domingo, 24 de fevereiro de 2013

ARAUTO DO GRANDE REI


BOLETIM INFORMATIVO DE FEVEREIRO DE 2013


O mundo em que os jovens vivem

O ano de 2013 é, de alguma forma, o Ano da Juventude.  O encontro dos jovens com o Papa no Rio de Janeiro, a Campanha da Fraternidade e o Ano da Fé constituem convites a que venhamos organizar uma sistemática pastoral dos jovens. Tarefa ingente, complexa e delicada.  Urgente pensar no assunto. A Igreja de amanhã, nesse mundo em transformação, precisa de um laicato maduro, de casais maduros, de políticos maduros, de gente nova por dentro. 
Vivemos um tempo de transformação.  Há a crise econômica e social. Há a crise eclesial.  Há a crise cultural. Morre um mundo e nasce outro.  Morre um modo de viver a fé. O que é ser cristão nesse mundo novo vago que se delineia a duras penas. Ora, os jovens são aqueles que poderão ser protagonistas desse novo nascimento. Poucas de nossas comunidades, no entanto, conseguem organizar e alimentar uma pastoral juvenil.  Em que mundo vivemos nós e os jovens?

1. Vivemos o tempo do imediato, do que precisa ser feito aqui e agora, sem delongas, sem demora. O que desejo, quero para já. Nem sempre esse desejo do imediato é acompanhado pela reflexão.  Não sabemos colocar o pé no freio. Compramos o que temos vontade de comprar e pagamos a crédito, com cartão de crédito, com pagamentos a perder de vista.  Mas queremos agora.  Essa característica da busca do imediato lembra os caprichos de uma criança que pensa que tudo se lhe deve e que esperneia enquanto não consegue o que quer na rua, no metrô, na igreja e na sala de espera do consultório médico.  As pessoas querem tudo rapidamente e não se dão o tempo de pensar, de escolher, de decidir com um mínimo de discernimento.  O tempo da juventude não seria o tempo de escolhas importantes que marcam a vida de uma pessoa para sempre? Será possível melhorar nossas escolhas?
2. A realidade é como um líquido que escorre por entre os dedos.  Nada passa a impressão de ser sólido. Os relacionamentos são fugazes: casamento, amigos, convicções. Como uma pessoa jovem se situa nesse mundo líquido de que fala Zygmund  Bauman? Onde o jovem encontrará uma âncora vital que o ajude a navegar no vaivém das oscilações da vida?  O mundo nunca foi estático. Mas hoje é “louco”.  É possível encontrar um sentido último para a vida e que oriente as decisões e ajude a construir projetos existenciais que valham a pena?
3. Vivemos num mundo descosturado. As coisas não estão interligadas.  Cada fragmento tem sua lógica, obedece a seus princípios, contém seus “valores”, uns separados dos outros.  Jovens vivem essa descostura na carne.  Muitos deles trabalham para ajudar na renda familiar, fazem estudos à noite, ou ensino fundamental, ou faculdade. Não têm tempo de aprofundar seus estudos e nem de conhecer-se a si mesmos. Derramam-se nas coisas e nos finais de semana precisam de uma válvula de escape: namoricos, por vezes para distração, bebida e certas fugas no mundo das drogas. Precipitados envolvimentos amorosos podem redundar numa gravidez. Como esses jovens tão ocupados poderão participar de grupos de jovens, de espaços de iniciação cristã e de reorganização de seu universo?  Como viver com eles?  Como eles poderão sentir a beleza da fé vivida por outros?
4. Há jovens de todos os tipos e horizontes.  Vemos uma certa juventude que cresce em ambientes familiares de compreensão, de harmonia. Crianças que encontram regularmente os pais, que sentem a firmeza do relacionamento dos mesmos, que vivem segurança na vida, apoiadas no sólido amor dos pais.   De outro lado vemos jovens que vivem em ambientes de profunda hostilidade familiar.  São filhos de mães solteiras, criados pelos avós.  Jovens que têm que conviver com “meio-irmãos”, filhos do novo companheiro da mãe. A mãe e seu novo companheiro não vão viver o tempo todo juntos. É coisa apenas por um tempo. O que realmente se passa na cabeça desses jovens? Onde estão?  Como fazer pastoral com eles?  Quando tentar atingi-los com o Evangelho?
5. Nossos jovens crescem num ambiente marcadamente consumista.  O mundo é consumista. A vida é consumista. Os meios de comunicação falam de consumo, convidam ao consumo.  Consumo de bens, consumo de coisas modernas, de viagens, de pessoas.  Como fazer com que ressoe nesta sociedade de consumo o espírito de desprendimento do Sermão das Bem-aventuranças?
6. Vivemos a cultura do êxito. É preciso vencer na vida. Há a competição.  Competição que estressa. Competição que aponta para uma certa eliminação do outro. Há famílias que treinam os filhos para estudar, vencer na vida e assim poderem desfrutar de folgada situação financeira em suas vidas. Êxito e sucesso também nos relacionamentos amorosos: corpos sarados, bem cuidados, cuidados demais. Meninas magras e rapazes “bonitos”.  Culto das aparências: beleza do corpo, viagens, carros e facilidades.
7. “Construímo-nos como pessoas em relação com os outros. O jovem de hoje, como nunca antes, vive possibilidades de comunicação e de relacionamentos quase ilimitadas. Que jovem não se serve das redes sociais com centenas de amigos nesses fóruns? Os jovens de hoje conhecem melhor o mundo do que aqueles de gerações anteriores. Também se deslocam e se locomovem muito mais. Com tudo isso, a solidão parece ser uma ameaça real para não poucos jovens. Nem sempre conseguem viver uma amizade em profundidade. Vínculos que pareciam muito estáveis se desfazem com relativa facilidade. Há jovens que chegam aos trinta anos numa dificuldade de encontrar seu par com quem construir sua vida. Pode o evangelho ajudar a viver vinculações mais sólidas, mais estáveis, de pessoas mais comprometidas umas com as outras?”

