude e ver que
a criação é coisa boa e bela. Eis o dom da ciência que nos faz ver esta beleza,
portanto louvamos a Deus agradecendo-lhe por ter nos dado tanta beleza. E
quando Deus terminou de criar o homem não disse “viu que era coisa boa”, mas
disse que era “muito boa” (v. 31). Aos olhos de Deus nós somos a coisa mais
bela, grande, boa da criação: mesmo os anjos estão abaixo de nós, nós somos
mais que os anjos, como ouvimos no livro dos Salmos. O Senhor nos quer bem!
Devemos agradecer a Ele por isto. O dom da ciência nos coloca em profunda
sintonia com o Criador e nos faz participar da clareza do seu olhar e do seu
juízo. É nesta perspectiva que conseguimos entender no homem e na mulher o
vértice da criação, como cumprimento de um projeto de amor que está impresso em
cada um de nós e que nos faz reconhecer como irmãos e irmãs.
3.
Tudo isto é motivo de serenidade e de paz e faz do cristão um testemunho alegre
de Deus, nos passos de São
Francisco de Assis e de tantos santos que souberam louvar e cantar o seu amor
através da contemplação da criação. Ao mesmo tempo, porém, o dom da ciência nos
ajuda a não cair em algumas atitudes excessivas ou erradas. A primeira é
constituída pelo risco de nos considerarmos donos da criação. A criação não é
uma propriedade, na qual podemos mandar de acordo com a nossa vontade; nem, tão
pouco, é uma propriedade somente de alguns, de poucos: a criação é um presente,
é um presente maravilhoso de Deus que nos deu para que cuidemos dela e a
utilizemos em benefício de todos, sempre com grande respeito e gratidão. A
segunda atitude errada é representada pela tentação de nos pararmos nas
criaturas, como se estas pudessem oferecer a resposta a todas as nossas
expectativas. Com o dom da ciência, o Espírito nos ajuda a não cair neste erro.
Mas gostaria de
retornar ao primeiro caminho errado: dominar a criação em vez de protegê-la.
Devemos proteger a criação porque é um presente que o Senhor nos deu, é um
presente de Deus para nós; nós somos guardiães da criação. Quando nós
exploramos a criação, destruímos o sinal do amor de Deus. Destruir a criação é
dizer a Deus: “não gosto”. E isto não é bom: eis o pecado.
A proteção da
criação é justamente a proteção do presente de Deus e é dizer a Deus:
“obrigado, eu sou o guardião da criação, mas para fazê-la progredir, nunca para
destruir o teu presente”. Esta deve ser a nossa atitude diante da criação:
protegê-la, porque se nós destruímos a criação, a criação nos destruirá! Não se
esqueçam disso. Uma vez eu estava no campo e ouvi um dito de uma pessoa
simples, que gostava tanto das flores e cuidava delas. Disse-me: “Devemos
proteger estas coisas belas que Deus nos deu; a criação é para nós a fim de que
nós a aproveitemos bem; não explorar, mas protegê-la, porque Deus perdoa
sempre, nós homens perdoamos algumas vezes, mas a criação não perdoa jamais e
se você não a protege ela te destruirá”.
Isto deve nos fazer pensar e pedir
ao Espírito Santo o dom, o dom da ciência para entender bem que a criação é o
mais belo presente de Deus. Ele fez tantas coisas boas para a melhor coisa que
é a pessoa humana.
Papa Francisco
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 21 de maio de 2014
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 21 de maio de 2014
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