BOLETIM
INFORMATIVO DE FEVEREIRO DE 2013
O mundo em que os jovens vivem
O
ano de 2013 é, de alguma forma, o Ano da Juventude. O encontro dos jovens com o Papa no Rio de
Janeiro, a Campanha da Fraternidade e o Ano da Fé constituem convites a que
venhamos organizar uma sistemática pastoral dos jovens. Tarefa ingente,
complexa e delicada. Urgente pensar no
assunto. A Igreja de amanhã, nesse mundo em transformação, precisa de um
laicato maduro, de casais maduros, de políticos maduros, de gente nova por dentro.
Vivemos
um tempo de transformação. Há a crise
econômica e social. Há a crise eclesial.
Há a crise cultural. Morre um mundo e nasce outro. Morre um modo de viver a fé. O que é ser
cristão nesse mundo novo vago que se delineia a duras penas. Ora, os jovens são
aqueles que poderão ser protagonistas desse novo nascimento. Poucas de nossas
comunidades, no entanto, conseguem organizar e alimentar uma pastoral
juvenil. Em que mundo vivemos nós e os
jovens?
1.
Vivemos o tempo do imediato, do que precisa ser feito aqui e agora, sem
delongas, sem demora. O que desejo, quero para já. Nem sempre esse desejo do
imediato é acompanhado pela reflexão.
Não sabemos colocar o pé no freio. Compramos o que temos vontade de comprar
e pagamos a crédito, com cartão de crédito, com pagamentos a perder de
vista. Mas queremos agora. Essa característica da busca do imediato
lembra os caprichos de uma criança que pensa que tudo se lhe deve e que
esperneia enquanto não consegue o que quer na rua, no metrô, na igreja e na
sala de espera do consultório médico. As
pessoas querem tudo rapidamente e não se dão o tempo de pensar, de escolher, de
decidir com um mínimo de discernimento.
O tempo da juventude não seria o tempo de escolhas importantes que
marcam a vida de uma pessoa para sempre? Será possível melhorar nossas
escolhas?
3.
Vivemos num mundo descosturado. As coisas não estão interligadas. Cada fragmento tem sua lógica, obedece a seus
princípios, contém seus “valores”, uns separados dos outros. Jovens vivem essa descostura na carne. Muitos deles trabalham para ajudar na renda
familiar, fazem estudos à noite, ou ensino fundamental, ou faculdade. Não têm
tempo de aprofundar seus estudos e nem de conhecer-se a si mesmos. Derramam-se
nas coisas e nos finais de semana precisam de uma válvula de escape: namoricos,
por vezes para distração, bebida e certas fugas no mundo das drogas.
Precipitados envolvimentos amorosos podem redundar numa gravidez. Como esses
jovens tão ocupados poderão participar de grupos de jovens, de espaços de
iniciação cristã e de reorganização de seu universo? Como viver com eles? Como eles poderão sentir a beleza da fé
vivida por outros?
4.
Há jovens de todos os tipos e horizontes.
Vemos uma certa juventude que cresce em ambientes familiares de
compreensão, de harmonia. Crianças que encontram regularmente os pais, que
sentem a firmeza do relacionamento dos mesmos, que vivem segurança na vida,
apoiadas no sólido amor dos pais. De
outro lado vemos jovens que vivem em ambientes de profunda hostilidade
familiar. São filhos de mães solteiras,
criados pelos avós. Jovens que têm que
conviver com “meio-irmãos”, filhos do novo companheiro da mãe. A mãe e seu novo
companheiro não vão viver o tempo todo juntos. É coisa apenas por um tempo. O
que realmente se passa na cabeça desses jovens? Onde estão? Como fazer pastoral com eles? Quando tentar atingi-los com o Evangelho?
5.
Nossos jovens crescem num ambiente marcadamente consumista. O mundo é consumista. A vida é consumista. Os
meios de comunicação falam de consumo, convidam ao consumo. Consumo de bens, consumo de coisas modernas,
de viagens, de pessoas. Como fazer com
que ressoe nesta sociedade de consumo o espírito de desprendimento do Sermão
das Bem-aventuranças?