FreiAlmir Ribeiro Guimarães

                                                                                                             
 LITURGIA COM O POVO

Ao falarmos em Liturgia na celebração, nos vem logo o pensamento de que se trata das leituras feitas durante a santa missa. Mas não é só isso. Primeiramente para se entender a liturgia é bom que saibamos o que quer dizer a palavra liturgia. Liturgia vem do grego clássico leitourgia (leitourgia) que significa originalmente “serviço do povo em favor do povo”. Na tradição crista ela quer dizer que o povo de Deus toma parte na obra de Deus. A liturgia é o cume e a fonte da vida da Igreja, isso nos afirma a constituição Sacrosanctum Concilium, no seu artigo de numero 10 (dez). Por meio dela, em especial da Palavra proclamada e da Eucaristia, acontece uma união entre a Igreja terrena e a Igreja celestial. Nisto o presidente da celebração deve fazer o possível para que toda a assembléia participe de maneira que a ação litúrgica aconteça por meio de todos e para todos, com um único foco de atenção e de objetivo que é Jesus Cristo. Tudo isto nos é mostrado na citada constituição e também nos documentos da Igreja. Porem nos dias de hoje podemos nos perguntar se tudo isso realmente acontece. Será que ao celebrarmos uma liturgia estamos realmente direcionando única e exclusivamente nossa atenção à Jesus ou nos preocupamos mais com as vestes litúrgicas impecáveis? Ou então a ornamentação do presbitério, que não deixa de ser importante, ou pior ainda, os erros que ocorrem nos ritos? Não estamos aqui nos colocando contra toda a doutrina da Igreja  que em sua grande sabedoria nos ensina com relação a esta questão, pelo contrario, vemos que é preciso que toda a assembléia, em comunhão com a Igreja, sinta a presença e o amor de Cristo arder em seu peito por meio da ação litúrgica. As regras são importantes, mas muitas vezes o contexto em que se encontra muitas  igrejas ( áreas rurais, de conflitos,de extrema pobreza, etc.), não permite que  todas essas regras sejam colocadas em pratica. O povo deve dar a Deus o que pode e o que é essencial para ele. E muitas vezes é preciso “improvisar” para que o cristão não fique sem a celebração onde ocorre a comunhão com  o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Talvez quando São Paulo escreve que a lei mata, mas o Espírito vivifica ( 2corintios 3,6) ele esteja falando disso, uma vez que no Antigo Testamento a lei era o temor,  na nova  lei é o amor, este que deve, por meio de uma liturgia bem celebrada com o povo, penetrar nos corações e assim transformar , por esta ação, a vida de tantas pessoas que dele precisam. Portanto não devemos nos esquecer que antes de tudo vem Jesus Cristo.

