BOLETIM
INFORMATIVO DE AGOSTO DE 2014
Assunção da Virgem Maria
Pe. Johan Konings
A
presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela
vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria
glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela
que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria
o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus,
que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida
do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria
ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão
ressuscitados em
Cristo. Observe-se , portanto, que a glória de Maria não a
separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.
Merece
consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha
nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes
para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do
inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência
de pessoas “humildes” no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas,
oprimidas (a “humildade” não como aplaudida virtude, mas como baixo estado
social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de
humildes, o “pequeno rebanho” tão característico do evangelho de Lc (cf. 12,32,
peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê
claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade
escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua
serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima
dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos
patriarcas (as promessas).
Pois bem,
a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é
coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de
Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a
Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.
A “arte”
litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente
conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois
momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória
pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.
Em Maria
vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser
grande na sua vida. É o jeito…
História da Unificação da OFS do Brasil
1955/1972
Especial para O Arauto do Grande Rei, da
Fraternidade de Petrópolis,RJ
VII-3
Entre os anos de 1966 e 1968
Significativos acontecimentos para a
OFS do Brasil - 2
O IIIº Congresso Mundial para o Apostolado
dos Leigos
1. Introdução
O Decreto do Papa
Paulo VI, que promulgou o documento do Concílio Vaticano II, denominado Apostolicam
Actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos, é de 18 de novembro de 1965.
Como foi acontecendo com outros documentos conciliares,
sobretudo os que mais de perto interessavam aos Terceiros Franciscanos,
incentivados e orientados pelo Secretário Nacional da OFS, também este Decreto
foi objeto de estudo individual e em grupo, inclusive com grupos de outras
denominações. Consta, por exemplo, da minha agendinha de 1967 que, nós, os
ligados ao Secretariado Nacional, participamos de reuniões de estudo sobre esse
documento com elementos do Movimento Familiar Cristão, na sala 608 do nº 90 da
rua São José, no Rio. Em outras Fraternidades , ao que soubemos, também
houve reuniões semelhantes. Isto era enriquecedor.
2. Informações gerais
Em 1967, de 11 a 18 de outubro, foi
convocado para se reunir, em Roma, o IIIº Congresso Mundial para o
Apostolado dos Leigos. Tinha como tema: O POVO DE DEUS NO ITINERÁRIO DOS
HOMENS. Constava de três partes:
1
– O homem de hoje – descobrir e analisar as situações em que vivem, concretamente,
as pessoas em seu país, em função de sua união com Deus e os homens. Em
conseqüência, quais as responsabilidades
que estas situações devem criar para os cristãos.
2 – Apelos do
Espírito – Deus chama a todos os homens, em particular, aos
cristãos, comprometidos pelo Batismo com a salvação de seus irmãos: para o
apostolado nos diversos setores e ambientes da vida, para a renovação das
comunidades eclesiais, para o aggiornamento dos seus Movimentos e
Organizações, para o diálogo no interior da Igreja, para a participação nas
atividades missionárias.
3 – Revisão do
sentido de nosso apostolado – à luz das grandes necessidades do mundo de
hoje e das orientações da Igreja do Concílio Vaticano II. (Cf. PAZ E BEM,
julho-agosto 1967, págs. 97-98 e setembro-outubro 1967, págs. 139-140).
O Congresso Mundial objetivava
preparar um novo tipo de cristão como homem de fé, adulto e responsável. Ora,
paralela e precisamente, era o que se buscava realizar na Ordem Terceira
Secular de São Francisco de Assis, mediante a volta às fontes e a renovação de
suas Fraternidades. Por isso, frei Mateus Hoepers, OFM, e a equipe do
Secretariado Nacional da OFS entenderam que a Ordem Terceira não podia ficar
alheia, mas devia participar, efetivamente, desse IIIº Congresso Mundial.