6.
Vivemos a cultura do êxito. É preciso vencer na vida. Há a competição. Competição que estressa. Competição que
aponta para uma certa eliminação do outro. Há famílias que treinam os filhos
para estudar, vencer na vida e assim poderem desfrutar de folgada situação
financeira em suas vidas. Êxito e sucesso também nos relacionamentos amorosos:
corpos sarados, bem cuidados, cuidados demais. Meninas magras e rapazes
“bonitos”. Culto das aparências: beleza
do corpo, viagens, carros e facilidades.
7.
“Construímo-nos como pessoas em relação com os outros. O jovem de hoje, como
nunca antes, vive possibilidades de comunicação e de relacionamentos quase
ilimitadas. Que jovem não se serve das redes sociais com centenas de amigos
nesses fóruns? Os jovens de hoje conhecem melhor o mundo do que aqueles de
gerações anteriores. Também se deslocam e se locomovem muito mais. Com tudo
isso, a solidão parece ser uma ameaça real para não poucos jovens. Nem sempre
conseguem viver uma amizade em profundidade. Vínculos
que pareciam muito estáveis se desfazem com relativa facilidade. Há jovens que
chegam aos trinta anos numa dificuldade de encontrar seu par com quem construir
sua vida. Pode o evangelho ajudar a viver vinculações mais sólidas, mais
estáveis, de pessoas mais comprometidas umas com as outras?”
FreiAlmir Ribeiro Guimarães
Ao
falarmos em Liturgia na celebração, nos vem logo o pensamento de que se trata
das leituras feitas durante a santa missa. Mas não é só isso. Primeiramente
para se entender a liturgia é bom que saibamos o que quer dizer a palavra
liturgia. Liturgia vem do grego clássico leitourgia (leitourgia) que significa
originalmente “serviço do povo em favor do povo”. Na tradição crista ela quer
dizer que o povo de Deus toma parte na obra de Deus. A liturgia é o cume e a
fonte da vida da Igreja, isso nos afirma a constituição Sacrosanctum Concilium,
no seu artigo de numero 10 (dez). Por meio dela, em especial da Palavra
proclamada e da Eucaristia, acontece uma união entre a Igreja terrena e a
Igreja celestial. Nisto o presidente da celebração deve fazer o possível para
que toda a assembléia participe de maneira que a ação litúrgica aconteça por
meio de todos e para todos, com um único foco de atenção e de objetivo que é
Jesus Cristo. Tudo isto nos é mostrado na citada constituição e também nos
documentos da Igreja. Porem nos dias de hoje podemos nos perguntar se tudo isso
realmente acontece. Será que ao celebrarmos uma liturgia estamos realmente
direcionando única e exclusivamente nossa atenção à Jesus ou nos preocupamos
mais com as vestes litúrgicas impecáveis? Ou então a ornamentação do
presbitério, que não deixa de ser importante, ou pior ainda, os erros que
ocorrem nos ritos? Não estamos aqui nos colocando contra toda a doutrina da
Igreja que em sua grande sabedoria nos
ensina com relação a esta questão, pelo contrario, vemos que é preciso que toda
a assembléia, em comunhão com a Igreja, sinta a presença e o amor de Cristo
arder em seu peito por meio da ação litúrgica. As regras são importantes, mas
muitas vezes o contexto em que se encontra muitas igrejas ( áreas rurais, de conflitos,de
extrema pobreza, etc.), não permite que
todas essas regras sejam colocadas em pratica. O povo deve
dar a Deus o que pode e o que é essencial para ele. E muitas vezes é preciso
“improvisar” para que o cristão não fique sem a celebração onde ocorre a
comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Talvez quando São Paulo escreve que a lei mata, mas o Espírito vivifica
( 2corintios 3,6) ele esteja falando disso, uma vez que no Antigo Testamento a
lei era o temor, na nova lei é o amor, este que deve, por meio de uma
liturgia bem celebrada com o povo, penetrar nos corações e assim transformar ,
por esta ação, a vida de tantas pessoas que dele precisam. Portanto não devemos
nos esquecer que antes de tudo vem Jesus Cristo.