Romário Avelino, Postulante da Ordem dos Frades Menores Conventuais/
Estudante de filosofia no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão(IESMA)



Treinamento da fé
I Domingo da Quaresma

Mais uma vez o primeiro domingo da Quaresma, domingo da tentação de Jesus no deserto.   Foi tentado pelo demônio e saiu-se vitorioso de todas as invectivas do pai da mentira.  Estamos, efetivamente, vivendo os dias favoráveis e oportunos da Quaresma.
● “A Quaresma  é uma subida  à Páscoa, como os israelitas subiam a Jerusalém para apresentar suas ofertas  e como Jesus  subiu para oferecer sua vida.  Nossa subida à Páscoa  está sob o signo da  provação e a comprovação de  nossa fé.  Encaminhamo-nos para uma grande renovação de nossa opção de fé. Se, nos primeiros tempos da Igreja, a Quaresma era a preparação para o batismo e a profissão de fé, para nós  é caminhada de aprofundamento e renovação de nossa fé.  Pois uma fé que não passa por nenhuma prova  e não vence nenhuma tentação pode se tornar acomodada, morta.  Ora, a renovação de nossa opção de fé não acontece na base de algum  exercício piedoso  ou cursinho teórico. É uma luta, como foi a tentação  de Jesus no deserto, ao longo de quarenta dias. A fé se confirma e se aprofunda em sucessivas decisões, como as de Jesus,  quando resistia com firmeza e perspicácia às tentações mais sutis: riqueza, poder, sucesso.
Precisamos de treinamento em nossa opção por Deus. Antigamente, esse treinamento consistia no jejum, na mortificação corporal. Mas em nossa situação de América Latina, empobrecida e desigual, o treinamento da opção da fé se realiza sobretudo na sempre renovada opção pelos pobres e excluídos, no adestramento para a solidariedade cristã.  A Campanha da Fraternidade nos treina para colocar nossa fé em prática. Adestra-nos para enfrentar os demônios de hoje, a tentação da idolatria da riqueza, da dominação, da discriminação, da competição.  Exercitamos nossa opção de fé, praticando-a na solidariedade fraterna para, com Jesus, chegar à doação da própria vida, na hora da grande prova.  Quem não se exercitar, talvez não saberá resistir” (Johan  Koning, Liturgia Dominical,  Vozes, p. 367).
● A Quaresma é um tempo de ascese.  “A ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um meio, um método a serviço da vida e como tal procurará adaptar-se às novas necessidades. Outrora, a ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e privações intensas e extenuantes; hoje a luta é outra. O homem não tem necessidade de sofrimento suplementar: cilício, cadeias de ferro, flagelações correriam o risco de extenuá-lo inutilmente. A mortificação de nossa época consistirá na libertação da necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes, drogas, álcool sob todas as formas. A ascese consistirá acima de tudo no repouso imposto a si mesmo, na disciplina da tranquilidade, no silêncio onde o homem pode concentrar-se para a oração, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no metrô, entre a multidão, nos cruzamentos de uma cidade. Consistirá principalmente na capacidade de compreender dos outros, dos amigos, em cada encontro. O jejum, ao contrário, da maceração imposta, será a renúncia alegre do supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo, tranquilo” (Paul Evdokimow).