Decidido, o grupo ligado aos Franciscanos Menores se mobilizou para conseguir
realizar tal propósito. O delegado designado foi quem isto escreve. Não
aceitaram suas excusas. Simplesmente, devia se preparar para a missão.
3. Preparando-me para o Congresso.
Melhor é transcrever o trecho inicial de um artigo de PAZ
E BEM de 1967, novembro-dezembro, pág. 185:
“Partindo para Roma
Por
designação da cúpula nacional da Ordem Terceira Franciscana Secular, Obediência
dos Franciscanos Menores, e aprovação do Sr. Arcebispo Secretário Nacional para
o Apostolado dos Leigos da CNBB,
dirijo-me para Roma a fim de participar do IIIº Congresso Mundial para o
Apostolado dos Leigos como um dos onze delegados brasileiros da CNBB, em vez
dos trinta previstos.”
A viagem de navio, do Rio a Nápoles,
em quinze dias, foi decidida para que eu tivesse tempo para completar o estudo
dos documentos e me preparar melhor para o Congresso, dado o pouco tempo de que
dispunha devido aos meus compromissos diários como professor, além de advogado.
Porém,
aconteceu o melhor.
Dom
Lucas Moreira Neves,OP, bispo auxiliar de São Paulo e Assistente eclesiástico
da delegação brasileira, conseguiu com o Comandante do navio um espaço para
reunir, toda noite, a delegação brasileira com as delegações dos outros países
do Cone Sul, também embarcadas no Augustus. Os dez temas do Congresso
foram, então, reestudados e debatidos. Louvável a habilidade de Dom Lucas na
condução das reuniões. Esse estudo em grupo foi oportuno e altamente
esclarecedor. As reuniões diárias proporcionaram aos participantes vivenciarem
a união, a amizade e a alegria do encontro, além de um entendimento comum
relativo ao temário e aos objetivos do Congresso. (Cf. PAZ E BEM, 1968,
jan.-fev., págs. 16-19).
Os dois
Congressos Mundiais anteriores também se haviam realizado em Roma, em outubro
de 1951 e de 1957. O segundo reuniu mais de 2000 congressistas de 80 países e
de 65 Organizações Internacionais Católicas (OIC). Este IIIº Congresso Mundial,
no entanto, foi bem maior. Todos os continentes estavam representados.
O tema deste Congresso: O povo de Deus no
itinerário dos homens sublinha e insiste em duas grandes orientações
conciliares: Igreja, Povo de Deus (Lumen Gentium) e Missão da Igreja
no Mundo de hoje, solidária
com toda a humanidade (Gaudium et Spes).
Uma
explicação se faz necessária. Lamentavelmente, numa mudança de endereço, a
quase totalidade do meu arquivo particular deste Congresso Mundial foi extraviada e
perdida, impedindo-me de escrever com mais detalhes este depoimento para a
história do ocorrido. Graças, porém, à minha agendinha de 1967 é que, junto
com mais outros dados, consigo recompor
o que aconteceu.
4. Realização
do Congresso.
Precedendo
sua abertura, durante dois dias, em 9 e 10 de outubro, os representantes da
América Latina, da África e da Ásia foram convocados a se congregarem em
reuniões continentais. Objetivo: coordenarem melhor seus pontos de vista
comuns.
Nessa ocasião, como congressista junto com
outros mais, em especial, os da América Latina e da Espanha, insistimos que as
delegações tinham autonomia e até obrigação de apresentar e defender as suas
respostas ao questionário, assim como as contribuições, trazidas das
comunidades e da Igreja de seus países. Isto, porque representantes de grupos
da Ação Católica da Europa, em particular, alegando precedentes e primazia,
queriam impor suas respostas a vários dos quesitos propostos. Debatido o
assunto e contestada a pretensão com veemência, cada delegação pode apresentar
suas comunicações e votos com liberdade.
Iniciado o Congresso, foi realizado, de
Aliás, o Sr. Cardeal Roy, Presidente da
Comissão eclesiástica do Congresso, já havia alertado: “Eu pedi aos Sres.
