BOLETIM INFORMATIVO DE SETEMBRO DE 2017
FRANCISCO, HOMO TOTUS EVANGELICUS
Francisco entrou na intimidade do
Evangelho e percebeu-o puro e sem retoques. Por isso, a Igreja o chamará de
Homo totus Evangelicus, quer dizer, que “se evangelizou” na totalidade do ser e
na radicalidade das exigências. E mostrou, ao mesmo tempo, que o Evangelho, no
seu todo, é algo possível de ser traduzido em vida.
O próprio Papa, Inocêncio III,
observara que a norma de vida da primitiva comunidade era por demais árdua para
compor um programa de vida, mas a tempo foi advertido que não poderia
declará-la impossível, pois declararia impossível o Evangelho de Cristo.
Para Francisco a afirmação
do Papa significava a impossibilidade de seguir os passos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, pois vinham eles retraçados, concretamente, nas páginas do Evangelho.
Esta concreteza com que percebia o Evangelho fazia com que Francisco a ele
recorresse com a simplicidade e a confiança de quem
recorre a um “diretor espiritual”.
Com naturalidade, colocava os livros
dos Evangelhos à sua frente e os abria, a esmo, encontrando exatamente a
Palavra que lhe servia de resposta. Não argumentava, não discutia, não
duvidava. Deus acabara de lhe falar. E feliz partia para executar as ordens que
acabara de ler.
Assim fala Celano, na vida I (n°
92-93): que abrindo o Evangelho, pôs-se de joelhos e pediu a Deus que lhe
revelasse qual a sua vontade. “Levantando-se, fez o sinal da cruz, tomou o
livro do altar e o abriu com reverência e temor. A primeira coisa que deparou,
ao abrir o livro, foi a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no ponto em que
anunciava as tribulações por que haveria de passar. Mas, para que ninguém pudesse
suspeitar de que isso tivesse acontecido por acaso, abriu o livro mais duas vezes
e o resultado foi o mesmo. Compreendeu, então, aquele homem cheio do espírito
de Deus, que deveria entrar no reino de Deus depois de passar por muitas
tribulações, muitas angústias e muitas lutas…”
Texto de Frei Hugo Baggio (extraído
do livro “São Francisco Vida e Ideal, da Editora Vozes)
IMPRESSÃO DAS CHAGAS DE SÃO FRANCISCO
O Testemunho das Fontes
“Um dia, no
princípio de sua conversão, ele rezava na solidão e, arrebatado por seu fervor,
estava totalmente absorto em Deus e lhe apareceu o Cristo Crucificado. Com esta
visão, sua alma se comoveu e a lembrança da Paixão de Cristo penetrou nele tão
profundamente que, a partir deste momento, era-lhe quase impossível reprimir o
pranto e suspiros quando começava a pensar no Crucificado”. E rezava:
“Ó Senhor, meu Jesus
Cristo, duas graças eu te peço que me faças, antes de eu morrer: a primeira é
que, em vida, eu sinta na alma e no corpo, tanto quanto possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua dolorosa
Paixão. A segunda, é que eu sinta, no meu coração, tanto quanto for
possível, aquele excessivo amor, do qual tu, filho de Deus, estavas inflamado,
para voluntariamente suportar uma tal Paixão por nós pecadores”.
Da Legenda Menor de São Boaventura,
Capítulo 6
“Francisco era um
fiel servidor de Cristo. Dois anos antes de sua morte, havendo iniciado um
retiro de Quaresma em honra de São Miguel num monte muito alto chamado Alverne,
sentiu com maior abundância do que nunca a suavidade da contemplação celeste.
Transportado até Deus num fogo de amor seráfico, e transformado por uma
profunda compaixão n’Aquele que, em seus extremos de amor, quis ser
crucificado, orava certa manhã numa das partes do monte.
Aproximava-se a festa da
Exaltação da Santa Cruz, quando ele viu descer do alto do céu, um serafim de
seis asas flamejantes, o qual, num rápido vôo, chegou perto do lugar onde
estava o homem de Deus. O personagem apareceu-lhe não apenas munido de asas,
mas também crucificado, mãos e pés estendidos e atados a uma cruz. Duas asas
elevaram-se por cima de sua cabeça, duas outras estavam abertas para o vôo, e
as duas últimas cobriam-lhe o corpo.Tal aparição deixou Francisco mergulhado num profundo êxtase, enquanto em sua alma se mesclavam a tristeza e a alegria: uma alegria transbordante ao contemplar a Cristo que se lhe manifestava de uma maneira tão milagrosa e familiar, mas ao mesmo tempo uma dor imensa, pois a visão da cruz transpassava sua alma como uma espada de dor e de compaixão.
Aquele que assim
externamente aparecia o iluminava também internamente. Francisco compreendeu
então que os sofrimentos da paixão de modo algum podem atingir um serafim que é
um espírito imortal. Mas essa visão lhe fora concedida para lhe ensinar que não
era o martírio do corpo, mas o amor a incendiar sua alma que deveria
transformá-lo, tornando-o semelhante a Jesus crucificado.
Após uma
conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela
visão, deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe
na carne a semelhança externa com o Crucificado, como a marca de um sinete
deixado na cera que o calor do fogo faz derreter.
Logo começaram a
aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos. Via-se a cabeça desses cravos
na palma da mão e no dorso dos pés; a ponta saía do outro lado. O lado direito
estava marcado com uma chaga vermelha, feita por lança; da ferida corria
abundante sangue. Frequentemente, molhando as roupas internas e a túnica. Fui
informado disso por pessoas que viram os estigmas com os próprios olhos.
Os irmãos encarregados de
lavar suas roupas, constataram com toda segurança que o
servo de Deus trazia, em seu lado bem como nas mãos e pés, a marca real de sua
semelhança com o Crucificado”.
Tomás de Celano – Vida II, 211
“Francisco já tinha
morrido para o mundo, mas Cristo estava vivo nele. As delícias do mundo eram
uma cruz para ele, porque levava a cruz enraizada em seu coração. Por isso
fulgiam exteriormente em sua carne os estigmas, cuja raiz tinha penetrado
profundamente em seu coração”.
Os estigmas de Francisco e os nossos
Ainda que em nós não foram impressos
os estigmas do crucificado de modo visível, cada um tem suas feridas que podem
salvar, que podem tornar-se fonte de salvação para si e para os outros. A cada
um que se deixa ferir em nome de Cristo e que leva em si a sua cruz, Francisco
repete o que disse a Leão: também tu estás marcado com a cruz de Cristo e por
isso és abençoado. És um possuído de Deus e estás sob a proteção dele.
Leonhard Lehmann –
Francisco, mestre
de oração
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