FreiAlmir Ribeiro Guimarães



  
No decorrer da historia, muitos estudiosos, filósofos, teólogos e grandes cientistas tentaram definir o que é e quem é Deus. Mas estes não conseguiram alcançar esta proeza, pois conforme afirmam algumas teorias, Deus é indefinível, infinito. Se já é difícil definir a Deus, como será então ver à Deus?
No evangelho de São João 1, 18, diz: “ninguém jamais viu à Deus”. Na liturgia das horas, na oração das vésperas da quarta-feira da primeira semana, o terceiro salmo no versículo 15 diz: “do Deus o invisível é a imagem” . podemos então fazer uma pequena análise do termo “invisível”no que se refere a questão da imagem de Deus. Conforme aprendemos, Deus é criador de tudo. O termo “invisível” foi criado pelo homem que foi criado por Deus. Logo o invisível é criatura de Deus. Mas o que é o invisível? Podemos dizer que o invisível é aquilo que não se pode ver. E o que é aquilo que não se pode ver? Podemos também dizer que é o nada. E o que é o nada? Vemos aqui como é difícil entender a divindade e o conhecimento de Deus.
Na obra SOLILOQUIOS, no capitulo VI, Santo Agostinho, através de um diálogo com sua própria razão, tenta explicar com que olhos a alma ve a Deus. Logo no começo, a razão faz uma promessa um pouco, a nossos ver, impossível de ser comprida. Ela promete mostrar Deus a ele como o sol se mostra a nossos olhos. Na primeira vista realmente parece difícil de ser cumprida. Mas em se tratando da razão veremos como isso se fará. Notamos aqui a impressionante capacidade de raciocínio que Santo Agostinho tinha, primeiro por conseguir dialogar com sua própria razão como se fosse aluno e professor. Segundo, pelos desafios de raciocínio que ele mesmo se impõe. É interessante que ele consegue se perguntar através da razão e responder a muitas das complicadas indagações feitas por ela com relação a esse assunto.
No decorrer da leitura do capitulo VI, ele diz que para a alma ver a Deus, é preciso ter olho, olhar e visão. Isso para muitos é tudo a mesma coisa. mas se formos pensar como Agostinho pensou, veremos que não é a mesma coisa. vejamos: o olho é a peça pela qual teremos o olhar, ou seja, o olho é a mente onde acontece muitas das coisas que mancham nossa alma e se a alma esta manchada, não se pode ver a Deus. Para ter o olhar, é preciso que o olho esteja sadio e são de toda mancha, por isso podemos dizer que o olhar é a conseqüência da saúde do olho que possibilitará a visão que é a contemplação daquilo que se deseja conhecer. Agostinho ainda cita mais três coisas para conseguir ver a Deus: fé, esperança e amor.
Para conseguir a viso de Deus a fé deve se juntar à esperança e ao amor. A fé, porque desperta em nós o desejo, mesmo sem ter tido a contemplação, de chegar a alcançar o esperado objetivo. A esperança podemos dizer que é a espera, a ansiedade que é movida pela fé e que nos faz querer ir em frente. Temos aqui dois pilares fortes onde a alma pode se apoiar para chegar a grande contemplação. Mas ela não conseguirá se não houver a junção destes com o amor. Inclusive, Agostinho diz que o mais importante destes três é o amor. Pois o amor, é que faz com que o desejo permaneça firmemente, e mesmo sem conhecer a Deus, o amor faz com que tenhamos a fé e a esperança de conhecê-lo, aumentando o amor que é eterno, por Deus. então para ver a Deus é preciso primeiro que a alma esteja sã, que olhe e veja, e segundo que tenha fé, esperança e amor.
Concluímos que quando Agostinho fala em ver a Deus, ele não fala no sentido de ver como nós vemos outra pessoa fisicamente com os olhos da carne. Ele fala no sentido de ver a Deus através do conhecimento do próprio Deus. Agostinho não contemplou Deus a olho nu, mas conheceu a Deus através de sua inteligência e isto é comprovado por meio de suas anotações, nas quais grandes estudiosos e Santos da Igreja se basearam e se baseiam para tentar também conhecer a Deus que é começo e fim de tudo. E isso faz de Santo Agostinho um dos grandes Santos e doutor da Igreja.
Notamos também uma pequena relação existente no capitulo VI e o capitulo XIV onde Agostinho diz que a sabedoria purifica as vistas, e com isso notamos o que afirmamos anteriormente sobre o conhecimento. Pois o conhecimento tira a venda dos nossos olhos e assim descobrimos novo horizonte e novos mundos. Por isso quem tem sabedoria compreende a Deus e vê a Deus.

Romário, postulante, OFMConv

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