Bispos e Sacerdotes para deixarem toda
iniciativa aos leigos e para respeitarem nesse Congresso seu caráter de
encontro do
laicato.” Era o reconhecimento da valorização conciliar dos leigos pela Igreja.
Merecem destaque as três conferências deste
Congresso. A do Padre Congar,OP, sobre “ O apelo de Deus” ou a parte que cabe
aos leigos na renovação da Igreja. A do sr. Tomás Kerstiens, da Holanda,
Secretário Geral da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresa, que apresentou interessante
introdução geral aos trabalhos do Congresso. Acentuou que os congressistas
estavam ali como cristãos comprometidos, não, como representantes de
instituições, nações ou continentes. Importante também foi a conferência do
encerramento. Falou o professor Joaquim Ruiz-Gimenez Cortes, da Universidade de
Madri e Presidente da PAX ROMANA ou Movimento Internacional dos Intelectuais
Católicos. Ele abordou com clareza e resumidamente, o que havia sido estudado,
discutido e aprovado neste Congresso, conforme consta dos Anais respectivos. A
Assembléia dos Chefes de Delegação é que aprovou as conclusões do evento, às
vezes, após prolongados debates. Nelas se vêem muitas resoluções e sugestões,
derivadas das mesas-redondas e indicativas do que, em várias regiões, era
esperado quanto à posição do leigo na Igreja.
A realização do Congresso foi excelente pela sua
organização, pela pontualidade de todos os atos programados, pelas sessões
plenárias, marcadas por grande vibração, pelos encontros comunitários e pela
presença de irmãos ortodoxos e reformados, como observadores ativos e, não,
apenas passivos. Estes e os congressistas, unidos pela oração,trabalharam em perfeita caridade.
Na Basílica de São Paulo fóra dos muros, realizou-se comovente oração
ecumênica.
Importante
também foram os contatos pessoais nos intervalos da programação. Eles
permitiram melhor visão da história e da civilização de algumas nações pouco
conhecidas, reunidas no decurso de uma semana numa Assembléia tão universal.
Inesquecível
foi a Missa concelebrada por Sua Santidade o Papa Paulo VI e mais 24 Bispos,
por ocasião do encontro entre o Sínodo dos Bispos e o III Congresso Mundial.
Realizou-se na Basílica Vaticana, no dia 15 de outubro. Na oportunidade,
teve-se uma visão perfeita da unidade e da universalidade da fé católica.
O
que observei e aprendi nesse Congresso Mundial foi o que relatei ao Conselho
Obediencial (OFM) da OFS e ao Secretariado Nacional, ao prestar contas da
missão, que me foi determinada. Adiante, como Ministro Nacional e como simples
colaborador permanente da OFS, esforcei-me para aplicar e difundir o aprendido
em reuniões e capítulos de Fraternidades.
Resta-me
dar graças a Deus pela oportunidade e ajuda, que me foram dadas em favor da
Ordem Franciscana Secular, e por haver cumprido esse serviço da melhor forma
que pude.
Na
certa, um leitor mais curioso há de dizer:
–
Bem, este foi o III Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos. Mas, onde
aparece a OFS? Especificamente, qual sua atuação como delegado da Ordem
Terceira, independente do Congresso Mundial?
Continua
no próximo boletim.
Paulo Machado da Costa e Silva, OFS
Petrópolis RJ
São Luis, Rei de França e sua mãe
Nestes
Tempos de comemorações em torno de mais um centenário do nascimento de Luis,
rei de França, a 25 de abril de 1214, apresentamos algumas reflexões a respeito
da influência da mãe de São Luis, Branca de Castela, na vida e na história do
filho. As linhas que seguem mostram a influência dos pais na vida e na história
dos filhos. Inspiramos fortemente no texto de Jacques Le Goff (São Luis. Biografia,
ed, Record, 1999, p. 627-635).