Romário Avelino, Postulante da Ordem dos Frades
Menores Conventuais/
Estudante de filosofia no Instituto de Estudos
Superiores do Maranhão(IESMA)
Treinamento da fé
I Domingo da Quaresma
Mais
uma vez o primeiro domingo da Quaresma, domingo da tentação de Jesus no
deserto. Foi tentado pelo demônio e
saiu-se vitorioso de todas as invectivas do pai da mentira. Estamos, efetivamente, vivendo os dias
favoráveis e oportunos da Quaresma.
●
“A Quaresma é uma subida à Páscoa, como os israelitas subiam a
Jerusalém para apresentar suas ofertas e
como Jesus subiu para oferecer sua
vida. Nossa subida à Páscoa está sob o signo da provação e a comprovação de nossa fé.
Encaminhamo-nos para uma grande renovação de nossa opção de fé. Se, nos
primeiros tempos da Igreja, a Quaresma era a preparação para o batismo e a
profissão de fé, para nós é caminhada de
aprofundamento e renovação de nossa fé.
Pois uma fé que não passa por nenhuma prova e não vence nenhuma tentação pode se tornar
acomodada, morta. Ora, a renovação de
nossa opção de fé não acontece na base de algum
exercício piedoso ou cursinho
teórico. É uma luta, como foi a tentação
de Jesus no deserto, ao longo de quarenta dias. A fé se confirma e se
aprofunda em sucessivas decisões, como as de Jesus, quando resistia com firmeza e perspicácia às
tentações mais sutis: riqueza, poder, sucesso.
Precisamos
de treinamento em nossa opção por Deus. Antigamente, esse treinamento consistia
no jejum, na mortificação corporal. Mas em nossa situação de América Latina,
empobrecida e desigual, o treinamento da opção da fé se realiza sobretudo na
sempre renovada opção pelos pobres e excluídos, no adestramento para a
solidariedade cristã. A Campanha da
Fraternidade nos treina para colocar nossa fé em prática. Adestra-nos
para enfrentar os demônios de hoje, a tentação da idolatria da riqueza, da
dominação, da discriminação, da competição.
Exercitamos nossa opção de fé, praticando-a na solidariedade fraterna
para, com Jesus, chegar à doação da própria vida, na hora da grande prova. Quem não se exercitar, talvez não saberá
resistir” (Johan Koning, Liturgia
Dominical, Vozes, p. 367).
●
A Quaresma é um tempo de ascese. “A
ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um meio, um método a serviço
da vida e como tal procurará adaptar-se às novas necessidades. Outrora, a
ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e privações intensas e extenuantes;
hoje a luta é outra. O homem não tem necessidade de sofrimento suplementar:
cilício, cadeias de ferro, flagelações correriam o risco de extenuá-lo
inutilmente. A mortificação de nossa época consistirá na libertação da
necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes, drogas, álcool sob
todas as formas. A ascese consistirá acima de tudo no repouso imposto a si
mesmo, na disciplina da tranquilidade, no silêncio onde o homem pode
concentrar-se para a oração, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no
metrô, entre a multidão, nos cruzamentos de uma cidade. Consistirá
principalmente na capacidade de compreender dos outros, dos amigos, em cada
encontro. O jejum, ao contrário, da maceração imposta, será a renúncia alegre
do supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo,
tranquilo” (Paul Evdokimow).
FreiAlmir
Ribeiro Guimarães
No
decorrer da historia, muitos estudiosos, filósofos, teólogos e grandes
cientistas tentaram definir o que é e quem é Deus. Mas estes não conseguiram
alcançar esta proeza, pois conforme afirmam algumas teorias, Deus é
indefinível, infinito. Se já é difícil definir a Deus, como será então ver à
Deus?
No
evangelho de São João 1, 18, diz: “ninguém jamais viu à Deus”. Na liturgia das
horas, na oração das vésperas da quarta-feira da primeira semana, o terceiro
salmo no versículo 15 diz: “do Deus o invisível é a imagem” . podemos então
fazer uma pequena análise do termo “invisível”no que se refere a questão da
imagem de Deus. Conforme aprendemos, Deus é criador de tudo. O termo
“invisível” foi criado pelo homem que foi criado por Deus. Logo o invisível é
criatura de Deus. Mas o que é o invisível? Podemos dizer que o invisível é
aquilo que não se pode ver. E o que é aquilo que não se pode ver? Podemos
também dizer que é o nada. E o que é o nada? Vemos aqui como é difícil entender
a divindade e o conhecimento de Deus.
Na
obra SOLILOQUIOS, no capitulo VI, Santo Agostinho, através de um diálogo com
sua própria razão, tenta explicar com que olhos a alma ve a Deus. Logo no
começo, a razão faz uma promessa um pouco, a nossos ver, impossível de ser
comprida. Ela promete mostrar Deus a ele como o sol se mostra a nossos olhos.
Na primeira vista realmente parece difícil de ser cumprida. Mas em se tratando
da razão veremos como isso se fará. Notamos aqui a impressionante capacidade de
raciocínio que Santo Agostinho tinha, primeiro por conseguir dialogar com sua
própria razão como se fosse aluno e professor. Segundo, pelos desafios de
raciocínio que ele mesmo se impõe. É interessante que ele consegue se perguntar
através da razão e responder a muitas das complicadas indagações feitas por ela
com relação a esse assunto.
No
decorrer da leitura do capitulo VI, ele diz que para a alma ver a Deus, é
preciso ter olho, olhar e visão. Isso para muitos é tudo a mesma coisa. mas se
formos pensar como Agostinho pensou, veremos que não é a mesma coisa. vejamos:
o olho é a peça pela qual teremos o olhar, ou seja, o olho é a mente onde
acontece muitas das coisas que mancham nossa alma e se a alma esta manchada,
não se pode ver a Deus. Para ter o olhar, é preciso que o olho esteja sadio e
são de toda mancha, por isso podemos dizer que o olhar é a conseqüência da
saúde do olho que possibilitará a visão que é a contemplação daquilo que se
deseja conhecer. Agostinho ainda cita mais três coisas para conseguir ver a
Deus: fé, esperança e amor.
Para
conseguir a viso de Deus a fé deve se juntar à esperança e ao amor. A fé,
porque desperta em nós o desejo, mesmo sem ter tido a contemplação, de chegar a
alcançar o esperado objetivo. A esperança podemos dizer que é a espera, a
ansiedade que é movida pela fé e que nos faz querer ir em frente. Temos aqui
dois pilares fortes onde a alma pode se apoiar para chegar a grande
contemplação. Mas ela não conseguirá se não houver a junção destes com o amor.
Inclusive, Agostinho diz que o mais importante destes três é o amor. Pois o
amor, é que faz com que o desejo permaneça firmemente, e mesmo sem conhecer a
Deus, o amor faz com que tenhamos a fé e a esperança de conhecê-lo, aumentando
o amor que é eterno, por Deus. então para ver a Deus é preciso primeiro que a
alma esteja sã, que olhe e veja, e segundo que tenha fé, esperança e amor.
Concluímos
que quando Agostinho fala em ver a Deus, ele não fala no sentido de ver como
nós vemos outra pessoa fisicamente com os olhos da carne. Ele fala no sentido
de ver a Deus através do conhecimento do próprio Deus. Agostinho não contemplou
Deus a olho nu, mas conheceu a Deus através de sua inteligência e isto é
comprovado por meio de suas anotações, nas quais grandes estudiosos e Santos da
Igreja se basearam e se baseiam para tentar também conhecer a Deus que é começo
e fim de tudo. E isso faz de Santo Agostinho um dos grandes Santos e doutor da
Igreja.
Notamos
também uma pequena relação existente no capitulo VI e o capitulo XIV onde
Agostinho diz que a sabedoria purifica as vistas, e com isso notamos o que
afirmamos anteriormente sobre o conhecimento. Pois o conhecimento tira a venda
dos nossos olhos e assim descobrimos novo horizonte e novos mundos. Por isso
quem tem sabedoria compreende a Deus e vê a Deus.
Romário,
postulante, OFMConv
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