Os biografos de São Luis são
unanimes em afirmar que boa parte das virtudes do rei são devidas à mãe, Branca
de Castela. A pessoa do rei, sua vida, seu reinado, sem ela, não teriam sido o
que foram. Seria de esperar que, nas biografias antigas sobre São Luis, Branca
fosse louvada pela qualidade de mulher que teve ou pela mulher que foi. O
essencial de seus méritos, no entanto, “vem do fato de ter sido semelhante a um
homem e de ter formado um homem, o filho Luís. (p. 627).
Considerações prévias
O biógrafo Geoffroy de
Beaulieu escreve: “Sob a santa educação e o salutar ensinamento de mãe tão
piedosa, nosso Luís se pôs a manifestar em sua natureza de criança belas
disposições e excelentes esperanças e dia após dia crescia tornando-se um homem
completo, buscando o Senhor, fazendo o que é direito e agradável aos olhos do
Senhor de todo coração, de toda sua alma, de todas as suas forças, como o bom
fruto de uma arvore boa” (citado por le Goff, p.628).
Branca de Castela mostrou outras
virtudes quando seu filho se tornou rei aos 12 anos: “ quando ele começou a
reinar tendo cerca de doze anos, a força, o zelo, a retidão, o poder com que
sua mãe administrou, guardou e defendeu os direitos do reino, aqueles que
formavam então entre os conselheiros do rei o testemunham; e, entretanto, nessa
época, o rei no inicio de seu reinado teve adversários numerosos e perigosos.
Mas graças aos méritos de sua inocência e à previdente experiência da mãe (que
se mostrou sempre uma perfeita virago e trazia naturalmente em seu espirito e
em seu sexo de mulher um coração de homem, os criadores de problemas do reino
ficaram confundidos e sucumbiram e a
justiça triunfou” (citado à pag. 628).
Famosa e bem conhecida é a concepção de Branca a
respeito o ódio que se deve ter ao
pecado. Uma pequena história mostra o que era o amor de uma mãe-cristã. É
Branca que fala a repeito de intrigas a respeito da vida de seu marido Luís
VIII. Geoffroy de Beaulieu assim escreveu: “ Não pode passar em silêncio a
história de um religioso que, sob a fé de falsos intrigantes, afirmava ter
ouvido que meu senhor o rei antes do casamento teve concubinas com as quais
pecava, e que sua mãe sabia disso ou
fingia ignorá-lo. Esse religioso muito surpreso criticou portanto a senhora rainha.
A rainha se desculpou humildemente dessa mentira, por ela própria e pelo filho,
e acrescentou uma palavra digna de louvor. Se o rei seu filho, que ela amava
mais do que as criaturas mortais estivesse doente e em perigo de vida e lhe
dissessem que ele ficaria curado pecando uma vez com outra mulher que não fosse
a dele, ela preferiria que ele morresse do que ofendesse o Criador pecando
mortalmente uma única vez” ( citado à p. 629).
O papa Bonifácio VIII na Bula
de Canonização de Luís declarava: quando tinha doze anos de idade foi privado
do arrimo do pai e ficou sob a guarda e direção de Branca de ilustre memoria,
rainha de França, sua mãe. Branca, fervorosa cumpridora dos deveres devidos a
Deus, dedicou-se a dirigi-lo com sabedoria e a instruí-lo com diligência para
que ele pudesse se mostrar digno, conveniente e próprio para governar o reino
que reclamava, como ela lhe tinha ensinado, a previdência de sua direção” (p.
629).
Guillaume de Saint-Pathus
afirma: “São Luís teve por mãe a honrada rainha Branca, que, depois da morte de
seu senhor, criou religiosamente o filho que começou a reinar com a idade de
doze anos; ela teve coragem de homem em coração de mulher e administrou
vigorosamente, sabiamente, poderosamente e retamente e manteve os direitos do reino
e os defendeu contra muitos adversários por sua boa previdência” (citado à p.
629)
Continua no
próximo boletim!
Revista Paz e
Bem nº 328
Julho e Agosto de
2014
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